07. Criança estranha
Oi, meus buscapés!! Como vocês estão? Eu estava mortinha de saudades, ainda bem que deu dia 13!!
Muito obrigada como sempre por acompanharem e por todos os comentários incríveis, eu fico toda tchubirudaumdaumdaum lendo, sério!!! Me derreto todinha
Boa leitura! #OCúmpliceDeAldebaran
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Gostava de estar com o povo. De estar com o povo, de treinar sua técnica na espada com o general de seu exército apenas pelo corpo, não pelo sangue. De ler poemas nas varandas altas do palácio. O jovem príncipe apreciava todas aquelas coisas que agora eram resquícios fracos de lembrança dos tempos de paz. Era arrebatadora a forma como a Guerra fazia tamanho palco em sua vida. Parecia não só ofuscar, mas também dissolver todos os acontecimentos bons até então como se eles mal tivessem existido. Como uma realidade paralela.
Garantia a ele mesmo e àqueles ao seu redor que um dia seria um rei justo, com aquela inocência, empolgação e certeza que só a juventude inexperiente poderia prover. Mas no momento que descobriu o fio que poderia desfazer aquela trama de sangue, notou o quanto era impotente, o quanto a realidade era distorcida e não dava as possibilidades que achava que teria. A realidade não era feita de certo e errado.
Geraria mais sangue. Porque o fio que achou era tão cruel quanto o resto da trama. Encontrou-se medindo pesos diferentes, comparando números de morte, calculando um sofrimento que não era ele que ia sofrer. A noção de que condenava, sozinho, pessoas que nunca conheceu pessoalmente de tão alheio que era à realidade delas o desestabilizou. Nunca achou que seria tão frio.
Gelou, como se agora fosse uma severa estátua monárquica.
Jimin aproximou-se de Jungkook instintivamente, sentindo-se um pouco intimidado com os olhares que recebia. Normalmente não ligaria para aquilo, já tinha aceitado que sua aparência era exótica demais no mundo exterior, mas talvez tivesse nutrido a esperança de que com outros elfos seriam diferentes.
Porém o jeito que os habitantes da cidade élfica Dietii paravam seus afazeres para observar os dois viajantes, especialmente o elfo de cabelos prateados, deixava claro que existia, sim, uma diferença muito grande. Eram todos elfos, mas ser um elfo eremita ainda destacava Jimin, que esperava que ao menos fosse de uma forma positiva.
Caminharam até uma taverna, desejando comer algo e, talvez, conseguir algumas informações. Algo sobre um sequestro, se tivesse sorte. Ou azar. No meio do caminho, Jimin achou um comerciante e, achando aquilo um ritual muito estranho, vendeu a pele dos animais que havia caçado para alimentar-se nas últimas semanas.
Até procurou oportunidades para dar a pele para alguém, mas não era tão fácil quanto pensou que seria. Não tinha a mesma familiaridade natural do povo de Radnaii com os viajantes que cruzavam seu caminho, portanto também não sabia se alguém necessitava ou não de peles. Todos pareciam muito bem agasalhados. Ficou com medo de soar como uma ofensa presenteá-las e, no final, receber aquelas continhas em troca das peles pareceu a alternativa mais certeira. Talvez devesse se adaptar à cultura local.
Mas se tinha algo que o deixava confortável naquela aldeia desde que tinha cruzado a entrada era algo que sentiu falta de ver nas outras visitadas durante todo aquele tempo: magia. Os adultos de Dietti eram mais contidos e não a faziam com frequência, mas as crianças elfas que corriam animadas pelas ruas brincavam com o Blesc sem nenhum embaraço.
Algumas faziam pequenas chamas aparecerem pelo ar, outras manipulavam a terra para fazer algum amigo tropeçar enquanto corria. Não viu nenhuma utilizando água ou ar, seus elementos favoritos, o que foi triste, mas deveria ter esperado por aquilo, porque eram elementos muito menos práticos e mais difíceis de serem utilizados do que fogo e terra.
