Capítulo 12 - Descompassos
~Megan~
Tudo saiu exatamente como eu planejava com o resgate daqueles dominadores de água.
Um dos responsáveis pela segurança do nosso acampamento disse por alto que o Tobias tinha aprisionado diversos dominadores de água por eles representarem uma ameaça ao governo dele no ar.
O que eu custava a acreditar, já que as províncias funcionavam quase com autonomia. Aquilo era um abuso de poder daquele governadorzinho e seria uma ótima provocação para aquela arrogância dele quando ele descobrisse que eu tinha invadido a sua prisão e tinha libertado todos.
E não tão difícil. Por um momento eu tinha esquecido o quanto era mais fácil fazer muitas coisas quando se tinha ajuda.
Eu contava com muita ajuda de apoio, mas Moe disse que era melhor se eu aparecesse sozinha. Eu tinha que passar a ser o rosto que poderia ser conhecido. Ele queria que fosse para mim que as pessoas recorressem.
O que casava perfeitamente com o que eu desejava.
Eu já tinha liberto todos das jaulas e agora estávamos caminhando para o acampamento. Sentia o olhar de todos queimarem em mim, o que era muito bom, mas algo ainda não parecia certo.
O nosso progresso é bem lento. As pessoas estão fracas, cansadas, feridas, para dizer o mínimo. Suspiro sem querer parecer muito impaciente e me viro para encarar as pessoas que me acompanhavam. Percebo pelos olhos que agora prestam a tenção em mim que eu tenho que falar alguma coisa.
Eles estão esperando algumas palavras inspiradoras, mas não sei ser assim. Quando eu falo, sou apenas sincera e espero que eles me entendam.
Porém, antes que eu possa procurar um bom galho para me escorar e ficar de vigília enquanto as pessoas descansam, sou surpreendida por eles, que se levantam, ajustam os ombros numa postura mais firme e voltam a andar.
Sorrio olhando aqueles rostos que um dia poderiam vir a me ajudar.
Eu tinha olhado o rosto de cada um quando os libertei. Poderia não saber os seus nomes, mas suas feições estavam gravadas na minha mente.
Muitas vezes pensamos que chegamos no nosso limite, mas às vezes só precisamos da motivação certa para descobrirmos uma força inabalável dentro de nós. Essas pessoas tinham achado a força delas.
Estou quase me virando mais uma vez, quando percebo algo que chamaria a atenção de qualquer pessoa.
Um sorriso.
Não apenas um conjunto de dentes bonitos e bem alinhados.
Era o melhor sorriso que eu já tive o prazer de ver. O sorriso despreocupado que sempre fazia minhas pernas falharem e o coração entrar em descompasso.
Foi só um relance desse sorriso que eu tive antes dele abaixar a cabeça e enfiar as mãos nos bolsos.
O que diabos o Adam estava fazendo ali? Tenho certeza que ele não era prisioneiro do Tobias. Eu olhei para cada pessoa que eu soltei e sei o rosto dele não me passou batido. Como ele tinha me achado? Será que ele estava com outras pessoas.
Como fiquei parada no mesmo lugar, as pessoas não sabiam como proceder agora. Eu apenas pedi que elas continuassem a seguir em frente, que não estávamos tão longe assim.
Ele não tinha percebido que eu estava bem na sua rota, pois andava com a cabeça baixa, provavelmente para não ser visto.
Sabia que não poderia deixar ele ir até o final. Até poderia deixar ele me seguir, mas se ele descobrisse onde eu estava agora, ele não poderia sair do meu lado.
E eu me conheço bem o suficiente para ter a certeza que não conseguiria fazer ele de refém.
Ele vai ter que parar.
A cada passo que ele dá na minha direção, minha garganta aperta um pouco mais. Suas vestimentas estão bem rasgadas, sua pele cheia de cortes, não eram profundos, mas mais do que suficientes para trazer sangue para a superfície da pele.
Adam também estava sujo de lama, e parecia que tinha lutado e perdido.
Sua aparência com certeza não era uma das melhores, mas claro que isso não impediu meu coração de balançar e eu ter que respirar fundo diversas vezes apenas para me manter sobre controle.
E então ele percebe que tem alguém na sua frente e não sei ao certo como está a expressão em meu rosto, mas não desvio o meu olhar do dele nem por meio segundo.
— Adam? — mesmo olhando aqueles olhos, ainda me pego pensando se a minha mente não está me pregando uma peça.
— Megan — cada letra sussurrada pelos seus lábios percorre o meu corpo como uma poderosa corrente elétrica.
Droga, eu já estou bem perto do meu limite, primeiro com minha avó, e agora o Adam?
Não tenho outra opção além de manter as minhas aparências. Abro e boca e respiro fundo por ela, não confio no meu olfato assim tão perto dele. Por uns bons segundo ninguém fala nada, apenas sentimos a intensidade das nossas presenças.
Penso em perguntar para ele como me achou, mas não sei se ele seria sincero.
