Capítulo 35 - Yin-yang
Contém 3725 palavras
Boa leitura❤️
Asas cortadas, eu era algo quebrado
Tinha voz, tinha uma voz, mas eu não conseguia cantar
Você me deprimia
Eu lutava e agonizava no chão, oh
Tão perdida, cheguei no meu limite
Tinha voz, tinha uma voz, mas eu não conseguia falar
Você me colocou pra baixo
Eu luto para voar agora, oh
Mas há um grito interior que todos tentamos esconder
Nós nos agarramos tanto a ele, mas não podemos negar
Nos come vivos
Oh, isso nos come vivos, oh
Sim, há um grito interior que todos tentamos esconder
Nós nos agarramos tanto a ele, mas eu não quero morrer, não
Eu não quero morrer, eu não quero morrer, é
E eu não ligo se eu cantar fora do tom
Eu me encontrei nas minhas melodias
Eu canto pelo amor, eu canto por mim
Eu grito como um pássaro liberto
Oh, oh, oh, oh
Eu vou gritar como um pássaro liberto
Agora eu voo, atinjo as notas altas
Eu tenho voz, tenho uma voz, me escute rugir esta noite
Você me colocou pra baixo
Mas eu revidei, oh
E há um grito interior que todos tentamos esconder
Nós nos agarramos tanto a ele, não podemos negar
Nos come vivos
Oh, isso nos come vivos, oh
Sim, há um grito interior que todos tentamos esconder
Nós nos agarramos tanto a ele, mas eu não quero morrer, não
Eu não quero morrer, eu não quero morrer, é
E eu não ligo se eu cantar fora do tom
Eu me encontrei nas minhas melodias
Eu canto pelo amor, eu canto por mim
Eu grito como um pássaro liberto
Bird Set - Free-Sia
— Meu bem, precisa deixar o passado para trás, se perdoe pelo que aconteceu, não pode voltar no tempo — a voz da mamãe, suave como uma brisa primaveril, carregava um carinho tão genuíno que me cortava como uma lâmina afiada, expondo a ferida aberta em meu peito, uma ferida que sangrava sem parar, um fluxo constante de dor e arrependimento.
A compreensão em seus olhos, porém, era um bálsamo que não conseguia curar a infecção profunda que se instalou em minha alma, uma infecção que corroía minha esperança e me impedia de respirar.
Esquecer?
A palavra ecoou em minha mente, vazia e cruel, um eco que reverberava no vazio imenso que se instalara em meu ser, um vazio que ecoava com a ausência da minha filha, recém-nascida, a lembrança de seus primeiros dias, a imagem de seus olhos inocentes, tão doces e puros, tão cheios de vida, agora apenas uma memória distante, um espectro que me assombrava como uma sombra sinistra.
Esquecer significava negar a dor lancinante da perda de meus pais, o vazio que eles deixaram em meu coração, um vazio profundo e insuportável, um buraco negro que sugava toda a luz e esperança, um vazio que jamais seria preenchido, uma ausência que me deixava vazia e perdida. Esquecer significava renunciar à minha própria história, à minha identidade, à minha essência, como se estivesse apagando a minha própria existência, como se estivesse me tornando um fantasma, um espectro sem memória, sem passado, sem futuro.
Não conseguiria. Não com meu coração tomado pela escuridão, pela fúria incontrolável que me consumia como um fogo infernal, pela culpa que me corroía como um ácido, pela amargura que me envenenava a alma, me deixando amarga e vazia. Não conseguiria deixar a raiva para trás, não enquanto o gosto amargo da traição permanecesse em minha boca, um gosto metálico e nauseante que me lembrava constantemente da minha dor, da minha fragilidade, da minha vulnerabilidade.
Essa era a verdade nua e crua, uma verdade implacável e dolorosa: a desconfiança, a ferida aberta em minha alma, não era sobre Thor, mas sobre mim, sobre a minha incapacidade de acreditar no amor incondicional, na fidelidade verdadeira. Era uma ferida antiga, profunda e dolorosa, uma ferida que se recusava a cicatrizar, uma ferida que me impedia de amar, de confiar, de ser feliz. Uziel sabia disso, ele explorou minha maior fragilidade, minha maior insegurança, e usou-a como uma arma implacável, uma arma mortal e precisa, para me destruir, para me quebrar em mil pedaços, para me deixar desamparada e perdida em um mar de dor e sofrimento.