Atestou o detalhe que Jungkook tinha comentado anteriormente sobre a magia — cada criança parecia manipular apenas um elemento. Achou aquilo estranho porque elfos, junto às ninfas, eram a raça mais próxima da magia e transformar Blesc em qualquer elemento era possível, no máximo exigia mais prática. A limitação de apenas um elemento seria uma escolha, talvez?
Não pensou demais sobre o assunto, pois sabia que apenas refletindo em silêncio não conseguiria nenhuma das respostas que desejava. Como consequência, começou a ponderar sobre sua postura em Dietii. Ao contrário das outras aldeias, não estava tão encantado e empolgado, decerto por ter focado-se demais na diferença entre ele e os outros elfos e não no quão incrível era conhecer coisas novas.
Balançou a cabeça para afastar todos aqueles pensamentos e voltar a ser o Jimin de sempre. Empertigou-se e afastou-se de Jungkook, começando a sorrir gentilmente para os habitantes que o encaravam com curiosidade, como sempre costumava fazer. Jungkook encarou admirado a mudança, achando a aparente timidez do elfo meio estranha até então.
Entraram na taverna. Ao contrário de Pervii, que era povoada por diversas raças, lá só havia elfos. A maioria deles homens mais velhos, segurando grandes canecas do que Jimin agora sabia ser cerveja na mão. Aquilo era bom mesmo? Só tinha provado o licor que Jina ofereceu, talvez devesse pedir um gole da bebida do Jungkook daquela vez. Achava que agora eles eram próximos o suficiente para fazer aquilo.
Sentaram-se no balcão e esperaram alguém vir atender, mas o casal que parecia ser dono do local estava ocupado com os outros clientes. Jimin observou a bancada e os bancos de madeira escura, muito parecidos com a taverna da Jina. Será que aquele tipo de estabelecimento sempre seguia aquele padrão?
— Me lembra da vez que a gente se conheceu — Jimin comentou em voz alta, com um sorriso, o que Jungkook estava pensando desde que entrou no ambiente. O homem alto corou, mas esboçou um leve sorriso em resposta.
— Sim...
— Jungkook, você deveria sorrir mais! — Jimin não deixou aquilo passar, tocando com o dedo a bochecha do parceiro e tentando levantar um dos cantos dos lábios novamente. — Você fica ainda mais bonito desse jeito!
— Hm... — Jungkook tentou responder algo, mas não conseguiu, completamente encabulado. Não sabia lidar com aquele tipo de elogio, ainda mais sobre sua aparência medonha. Sabia que o elfo não era do tipo que mentia, contudo também não conseguia acreditar em suas palavras.
— Oh! — O elfo, que ainda tocava a bochecha de Jungkook, a sentiu aquecer. Como ele pareceu não detestar o toque, aproveitou para sentir a calidez de sua pele não só com um dedo, mas com a palma inteira de sua mão. Riu baixinho. — Te deixei envergonhado? Desculpa, mas é verdade.
O dono dos olhos heterocromáticos queria responder ou fazer algo, mas não conseguiu, apenas corou com mais intensidade ainda. Apreciava tanto o toque de Jimin no seu rosto que chegava a ser estúpido. Estúpido e lamentável. Talvez detestável também... não deveria gostar tanto. Estava definitivamente fora de seus direitos.
Jimin gargalhou baixinho mais uma vez. Ainda achava a timidez do Jungkook adorável, mesmo que já conhecesse bem aquele traço de personalidade dele. Soltou sua bochecha, querendo deixá-lo confortável novamente. Esperava poder ter a chance de ver um sorriso daqueles de novo.
— Olá... — o homem que atendia chamou os dois, encarando curioso os visitantes. Apesar de não ser uma vila que recebia tantos viajantes, estavam acostumados a receber alguns. Mas não um elfo eremita junto a um homem suspeito. — O que posso lhes servir?
— Olá, eu sou o Jimin! — Ele sorriu empolgado, fazendo com que o homem lhe olhasse estranho. Atendia fregueses cansados do dia de trabalho que queriam beber, realmente não estava acostumado a ser cumprimentado de forma tão enérgica.
