Capítulo 13 - Aquelas palavras...
~Adam~
A frase que ela não completou me deixou perdido. Devastado.
Eu nem sei se sou mais sua...
Para mim ela sempre vai ser. Se ela não quiser mais ser, claro que eu vou dar um jeito de colocar na minha cabeça, mas no momento, ela ainda é com tanta intensidade que as suas palavras me afetam mais do que consigo assimilar.
Ao olhar para ela percebo que ela também foi afetada por suas palavras. Um pedaço de fragilidade vem tão rápido quanto vai embora. E ela se afasta de mim, me pede para que eu não a siga e parece perdida ao se afastar.
Nem se eu quisesse agora eu a seguiria. A ferida pesou e me paralisou. Meus olhos estão congelados na mulher que se afasta. Mais uma vez. Milhares de alertas tocam alto na minha cabeça, mas eu os mando todos pro inferno, quando o grito sai engasgado da minha garganta.
— Megan!
— Sim? — vejo a expectativa em seu olhar. Tenho que controlar para não suspirar aliviado.
Antes de falar com ela, pensei que Megan estava distante, mas bastou ela me mostrar aquele pedaço dela pra perceber que ela nunca esteve tão perto.
Mesmo confusos, seus sentimentos estavam lá. Raiva. Impaciência. Garra.
Talvez uma versão guiada por algo mais sombrio, mas tudo dela ainda está lá. Aos poucos seus sentimentos e ações vão se encaixando. A armadura que ela está construindo ao seu redor é bem falha. Era uma questão de tempo.
— Você sempre será Megan — mesmo que eu não possa fazer nada. — Vá.
Com o peito cheio de paciência, percebo que ela precisa de um tempo para assimilar toda a nossa conversa agora, pra assimilar todos os seus sentimentos. Meu corpo parece saber exatamente o que preciso fazer, pois me viro e vou dando o espaço que ela precisa.
A cada passo que dou aumenta dentro de mim a certeza que da próxima vez que nos encontrarmos, essa armadura vai estar pior. E quando for o momento certo, vou dar o meu golpe nela.
Quando penso que estou sozinho, sinto braços me envolverem num abraço. Dedos e unhas apertam o meu peito, mas nem de longe sinto dor.
— Obrigada — a voz de Megan é baixa e na mesma velocidade que ela veio, ela se foi.
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— E você virou as costas e foi embora? — Martin falava com uma voz assustadoramente baixa.
— Sim.
— Mesmo vendo os nossos esforços pra...
— Sim Martin. Fiz o que acabei de relatar e não me arrependo nem por meio segundo. Então é melhor aceitar — digo num tom um pouco mais alto.
— Vamos todos nos acalmar — Edith fala, batendo a palma aberta em cima da mesa. Mesmo ela pedindo calma, ela tremia.
— Certo. Desculpe — respiro fundo e estralo os dedos.
— Eu também — Martin diz, ajustando-se no encosto da cadeira.
— Se Megan está libertando os escravos que o Tobias fez, deve estar buscando formar um exército contra ele. Podemos tentar reunir mais algumas informações sobre locais... — Oliver diz, apontando para alguns locais num mapa na parede. — Mas já temos conhecimento sobre muitos desses pontos.
— O que ela quer é pagar na mesma moeda — digo. — Não temos como ter certeza que ela vai se movimentar junto desses "exército"... O que podemos afirmar é que ela vai aparecer onde o Tobias está.
— E falando nele... Faz um bom tempo que não temos nada sobre o paradeiro dele. Nem ao menos rumores... — Oliver coloca a mão sobre a testa, frustrado.
— No primeiro movimento, nós temos que avançar — Edith diz pensativa.
— Não precisa dizer o óbvio! — Martin fica de pé. — Eu vou ocupar minha cabeça com qualquer outra coisa... Se precisarem de mim...
E sai da sala.
Entendo esse lado do Martin. Essa coisa de ficar com o peso nos ombros e não dividir com ninguém. Esse fio de tensão que não te deixa descansar nem relaxar. É um ótimo combustível, mas não conseguimos controlar a explosão.
— Falta muito pouco para todos sucumbirmos a esse sufocamento Adam. Não tem como escapar, não temos como respirar — Edith estrala os dedos e suas mãos tremem.
— Sei bem disso.
— Vá descansar um pouco. Você passou por muita coisa e não deve ter dormido nada. Não quero que você entre em colapso.
— Cuide-se também — fico de pé e passo por ela. Coloco uma mão sobre o seu ombro e perto de leve e ela dá dois tapinhas em cima.
Encontro um quarto e estico o meu corpo em um colchão envelhecido. Os músculos queimam e reclamam, mas nem com a exaustão batendo fortemente, ainda sim não consigo fechar os olhos.
O que eu posso fazer de diferente para estar do lado da Megan? Eu tenho a força e convicção necessárias para isso? Sei que o amor está aqui e é mais do que suficiente, mas sei que se for apenas o amor, não vou fazer progresso algum.
