~Adam~

Com ou sem lágrimas de sangue, meu coração ficou feliz em ver a Megan salvando aquela criança.

A bondade não ter como ir embora por completo assim como ela quer que acreditemos. Ela está aqui e por mais que as suas ações sejam difíceis de ignorar ou contornar, ainda tem muita luz dentro dela. Tanta que está transbordando agora.

No caminho, descobrimos que onde iríamos também é o lar do Leo.

Quando chegamos nos arredores da vila do ar, percebemos uma grande movimentação, e antes que pudéssemos fazer alguma coisa, Leo vê alguma coisa além da nossa visão e começa a correr em linha reta.

Vamos atrás dele, preocupados, mas quando ele dá um grito chamando a mãe dele, desaceleramos o passo e apenas acompanhamos o momento que ele corre de braços abertos para uma mulher muito alta.

A mulher se abaixa no chão para pegar o menino nos braços e o abraça com muita firmeza.

Alisa os cabelos e fala alguma coisa baixo no ouvido do Leo, enquanto acaricia os cabelos dele. Mesmo com lágrimas abundantes saindo de seus olhos, ela ainda tem um sorriso amplo e aliviado em seu rosto.

Sorrio para a Meg, que está com os ombros relaxados e com um sorriso discreto enquanto olha a cena.

— Desculpa mamãe, eu desobedeci e me afastei dos guardas e eu...

— Não fala assim meu filho, eu que fui ingênua demais e achei que ainda tinha um pingo de decência naquele monstro. Você não teve a menor culpa do que aconteceu.

— Mas se eu tivesse ficar perto, eles poderiam...

— Ele encontraria outro modo meu amor... Não pense demais sobre isso, agora, nem se ele quiser muito ele vai conseguir encostar em você... — a mulher passa as mãos pelo cabelo do filho e analisa o corpo dele com cuidado.

— Eu estava muito assustado mãe, mas eu não chorei! — Leo agora derramava diversas lágrimas e soluçava no ombro da matriarca.

— Está machucado meu amor? Eles fizeram algo com você e...

— Calma mamãe, eu estou bem, não estou mais ferido! Não quero falar sobre isso agora, mas depois eu prometo que vou contar tudinho!

— Você tem razão... Está tudo bem agora meu Leo. E isso é o que importa pra mim... Você está bem, graças a bondade divina...

— Graças também ao Adam e a Megan... — o menino explica e a mulher enruga a testa.

— Quem?

— Adam e Megan — o menino vira para trás, para nos encontrar e assim que vê onde estávamos, sorri e aponta na nossa direção. — Eles me salvaram.

A mulher percebe então a nossa presença e depois de dar mais dois beijos na testa do filho, ela se aproxima. Ela passava um bom palmo de mim em altura.

— Aos dois. Não tenho palavras para agradecer ao que fizeram pelo meu filho — a mulher diz e coloca uma mão sobre o coração, apertando um pouco o tecido e abaixando a cabeça levemente.

— Não precisa agradecer... — Megan diz e dá de ombros. — Qualquer um faria isso.

— Longe disso. Não existem mais tantas pessoas que estão dispostas em arriscar a vida, principalmente quando um nome tão poderoso quanto o do governador do ar está envolvido.

— Não que isso valha de alguma coisa, mas à princípio não sabíamos que ele estava envolvido nisso — Megan explica. — Mas se soubéssemos os resultados seriam os mesmos.

— Gosto do modo como você fala, cheia de força e vontade de ver as coisas mudando — a mulher começa a olhar fixamente para o rosto da Megan e então pisca apenas uma vez aturdida. Ela olha para mim e então abre um sorriso tranquilo. — Mas acho que é isso que eu esperaria de você Megan White. E logicamente de você Adam Krauss... Me chamo Laura.

— Então você nos conhece... — Megan ajusta um pouco os ombros, pronta para se movimentar no menor sinal de perigo, e eu como não quero ser deixado para trás, faço a mesma coisa.

— Perdão por demorar um pouco mais para reconhecê-los, mas a minha situação tirou parte da minha inteligência... Mas por favor relaxem. Podemos ser parte do ar, mas como vocês perceberam, não estou nos melhores lençóis com o governador...

