Capítulo 39 - Meu lar é você
Contém 3770 palavras.
Boa leitura❤️
O que eu faria sem a sua arrogância?
Me atraindo e me afastando
Minha cabeça está girando, sério
Eu não consigo te decifrar
O que está acontecendo nessa mente linda?
Estou em sua jornada mágica e misteriosa
E eu estou tão tonto, não sei o que me atingiu
Mas eu ficarei bem
Minha cabeça está debaixo d'água
Mas estou respirando bem
Você é louca e eu estou fora de mim
Porque tudo de mim
Ama tudo em você
Amo as suas curvas e seus contornos
Todas as suas imperfeições perfeitas
Dê tudo de si para mim
Eu vou dar tudo de mim para você
Você é o meu fim e o meu começo
Mesmo quando eu perco, estou ganhando
Porque eu te dou tudo de mim
E você me dá tudo de você, oh-oh
Quantas vezes eu tenho que te dizer?
Mesmo chorando, você é linda
O mundo está te castigando, eu estou por perto acompanhando tudo
Você é minha ruína, você é minha musa
Minha pior distração, meu ritmo e minha melodia
Eu não posso parar de cantar, está tocando
Em minha mente para você
Dê tudo de si para mim
Eu vou dar tudo de mim para você
Você é o meu fim e o meu começo
Mesmo quando eu perco, estou ganhando
Porque eu te dou tudo de mim
E você me dá tudo de você, oh-oh
Cartas na mesa
Nós dois estamos mostrando corações
Arriscando tudo, embora seja difícil
Porque tudo de mim
Ama tudo em você
Amo as suas curvas e seus contornos
Todas as suas imperfeições perfeitas
Eu te dou tudo de mim
E você me dá tudo de você, oh
All Of Me- John Legend
O caminho de volta foi curto demais, meu coração batia forte no peito, uma bateria frenética anunciava a minha ansiedade. Queria vê-la, mais do que nunca. Nossos futuros, finalmente, estavam a salvo. Ao pisar em Alfheim, a única coisa que importava era encontrá-la. Sabia que estaria segura com Cyrius, o salão dos reis era o único lugar onde ele ficaria, um espaço sagrado, acessível apenas aos que carregavam o sangue da casa Aruna. Não me preocupei em esconder minha aura, minha chegada ecoou como um trovão silencioso. Cyrius abriu a porta selada com um suspiro de alívio.
— Graças aos deuses! — Cyrius sorriu, o alívio em seus olhos tão intenso quanto o meu.
Ele esquecia, às vezes, que eu era um Deus.
— Ela acordou? — minha voz saiu rouca, a pergunta carregada de um medo que não conseguia disfarçar.
— Estou bem, e você? — sua voz, fraca e sussurrante, ecoou pelo salão. Um suspiro de alívio escapou dos meus lábios.
Minhas pernas me levaram até ela em um só movimento. O calor do seu corpo junto ao meu foi como um bálsamo, acalmando a tempestade dentro de mim. Finalmente, sentia paz. Seus braços me envolveram com força, um abraço apertado, como se temesse que pudesse desaparecer. Senti a fragilidade dela, a vulnerabilidade, e meu coração se apertou.
— Thor...
Afastei-me levemente, olhando-a nos olhos com seriedade, mas com cuidado. Meu olhar buscou o dela, tentando transmitir a complexidade dos meus sentimentos.
— Selene, não julgo seus atos — comecei, minha voz firme, mas suave. — Embora confesso que estou triste com eles. Jamais dei indícios de que a trairia, sempre fui fiel, honesto e verdadeiro. Entendo que uma imagem vale mais que mil palavras, mas não me deu nem o benefício da dúvida!
Ela fechou os olhos por um instante, o movimento lento e delicado, como se estivesse protegendo-se de uma dor muito grande. Senti o peso das lágrimas escorrendo pelo seu rosto, cada uma delas uma pequena gota de sofrimento.
— Meu coração estava tomado pela dor — sua voz saiu baixa, trêmula, quebrando em pedaços. — No fim, sempre esperei por ela, para mim era certo que uma hora você trairia a minha confiança, mas o que me levou à loucura foi pensar que perdi nosso filho. A dor, junto aos traumas do passado, foi como uma avalanche, não consegui me controlar.