— Não pode seguir com a bagagem que tem em mãos, precisa deixar ir, veja a Luna, não conseguiu descansar, pois você prende a sua alma — mamãe se aproximou, sua voz suave, mas firme, enquanto seus dedos acariciavam o rostinho sereno de Luna, ainda em meus braços. Senti um aperto no peito, uma dor lancinante que me fazia querer gritar.
— Não quero deixá-la de novo! — apertei Luna contra mim com mais força. Meu corpo tremia, senti um nó na garganta.
Não podia! Não podia desistir dela novamente!
— Selene, ela não pertence a esse lugar e sabe disso, deixe-a livre — papai murmurou, sua voz carregada de pesar. Seus olhos estavam cheios de compaixão, mas também de firmeza. — Sei que dói, mas a alma dela precisa descansar, sabe disso.
As lágrimas escorriam sem parar, uma dor insuportável me consumindo. Senti como se estivesse perdendo-a novamente, e a sensação era tão avassaladora que me deixava sem ar. Sabia que eles tinham razão. O Niflheim não era lugar para ela. Luna merecia o descanso eterno. Seus olhinhos miraram os meus com uma doçura tão intensa que perfuraram meu coração. Senti como se ela estivesse me pedindo para deixá-la ir, para livrá-la dessa prisão.
Doía, era alucinante, como se meu próprio peito estivesse sendo rasgado. Mas não podia deixá-la nessa prisão por puro egoísmo. Ela merecia a paz, e essa era a única coisa que poderia fazer por ela.
— Amei-a desde o momento em que soube de sua existência, não importava com a sua linhagem, pretendia tê-la para sempre comigo — murmurei, a voz quebrada pela emoção. Acariciava seu rostinho sereno, sentindo a maciez de sua pele. — Desculpa por não protegê-la, por prendê-la aqui, falhei tanto com você e somente posso pedir perdão.
Sua mãozinha segurou a minha, e as lágrimas escorreram ainda mais avidamente. Encostei meu rosto em seus cabelos, sentindo seu cheiro, o aroma do verdadeiro paraíso.
— Irá para a luz, terá a paz que a sua alma merece, minha filha... — sussurrei, minha voz carregada de amor e tristeza.
O aperto de sua pequena mão intensificou levemente, e um calor suave começou a passar para mim. Olhei para ela, a visão turva pelas lágrimas.
Nunca foi sua culpa, era para ser assim. Sinto felicidade por saber que desse ser em seu ventre, ele cuidará de você, assim como Thor. Amo você, mamãe! A voz infantil ecoou em minha mente, e minhas emoções transbordaram. O calor emanado dela era divino, quente como o abraço caloroso do sol após um rigoroso inverno sem luz. Um amor profundo e vibrante me preencheu, aquecendo não somente meu corpo, mas minha alma. A luminosidade em volta do pequeno corpo em meus braços aumentou. Fechei os olhos, me concentrando naquele amor, deixando todo sentimento angustiante para trás.
Lentamente abri os olhos, vendo que ela não estava mais ali. A dor e a saudade apertaram meu peito. Doía demais pensar que nunca mais a veria. Mas sabia que ela estaria em um lugar melhor, e isso aquecia meu coração.
— Querida! — os braços fortes do papai me puxaram, seu calor me envolveu como um abraço protetor. Deitei minha cabeça em seu ombro, como uma criança buscando conforto. — Tire esse peso do seu coração, não teve culpa.
— Tenho... vocês não estariam aqui! Luna não teria... é tudo minha culpa! — choraminguei, agarrada a ele.
Mamãe acariciou meu rosto, olhando-me carinhosamente.
— Não é sua culpa, conhecia Leif, o pai de Uziel desde a infância, ele é primo de seu pai como sabe, éramos todos amigos, sabe que pertencia à casa de Asha, a casa Gorm, Leif sempre se mostrou gentil e carinhoso, nunca pude retribuir, pois, desde sempre amei seu pai, quando Leif se declarou tive que recusá-lo, sabia o que causaria nele, pois sabia que eram genuínos seus sentimentos, mas não poderia fazê-lo feliz com minha infelicidade, depois disso ele tornou-se um homem frio e amargo, algo que nunca gostei, a partir daquele dia não nos falamos mais, ele casou-se e logo teve Uziel, demoramos para termos filhos, o que fez de Uziel herdeiro do trono por anos, quando você nasceu, pude perceber o ódio de Leif, senti repulsa ao vê-lo mandar seu único filho para treinamento militar — mamãe explicou, sua voz calma e serena.