— Certo... — mas mesmo falando isso, a postura da Megan não se alterou.

— Inimiga do meu inimigo pode vir a ser um amigo. Não sou tola a acreditar nisso logo de cara, mas acho que pelo menos um potencial de sermos aliadas pode ser colocada na mesa, correto?

— Gosto do seu modo de pensar... — Megan sorri.

— Podem ficar à vontade e vou pedir para que providenciem um lugar para que vocês possam descansar e cuidar de quaisquer ferimentos que possuam... Agora eu só quero passar uns momentos com o meu filho e...

— Mamãe, pode resolver as suas coisas, a gente conversa de noite — Leo interrompe a conversa.

— Filho, mas eu...

— Resolva logo o que a senhora quer resolver com a Megan e o Adam. Sei que a senhora está feliz por me ver, mas vai ficar pensando nisso enquanto está comigo. Pode ir mamãe... Estou bem, estou em casa — ele diz com tanta maturidade que eu tenho que conter uma risada.

Meg tinha seus olhos arregalados, e Laura soltou uma risada alta. Foi até o lado do filho, o tomou em seus braços e deu vários beijos cheios de afeto em sua bochecha.

— Eu ganhei na loteria dos filhos quando tive você — sorrindo, a mulher coloca Leo no chão e depois de acariciar mais uma vez os cabelos do menino, se vira na nossa direção. — O que acham? Tem um tempinho agora para mim?

— Por mim, tudo bem — Megan já pega a dianteira e depois de cumprimentar a Laura devidamente, eu faço o mesmo.

Não andamos muito até chegar num grande casarão. Muros com uma cor delicada rosada cobriam os três andares do local. Janelas grandes de vidro estavam abertas, e cortinas floridas voavam para fora, num clima aconchegante.

Várias pessoas entravam e andavam pelo grande salão da casa. Assim que passamos pela porta, vi o que pareciam ser diversas salas de reuniões, todas bem organizadas. Passamos por muitas portas fechadas e quando percebeu que olhávamos ao nosso redor com bastante atenção, Laura volta a falar.

— Aqui é onde são tomadas as decisões importantes. Vocês já passaram por várias delas. Aqui também é onde moro. Esse primeiro andar é sobre política, mas nos andares de cima serve como minha casa e muitas vezes serve de estadia para as pessoas que vem participar das nossas reuniões. Espero que não se incomodem se eu arrumar um local para vocês dois aqui mesmo.

— Será um prazer ficar aqui Laura, obrigada — Megan diz e eu aceno confirmando também.

— Maravilha! — ela então parece procurar alguém, e então pede para que preparem aposentos para nós dois.  Laura nos conduz até uma sala grande, com uma mesa de madeira talvez um pouco grande demais e cadeiras dispostas ao redor da borda. — Sentem-se onde quiserem. Aceitam alguma coisa?

— Um pouco de água se não for incômodo... — Megan solicita. E a mulher já solicita para um homem que estava no canto da sala.

— Quero agradecê-los mais uma vez jovens... Vocês me devolveram a minha vida, e sei que palavras podem ser pouca coisa agora, mas se tiver algo que eu possa fazer por vocês...

— Se você conhece os nossos nomes, então já nos poupa um bom tempo tendo que explicar a nossa história e o que viemos fazer aqui... — Megan diz decidida.

— Os boatos são verdadeiros. Fico feliz por isso.

— Fica? — pergunto ainda não querendo abaixar minha guarda.

— Já passou da hora desses governadores ganharem um choque de realidade. Sem ofensas ao seu pai jovem Krauss, mas as coisas precisam mudar em Nihal, e talvez o seu poder Megan White seja o ponto de partida para isso.

— Tobias está querendo mudar as coisas por aqui... — digo.

— Está, mas a sede pelo poder está nublando o seu julgamento. Eu mesma já apoiei os ideais dele, não posso negar que ele sabe falar as coisas certas para conseguir a ajuda que tem. Mas quando percebi que eram apenas isso, palavras e ideias, tive que por um fim nisso. Mas sair da sua "proteção" é mais complicado do que parece.