Não a recriminava, conhecia sua história, suas feridas. Doeu, sim, saber que ela não acreditou em mim, que duvidara da minha verdade. Mas não conseguia julgá-la. Não saberia o que faria no lugar dela, se visse o que ela viu.
— Quando pensei que tinha morrido, meu mundo caiu, senti-me despedaçado — minha voz estava carregada de emoção, de um desejo profundo de recomeço. — Não quero mais guardar nenhuma mágoa ou ressentimento. Quero que nosso futuro seja limpo. Podemos recomeçar? — a pergunta escapou dos meus lábios como um suspiro de esperança, meu olhar fixo no dela, buscando uma resposta. Vi um sorriso fraco se formar em seus lábios, um sinal de alívio e, talvez, de esperança.
— Thor, não podemos recomeçar, pois todo nosso caminho nos trouxe aqui — ela respondeu, sua mão encontrando a minha, guiando-a até seu ventre. Senti um tremor suave em seu toque, uma mistura de emoção e expectativa. — Quero dizer que estou livre de toda a mágoa, rancor, ressentimento e dor que carregava. Estou pronta para viver nosso futuro!
Não me contive. A puxei para mim, nossos corpos se encontrando em um abraço urgente, a textura da sua pele macia sob meus dedos. Seus lábios encontraram os meus em um beijo que começou lento, explorador, uma dança de línguas e sussurros que me deixaram tonto. O sabor dela, doce e inebriante, como mel e vinho antigo, me invadiu, um fogo que se espalhou por todo o meu corpo, aquecendo-me de dentro para fora. As mãos dela deslizaram pelas minhas costas, os dedos afundando em meus cabelos, puxando-me para mais perto, como se temesse que pudesse escapar. Senti o perfume dela, uma mistura inebriante, misteriosa, exclusivamente dela. Foi um beijo que transcendeu o físico, uma fusão de almas, um mergulho profundo em um oceano de desejo, onde o tempo parou de existir e só restaram nós dois.
— Eu te amo! — ela murmurou, sua testa encostada na minha, a respiração ofegante, o calor do seu corpo transmitindo a intensidade do momento.
— Assim como eu amo você!
Nem tudo eram flores. A hora de assumir a responsabilidade pelos meus erros chegou. Uma semana se passou desde o caos, uma semana de angústia e incerteza. Precisava me retratar com o povo de Alfheim. Felizmente, ninguém se feriu durante meu ataque de fúria, mas os membros do conselho exigiam uma retratação pública, além de uma explicação particular do ocorrido. Thor não deixou ninguém se aproximar de mim. Com toda aquela confusão, sentia-me exausta, esgotada. Precisava me cuidar, afinal, minha gravidez ainda era de risco.
Na porta da sala de reuniões, a angústia me apertava o peito. Senti o suor frio nas minhas mãos, enquanto apertava a mão de Thor, buscando força em seu toque. Entrei de cabeça erguida, mesmo sentindo o peso dos olhares de julgamento sobre mim. Cada olhar era uma acusação, uma condenação silenciosa. Respirei fundo, tentando acalmar os meus nervos, e me sentei na cadeira que um dia fora de meu pai, sob o olhar atento dos conselheiros. Seu silêncio era mais opressor que qualquer palavra.
— Eu, Selene Aruna, Rainha de Alfheim, vim prestar esclarecimentos sobre minhas atitudes e estou aberta para responder vossas perguntas — minha voz saiu firme, procurei manter o olhar fixo, transmitindo a minha determinação.
— Por que sucumbiu daquela maneira? — Sir perguntou, sua voz carregada de reprovação.
— Uziel armou um plano para que eu pegasse Thor com outra — expliquei, senti um nó na garganta, mas respirei fundo. — Mas não era ele, era um metamorfo. Quase perdi o filho que espero, e isso me enlouqueceu.
A surpresa nos rostos dos conselheiros seria cômica, se não fosse a gravidade da situação. Vi seus olhos se arregalarem, incrédulos.
— Está grávida? — Letholdus perguntou, a surpresa evidente em sua voz.
— Sim — respondi, minha voz firme. — Ao pensar que perdi meu bebê, deixei os poderes das trevas me dominarem.
— Então tudo foi um plano de Uziel? — Cyrius perguntou, retomando o rumo da conversa.