— Ah... Sou o Jisub, e aquela é minha esposa Hyojin — respondeu, meio perdido. Mas com tal abertura, teve coragem de perguntar: — Você é mesmo um elfo eremita?
— Aparentemente... — Jimin riu, sem graça. — Na minha tribo a gente se chamava só de elfo... que nem vocês, não? Somos todos elfos.
O homem concordou com certa relutância, só por causa do olhar cheio de expectativas de seu novo cliente. Como um bom dono de taverna, ele sabia concordar com quem lhe sustentava, mesmo que não fosse simpatizante da ideia. Como a de Jimin... não eram todos elfos. Havia diferenças claras entre os eles.
— Posso trazer alguma coisa? Alguma bebida?
— Duas refeições, por favor — Jimin pediu, exultante. Estava orgulhoso dele mesmo, tinha até aprendido como se portar em uma taverna... — E uma cerveja.
— Com licença... — Jungkook tentou atrair a atenção para ele. Sempre era difícil, porque normalmente ninguém gostava da sua presença, mas como não poderiam expulsá-lo, a alternativa mais fácil era simplesmente ignorá-lo. Atualmente, Jungkook nem achava aquilo tão ruim, gostava de poder ficar em silêncio. — Tem um curandeiro aqui na aldeia?
— Sim, na entrada da aldeia. É uma construção azul — Jisub respondeu o mais rápido possível, querendo livrar-se logo daquele olhar tão estranho, negro e flamejante. Jungkook entendeu e voltou a olhar para as próprias mãos.
— Obrigado.
Jisub, tendo ouvido ambos os clientes, foi em direção ao que parecia ser a cozinha a fim de buscar os pedidos. Jimin voltou a observar os arredores, cheios de elfos, procurando rastros de magia. Procurando rastros de preocupação, como se alguém de sua família tivesse sido... talvez... sequestrado. Porém, não achou. Ninguém parecia carregar a mesma aflição que tinha virado quase sua parceira naqueles últimos meses.
— Você vai beber cerveja? — Jungkook questionou enfim, curioso com o pedido que o elfo fez.
— Não, você vai. Eu quero só experimentar um gole. — Jimin riu com a cara confusa do outro.
— Eu vou?
— Não vai?
— Não gosto de cerveja... acho muito amargo — Jungkook confessou. Além daquilo, não apreciava bebidas alcoólicas de um modo geral, tinha que estar sempre sob controle de suas ações.
— Por que você estava bebendo na taverna da Jina então? — O elfo tentava relembrar o dia. Tinha percebido algo errado? Se bem que... provavelmente tinha ouvido mesmo algo sobre Jungkook não querer beber.
— Também não sei, eu tinha pedido água.
— Desculpa... Não deveria ter pedido então, espero que eu goste.
Jungkook esperava também. E esperava que Jimin não ficasse bêbado, apenas a ideia já parecia assustadora. Não estar completamente no controle, estar vulnerável... realmente era um conceito que nunca lhe apeteceu porque esforçava-se tanto para sempre ficar calado, fazer tudo certo, que tinha medo do que aconteceria se afrouxasse, mesmo que pouco, as rédeas de sua consciência.
Quem voltou para entregar o pedido foi a esposa, Hyojin. Jimin encarou a comida interessadamente, porque nunca sabia distinguir muito bem as coisas que cozinhavam nas tavernas e Jungkook, por sua vez, só pôde pensar que até pela cara e pelo aroma dava para perceber que a comida do Jimin era certamente melhor.
Assim que percebeu o que tinha pensado, Jungkook afundou a testa em uma das mãos, o mais discretamente que pôde. Nunca imaginou que um dia faria julgamento da qualidade de qualquer comida. Era tudo comida, e comida servia para fornecer energia, e não para apreciar. Era uma necessidade básica, não um prazer.
Ao seu lado, Jimin estava distraído com a enorme caneca de cerveja que foi entregue a ele. Cheirou, torcendo o nariz, antes de dar um gole e sentir o amargor característico preencher sua boca.
