Capítulo 6 - Rituais parte 1
Contém 3690 palavras.
Boa leitura ❤️
É fácil ter medo da vida
Com você eu estou preparado para
O que ainda está por vir
Porque nossos dois corações
Vão deixar isso mais fácil
Unindo os cacos
Juntos, tornando-se um só
Você faz meu coração parecer que é verão
Mesmo quando a chuva está caindo
Você faz o meu mundo inteiro parecer certo
Mesmo quando ele está todo errado
The One -Kodaline
Meu corpo, envolto em uma tranquilidade nunca sentida, me deixou com menos vontade de sair, principalmente pelo conforto de seus braços. Vergonhosamente, acordei completamente deitada sob o peitoral dele, que manteve os braços ao meu redor, como se quisesse me proteger. Elevei a cabeça, rente ao seu pescoço, vendo o quão sereno e relaxado ele estava.
Era como se fizéssemos isso a vida toda!
Thor abriu suavemente os olhos, mirando os meus, transmitindo uma doçura infinita.
— Bom dia, acordou há muito tempo? — a voz rouca e intensa rompeu o silêncio.
Ao ouvi-lo, um calor reconfortante invadiu meu peito, a rouquidão de sua voz, carregada com sinceridade e afeto, fez meu coração bater de maneira estranhamente descontrolada. Pela primeira vez, me senti protegida, envolta numa sensação de paz.
— Bom dia, não faz muito que acordei.
O olhar quente e acolhedor, tão cheio de emoções, me fez sentir especial, um sorriso se formou em seus lábios, enquanto não consegui desviar os olhos dos seus.
Suspirei pesadamente.
Seu rosto, a centímetros do meu, ocasionou uma enxurrada de emoções que fez meu interior revirar. Thor manteve contato visual, me deixando cada vez mais nervosa com a avalanche de sentimentos que me invadiu. Meu coração disparou com sua proximidade.
— Tudo bem? — Thor perguntou gentilmente, levando a mão para acariciar meu rosto.
O carinho me deixou com uma imensa vontade de chorar, pois nunca recebi nada assim, nem mesmo quando vivi meu fadado romance com o Uziel. Ele era muito bruto, às vezes me pegava pensando no que vi nele, pois agora, nos braços de Thor, sentia pela primeira vez que estava onde deveria estar.
— Está... agora está — minha voz saiu suave, ocasionando um leve sorriso dele em resposta.
A mão dele gentilmente me puxou para mais perto, o ato ocasionou um solavanco em meu coração, que parecia que pularia do meu peito ao sentir o leve roçar dos lábios dele nos meus, mas ele os desviou, rumo à minha testa, deixando um beijo suave.
Meu suspiro em resposta pareceu diverti-lo.
— Preciso ir antes que alguém nos pegue assim — Thor murmurou, divertido.
Apesar de sua fala, ele não fez nenhum movimento para me tirar de seus braços.
— Não quero! — afundei o rosto no pescoço dele.
— Selene, hoje é nosso casamento... — Thor carinhosamente começou a fazer um suave carinho em minhas costas.
— Por isso não quero sair daqui, não sabe os rituais que me esperam!
Ele se arrepiou com minha voz em seu pescoço, mas manteve-se quieto, como se evitasse muito contato, o que achei interessante, não imaginei que ele fosse reagir com algo tão simples.
— Queria que você tivesse os mesmos rituais! — sussurrei, encostando os lábios em seu pescoço.
Thor apertou mais meu corpo contra o seu, suspirando em contentamento. Suas mãos vagando pelas minhas costas ocasionaram um arrepio repentino. Apesar de sua firmeza, seu toque foi suave, como se ele estivesse explorando meus limites e pronto para parar a qualquer sinal. Isso me deixou mais extasiada, pois não esperei sentir aquele turbilhão de emoções que invadiu meu íntimo.
A porta abriu abruptamente, nos assustando.
— Selene, minha querida, acord...
A voz contente de Cyrius morreu, conforme seus olhos arregalavam ao ver Thor sentado em minha cama.
— MAS O QUE SIGNIFICA ISSO?
— Fala baixo! — Thor rosnou bravo, ao ver o ancião aos berros.