Tem que ser mais.
Fecho os olhos, mesmo sem descansar de fato.
Ainda atento a tudo o que acontece ao meu redor, não consigo ignorar os passos apressados que vinham do corredor que a porta do quarto dava acesso.
Fico de pé e ao abrir a porta, vejo uma quantidade incomum de pessoas se dirigirem a sala de reuniões. O fluxo é grande e não vejo ninguém sair de lá. Os passos são apressados e os rostos estão apreensivos.
Duas ou três pessoas olham na minha direção, mas continuam a caminhar. Quando um par de olhos mais uma vez olha na minha direção, pego no baço da mulher que me encarava e pergunto sem rodeios.
— O que aconteceu?
— Um alerta veio da província do ar. Aparentemente a barreira de lá está instável em diversos pontos...
— Algum sinal do Tobias? Ou isso é obra da...
— É o Tobias. Temos fontes que nos levam a acreditar que ele está lá.
Se Tobias realmente estiver na província do ar, não vai demorar muito para que ela saiba disso, se já não tiver conhecimento, e então é para onde temos que ir.
— Obrigado — solto o braço dela e em poucas passadas já estou dentro da sala de reunião mais uma vez.
Edith estava marcando pontos em um mapa e parecia concentrada demais na sua ação para ver o que acontecia ao seu redor. Martin estava impaciente, andando de um lado para o outro, não se importando em esbarrar em várias pessoas pelo caminho.
Apenas quando Felícia se põe na frente dele é que o guardião para de se movimentar e passa os braços com quase violência ao redor dela, a abraçando. Oliver assim que põe os olhos em mim ergue o braço e me chama sem fazer som algum.
— A senhora White está separando times e estudando como podemos nos aproximar sem deixar escapatória, seja lá quem encontremos lá. Vamos ser espertos sobre isso. Não sabemos o motivo da barreira do ar estar sendo ameaçada, mas as peças estão se movendo agora.
— Temos que ir para a província do ar. AGORA.
— E estamos indo. Mas não somos suicidas Adam. Precisamos nos preparar. Isso pode ser uma armadilha.
Ele tem razão. Respiro fundo e tento me acalmar.
— Então o que posso fazer para ajudar? — Oliver sorri e começa a me dar diversas ordens.
~Martin~
Desde que abri os meus olhos no meio daquele campo de guerra sinto que tem algo extremamente errado. E mesmo assim eu me sinto completamente normal.
Finjo que não me importo com as pessoas me olhando atravessado, mesmo passando por todo e qualquer teste, eu ainda não estava livre de dúvidas, e isso complica demais o meu trabalho: que é apoiar e cuidar da Megan.
Tudo o que eu sei, praticamente consegui sozinho.
Edith parece querer confiar em mim cem por cento, mas fica difícil com a experiência que ela tem. Oliver sabe os perigos de ser controlado e sempre me tenta pegar numa mentira que não existe.
Ou pelo menos eu acho que não existe.
Eu nem os culpo na verdade. Se tivesse na mesma posição, provavelmente teria os mesmos pensamentos e desconfianças. Por isso que tento não me incomodar com os olhos desconfiados e sussurros.
Mas sei que estão me mantendo longe dela de propósito. Já escutei sua voz algumas vezes pelos corredores e sei que está perto de mim, mas não o suficiente. Às vezes sinto o seu cheiro reconfortante de mar quando passo por algum lugar, mas mais parecem peças da minha mente do que a presença dela mesmo.
Como se não bastasse eu me sentir incompetente por causa da Megan, eu ainda me sentia incompleto por causa dela.
Felícia.
Os meus dias não estão sendo os dos mais agradáveis, parecemos correr sem sair do lugar. Sei que explodi com quem não deveria mais cedo, e então começo a voltar para a sala de reuniões, sei que eles ainda estariam lá e eu poderia pedir desculpas.
Entro em silêncio, mas sei que capturei a atenção das pessoas que precisava. Respiro fundo e tento falar umas poucas de vezes, mas as palavras parecem presas em minha garganta. Oliver que toma a iniciativa e segura em meu ombro.
— Eu sei. Tá tudo bem.
Mal tenho tempo de ficar agradecido quando duas pessoas entram na sala, esbaforidas e agitadas. Elas ganham a nossa atenção imediata.
— A barreira do ar! — uma das mulheres fala assim que consegue se acalmar. — Parece que tem um pequeno exército perto da barreira, estudando seus pontos fracos. Temos informações que grande parte das pessoas são ex-prisioneiros do Tobias.
— Megan! — Edith fica de pé e pede para que a mulher explique melhor a situação.
Escuto tudo com muita atenção e então começamos a pensar sobre qual serão os nossos próximos passos. Edith já começa a analisar o terreno e pensar nas melhores formas de aproximação.
Logo a sala vai começando a ficar mais lotada e me colocam de lado mais uma vez. Eu posso servir como soldado, mas não como inteligência. E tudo bem.