— Isso não é nada perto dos remédios do Jihyun! — exclamou orgulhoso enquanto despertava Jungkook de seus pensamentos, dando outro grande gole para mostrar seu ponto e sua resistência ao amargor.
Jungkook quis perguntar de novo quem era Jihyun, mas tinha percebido a forma que Jimin fugiu da pergunta na última vez. Como sabia como era ruim carregar segredos e desviar-se de perguntas sobre eles, deixou aquilo passar. Jimin realmente parecia muito ruim em esconder coisas sobre ele mesmo, teria que fazer um esforço para ajudá-lo.
— Então você gostou da cerveja?
— Gostar é uma palavra meio forte... Gostar eu gosto de você, das crianças lá fora, de acampar ao lado de rios... — Jimin suspirou ao pensar em tudo que lhe apetecia. — Mas dá pra beber.
Jungkook ficou em silêncio, pensando meio incrédulo se tinha ouvido errado que Jimin gostava dele. Claro que com aquele tempo viajando juntos já sabia que o elfo era culturalmente muito diferente dele ou de qualquer outra pessoa que não fosse um elfo eremita. Ele era sincero e não via vergonha nenhuma em demonstrar o que realmente pensava, então era razoável que gostasse de Jungkook, eles passavam um bom tempo juntos... Não odiava seu companheiro, ou seja, gostava... E ele gostava até das crianças do lado de fora, que mal conhecia, Jungkook sabia que não precisava refletir em demasia sobre aquilo.
Mas alguém gostava dele.
Essa possibilidade, com a qual nunca tinha se deparado antes, abalou Jungkook, mesmo que ele soubesse que não era nada demais. Abalou ao ponto dele preferir entrar em negação sobre o que tinha ouvido e concentrar-se em comer aquele prato que sabia que Jimin faria melhor, mesmo nunca tendo critério quando assunto era comida antes. Nunca teve o direito de ter critério, não tinha ainda e mesmo assim o fazia. Ele realmente estava muito estranho.
Jimin observou o comportamento do homem de quase dois metros ao seu lado com diversão e curiosidade. Depois que refletiu mais sobre o que falou, buscou no rosto dele as bochechas coradas tão clássicas de sua timidez silenciosa, mas não encontrou. Porém, pela quietude de Jungkook e sua concentração na comida, sabia que suas palavras tiveram algum efeito e refletiu quais poderiam ser.
Verdade seja dita, Jimin achava que tinha que tomar mais cuidado com suas palavras e suas ações, que cada dia mais compreendia não serem compatíveis com aquele novo mundo no qual aventurava-se. Mas era mais fácil falar do que fazer. Tudo era tão natural para ele que nem conseguia imaginar que aquilo poderia ser estranho e só descobria tendo como base a reação dos outros que interagiam com ele, na maior parte das vezes Jungkook.
Porém achava as reações de Jungkook tão incríveis e adoráveis que, no final, nem ficava com remorso por fugir da conduta usual, o que fazia com que sua motivação em agir diferente fosse esvanecendo-se. Talvez devesse aceitar aquilo, só esperava não ofender alguém de verdade um dia.
Bebericou novamente a cerveja amarga, mas muito mais agradável do que qualquer coisa que Jihyun já houvesse cozinhado, e começou a comer também, compartilhando daquele silêncio de Jungkook. Sentia muita falta de Jihyun. Até das sopas medicinais dele, e faria de tudo para experimentá-las de novo.
Aquele pareceu um bom momento para afogar-se um pouquinho na nostalgia e nas saudades que o irmão deixou consigo, e o fez em silêncio, repousando discretamente uma das mãos em um dos chifres de luz presos ao seu quadril. O da pessoa que mais amava naquele mundo.
Ao lembrar-se de Jihyun, tomou coragem para fazer a pergunta mais importante que guardava consigo. Jisub passou por perto, carregando em mãos o pedido de alguém e esperou pacientemente ele voltar, chamando-o para mais perto em um tom ligeiramente tímido e receoso, que despertou tanto a atenção do dono da taverna quanto de Jungkook.