— Oi — ele diz simplesmente e não sei o motivo, mas tive que controlar um sorriso.
— Oi.
Não sei se quero estender muito a conversa, mas no momento não consigo me afastar dele. Então permaneço ali sob aquela magia retumbante que corria nos nossos peitos, magia essa que prefiro não nomear.
— Você os salvou — seu olhar desvia do meu por meio segundo, apenas tempo suficiente para ver se estávamos a uma distância aceitável das outras pessoas.
— Sim.
— Não adianta as milhares de ações que você pode tomar ou já tomou, dá pra perceber que ainda tem algo dentro de você, algo bom.
— Com certeza já fiz minhas ações.
— Sim, e olha só onde elas estão te levando...
Algo remexe dentro de mim, me aproximo dele e olho bem no fundo de seus olhos enquanto digo numa voz ainda mais baixa.
— Não te passa pela cabeça que mesmo salvando pessoas eu tenho motivos totalmente egoístas por trás?
Parte de mim se delicia com a expressão de surpresa que toma de conta de Adam. Ele dá um passo para trás, em choque, e voltamos a ter uma distância aceitável para a minha sanidade. Prefiro no momento não pensar demais no que a outra parte de mim está sentindo.
— Pior que passa sim.
Aquela frase dele me deixa surpresa, mas ao contrário dele, não demonstro nada. Nem ao menos engulo o nó que se formou na minha garganta.
— Mas mesmo desconhecendo os motivos totais das suas ações, elas ainda sim têm um peso. Ninguém pode ignorar o que você está fazendo.
— Estou fazendo o meu nome.
— Você sempre teve um.
— Grande coisa. Agora eu finalmente estou ganhando o que importa. Respeito e poder.
— Nem só disso um nome fica marcado Megan.
— Mas é assim que eu quero que o meu fique.
— De verdade?
A pergunta dele aumenta o nó na garganta, mas mesmo sem conseguir falar, eu aceno positivamente com a cabeça, dando o meu melhor para parecer firme. Ele não fala nada por uns segundos, e eu tento me mover para longe dele.
Ele estende a mão na minha direção e segura a minha. Seus dedos ainda são tão quentes, minha pele lembra da dele com intensidade e meu corpo sem me dar outra opção apenas aceita o contato.
— Volta — a voz dele estava tão quebrada, seus olhos tão perdidos, que mesmo inconscientemente, apertei seus dedos nos meus.
Aquilo não passou desapercebido por Adam, de algum modo, seus olhos voltaram a ter o brilho característico e vi neles estampado uma coisa que eu não poderia deixar viver ali.
Esperança.
A força veio de dentro e eu separei nossas mãos. Dei uns dois passos para trás apenas para ter a certeza que não fraquejaria novamente. Aquele contato doce, não era bom para mim.
— Você está em dúvida — ele diz e não era uma pergunta.
Como não era uma pergunta, não me dou o trabalho de responder. Que ele pensasse o que quisesse.
— Se voltar, podemos passar por cima de tudo.
— E quem disse que quero passar por cima das coisas que eu estou conquistando? Quero andar lado a lado com cada uma delas. E quando tiver conquistado o suficiente, vou partir para cima da pessoa que merece.
— Não disse isso nesse sentido Megan. Como eu posso desmerecer alguma coisa que você quer ou conquistou?
— Mas é o que parece Adam.
— Perdão, não foi minha intenção.
— Tudo bem. Mas agora você pode voltar pelo mesmo caminho que veio. Já me repeti tantas vezes com essa frase que estou cansada: eu não preciso de vocês me julgando.
— Você pode repetir isso quantas vezes quiser, ainda estaremos aqui Megan.
— EU NÃO QUERO VOCÊS AQUI ADAM! — grito, sem saber mais onde guardar a frustração dentro de mim. Extravasar assim era bom, me sinto bem melhor agora, bem mais no controle.
— Suas emoções sempre tirando o melhor de você.
— Minhas emoções não tiram o melhor de mim! Minhas emoções fazem de mim o que sou!
— Certo, certo....
Foi algo no tom dele ao falar essas últimas palavras. Minhas palavras não estão tendo o mínimo impacto nele. Solto uma risada nervosa.
Adam não estava escutando minhas palavras, então que ele absorva as minhas ações.
A lâmina presa no meu antebraço desliza entre os meus dedos enquanto seguro o cabo com firmeza. Tenho que provar o meu ponto de vista, a minha convicção.
— O que você vai fazer com isso na sua mão? — Adam pergunta, mas ainda permanece no mesmo lugar.
— Não reconhece?
— Deveria reconhecer essa lâmina?
— Pensei que pelo seu estado você nem conseguiria identificar uma faca se visse uma.
— O que você quer dizer com isso? Posso aparentar estar bem machucado, mas você deve saber que mesmo assim eu ainda sou capaz de uma boa briga.
— Claro que sei Adam... Não te subestimaria nem de brincadeira. Você é um dominador muito habilidoso.
— Então porque você sacou isso para mim?
— Porque preciso dar um jeito de te fazer entender...