— Sim. Ele pretendia tomar o reino. Meu bebê se protegeu, e com isso minha alma foi mandada para Niflheim. Uziel me seguiu até lá. Queria que renegasse Thor e casasse com ele, assim ele seria o rei — um suspiro escapou dos meus lábios, carregado de cansaço e alívio por finalmente poder contar a verdade.
— Seu bebê protegeu-se sozinho? — Sir perguntou, o espanto evidente em sua voz.
— Ele é um semideus — respondi, o tédio evidente em meu tom. — Não é uma surpresa.
Minha paciência estava se esgotando. Eles estavam tão focados na minha gravidez que pareciam ter esquecido completamente de Uziel, o verdadeiro culpado de tudo. A irritação me corroía por dentro, um fogo lento que ameaçava explodir.
— A culpa foi toda de Uziel! — Asha rosnou, seu olhar intenso sobre mim. Senti um agradecimento genuíno por sua intervenção. Um sorriso leve escapou dos meus lábios, um sinal de alívio.
Um estrondo abafado ecoou pela sala, a porta se chocando contra a parede com violência. Um arrepio percorreu minha espinha. Levantei o olhar, encontrando aqueles olhos gelados, implacáveis. Os mesmos olhos de Uziel. A irritação voltou com força total, misturada a um frio na barriga.
— Esqueceu de falar sobre seus crimes, vossa majestade! — ele rosnou, sua voz cortante como um punhal.
— Quem é você? — Thor perguntou, seu olhar fixo no recém-chegado, a preocupação evidente em seu tom.
— Leif, pai de Uziel — ele respondeu, caminhando lentamente para o centro da sala, seus passos firmes e deliberados. Sentou-se na cadeira destinada à sua casa, como se estivesse em seu próprio domínio.
Olhei-o com ódio puro, a raiva me consumindo por inteiro. Meus punhos se fecharam. Aquele homem, o pai daquele monstro, estava ali, impune, observando tudo. A vontade de atacá-lo, de destruí-lo, era quase incontrolável.
— Então Selene, não vai admitir seus crimes? — Leif perguntou, seu tom entediado, fazendo meu estômago revirar.
— Meus crimes? — perguntei, desafiando-o com meu olhar. Ele manteve o olhar preso ao meu, um sorriso malicioso se formou em seus lábios.
— Selene dormiu com Uziel, teve uma filha com ele. Foi por isso que sucumbiu aos poderes das trevas pela primeira vez. Ela casou-se impura — Leif declarou, sua voz grave e sombria. Os olhos dos conselheiros se voltaram para mim, cheios de acusações.
Arregalei os olhos, o choque e a indignação fervendo em meu peito.
— Isso é mentira! Nós vimos a prova com a água mágica, e os exames sobre seu sangue nos lençóis foram conclusivos! — Asha se posicionou ao meu lado, defendendo-me com fervor.
— Vai continuar a mentira? — Leif perguntou, um sorriso cínico nos lábios, como se estivesse se divertindo com o meu tormento.
— A minha esposa não está mentindo! — Thor levantou-se, sua voz irada ecoando na sala, uma onda de proteção que me envolveu.
Leif se levantou, puxando de seu casaco um lençol branco. O medo se apoderou de mim ao ver uma mancha de sangue, um lembrete do passado que não conseguia apagar.
— Podem analisar! O sangue dela, com os vestígios de meu filho! Ela deve morrer por desonrar nossas tradições! — Leif declarou, o ódio em sua voz como uma lâmina afiada.
— Essa prova é forjada! O sangue seco há tempos não pode servir como prova! — Cyrius rosnou, sua defesa por mim, um fio de esperança em meio ao caos.
Leif riu alto, virando o lençol em nossa direção. A magia que o envolvia mantinha tudo intacto, como um fantasma do passado. O medo se transformou em desespero, se investigassem, comprovariam suas palavras.
— Meu filho, enganado por ela, após ficar consigo, ela decidiu renegá-lo. Ele a procurou durante tempos, mas quando a encontrou, infelizmente não pôde salvar a vida de sua filha. Selene matou a criança para que não tivesse vestígios do relacionamento dos dois. Apesar de tudo, Uziel amava ela, tentou diversas formas para que ficassem juntos, mas ela queria o poder. Foi ele quem foi morto a mando dela, agora ela vai dominar tudo, até os deuses com Thor ao seu lado! — Leif declarou, sua voz carregada de uma falsidade tão espessa que quase me causou náuseas.