— Houve alguns pedidos da parte dos conselheiros para que Uziel fosse seu noivo, mas Siv foi categórica em pedir para que eles não se metessem nisso — papai olhou para mamãe, que sorriu levemente. — Sabíamos que ele estava corrompido, por isso ficamos felizes em saber que Thor seria seu noivo, pois estaria segura ao lado dele, mas nunca imaginamos que fosse se envolver com Uziel.
— Arkyn e eu fizemos de tudo para proteger seu segredo, não por repulsa, mas por saber o que aconteceria quando soubessem — mamãe completou.
— E por conta disso, Uziel os matou! — murmurei, pesarosa.
— Não foi ele, Leif tramou tudo assim como tramou o ataque a Asgard — papai respondeu, sua voz firme.
Olhei para papai, atordoada com a revelação. A informação me atingiu como um raio, quebrando a barreira da minha dor e da minha culpa. Meu corpo tremeu levemente, senti um nó na garganta.
— Uziel sabia que, se algo nos acontecesse, o seu casamento seria apressado, ele não queria isso, então ficou furioso com o pai quando soube de nossa morte — mamãe explicou, sua voz calma e serena, mas carregada de uma tristeza profunda.
Ele... não foi ele?
— E o pai dele não pensou nisso? — balbuciei, minha voz trêmula.
— Leif, depois da minha recusa, usou um feitiço para tirar seus sentimentos. Com o tempo, feitiços perdem a eficácia. Quando a magia ficou enfraquecida, ele lembrou do seu sofrimento e descontou sua raiva, agiu pelas emoções e não se preocupou com o plano de tomar o reino — mamãe respondeu, sua voz carregada de pesar.
Ganância, ódio, rancor... meus pais morreram por conta dos sentimentos frustrados desse maldito! A constatação me atingiu com toda a sua força. A raiva me consumiu, uma fúria que me queimava por dentro. Ele matou inocentes, feriu quem não merecia.
Ele... ele fez o mesmo que eu!
Arregalei os olhos, completamente paralisada. A comparação me atingiu em cheio. Não podia julgá-lo com tanto rigor. Pelos meus sentimentos frustrados, quase destruí Alfheim. Sabe-se lá quantas pessoas foram feridas ou mortas. Era igual a ele, afinal.
— Tudo que fizemos tem consequências — mamãe murmurou, sua voz carregada de sabedoria.
— Não são nossos erros que nos definem, mas o que fazemos para mudá-los — papai completou, seu olhar cheio de amor e compreensão.
Errei demais, fui imatura e impaciente, sempre colocando meus sentimentos acima de tudo, e não era assim que funcionava. Isso não evitava meu sofrimento, apenas me tornava presa em um mar de dor e desesperança.
— Vou vingá-los, mas não com sangue, e sim com a justiça. Cuidarei do meu povo, farei de Alfheim um lugar seguro, um lugar pelo qual sempre sonharam — a promessa escapou de meus lábios, carregada de uma determinação inabalável, mas também de uma profunda tristeza. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, um rio de dor e arrependimento, mas também de esperança e força.
Eles sorriram, um sorriso sereno e amoroso que transcendia palavras, um sorriso que me transmitia paz e confiança. Era isso que os prendia ali, neste limbo entre mundos: a minha promessa de vingança. Por mais que tentasse negar, por mais que buscasse a redenção através do perdão, uma centelha de desejo por vingança ainda ardia em meu coração, uma chama que precisava controlar.
— Se tornou uma grande mulher, estou tão orgulhosa de você — a voz da mamãe era um bálsamo para minha alma ferida, suas palavras me envolviam como um abraço quente e protetor. Ela me puxou para seus braços, seu calor me inundando como um rio de luz e amor, uma energia pura e reconfortante que me acalmou profundamente.
— Tenho muito orgulho da mulher incrível que se tornou, minha filha. Nunca duvide de si mesma. Tenha cuidado com Uziel, o que ele trama é grandioso, mas sei que se sairá bem. Confio em você — a voz do papai, firme e cheia de amor, me transmitia força e segurança. Seu abraço se juntou ao de mamãe, e os três nos tornamos um só, um nó de amor e afeição que me enchia de uma paz profunda e duradoura.