— Alguma coisa estranha aconteceu por aqui? — Tentava não ser explícito demais sobre o sequestro, sentindo que tinha que esconder aquilo da melhor forma que podia. Mesmo assim, aquilo parecia mais dificultar do que qualquer outra coisa. — Com os elfos, com o Blesc...
— Estranha? — Jisub colocou a mão no queixo, pensando melhor. No mesmo momento, Jimin soube que não encontraria as respostas que precisava, pois ninguém precisaria parar para pensar ao lembrar-se de um sequestro. Ou pelo menos esperava que não; a aldeia parecia pequena o suficiente para todos os habitantes conhecerem-se bem. — Com o Blesc? Acho que não...
Sua esposa, Hyojin, estava passando com uns pedidos logo atrás quando ouviu a conversa, bisbilhoteira. Tentou resistir, mas não era todo dia que um elfo eremita dava o ar de sua graça e estava muito interessada no que ele tinha pra falar. Talvez alguma sabedoria mágica que só aqueles que viviam em reclusão possuíam.
— Claro que tem, querido! — retrucou revoltada, como se não acreditasse que o marido não deu ao elfo de cabelos prateados todas as informações que precisava. — A minha prima tem uma criança estranha, que nasceu sem conseguir manipular magia. Elas até se mudaram para os arredores da aldeia para não assustar ninguém com as coisas estranhas que aquela criança faz.
— Como assim coisas estranhas? — Jimin perguntou, estranhando. Apesar de ser anormal, de fato, uma criança élfica não saber manipular Blesc, havia um grande caminho a ser percorrido entre isso e a criança fazer coisas estranhas.
— Não sei, ela mexe com umas coisas não mágicas. Eu passo longe, o que Iredanus pensaria de mim? — A mulher pareceu perturbada. — Vocês, elfos eremitas, devem saber curar isso, não? Sempre contam que os melhores curandeiros e mensageiros da Guerra eram elfos eremitas. Você bem que poderia curar essa criança e livrar a aldeia desse mal antes que Iredanus resolva consertar a gente.
Jungkook só ouvia a conversa confuso, tentando entender quando que o rio Iredanus puniu a população mágica por alguma coisa. Não compartilhava da religião, porém, que soubesse, o tal rio nunca puniu. Mesmo assim, atribuíam aquele caráter de julgamento a ele, de forma até mesmo amedrontadora. Será que era a falta de fé que o impedia de compreender aquilo?
Jimin, por outro lado, estava preocupado com a tal criança. Já achava triste as que viu manipularem só um dos elementos e mal conseguia imaginar como seria não manipular nenhum. Queria conhecê-la, amava crianças e tinha certeza que amaria aquela também apesar de tudo.
— Para qual lado da aldeia ela mora? — perguntou automaticamente. Provavelmente não deveria estar se metendo onde não tinha sido chamado e, ao contrário do que Hyojin achava, não acreditava que ele poderia curar a criança. Mas queria entendê-la.
Talvez não devesse gastar o tempo que deveria utilizar para investigar onde Jihyun poderia ter sido levado em uma aldeia que não tinha nenhuma resposta. Mas já tinha esperado mais de cinco meses, certo? A simples verdade é que Jimin não conseguia deixar uma criança para trás.
— Para o fundo de Dietii. — A mulher apontou a direção. — A casa é amarela, mas você vai notar qual é quando chegar... é cheia das coisas estranhas que essa criança faz. Obrigada por ir olhar ela, elfo eremita.
— É só Jimin... — ele respondeu com um pequeno bico nos lábios. — E eu que tenho que agradecer, adoro crianças!
— Mas aquela... — a mulher suspirou. — Enfim, você verá com os próprios olhos.
Apesar de estar adorando fofocar sobre os causos da aldeia com Jimin, o casal voltou a trabalhar, mais por necessidade do que vontade. Algo naquela história toda incomodava Jimin, o que acabou tirando um pouco do sabor da refeição, a qual percebeu que não conseguia terminar.