Cyrius tremeu com medo do semblante do Deus, mas seu amor por mim venceu, pois seu olhar ficou surpreendentemente feroz.
— Não deveriam estar assim juntos! — Cyrius murmurou indignado, fazendo Thor sorrir com sua coragem.
— Não aconteceu nada, não precisa fazer esse escândalo — resmunguei, levemente entediada.
Ele precisava fazer essa cena?
— Vou indo... espero você no altar, princesa — Thor murmurou em meu ouvido.
Um arrepio percorreu minha espinha, não consegui encontrar minha voz para respondê-lo.
Thor me olhou com intensidade, aproximando o rosto do meu, um leve beijo foi deixado próximo aos meus lábios, me pegando desprevenida.
— Até daqui a pouco — ele piscou maroto, aumentando o rubor em minha face.
O brilho em seu olhar o deixou ainda mais bonito, tanto que poderia congelar o momento somente para admirá-lo.
— Selene... não deve ficar assim com seu noivo! — Cyrius resmungou assim que Thor nos deixou a sós.
Ele, agindo como meu pai, é fofo, mas quando ele exagerava, era irritante!
— Vamos nos casar hoje!
— Mesmo assim!
Revirei os olhos, fazendo-o cruzar os braços, emburrado.
— Cy... aconteceu algo ontem, armaram uma espécie de despedida para o Thor, mas me mandaram um bilhete avisando para encontrá-lo... Vi-o com uma mulher completamente nua.
— ELE A TRAIU? — Cyrius gritou, me fazendo fuzilá-lo em resposta.
Custava a ele acalmar os ânimos antes que todos os nove reinos o escutassem?
Cyrius corou pela vergonha, sorrindo leve como desculpa.
— Thor não me traiu, mas é estranho alguém avisar-me sobre isso, estou sendo mais vigiada do que penso — admiti o real problema.
— Por isso tem que tomar cuidado, sabe que as leis são mais rígidas para as mulheres! — ele resmungou, assumindo a postura rígida novamente. — Ainda bem que me ofereci para acordá-la, a anciã está aí para começar os rituais.
Não poderia condená-lo por estar tenso em relação aos rituais.
Talvez seja melhor não mencionar o descontrole com meus poderes, pois somente vai deixá-lo mais preocupado e Thor soube lidar bem com esse problema, sem mais preocupações.
O foco deveria ser esses benditos rituais!
Os que ele se refere, em especial, deveriam ser feitos entre as mulheres da família, mas como resta somente a mim, a anciã tomou a responsabilidade. O primeiro ritual consistia em entrar completamente nua na água sagrada, que era uma prova de que a noiva era pura, já que a água era mágica, na cor completamente cristalina. Se fosse impura, sua cor ficava negra, demonstrando sua vergonha.
Não sabia que cor ela ficaria comigo, pois, apesar de estar encantada, magia possuía limites, não sabia qual era o limite dessa em contato com uma água sagrada dessa forma.
— Selene, como vamos fazer? — Cyrius perguntou nervosamente.
— Calma, Cy... dará tudo certo!
Cheguei até aqui, não será isso que vai me parar!
Uma batida suave foi ouvida, tirando-me de meus pensamentos. O elfo, ao atender, deu de cara com a anciã. Asha estava com um sorriso sereno em seu rosto, acompanhada de uma jovem dama.
— Cyrius pode ir, não será preciso ficar — Asha anunciou, olhando serena para a jovem morena ao seu lado. — Diane me ajudará no ritual.
Apesar de ele não demonstrar nenhum problema com Asha ou Diane, pareceu que ele não queria sair do meu lado, o que aqueceu meu coração. Era a mesma sensação de quando meu pai me protegia, pois sabia que ele estava pensando em um plano, para caso algo desse errado, Cyrius arriscaria sua própria vida por mim e isso era amor de pai, sentimento esse que ele sempre demonstrou sentir por mim, pois sempre me tratou como se fosse sua filha.
— Cy, nos encontramos depois — respondi firme, tirando-o de seu torpor.
Ele reverenciou brevemente Asha e depois a mim, sorrindo tenso.
— Claro, até mais.