A força do amor deles me envolveu como um manto protetor, dissipando a escuridão que me assombrava. Não poderia me livrar do passado, das marcas que ele deixou em minha alma, mas naquele momento me permitia perdoar, perdoar a mim mesma, perdoar os outros. Minhas lágrimas agora eram lágrimas de alívio, de libertação. Todos os meus erros, todas as minhas quedas, foram necessários para meu aprendizado, para o meu crescimento. Aprendi com cada sofrimento, cada decepção, fortificando meu espírito, e no fim, era isso que realmente importava: a minha força interior, a minha capacidade de amar e de perdoar.
— Amo vocês, sempre estarão em meu coração — sussurrei, minha voz carregada de emoção, de gratidão, de amor eterno.
Uma luz intensa, uma luz branca e radiante, me envolveu como um manto de seda, me elevando, me transportando para outro plano. Senti o calor de seus abraços se desvanecer lentamente, como a luz do sol ao entardecer. Chorei copiosamente, uma chuva torrencial de emoções que me limpava, me purificava. A dor da separação era intensa, mas meu coração estava leve, livre, pronto para enfrentar o futuro. Eles estariam em paz, e também estariam, finalmente.
— Querida, estava ficando entediado. Demorou tanto para se livrar deles... — A voz sibilou, fria como o gelo, ecoando na névoa densa de Niflheim, uma névoa opaca e viscosa que grudava em minha pele como um sudário úmido e gélido.
Um arrepio percorreu meu corpo, não de frio, mas de puro terror visceral, um terror que me paralisou por um instante, antes de a indignação tomar conta de mim, uma indignação que me queimou por dentro como um fogo infernal.
Impossível!
A uns metros de distância, banhado por uma luz sinistra e fantasmagórica que contrastava brutalmente com a névoa opaca e ameaçadora, estava Uziel, um sorriso cruel e calculista esculpido em seus lábios, um sorriso que revelava seus olhos, frios e implacáveis como o olhar da morte, que me perfuraram como dardos envenenados, me analisando, me avaliando, me medindo como se eu fosse um inseto prestes a ser esmagado sob seu pé. Senti meu corpo ficar tenso, meus músculos se contraindo como molas prontas para saltar, me preparando para o ataque iminente. O ar ficou pesado, carregado de uma energia sinistra e opressiva, como se o próprio Niflheim estivesse se preparando para me engolir.
— Sou seu último demônio, pelo que parece — a voz dele, carregada de um sarcasmo cruel e implacável, ele se divertia com meu desespero.
Um riso frio e cruel escapou de seus lábios, um riso que ecoou na névoa densa e opressiva, um riso que me congelou o sangue nas veias.
— Me seguiu até Niflheim? — a pergunta escapou de meus lábios, rouca e cheia de nojo profundo e visceral que me apertava a garganta.
— Sim, mas ao contrário de você, estou aqui realmente. Você é apenas uma sombra etérea perdida em um mar de névoa e escuridão. Se algo acontecer à sua alma e ao seu corpo simultaneamente... — ele deixou a frase pairar no ar, uma ameaça implícita, mas terrível, uma ameaça que me gelou o sangue nas veias, uma ameaça que me fez sentir a frieza da morte se aproximando.
Aqui, meus poderes das trevas eram inúteis, impotentes, como uma criança indefesa diante de um gigante implacável. Se ele me atacasse, minha alma jamais voltaria para o meu corpo, e estaria morta para sempre, condenada a vagar eternamente neste limbo gélido e opressivo.
— O que quer? — perguntei, os dentes cerrados, a raiva me queimando por dentro.
— Renegue Thor diante de todos por conta de sua traição e case comigo — Uziel declarou, suas palavras me atingindo como um golpe. Arregalei os olhos, incrédula.
— Prefiro morrer! — respondi, furiosa.
— Selene, achei que estava pensando no seu filho, pelo visto ele não é importante — Uziel respondeu, sua voz carregada de malícia.
Não conseguia acreditar que ele manipulou tudo para que parasse no Niflheim. Jamais arriscaria a vida de meu filho. Não poderia concordar em casar com ele. Uma palavra para ele não seria suficiente, sabia disso. Não tinha como enganá-lo. Só restava uma coisa a fazer: lutar.