— Jungkook... — Olhou confuso para o prato. Apesar da porção ser maior do que costumava comer normalmente, apenas o necessário, não era para ele ter aquele tipo de dificuldade também. — Eu já estou cheio...
— Deve ter sido a cerveja — ele comentou, observando que a mesma estava quase no final. — Cerveja enche.
— Essa bebida é realmente estranha. — Jimin torceu o nariz. Preferia ocupar seu estômago com comida no final das contas e sentiu-se traído por ter perdido seu apetite pra ela. — É ofensivo aqui se eu te oferecer o resto da minha comida?
— Não sei — respondeu com sinceridade. Estava longe de ser um parâmetro para tal assunto. — Para mim é bom que me ofereçam comida.
Jimin deslizou o prato na direção do Jungkook, sentindo-se mais tranquilo em saber que a comida teria um bom destino. Jungkook era bem alto e, apesar das muitas camadas de roupa, era visivelmente forte. Fazia sentido que ele comesse mais, apesar de nunca ter notado ele servir-se de porções maiores em suas refeições.
— Obrigado — Jungkook agradeceu, vendo Jimin forçar o resto da cerveja para dentro em um último esforço. O elfo repousou a mão na própria barriga com uma careta, parecendo desconfortável em estar tão exageradamente saciado. Definitivamente o corset que usava parecia apertar. — Não sabia que você era forte para bebidas.
— Como assim ser forte? Preciso ter força para beber alguma coisa? — Jimin perguntou confuso enquanto observava Jungkook finalizar o próprio prato para começar a comer o dele.
— Não força... mas cerveja tem álcool...
— Tem? — Jimin arregalou os olhos, espantado. — Mas eu não senti aquele fogo na parte de dentro... Jina falou para eu não exagerar com álcool! Estou em apuros?
— Tem menos álcool do que o licor — Jungkook explicou, refletindo que provavelmente Jimin nem sabia direito por que não deveria exagerar. — Tem várias bebidas diferentes com álcool, algumas com mais, outras com menos... As que têm mais álcool queimam mais. É bom não exagerar porque você pode ficar bêbado. Com força eu quis dizer isso, ser capaz de beber álcool sem ficar bêbado.
— O que é ficar bêbado?
— Não existia álcool na sua aldeia? — perguntou, confuso, porque para ele todo tipo de população tinha bebidas alcóolicas. Jimin negou, por falta de conhecimento. Tinha álcool em casa, feito por Jihyun para ser utilizado em esterelização, mas nem lembrou daquilo, focado na parte de beber. — Quando você bebe muito álcool fica tonto... Às vezes pode passar até mal, vomitar e tudo mais. E tem que urinar com frequência também.
— O quê? — Jimin olhou horrorizado para o próprio copo vazio antes de encarar Jungkook novamente, com uma pura expressão de traição. Como que Jungkook tinha deixado que ele tomasse algo que o fizesse passar mal? — Por que pessoas tomam álcool então? Por que passar mal de propósito? O que eu faço agora? Eu já bebi! Eu vou vomitar?
— Bem... Em geral quem bebe álcool faz isso para relaxar, uma forma de entretenimento. Há quem goste de perder um pouco do controle, ou simplesmente do gosto mesmo. Tem muita gente que bebe para aliviar as mágoas.
— Então é entretenimento perder o controle? Ficar tonto? — Jimin estava horrorizado com a informação. Não que tivesse passado por muitos momentos difíceis em sua vida, mas não gostava da ideia de ter seu pensamento amortecido sobre eles. Afinal, ignorar a situação não fazia com que ela desaparecesse.
Não que ele não estivesse de certa forma tentando suprimir o desespero e agonia que sofria com o sequestro de Jihyun e... talvez álcool realmente tivesse sido útil quando estava com as pernas quebradas. Ou não? Embebedar-se poderia impedi-lo de aprender a viver e lidar com a nova situação. Aquela informação nova estava o deixando confuso, mas acima de tudo estava preocupado sobre vomitar.