— Por isso que o seu filho foi colocado em risco.

— Esse lugar é o berço dos melhores dominadores de ar da província. Não sei ao certo o motivo de sermos agraciados com essa "sorte", mas isso chamou a atenção do governador, e quando ele percebeu que não colocaria mais as mãos no poder refinado que temos aqui, as coisas saíra de controle.

— E se vocês são poderosos assim, porque não tomaram o poder.

— Tobias além de ser poderoso, é inteligente, ardiloso até. Ele sabe como montar as peças certas para nos encurralar. É bem mais difícil escapar de uma situação perigosa quando se tem as mãos atadas.

— Se o que você está falando é verdade, ele ainda virá por você, por tudo isso daqui... — Megan fala.

— Eu digo a verdade. E sei bem disso. O que eu disse pro meu filho é verdade. Agora atingimos um ponto que não tem volta. Se ele quer o meu exército, eu vou dar a ele, mas bem no meio daquela cara petulante dele! Ele não vai mais encostar no meu filho, muito menos no meu povo, vou me certificar disso. Não vamos mais ser governados pelo medo.

— Você sabe que eu estou espalhando medo para conseguir alcançar meus objetivos, não sabe?

— Não tome isso como uma ofensa Megan, mas você não transpira medo, você transpira esperança.

— Adam, será que eu posso ter uns minutinhos a sós com a Laura? — Megan pergunta, se esticando para cima da minha cadeira, colando a sua boca no meu ouvido e falando baixo.

— C-claro — não tive sucesso em parecer tranquilo, mas levanto e saio da sala, fechando a porta atrás de mim. Não quis escutar o que as duas conversarão.

Quero realmente conquistar a confiança aqui, e mesmo que isso me cobre um preço mais lá na frente, eu vou fazer o que ela me pede agora.

Me encosto na parede, logo na frente da sala, e fico ali, com a cabeça vagando entre o nada e o tudo, esperando os minutos passarem. Acho que Megan vai demorar um pouco em sua conversa, mas vou esperá-la. Ela sabe se cuidar muito bem.

Escuto risadas não muito longe e meio que sou atraído pelo som genuinamente feliz. Tenho que andar um pouco até alcançar uma das janelas e observar o movimento do lado de fora. Leo está correndo e rindo com mais duas crianças e sob os olhares atentos de alguns guardas.

As crianças parecem alheias aos olhos sob elas, mas não demora muito para que Leo perceba a minha presença ali e acene na minha direção. Seu sorriso me contagia. Nem sei quanto tempo fico ali, mas quando escuto o barulho da porta se abrir, minha atenção se volta para a Meg.

Ela já está andando na minha direção, seu olhar parece um pouco surpreso.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto um pouco preocupado com a sua reação.

— Sim, mas não é isso que você está pensando Adam.

— O que eu estou pensando?

— Sim, você está aí me olhando com essa cara toda preocupada, parece até que aconteceu alguma coisa grave, ou até mesmo perigosa.

— Perigosa tipo ser ameaçada ou algo parecido? — fico ainda mais preocupado com sua escolha de palavras.

— Não, já te falei que não é isso. A nossa vida não está em risco. É que conversando com a Laura, acabei me dando muito bem com ela. E acrescentamos bons números ao nosso exército.

— Bons números quanto?

Eu não sei a quantidade de pessoas que ela tem em outros locais, mas quando Megan me diz a quantidade que ela juntou aqui hoje, meu queixo vai ao chão. Os números são grandes que de modo que talvez não seja mais possível mantê-los em segredo.

O que não significa ser uma coisa ruim, já que mesmo que o Tobias saiba por onde a Megan vai atacar, ainda sim não vai garantir uma vitória. Só por que você sabe de onde o assalto vai vir, não quer dizer que vai poder fazer alguma coisa contra ele.

— Isso foi muito mais fácil do que eu esperava. Não salvei o Leo por saber quem ele era, mas fico feliz que isso resultou em coisas boas — Megan sorri e estica os braços para cima, se espreguiçando.