Mas não irei sair daqui enquanto não tiver uma missão. Vejo quando o jovem Krauss entra na sala, e tento não sentir a pontada de inveja quando ele já é inteirado de planos e começa a pensar em planos e ações.
Tentando conter a energia que está alvoroçada dentro de mim, ando de um lado para outro, tentando fazer com que alguém me dê alguma tarefa além de ocupar espaço ali dentro.
A agitação foi tão grande que eu nem vi quando uma pessoa para bem no meu caminho e a maresia vem como um soco no estômago.
Ergo o olhar e ela está na minha frente. Ainda mais linda do que eu me lembrava, com os olhos refletindo a saudade, o receio e a alegria de me ver ali. Sua boca abre e dela não sai som algum, apenas libera o ar de seu pulmão.
Meus pulmões se enchem com ela e é mais do que oxigênio para mim. É a sensação de que finalmente uma coisa está de volta.
— Você... — meu corpo borbulha por dentro para me aproximar, para que eu reduza a nossa distância ao zero, mas não sei qual vai ser a reação dela.
— É isso que você tem a me dizer? — ela sussurra e eu me esqueço de todas as pessoas que estão ao nosso redor. Seus olhos se enchem de lágrimas e ela nem tenta conter uma gorda lágrima que escorre pelo seu rosto.
— Senti a sua falta. Tudo o que eu queria muitas vezes é escutar o som da sua doce voz. Estava me matando não conseguir te ver, mesmo escutando e sentindo pedaços de você por aqui. Senti tanto sua falta que talvez eu não saiba o que dizer agora.
— Você disse bem. Me abraça!
Nem dou tempo a ela para mudar de ideia. Meu corpo reage ao seu pedido imediatamente e ela nem consegue abrir os braços, eu já a tenho nos meus, numa união tão apertada que talvez a machuque um pouco, mas eu precisava daquilo.
Abaixo a cabeça e meu nariz vai parar em seu ombro, mais especificamente em cima de uma mecha de cabelo. Ela tem cheiro de lar.
Suas mãos finalmente se mexem e sinto ela agarrar como pode a barra da minha camisa, seus dedos trêmulos. Ela solta minha camisa e aperta os dedos em minha carne. Seu nariz trabalha com dificuldade enterrado em meu peito, mas sinto a sua respiração acelerar aos poucos.
Ela não quer sair desse abraço e muito menos eu.
— Por Deus, é você mesmo! Você está aqui! Senti sua falta! — lágrimas molham minha camisa e eu molho o cabelo dela.
O alívio que percorre o meu corpo é rápido, mas ter Felícia em meus braços é a lufada de ar que eu tanto necessitava. Ela é a força que me faria seguir em frente e continuar com o meu dever de guardião. Com a motivação certa, podemos suportar muito mais.
Ela afrouxa um pouco o abraço para conseguir olhar o meu rosto. Analisa cada linha e curva, passando a ponta dos dedos, com um sorriso tímido nos lábios, e as lágrimas ainda correm pelo seu rosto.
— Não chore minha sereia... — capturo suas lágrimas como posso em minhas mãos. — Só se elas forem de felicidade...
— São da mais pura felicidade! — ela se aproxima dos meus lábios e os captura sem pedir permissão. E ela nem precisa. Os batimentos fortes do meu coração me enchem de energia. É tanto amor que é fácil se esquecer de tudo que nos rodeia.
Só que escuto um pequeno limpar de garganta perto de nós. Felícia interrompe o beijo e em vez de parecer constrangida, seu sorriso é o mais brilhante! Edith está do nosso lado, com um sorriso nos lábios, mas a determinação em seu rosto diz muito.
— Que bom que vocês se resolveram! Mas teremos que deixar para depois, temos que ir para a província do ar!
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A demora voltou a aparecer, eu sei, mas é que está difícil. A força para escrever esse capítulo veio de um diamante novo e cheio de cores que se juntou ao livro e me empolgou com os seus comentários de um jeito que me colocou pra frente! Se você está lendo isso, Diamond_Colorful quero te dizer, OBRIGADA. Eu disse que eles teriam um momento depois...
Minha gente do céu! Eu nem acredito aqui! O primeiro livro dessa trilogia maravilhosa, Os Oito Domínios, atingiu a linda marca de 260K de leituras!!!!! AH QUE EU NÃO ESTOU CRENDO!!! O Nono Domínio está se aproximando dos 50K de leituras e esse daqui passou dos 5K!!!! Estou desmaiada com esses marcos! Estamos caminhando no nosso ritmo, ganhando novos leitores e habitantes em Nihal!
Quando eu comecei aqui, nem imaginei que seria uma trilogia, muito menos que eu sofreria um bloqueio nela e nem que alcançaria tantas pessoas assim! Agradeço imensamente o carinho de vocês! Aos que permanecem aqui, o meu muito obrigada!
Nos vemos no próximo capítulo!
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