— Jamais casaria com você! — decretei, olhando-o nos olhos com seriedade.
— Seja razoável! — ele retruca, sua paciência se esgotando.
— Uziel, por que, ao invés de me torturar, não aproveitou para me matar de uma vez? — resmunguei, meu tom irônico.
Ele fechou as mãos em punho, seus olhos ficaram mais gelados. Sua raiva era palpável.
— Acha mesmo que vou perdê-la? Você é minha! Posso não amá-la, mas não vou deixar aquele imbecil levar o que me pertence! — Uziel sentenciou friamente, seu ego ferido transparecendo em cada palavra.
Era tudo questão de seu ego ferido, por conta do feitiço para ter "sentimentos", ele estava agindo dessa maneira! A compreensão me trouxe um misto de raiva e pena.
— Esqueça, não ficarei com você! — rosnei, minha voz carregada de determinação.
— Querida, sabe que os poderes das trevas não vão funcionar aqui — ele sorriu largamente, sua confiança inabalável.
— Uziel, meu mundo não existia vingança, era tão pura, cercada de luz, tudo que habitava em mim era magia, meus poderes eram sublimes, tudo era cercado por cores, florido, mas então o conheci, o chamei de amor, formamos um laço e deixei de ver o óbvio, me deixei levar, fiquei cega acreditando no amor, mas você transformou tudo em cinzas! — minhas palavras fluíam livremente, como um rio desaguando no mar. Senti meu peito apertar, meu coração doendo, mas a cada palavra, minha alma ficava mais leve.
— Era amor e você sabia! — ele retrucou, apertando os punhos, as unhas cravando em sua pele.
Não aguentei o riso genuíno que escapou dos meus lábios.
— Sua ambição te cegou, mas admito que sua ilusão era tão bela e perfeita que me fez realmente acreditar em tudo que falava. A minha inocência me levou a fazer tudo o que vejo que agora não faria, meu coração se partiu de uma maneira que nunca pensei que fosse se recuperar, você me fez voar e depois me traiu da forma mais suja possível, nunca conseguirei perdoá-lo por isso, mas agora sei que ao menos algo tocou seu coração.
— O quê? — ele perguntou, me olhando incrédulo. — Acha que realmente amei você? Selene, você é apenas sua coroa!
Aquelas palavras cruéis deveriam doer, mas não senti nada. Nem ao menos a menor faísca de raiva. Meu coração estava em paz, livre do peso da culpa e da dor. Meu corpo estava relaxado, meus músculos soltos, minha respiração calma e profunda.
— Uziel, seu coração está tomado pela culpa, se sente destruído por tê-la matado e jamais vai esquecer, passará dia após dia se arrependendo amargamente do que fez — decretei serenamente, minha voz firme e segura.
Ele arregalou os olhos, seus braços caíram ao seu redor e seu semblante se tornou apavorado. A máscara de poder que ele sempre usava se desfez, revelando a fragilidade e o terror que o consumiam. Seu corpo tremeu levemente, e ele parecia prestes a desabar.
— Como... como sabe? — ele perguntou, num sussurro rouco. A incredulidade em sua voz era evidente.
— Consigo ver a dor em seus olhos, a culpa, o desejo de vingança que nunca se realizará, pois a culpa não é de ninguém além de você, vai carregar esse peso por ter feito isso a ela — respondi, minha voz suave, mas firme.
Ele elevou as mãos aos cabelos, segurando-os pela raiz, enquanto seu olhar se perdia no vazio, demonstrando toda a sua loucura e desespero. Seu corpo estava tenso, seus músculos rígidos e ele parecia prestes a se despedaçar.
— Estava cego, não pensei corretamente, jamais iria querer feri-la... não ela! — Uziel confessou, num fio de voz quase inaudível. A confissão saiu como um gemido de dor.
— Fez isso conosco para tornar-se rei, diga-me uma coisa, uma coroa é mais importante que ela para você? — perguntei, minha voz calma, mas firme. Seus olhos se arregalaram novamente, e ele ficou sem palavras.
— Luna é a única que realmente amo, ela é tudo... voltaria no tempo, queria voltar, teria matado você no lugar dela! — ele rosnou, sua voz carregada de raiva e desespero. A confissão rasgou seu coração, e a dor era palpável.
Sorri tristemente.
— Ela jamais o reconhecia como pai! — minhas palavras foram como um golpe final, atingindo-o em cheio.