— O bem sempre dá um jeito de voltar.

— É, pelo o que parece sim... Adam, vou precisar de sua ajuda... — Megan fala e eu apenas digo que estou ali pro que ela precisar. — Dois dominadores poderosos daqui estão sob custódia do Tobias. E quando eu digo custódia, pode vir a ser também um domínio parecido com que ele tinha sob o Oliver.

— E o que podemos fazer?

— Laura não sabia onde eles estavam, mas buscando na minha memória, eu sei onde os dois estão. Quando a Morgana estava no comando, eu vi. Acho que vale o risco ir ver se podermos fazer algo.

— Saímos quando para resgatá-los?

Megan abre um sorriso tão grande que me faz ter uma vontade absurda de acabar com o espaço que tem entre a gente e beijá-la. Na mesma velocidade que esse sentimento chega, eu o controlo.

— Vamos descansar hoje pelo restante do dia, e amanhã sairemos ao amanhecer, está tudo bem por você?

— Claro... — ela abre a boca e parece querer falar algo, mas desiste. Resolvo eu então falar algo. — Estou começando a ficar com fome, e você?

— Eu poderia comer algo... — ela sorri e dá um passo mais próximo a mim, e caminhamos lado a lado buscando um lugar para comer.

Estávamos passando em frente a um pequeno restaurante, e o cheiro convidativo de frutos do mar nós faz entrar e conhecer o lugar.

Megan está um ótimo humor e seus sorrisos são poucos, mas verdadeiros.

O que era apenas um almoço, transformou-se num jantar também, enquanto explorávamos a cidade e víamos a realidade daquele lugar, a gratidão que eles tinham com a Laura, o cuidado que eles tinham uns com os outros. Assim que deveria ser Nihal. Um lugar com um povo unido e uma enorme força coletiva.

Com a noite brilhando no céu, Megan resolve ir descansar e voltamos para o local que tinham reservado para nós. Era pequeno, e ficaríamos em quartos vizinhos. Encontro a minha porta e a mais na frente era a dela.

— Boa noite Adam — Megan acena e então se vira de costas, caminhando para o seu quarto.

As costas dela, mesmo delicadas, estavam carregando um peso que nem imaginava que poderia ser capaz de suportar. E a força que ela demonstra a cada momento, me traz ainda mais para perto dos sentimentos que estão cada vez mais difíceis de permanecerem adormecidos.

A cada faceta nova que sou surpreendido.

Talvez não sejam facetas novas. O jeito da Megan é tão dela, que fica difícil pensar que aquilo tudo foi criado do nada.

Aquilo estava num estado de dormência dentro de sua alma. E a cada momento desperta e estica, ocupando o espaço que sempre foi desse pedaço.

Impressionante como não consigo ver diferença do meu amor que sinto pela parte que eu acho que ainda está dentro dela — aquela parte que eu conheci e aprendi a amar — da parte que cresceu agora.

É tudo nela, tudo o que está despertando, tudo o que já acordou e tudo o que pode estar na sonolência.

E as diferenças não são tão grandes assim como eu pensei.

— Boa noite Meg — digo quando ela abre a porta e acena mais uma vez, agora abrindo um sorriso discreto, mas lindo.

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Olár dominadores! Entramos de cabeça no nanowrimo, e com certeza por conta disso que temos esse capítulo sem precisar esperar uma vida! Palmas pra essa iniciativa tão bonita da vida que me fez criar vergonha na cara e continuar a escrever pra vocês não ficarem esperando mil anos. Mesmo não sendo exclusivo para a escrita do Décimo Domínio, ele está sendo produzidos.

Espero que estejam gostando do livro, e chegamos num momento importante aqui. Sei que essas "realizações" que o Adam está tendo estão parecendo um pouco que manjadas e que ele já percebeu isso faz tempo, mas percebam que ele está aprendendo a amar também esse outro lado, e não apenas aceitar e acompanhar...

Vamos lá continuar a escrever e dando forma aos momentos finais do livro (mas ainda tem muita coisa pra acontecer, calma!). Beijos e até a próxima atualização.