Olhei-o em completo choque, a indignação me sufocando. A audácia dele, a frieza com que distorcia a verdade, era algo inacreditável.
— A sua hipocrisia é impressionante — respondi, a voz fria e cortante. — Então sugere que eu seja morta, Thor deposto, apenas para que o reino fique consigo?
— Não merece estar nesse posto! — Leif rosnou, os dentes cerrados, a raiva transparecendo em cada músculo de seu rosto.
— Muito menos você — rosnei, a raiva me consumindo. — O ataque contra Asgard foi organizado por você, assim como o ataque que Alfheim sofreu! Você incitou os jotuns nos dois casos! Você mandou a casa Asger para longe de seus soberanos, por conta disso eles estão mortos!
— Mentira... — ele tentou argumentar, mas sua voz saiu fraca, sem convicção.
Um estrondo ecoou pela sala, interrompendo-o bruscamente. Meu coração disparou no peito. Arregalei os olhos, incrédula, ao ver Odin, acompanhado por três pessoas que jamais pensei ver novamente. Um turbilhão de emoções me atingiu, tudo misturado em um coquetel explosivo.
— Ma-majestade! — os conselheiros murmuraram em uníssono, seus rostos refletindo a surpresa e o espanto ao verem meus pais.
— Siv... como? — Leif balbuciou, a incredulidade estampada em seu rosto. Seu olhar, antes arrogante, agora era de puro terror.
— Tudo que minha filha diz é verdade — Siv declarou, sua voz firme e imponente, silenciando a sala. — O ataque a Asgard e Alfheim foi ordenado e arquitetado por Leif.
Leif, incapaz de articular uma palavra, permaneceu paralisado, os olhos arregalados, fixos em minha mãe. A máscara de poder que ele usava caiu, revelando o medo que o consumia.
— Quanto à sua pureza, não deve ser contestada — Odin declarou, sua aura esmagadora preenchendo a sala. O ar ficou pesado, carregado de poder divino. O lençol que Leif segurava se transformou em cinzas diante de nossos olhos, dissipando-se no ar. Nenhum conselheiro ousou contrariar Odin, seu poder era inquestionável.
Leif saiu de seu torpor, pulando para o lado, como se estivesse fugindo de algo invisível. Seus olhos encontraram os de Uziel, um olhar perdido no vazio, cheio de dor e arrependimento. Um arrepio percorreu minha espinha, a visão era perturbadora.
— Uziel, fale a verdade! — Leif ordenou, sua voz carregada de ódio e desespero.
Estava surpresa ao vê-lo ali. Pensei que jamais o veria novamente. Afinal, sua alma havia sumido.
— Trouxe sua consciência — Odin explicou, sua voz calma, mas imponente. — Ele tem contas a acertar entre os vivos.
Entendi. Ele não estava realmente ali, não como meus pais. Era apenas o que Odin queria que todos vissem, uma espécie de espectro, uma projeção de sua consciência.
Um calafrio percorreu minha espinha, a ideia era perturbadora. Uziel nunca foi alguém bom. Como ele poderia começar a ser após a morte?
— Selene e eu nunca tivemos nada. Planejei destroná-la, mas ela casou-se pura — Uziel declarou, sua voz amena me surpreendendo. A frieza em suas palavras me deixou perplexa, era como se ele estivesse falando de alguém distante, não de mim.
— Então assume a culpa sobre o recente ataque a Alfheim? — Cyrius questionou, o olhar fixo e sério, penetrante.
— Sim, ela não teve culpa de nada — ele respondeu, a voz vazia, como se estivesse distante de si mesmo.
— SEU INÚTIL! NEM MORTO É CAPAZ DE ME ORGULHAR! — Leif gritou, a raiva pulsando em suas palavras.
Uziel olhou-o com seriedade, sem se deixar abalar, antes de desviar o olhar para os anciões.
— Já fiz o pedido aos soberanos antes da minha morte, mas reforço aqui na presença de todos. Era o herdeiro da casa Asger, não tive... não tive filhos, então quero que um dos herdeiros de Selene seja o líder da casa Asger — Uziel murmurou, sua voz quase um sussurro. Evitava contato comigo, e consegui sentir a dor em suas palavras, como se cada sílaba fosse um golpe em seu próprio coração.
— Essa é sua vontade? — Sir perguntou, sua expressão severa.
— Sim, essa é minha vontade — Uziel respondeu, a firmeza em sua voz quebrando um pouco da fraqueza que o envolvia.