Sua voz trêmula apenas ecoou junto com minha própria tensão, pois mentiria se dissesse que estava tranquila, mas sabia que não poderia fugir disso, precisava arcar com as consequências dos meus erros.
Asha sorriu gentilmente, antes de mandar os empregados levarem a água para o banheiro e esperou até que eles saíssem do quarto, para trancar a porta. Chamando-me suavemente, antes de se dirigir ao banheiro, onde a enorme banheira já me esperava, cheia de uma água totalmente cristalina, seu aroma de flores-do-campo preencheu o ambiente, deixando-o calmo e aconchegante. Apesar disso, meu corpo tremeu quando minhas mãos alcançaram a alça do meu vestido.
— Não precisa despir-se, princesa — Asha interrompeu meu movimento.
Olhei confusa para ela, que sorriu gentilmente em resposta.
— Como assim, Asha?
— Sua mãe contou-me tudo, sei da sua situação. Diane está aqui para fazer esse ritual para você. — Asha respondeu, séria.
Ela sabia... minha mãe confidenciou algo assim para Asha!
Foi por isso que ela ficou ao meu lado quando Uziel sugeriu que tirassem a prova!
— Mas... mas como?
Asha apenas segurou minha mão, batendo levemente com a sua palma firme.
— Não precisa fazer nenhuma pergunta, evite falar em voz alta isso aqui.
Ela tem razão, após os recentes acontecimentos, não poderia dar chance para o azar. Se tinha alguém de olho em mim, melhor agir com discrição. Diana despiu-se, adentrando na banheira, a água continuou num cristalino mágico, fazendo-me suspirar aliviada.
— Obrigada!
Era para ser um ritual mágico para mim, um passo que todas as gerações da minha família passaram, com orgulho, e não poderia cumprir, por ser impura, tudo graças a ele!
Isso não deveria importar mais, essas leis arcaicas, apesar de se tratar de um rito, ainda eram sobre o controle que os elfos homens tinham sobre as mulheres. Como Thor mesmo disse, ele não me achava impura, ele me tratava como alguém precioso e era isso que precisava ter em mente.
Impura era aquela que não tinha bom coração!
— Selene... sei que deseja fazer esse ritual, mas não deve entrar em contato com essa água. A magia possui limitações nesse quesito, já que a própria água é mágica. O mínimo contato que ela fizer com sua pele revelará a verdade.
Concordei, suspirando pesadamente.
— Agora vá banhar-se no chuveiro, precisa mostrar que está molhada, leve o tempo que for preciso, quando terminar terei que chamar os anciões para demonstrar sua pureza.
— E Diane?
Como eles não notariam ela saindo junto da anciã?
— Para todos, ela veio junto aos outros empregados de Thor, ela vai passar despercebida — Asha sorriu levemente.
Ela... isso foi... Thor armou isso?
— Você é uma das empregadas de Thor? — perguntei atônita para a moça.
— Sim, minha senhora — ela respondeu graciosamente.
— Tem um bom noivo, Selene — a anciã piscou marota em minha direção, antes de sair junto de Diane.
Ele armou tudo isso para mim, para que pudesse provar minha pureza para o conselho. Ele sabia das consequências e planejou tudo com antecedência!
— Thor...
Cada instante ele me impressionava mais positivamente, com cada gesto genuíno e puro.
Ele era realmente diferente de tudo, gostava disso!
Não conseguia conter a carranca ao estar de roupão diante dos anciões, somente para provar algo num ritual arcaico que tirava a privacidade da noiva. Mergulhar na água mágica era uma coisa, apesar de ela ser com o propósito de provar a pureza, ela também purificava a alma.
Meu coração queimou ao vê-lo adentrar o quarto, como se ele tivesse algum direito de estar aqui.
Ele estava passando de todos os limites!
— Muito bem, princesa, sua pureza foi provada — o mais velho anunciou, me deixando mais enjoada.
Como isso poderia ser normal?
— Ainda tem a prova da lua de mel — Uziel retrucou maliciosamente, atraindo meu olhar.
— O quê?
— Seu sangue junto ao hímen e a ejaculação de seu marido — ele respondeu, sorrindo abertamente.
Ele estava fazendo isso de propósito!