— Aparentemente. Deve ser útil às vezes — comentou Jungkook, mas não é como se pudesse dar ao luxo daquilo. — E em geral só se passa mal quando bebe muito mesmo, você vai ficar bem. Não se sente tonto?
— Não... — Jimin vasculhou a própria cabeça. — Acho que não, pelo menos.
— Bom, o teor do álcool não te atingiu então — Jungkook falou, terminando de comer e buscando Dien em um de seus bolsos para pagar a refeição. Jimin rapidamente colocou na palma enluvada as contas que tinha obtido naquele dia também, orgulhoso de sua proeza.
— Como você não me avisou? E se eu passasse mal?
— Desculpa... Eu pensei que você sabia... — Jungkook baixou o olhar, começando a ficar com remorso.
— Não, não, Jungkook! — Jimin arregalou os olhos. Seu companheiro realmente sempre levava muito a sério o que falava. Levou as mãos nos ombros dele, tentando passar firmeza. — Nessas horas é para você brincar comigo! Falar algo como não ser responsável pela minha estupidez, reclamar que eu que resolvi pedir a bebida sozinho! Não é para pedir desculpas.
— Você não é estúpido... — Jungkook devolveu, sem entender o que Jimin queria dizer. O próprio elfo era tão gentil... por que ele não seria de volta? A possibilidade de reclamar algo com Jimin parecia absurdo.
— Eu sei e você sabe também, por isso que poderia brincar com isso, porque não seria uma ofensa — tentou explicar com dificuldade. Não era algo tão óbvio assim, mas sabia que existiam provocações que eram apenas brincadeiras, e não ofensas. Jihyun era do tipo implicante, e mesmo assim, Jimin sabia que o irmão o amava.
— Não sei se consigo entender, Jimin, desculpa. — Jungkook franziu o cenho, confuso e chateado de não compreender muito bem o que Jimin queria. Estava sempre disposto a fazer o que o elfo desejasse.
— Esquece isso, não faz sentido mesmo — Jimin falou depois de pensar mais um pouco. A relação entre ele e Jungkook era diferente e, portanto, não deveria esperar que fosse tratado do mesmo jeito que outras pessoas faziam e eles teriam que dar seu próprio jeito de se entender. — Só não peça desculpas ou eu vou ficar triste.
— Desculpa... — Jungkook pediu de novo, sem vontade de fazer Jimin ficar triste. Percebeu logo depois que tinha pedido desculpas novamente e cobriu a própria boca por reflexo, confuso sobre o que deveria fazer. Jimin acabou rindo, achando tudo adorável demais e inclinou-se para deixar um beijo na bochecha dele, deixando-o ainda mais corado.
Hyojin apareceu logo depois para receber o pagamento dos dois, que espreguiçaram-se, cheios, e saíram da taverna. Jimin refletiu que fazia um tempo desde a taverna de Pervii, mas quanto? Não estava contando os dias e era preocupante. Talvez mais de uma semana? Aquilo queria dizer que provavelmente faltavam mais duas até Scorpii.
— A criança está para lá. — Jimin apontou, sem entender, o lado oposto do qual Jungkook tinha virado.
— Sim, mas não é melhor passar no curandeiro antes? — Jungkook perguntou preocupado.
— Você está passando mal ou machucado? — Jimin alarmou-se de volta.
— Não estou, mas você passou dois dias desmaiado, lembra? — Jungkook pontuou brevemente, levantando as sobrancelhas. O elfo já tinha parado de se importar com aquilo?
— Oh, verdade! — Jimin surpreendeu-se e Jungkook achou tão terrivelmente adorável que quase bateu na própria cara para despertar-se. Quando que Jimin tinha o cativado daquele jeito? Não sabia, mas fora rápido demais. Ou ele que era carente demais ao ficar vulnerável daquele jeito ao primeiro que lhe tratou bem. — Estou bem, vamos atrás da criança.