— Certo... Então pode vir Megan. Dê o seu melhor — ele abre os braços claramente me chamando para a briga.
Seus ombros relaxam e vejo o fogo brilhar em seu olhar.
Sei que tinha sido eu a dar o primeiro passo, mas ao ver o rosto dele estou questionando a minha capacidade de fazer alguma coisa contra Adam.
— Onde estão seus domínios Adam? — tento instigar ele a dar o primeiro golpe, quem sabe assim meu corpo começa a agir por impulso.
— Tive uns problemas mais cedo, ainda não estou sob total controle deles.
— E não tem medo de admitir isso para mim? Estou em melhores condições que você e ainda tenho todos os meus domínios em toda a sua capacidade.
— Não — ele toma fôlego. — Não tenho medo de você Megan.
— Deveria.
— Não me peça o impossível Megan. Posso sentir muitas coisas por você, mas medo nunca vai ser uma delas.
— Você mesmo me disse uma vez... Nada em Nihal é impossível...
Com um pisão na terra, faço o chão amolecer e tremer abaixo de Adam, mas ele consegue permanecer de pé sem problemas. Sua postura é invejável e ele não parece nem um pouco alterado, ao contrário de mim que está com muitas coisas no limite.
— Você é tão bom que chega a ser irritante.
— Obrigado — e sorri.
Sim, sorri. Ataques de domínio não vão ter o efeito que eu desejo nele, então é melhor partir para uma coisa mais física. Com a faca que eu ainda tenho em mãos.
Começo a me aproximar dele com cautela, já que a habilidade dele é algo com que eu tenho que me preocupar. Mas nada em sua postura me faz acreditar que ele vai levantar um dedo contra mim.
— Não vai fazer nada?
Seu sorriso aumenta mais e eu vou ao ataque. De verdade dessa vez.
Fico espantada quando percebo que ele não tinha se mexido nem meio milímetro. Adam está de olhos fechados e a expressão dele é serena. Não consegui nem chegar a encostar a faca no Adam.
Eu tentei. A vontade que tive de machucá-lo foi bem real, não tenho dúvidas. Eu simplesmente não conseguia fazer mal a ele. Aquilo me deixou mal, por diversos motivos.
— O que você quer de mim? — meus olhos se enchem de lágrimas e eu nem fiz questão de esconder. Jogo a faca para longe e seguro os ombros dele com firmeza, sacudindo sem saber o que fazer.
— Meg eu... — Adam pareceu perdido ao olhar para o meu choro.
— Hein? O que quer? — repito a pergunta mais uma vez, o interrompendo sem saber se aguentaria escutar uma resposta.
O soco que dou no braço dele nem de longe poderia machucar, mas meu corpo se mexia por conta própria. Eu o empurrava apenas para depois trazer de volta para mim. E ele deixou que fizesse tudo com ele.
— No momento não vou ser capaz de... — ser o que você deseja, mas as palavras morrem na minha garganta. — Eu nem sei se sou mais sua...
A respiração foi roubada de mim nesse momento, pois não sei o que seria de mim se eu terminasse aquela frase. Mas pela reação dele, sei que tinha entendido o que estava dizendo.
Conhecia Adam tão bem que senti algo rasgar dentro de seu peito, doeu tanto, que tive que desviar o olhar para não desmoronar.
Não era isso que eu queria dizer, mas as palavras saíram.
— Não me siga, por favor — odiei o tom suplicante na minha voz, mas mesmo trêmula, sigo firme, aperto os braços em torno de mim, e sem esperar mais, viro e começo a andar de volta ao caminho para o acampamento.
Mal dou dois passos e quero olhar para trás.
Será que ele está fazendo o que eu pedi e não está me seguindo, ou então está com os passos logo atrás dos meus?
O que eu quero no momento está bem nublado, então o único jeito para saber é olhando. Só que antes que eu crie a força necessária para fazer isso, escuto a voz dele.
— Megan!
Me viro de imediato. E quando faço isso vejo Adam do mesmo jeito ainda, lindo e distante. Ele estava respeitando o meu pedido...
— Sim? — pergunto, pois o modo como ele me chamou, estava implícito que ele queria falar algo.
— Você sempre será Megan. Vá — agora é ele que me dá as costas e se afasta de mim.
֎ ֎ ֎ ֎ ֎
Olár leitores ♥
Esse final simplesmente destruiu o meu emocional, aaaaaaaaaaah. Adam sendo Adam e Megan confusa até a próxima geração. Vocês tem ideia do motivo do Adam deixar ela ir? Será que ele foi tão ferido ou foi algo a mais?
O que estão achando pessoal? Estão tão confusas quanto a Megan? Decididos como o Adam? Esperançosas como a Edith? Camuflados como o Tobias? kkkkkkk
Próximo capítulo teremos a participação do melhor guardião ever - ou pelo menos é o que eu acho - e ele quer nos contar um pouco do seu lado da história. Obrigada a todos pelo apoio e nos vemos no próximo capítulo :* ♥
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