Ele queria tanto que eu morresse?
Mesmo que seja condenada, o levarei para o inferno comigo!
— Já tem sua prova, agora fora daqui! — apontei para a porta.
Uziel apenas sorriu maliciosamente.
— Ele tem razão, princesa, a prova do lençol deve ser exposta no dia seguinte — o mais velho concordou, aumentando minha fúria.
— Mandei sair! Preciso arrumar-me para o casamento, assim não terá lua de mel!
A potência da minha irritação fez minha voz tremular, junto com uma pequena explosão de meus poderes, nada que pudesse ocasionar algum mal a eles, mas ainda assim consegui assustá-los. Os anciões deixaram o quarto sob o olhar tranquilo de Asha.
Uziel ficou por último, com os olhos brilhando de diversão.
— Fique bem bonita, quero me alegrar nessa festa — ele piscou maroto, saindo do quarto antes que pudesse responder.
Por todos os deuses, o que fiz para merecer esse maldito?
Por que simplesmente não o matava?
"— Sei o que sente, sou mãe também, a dor de perder um filho é algo que jamais quero sentir, por isso te imploro, não perca sua alma, não faça nada, pois ele cairá sem que precise sujar suas mãos!
Mamãe tomou minhas mãos nas suas, enquanto chorava copiosamente.
— Não tenho mais alma, ela morreu com minha menina! — murmurei, chorosa.
Suas delicadas mãos cobriram meu rosto com um carinho extremo.
— Não morreu, pois ela vive em você! Sua vida será proteger aqueles inocentes desse maldito, somente assim a manterá junto de você!"
Jurava que estava tentando não corromper minha alma, me entregar completamente para as trevas, mas era difícil!
— Selene, por favor, fique calma! — Asha pediu, alarmada.
O semblante de medo dela foi o que paralisou todos os meus sentidos, pois, mesmo sem querer, comecei a liberar as trevas.
— Vamos seguir os rituais...
Não darei o que ele quer, meu dever era proteger meu povo e farei isso. Uziel quer que me descontrole para finalmente conseguir me quebrar, mas não será tão fácil dessa vez!
Segui em silêncio Asha, para o ritual com os óleos, para deixar a pele macia e despertar a sensualidade, uma passagem simbólica de menina para mulher. Deveria ser feito pela mãe, pois ela ofertava os ensinamentos para sua filha, lhe dando conselhos tanto para o matrimônio como para a vida. Asha tomou o lugar dela, com muito respeito, enquanto passava as mãos pelas minhas costas, espalhando o óleo de sândalo. Apesar das propriedades relaxantes e seu aroma envolvente, não pude deixar de achar graça da situação.
— Seja graciosa e misteriosa, a mistura de pura com selvagem os deixa loucos! — Asha sussurrou como se fosse um segredo.
Vê-la falar sobre como deveria fazer para deixar Thor aos meus pés era engraçado, mas também melancólico e lindo ao mesmo tempo, pois não pude ter essas conversas com a mamãe.
— E como faço isso? — perguntei, já rindo.
— Instigue seu sangue e faça-o ferver por você, deixe que ele a guie sem mostrar que sabe todos os segredos da sedução, mas seja completamente sensual para ele, mostre que ele é desejado e desperte o desejo dele por você — Asha sorriu ao ver o rubor em minha face. — Homens gostam de serem instigados, não importa a raça, sempre demonstre seu desejo e seja bem clara sobre isso, eles são lentos também.
Demonstrar desejo...
Minha mente preencheu-se com as cenas de mais cedo, quando acordei em seus braços e ele me puxou para mais perto, suas mãos em minhas costas, seus lábios próximos aos meus...
Meu corpo inteiro arrepiou-se com a lembrança, aumentando meu rubor.
— Acredito que será fácil para você deixá-lo louco.
A fala de Asha chamou por completo minha atenção em sua direção.
— Como assim?
— Querida... ele é atencioso, cuidou de tudo para que o primeiro ritual fosse perfeito e sem falha alguma, usou seus poderes como Deus para que Diane passasse despercebida, sei também que ele mesmo organizou todo aquele jantar romântico.
Sim, mas foi por ordem de Odin!
— O quê?