— Jimin... — Jungkook insistiu e o elfo percebeu que teria que dar um motivo convincente para ir primeiro até a criança, mesmo que a verdade consistisse apenas na vontade de conhecê-la.
— Você ouviu o que disseram na taverna, não? Elfos eremitas são ótimos curandeiros, então se eu nunca ouvi falar do que aconteceu comigo, dificilmente o curandeiro da aldeia vai saber. — Racionalizou e seu ego inflou quando Jungkook concordou com o argumento. Ele estava ficando bom naquilo de convencer as pessoas.
E rumaram em direção aos fundos da aldeia, procurando a tal casa amarela enquanto eram o centro das atenções das ruas de terra batida pelas quais passavam. Sempre eram, mesmo que cada um carregasse motivos diferentes para atrair olhares.
Jungkook não sabia o que pensar sobre aquela súbita missão que inseriu-se na viagem, mas ficou quieto e deixou que Jimin fizesse o que queria. O elfo, por sua vez, estava muito empolgado e pensou até mesmo em fazer um show de ilusões antes de lembrar que suas ilusões deveriam ser mantidas em segredo. Será que conseguiria conquistar a criança unicamente por palavras?
Assim como Hyojin disse, não foi difícil descobrir qual era a casa certa. Além de sua inconfundível pintura amarela, os arredores dela eram apinhados de carcaças metálicas, molas, pistões e várias outras ferragens que a dupla não tinha nenhuma noção do que eram e que não viram nas outras casas.
Pararam em frente à residência, sem saber ao certo o que fazer. Bater na porta, entrar? Jimin nem ao menos arriscava fazer qualquer coisa, porque tinha quase certeza que o costume de Radnaii de simplesmente transitar entre casas na árvore alheias não aplicava-se ao resto de Antares. Jungkook parecia tão inseguro sobre o que fazer quanto ele.
Como se apenas esperassem a chegada dos dois viajantes, gritos femininos começaram a soar pela casa e a porta abriu-se, revelando uma garota de sorriso arteiro no rosto. Enquanto olhava para trás, em direção à mulher que gritava, topou na entrada, tropeçando por uns bons metros.
Jimin avançou alguns passos para tentar impedir que a menina caísse, mas esta, por sua vez, se jogou na direção do Jungkook. O homem, sem saber o que fazer, abaixou-se para tentar segurá-la em um reflexo, mas toda a situação era muito estranha para si. Parecia óbvio que cair na direção de Jimin era mais seguro.
Mas ela estava lá, nos braços dele. As orelhas pontudas mostrando que era, inegavelmente, uma criança elfa. A menina levantou o rosto pequeno e sujo de preto para seu salvador, dando um sorrisinho arteiro e cúmplice enquanto a voz feminina chamava novamente, dessa vez mais clara e alta:
— Mimi! Pare de aprontar e volte aqui!
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Ai, tô muito animada! Esse é o primeiro capítulo de quatro que vão constituir o primeiro miniarco da fanfic! Tem um pouco esse ar de introdução por causa disso! Eu sempre amei muito narrativas de aventura, fantasia etc. que têm miniarcos, então eu tô muuuuuuuuito feliz em postar o meu primeiro e espero muito que gostem!
Vários momentinhos jikook e jimin na paz pra vocês NÃO FALAREM QUE EU SÓ SEI FAZER O JIMIN SOFRER, TABOM??? Qual foi a cena favorita de vocês? A minha é o Jimin falando pro JK sorrir mais pq meu laudo médico é BOIOLA
Muito obrigada jikookbisexual por ter betado o capítulo!! Sempre me salvando aaaa
Espero muito que tenham gostado do capítulo! Fiquem à vontade pra surtar comigo aqui, no #OCúmpliceDeAldebaran no twitter (sou a @callmeikus lá!) e não esqueça de deixar seu votinho se gostou!
Beijinhos de luz e até dia 13/03 às 19:13! (se bem que meu niver é 4 de março e eu gosto de dar alguns mimos a mais pros meus leitores durante a semana pra comemorar, então me avisem se vcs tiverem interesse em cap extra de CDA!)
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