— ELE NÃO PODE FAZER ISSO! — Leif gritou, o desespero transparecendo em seu tom.
— Pode. Passou a casa a ele depois da nossa morte. Ele é o líder, e esse é seu testamento — Arkyn argumentou, com uma convicção que fazia Leif rosnar.
Num impulso, Leif partiu para cima de meu pai, mas foi segurado firmemente por Thor. A cena se desenrolava como um furacão, a adrenalina corria em minhas veias e a incerteza pairava no ar como uma sombra ameaçadora.
— Levem-no para a prisão! — Sir decretou, sua voz firme e implacável.
— Não, sua pena será de morte! — Odin declarou, sua voz ecoando pela sala, surpreendendo a todos nós.
Os conselheiros arregalaram os olhos, paralisados, como estátuas de pedra. O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de incredulidade.
— Estão surdos? — Odin perguntou, sua voz cortante cortando o silêncio. Vi a hesitação nos rostos deles, a relutância em aceitar a sentença.
— Majestade, a culpa será dada a Uziel. Não precisa explicar-se para o povo — Cyrius declarou, sua voz suave, mas firme. Senti um calor me invadir, uma onda de gratidão e admiração. Odin sorriu levemente, um sorriso de aprovação e alívio.
Um calor intenso me invadiu, fazendo-me virar para trás. A tempo de ver as três figuras sumirem em um clarão de luz. O olhar de meu sogro pousou sobre mim, sério e profundo. Minhas bochechas esquentaram, a vergonha me atingiu com força. Ele mentiu na frente de todos, para me proteger. Seu ato de amor me emocionou profundamente. Meu coração se encheu de um amor tão intenso que quase me fez desabar em lágrimas.
Uma longa mesa estava posta, repleta de comida e bebida. Era bom ver a família reunida, apesar da tensão palpável no ar. Selene tremia levemente a cada olhar de Odin sobre ela, e meu coração se apertava a cada tremor. Senti a necessidade de protegê-la, de confortá-la, mesmo com Odin presente.
— Essa é a primeira e última vez que vou mentir para salvá-los! — Odin anunciou, sua voz carregada de reprovação, mas também de um afeto que me surpreendeu. Senti o peso de suas palavras, a responsabilidade que ele carregava.
— Eu sinto muito... — Selene começou, a voz trêmula, a culpa evidente em seus olhos.
— Sempre soube — Odin interrompeu-a, sua voz mais suave agora. — Thor não sabe mentir para mim, ninguém sabe. Mas nunca importou o fato de ser ou não pura. Saiba que só me intrometi pelo fato de que sabia que eles pediriam a sua morte. As leis aqui são arcaicas, não poderia permitir alguém da minha família sofrer.
Suspirei, entrelaçando minha mão na de Selene sob a mesa, transmitindo-lhe todo o meu apoio e amor. Senti o calor de seu toque, a fragilidade e a força em suas mãos. Vi um sorriso leve se formar em seus lábios, um sinal de gratidão e alívio.
— Selene, quando casou com meu filho, tornou-se minha filha — Odin declarou, sua voz firme, mas com um tom de afeto que me aqueceu o coração.
— Sim, faz parte da família, cunhadinha! — Loki piscou para ela, seu sorriso maroto quebrando a tensão. Senti o alívio em seu tom, a alegria por finalmente Selene se sentir acolhida.
O sorriso de Selene se alargou, radiante. Já passava da hora dela entender que não estava mais sozinha, que nunca esteve. Nós éramos sua família, seu porto seguro. Senti um orgulho imenso por ela, por sua força, sua resiliência e por finalmente encontrar seu lugar no mundo.
— Agora temos que falar sobre a sua gravidez — a voz de Odin preencheu a sala, grave e imponente. — Não ficou evidente para mim quando soube, pois estava no início, mas agora tenho a certeza, principalmente após saber que o bebê conseguiu proteger-se sozinho.
— Acha que tem algo errado? — perguntei, a preocupação me sufocando. Selene ficou visivelmente apavorada, seus olhos buscando os meus em busca de conforto.
— Descreva o que aconteceu quando ele se protegeu — Odin ordenou, sua voz firme, mas com um tom de expectativa. Selene suspirou, exasperada, mas sabia que não poderia esconder nada.