Asha revirou os olhos como se fosse óbvio.
— O pai dele queria que ele se aproximasse mais de você, é verdade, mas a ideia do local onde seria foi dele, afinal, ele sabia do seu desejo em ver a cidade. O local era num caminho onde dava para você fazer um tour sem que soubessem de sua presença.
Ele organizou tudo pensando em mim?
Escolheu um local longe, pois poderíamos caminhar e, com isso, poderia observar toda a paisagem do local. Ele foi atencioso a esse ponto?
A mesa posta exatamente onde poderia contemplar a lua e o mar, a chuva de estrelas, que ele provavelmente saberia que aconteceria, a maneira como me segurou em seus braços para que pudesse ver melhor e seu carinho após.
Thor foi tão atencioso, mostrando com gestos o quanto estava disposto a fazer isso dar certo, como ele queria me tratar como... sua parceira.
Sou sua parceira, não alguém que ele irá se saciar e depois serei descartada, serei sua esposa e companheira!
Olhei chocada para Asha, que somente sorria amorosamente em resposta, como se soubesse o que se passava em minha mente.
— Oh!? Céus!
Ontem, ele ficou desesperado para se explicar, foi tão carinhoso, mostrando que estava ao meu lado e afugentando as trevas. A maneira como dormimos apenas mostrou o quanto confiei nele, pois permiti a ter uma noite completa de sono, sem pesadelos, pela primeira vez desde que minha filha morreu.
Asha segurou minhas mãos, atraindo meu olhar para ela.
— Selene, apenas deixe acontecer, sei que sofreu, mas ele está provando que não é igual ao outro — Asha carinhosamente acariciou a palma da minha mão. — Deixe esse sentimento florescer, você merece ser feliz.
Sabia que ele não era igual ao Uziel, nem de longe ele lembrava o maldito, era uma heresia compará-los!
Ainda assim, era doloroso, era como se estivesse prestes a pular de uma montanha, sem saber como conseguirei sobreviver à queda e dessa vez será completamente diferente, pois cair será destrutivo, não terei como reconstituir.
Como posso fazer isso?
— Licença, senhora — a voz suave de Diane ecoou, me tirando abruptamente dos meus pensamentos.
Ao olhar em sua direção, vejo Diane sorrir, com um pequeno baú em suas mãos.
— Diane, não pude agradecê-la, mas saiba que o que estiver ao meu alcance eu farei por você!
— Apenas faça meu senhor Thor feliz, ele é o herói do nosso povo — Diane respondeu com graça.
Meu rosto ficou quente, provavelmente corei por completo.
— Eu... farei.
— Meu senhor mandou para que usasse no casamento — Diane abriu a pequena caixa de madeira ornamentada.
Dentro dela repousava um deslumbrante diadema, adornado com pequenas folhas esculpidas e com pedrinhas lápis-lazúli que brilharam num azul profundo. Ao centro dele, uma pedra maior cintilou, com um brilho encantador.
— Que linda!
— Pertenceu a Jord, sua mãe — Diane murmurou suavemente.
Ao escutá-la, uma onda de emoções me inundou, meus olhos se encheram de lágrimas, enquanto peguei o diadema com extrema delicadeza. A honra pelo seu gesto foi profunda, assim como o sentimento de conexão com ele.
Thor tocou meu coração de uma maneira que não esperava.
Essa joia era de Jord, a Deusa ligada à terra e uma jotun, não foi esposa de Odin, mas concebeu Thor e Loki, por conta disso foi reconhecida como deusa, mas ela morava em Jotunheim.
Surpresa era pouco, não sabia explicar o que senti com esse gesto, ele me deu uma joia que era de sua mãe, ele me estimava a esse ponto?
— Ele acha a senhora honrada, ele nunca tocou nas joias de sua mãe, pois nunca achou ninguém que fosse digna de possuí-las, mas a senhora é para ele — Diane respondeu suavemente.
Thor me tratava como algo único e não sabia lidar com isso!
Segurei o diadema com mais reverência, sentindo uma onda de emoções, não era apenas uma joia, era um significado profundo e pessoal, que me fez perceber que nossa união não seria um mero acordo, bastava querer, pois ele estava realmente disposto a isso.