Uziel rosnou, me olhando com fúria. Seu corpo estava tenso, seus músculos rígidos e seus olhos brilhavam com uma intensidade assustadora.
— Não fale de minha filha! — ele gritou, sua voz carregada de dor e raiva.
— Nossa filha, por mais que me doa admitir isso, mas é nossa filha, Uziel, entreguei a você o meu bem mais precioso e você jogou fora, tudo que importou era a coroa! — respondi, minha voz firme, mas carregada de tristeza. A raiva dele se intensificou ao seu redor, como uma tempestade prestes a explodir.
— E acha que ela gostaria de ter uma elfa da escuridão como mãe? — Uziel retrucou, sua voz carregada de fúria.
— Você me transformou nessa elfa, fez meu verdadeiro eu se apagar, a culpa por isso é sua, mas não tenho mais vergonha nenhuma, tudo de bom que existia em mim, Thor fez voltar, minha luz voltou a brilhar e tenho orgulho de mim assim! — declarei, minha voz forte e segura.
Uma leve iluminação começou a escapar dos meus poros, gradualmente crescendo em meu corpo, até explodir, deixando-me completamente iluminada, como nunca antes estive, mesmo quando tinha os poderes da luz. Era uma luz pura, radiante, que emanava de minha alma.
— O que está fazendo? — Uziel perguntou, seus olhos arregalados, demonstrando espanto e incredulidade.
A luz que me envolvia era harmoniosa, intensa, tão brilhante que lembrava a luz das estrelas. Era uma luz pura, radiante, que emanava de minha alma. Em minha mão esquerda, segurava uma esfera de escuridão, e na direita, uma esfera de luz. Estava em completo equilíbrio, meus poderes finalmente unidos, em perfeita harmonia. Meu corpo irradiava uma energia poderosa, senti uma força inabalável dentro de mim.
— Não pode, não pode ter despertado esse poder! — ele balbuciou, incrédulo. Sua voz era um sussurro, e ele parecia paralisado pelo medo.
Sorri, livre de qualquer peso da minha alma. Meu sorriso era genuíno, radiante, senti uma paz profunda e duradoura. Meu corpo estava relaxado, meus músculos soltos, respirava profundamente, sentindo a energia fluir por minhas veias.
— Apenas aqueles que experimentaram a luz e as trevas têm o poder de controlá-las em simultâneo, meu coração está livre do rancor que o cercava — declarei, minha voz serena e confiante.
Transcendi a dor, a raiva, a culpa. Estava livre.
Uziel balançou a cabeça repetidamente, totalmente absorto, sua expressão uma mistura de incredulidade e terror. Seus ombros estavam caídos e ele parecia derrotado. Seu corpo tremia levemente, e ele parecia prestes a desabar.
— Ainda me odeia, não tem como ter se livrado das trevas! — ele disse, sua voz carregada de descrença.
— Tenho pena de você, pois está mergulhado num lago de arrependimento que honestamente espero nunca sentir, isso fez com que avaliasse o que sentia. Por muito tempo odiei você, mas se quero viver feliz, não posso deixar esse sentimento me seguir, por esse motivo me liberto de todo o sentimento que tive por você! — respondi, minha voz suave, mas firme.
Meu espírito estava tão leve, tão livre, como um pássaro finalmente liberto de sua gaiola. Não sentia mais rancor, nem amargura. Tudo aquilo se dissipou, como fumaça ao vento. Finalmente, me sentia verdadeiramente bem. Meu corpo estava relaxado, minha respiração calma e profunda, senti uma paz duradoura inundar meu ser.
Yin e Yang são conceitos do taoismo que expõem a dualidade de tudo que existe no universo. Descrevem as duas forças fundamentais opostas e complementares que se encontram em todas as coisas: o yin é o princípio da noite, a Lua, a passividade, a absorção. O yang é o princípio do Sol, dia, luz e atividade.
Quis fazer com que o yin fosse os poderes das trevas que ela despertou, o yang é os poderes que todos os elfos possuem, mas para usá-los em conjunto, o coração tem que estar puro, ou seja, sem nenhuma energia ruim. Ao livrar-se de toda a culpa pelas perdas que teve e se livrar da raiva que sentia pelo Uziel, Selene conseguiu controlar os dois poderes.
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trechos da música que ela fala para Uziel o confronto deles.
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