— Primeiro surgiu uma luz fraca — expliquei, falando rápido, ansioso por chegar ao fim. — Depois, o corpo dela ficou envolto em raios, até que uma luz explodiu em toda a área, e com isso a escuridão cessou.
— Tem algo errado? — Selene perguntou, a voz trêmula, o medo evidente em seus olhos. Segurei sua mão, transmitindo-lhe toda a minha força.
Odin a observou por longos segundos, seu olhar penetrante, antes de assentir lentamente. Um nó se formou na minha garganta.
— Selene, não é apenas um bebê — Odin declarou, sua voz grave, carregada de significado.
Arregalei os olhos, completamente surpreso. Meu coração disparou no peito.
— São dois? — perguntei, atônito.
— São três — Odin respondeu, um sorriso se formando em seus lábios. — Um com o poder da luz, outro com o poder da escuridão, e outro com o poder dos raios, como você.
A alegria em sua voz era contagiante, mas a minha surpresa era tão grande que mal conseguia processar a informação.
Três... Tinha três... TRÊS bebês!
— Caralho, você não brincou em serviço, maninho! — a voz brincalhona de Loki ecoou pelo recinto, fazendo Selene pular na cadeira.
— Thor... três! — Selene balbuciou, nervosa, seus olhos brilhando com uma mistura de alegria e pânico.
Eram três... meu santo universo, eram três!
Uma ardência intensa, como se milhares de agulhas incandescentes perfurassem minhas costas, me fez arquear o corpo involuntariamente. O ar saiu dos meus pulmões em um sibilo, a dor era lancinante, uma onda de calor que subia pela minha espinha, me fazendo cerrar os dentes com força. Meu corpo inteiro tremeu, mas me forcei a manter a postura, meu olhar se fixou em Loki, que ria alegremente, sem o menor sinal de preocupação ou arrependimento.
— Precisava me bater? — rosnei, furioso. O sorriso de Loki só aumentou.
— Vai ser pai de três, estava com um colapso nervoso, só ajudei! — Loki respondeu, sua voz carregada de divertimento.
Suspirei, a raiva se dissipando lentamente, dando lugar a uma alegria incontrolável. Três bebês... a ideia era inacreditável, mas, ao mesmo tempo, perfeita.
— Por isso a gravidez dela é assim? — perguntei, meu olhar buscando o do meu pai, a preocupação me corroendo por dentro. Selene estava pálida, seus olhos cheios de medo.
— Também — Odin respondeu, sua voz grave, confirmando minhas suspeitas. — É um poder além do que o corpo dela é capaz de suportar. Além disso, isso se deve ao fato de ela ter tomado aquela erva para evitar a gravidez. Então, tudo ajuda.
Um desespero lancinante me apertou o peito, o ar ficou rarefeito e senti falta de ar, como se estivesse afogando em águas profundas e viscosas. A situação era muito mais grave do que jamais poderia imaginar, uma realidade sombria e opressora que me invadiu como uma onda fria e implacável. Ela estava extremamente vulnerável, os cuidados deveriam ser dobrados... não, triplicados!
— Se ela não tomasse a erva, ela estaria grávida de quantos? — Loki perguntou, seus olhos arregalados.
— Loki, cala essa boca! — rosnei, os dentes cerrados, aquele não era o momento para brincadeiras.
— Estou curioso! Se, tomando precauções para evitar a gravidez, ela ficou grávida de três, imagine se não tomasse! — Ele olhou para Selene, que estava rindo, e arregalou os olhos. — É sério isso! Que erva é essa? Quero deixar longe das minhas damas!
Revirei os olhos, irritado com a falta de tato de Loki, enquanto o riso de Selene aumentava, aliviando um pouco a tensão.
— Idiota! — resmunguei, mas um sorriso escapou dos meus lábios.
— Querida, a vida está dando-lhe a felicidade triplicada! — Asha segurou delicadamente a mão de Selene, transmitindo-lhe conforto e apoio.
Selene sorriu, colocando as mãos sobre o ventre, num gesto suave e protetor. Minha mão seguiu o exemplo, sentindo a quentura de seu corpo contra o meu, a vida crescendo dentro dela.
— Ela está voltando para nós — murmurei, a voz embargada pela emoção.
A alegria e a tristeza se misturavam em meu peito, criando uma sensação complexa e intensa. Três bebês... três novas vidas para amar e proteger. A vida nos presenteou com uma felicidade tripla.
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