— Usarei com orgulho!
Diane assentiu, ajudando a colocar o diadema em meus cabelos. Enquanto a imagem era refletida no espelho à minha frente, uma nova força e determinação cresceram.
— Eu disse, minha querida, não precisa de muito para ele querer você, mas é bom que saiba que ele é um guerreiro — Asha murmurou alegremente.
— Sim, sei que ele é um guerreiro — respondi confusa, fazendo a anciã suspirar graciosamente.
— Significa que ele gosta de conquistar, deixe-o que ele a conquiste, mas também não precisa fazê-lo sofrer!
Não consegui impedir o sorriso, principalmente ao ver o risinho de Diane ao concordar. Ambas não tiraram o sorriso ao me ajudar com o vestido.
Não pretendia fazê-lo sofrer, mas será interessante tê-lo atrás de mim...
Asha se aproximou, colocando a joia de mão sob minha mão direita, uma joia ornamentada que se estende sob cada unha, como se fosse uma luva de ouro, detalhada com filigranas e pequenos desenhos intrincados. Cada dedo possuía um anel e todos são conectados por delicadas correntes finas como redes, com pequenas pedras da lua, indo até o pulso, onde a base partia de correntes conectivas, largas e com padrões ornamentais, um pingente em formato de meia lua com uma pedra da lua sobre ela.
Ela pertenceu à minha mãe, estava na nossa família há gerações, era costume usar uma joia de casamento com esse simbolismo, uma maneira de ter a progenitora consigo.
Sorri saudosa, lembrando do calor que ela emanava, tão puro e profundo. Por um instante, a senti comigo.
— Está tão deslumbrante! — a voz de Asha soou emocionada, me fazendo sorrir levemente, pois me senti assim.
O vestido prateado, decotado em forma de coração, com espartilho da mesma cor, apenas mais escuro, realçou o tecido, adornado com um delicado acabamento cinza nas bordas. Ao centro, no espartilho, com uma variedade de nós, simbolizando o ciclo infinito da vida e a interconectividade entre as pessoas, lembrando a honra às tradições. As mangas de cetim, num prateado mais leve e com brilho, eram bufantes nos ombros, antes de afunilar até os punhos, e a saia volumosa, de mesmo cetim prateado.
— Me sinto bonita — admiti, fazendo-a sorrir levemente.
Esperava que Thor achasse o mesmo...
— Sua pele está tão macia quanto uma flor, está na hora do ritual do fogo, minha querida — Asha anunciou em tom de lamento.
Meu coração se apertou, era o ritual a ser feito pelo meu pai, um rito de bênção, que consistia em acender uma pequena vela perolada dentro de um recipiente de vidro, pedindo aos deuses que abençoassem o fogo, pois assim como ele era símbolo da destruição, também era reconstrução.
Uma leve batida ecoou, a porta abriu-se levemente e não aguentei as lágrimas diante da cena. Cyrius segurava o fogo do ritual, enquanto os empregados atrás dele traziam o recipiente numa pequena corte.
— Selene, perdoe-me por representar o papel de seu pai sem consultá-la antes — Cyrius, sua voz soou ligeiramente emocionada.
— Cy... não existe ninguém mais capaz que você!
Sem conter a emoção, abracei-o ternamente.
Asha e Diane, que observavam a cena caladas, não conseguiram segurar as lágrimas diante do amor explícito.
— Bem... vamos ao ritual! — Cyrius resmungou, emocionado.
Cyrius colocou a vela perolada sobre a pequena redoma de vidro, entoando em élfico antigo, começou a cantar ao acendê-la com o fogo sagrado.
— Princesa Selene Aruna de Alfheim, perante este fogo sagrado, peço humildemente aos deuses que abençoem seu casamento, que eles concedam a você frutos e que deles tu e teu marido possam alcançar a felicidade eterna, junto com o amor que ambos vão construir.
A emoção em sua voz ocasionou mais lágrimas nas mulheres presentes, comigo não foi diferente, pois senti tanto amor em suas palavras.
— Obrigada, Cy...
Que os deuses lhe escutassem e dessem a paz para meu coração...
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Diadema que Thor deu para Selene.
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