Capítulo 34 - Mundo da névoa
A parte em itálico é a cena que Selene está vendo, como se ela estivesse ali.
Contém 3725 palavras.
Boa leitura❤️
E você é a razão
De eu ainda estar respirando
Estou sem esperanças agora
Eu escalaria todas as montanhas
E nadaria todos os oceanos
Só para estar com você
E consertar o que quebrei
Se eu pudesse voltar no tempo
Eu me certificaria de que a luz derrotasse a escuridão
Eu gastaria todas as todas de todos os dias
Mantendo você em segurança
You Are The Reason - Calum Scott
Meu corpo respondeu com um salto, a dor esquecida por um instante. Com cuidado, a segurei em meus braços, minhas mãos pousando em seu ventre. Uma leve aura a envolveu, e meu coração disparou como um pássaro em fuga. Senti um turbilhão de emoções, uma mistura inebriante de alívio, alegria e um amor tão intenso que quase me sufocou. A sensação era física, palpável, como se uma onda de calor percorresse minhas veias. Meus músculos tremiam, não só pela emoção, mas também pelo esforço físico.
Ele estava vivo! Nosso filho estava vivo!
Um sorriso hesitante se abriu em meus lábios, um sorriso que carregava toda a esperança do mundo. As lágrimas, que antes ameaçavam transbordar, finalmente romperam as barreiras, escorrendo pelo meu rosto num fluxo constante. Minhas mãos tremiam ainda mais, apertando-a com cuidado, como se temesse quebrá-la. Cada célula do meu ser vibrava com a alegria da descoberta. Era uma alegria tão profunda, tão avassaladora, que me sentia leve, flutuando.
— Thor? — escutei a voz aflita de Cyrius, um fio de preocupação em seu tom. Seu rosto, que podia ver pela minha visão periférica, estava tenso, expressando a mesma angústia que senti momentos antes.
— Está vivo, ele se protegeu sozinho! — declarei, a voz rouca pela emoção, os olhos marejados. A alegria era tão forte que quase me impedia de falar. Senti um nó na garganta, a emoção me sufocando. — Foram os poderes dele, ele quem trouxe a luz para Selene!
Cyrius suspirou aliviado, a tensão em seu corpo se dissipando como fumaça ao vento. Ele colocou as mãos sobre o peito, num gesto instintivo de alívio, murmurando palavras de agradecimento aos deuses. Um sorriso se formou em meus lábios ao observá-lo, um sorriso carregado de ternura. Ele esquecia constantemente que estava na minha presença, tão absorto em suas emoções. Era adorável.
— Como isso tudo aconteceu? — Cyrius perguntou, as sobrancelhas franzidas em uma expressão de pura curiosidade. Seus olhos, cheios de admiração e perplexidade, estavam fixos em mim, esperando uma resposta.
Olhei para Selene, seu rosto sereno em meus braços contrastava violentamente com a tempestade que se passou minutos antes. A tranquilidade dela era um enigma, uma máscara que escondia, sabia, uma dor profunda. Meu corpo ainda tremia, a adrenalina ainda pulsava em minhas veias, mas um frio gélido se instalou em meu peito, substituindo a alegria anterior por uma apreensão crescente. A sensação era estranha, uma mistura de alívio e medo, como se tivesse escapado por pouco de uma armadilha mortal. Meus olhos, ainda úmidos das lágrimas anteriores, se fixaram em seu rosto, procurando por algum sinal de sofrimento oculto. Mas não havia nada, apenas uma paz inquietante.
— É óbvio que tem o dedo daquele maldito, ele deve ter feito ela ter alguma ilusão! — rosnei, os dentes cerrados, a raiva me queimando por dentro como brasas incandescentes.
Esse maldito! Ele não desistiria até nos aniquilar.
A culpa me corroía, me dilacerava por dentro. Falhei com Selene, quase falhei com nosso filho! Não deveria tê-la deixado sozinha, não quando Uziel ainda era uma ameaça. Relaxei a guarda e isso ocorreu.
As trevas não somente a consumiram por completo, mas marcaram sua alma, deixando-a num mar de desespero. A percepção dessa verdade me gelou. Não era apenas uma ameaça física, era uma ferida profunda na alma dela, uma cicatriz que levaria tempo para sarar. Senti um aperto no peito, uma angústia profunda que me sufocava.
— Cyrius, ela sucumbiu por completo, agora o que vai acontecer? — perguntei, a voz trêmula, o medo evidente em cada palavra. Meu olhar buscou o de Cyrius, procurando por alguma resposta, por algum sinal de esperança.
Cyrius se sentou pesadamente ao meu lado, seus ombros curvados sob o peso da tristeza. Seus olhos, normalmente brilhantes, estavam opacos, fixos em Selene com uma expressão de profunda compaixão. Senti uma pontada de dor ao vê-lo assim, tão impotente quanto eu. A atmosfera era densa, carregada de uma tristeza que me apertava o peito. Meu próprio corpo estava tenso, meus músculos rígidos, minha respiração superficial. O medo, frio e cortante, me invadia.
— Thor, existe um motivo de ser proibido elfos das trevas aqui, o poder deles é profano, quanto mais se usa, mais mancha a alma, nunca houve um que conseguisse controlar esses poderes — ele suspirou, um som pesado e carregado de desespero, sua mão se elevando para afastar delicadamente os cabelos do rosto de Selene, com um gesto tão terno e paternal que me tocou profundamente. — Não sei dizer o que acontecerá com ela, quando sucumbem às trevas, ou são mortos ou não suportam o peso profano na alma e se matam, mas o final... é o mesmo.
Morte? Ela... ela... NÃO!
Um nó se formou em minha garganta, me sufocando. Senti um tremor percorrer meu corpo, uma onda de pânico que me invadiu por completo. Meus punhos se fecharam com força, as unhas cravando-se na palma das minhas mãos.
Nem por cima do meu cadáver que deixarei isso acontecer com ela!
— O que posso fazer? — perguntei, a voz rouca, o medo evidente em cada palavra. Meu olhar estava fixo em Cyrius, buscando desesperadamente alguma solução, alguma esperança. Meus ombros tremiam e senti um tremor incontrolável em minhas mãos.
Os olhos claros de Cyrius pousaram nos meus, mantendo-se ali por longos segundos, como se ele estivesse tentando transmitir toda a sua sabedoria, toda a sua experiência. Vi neles uma mistura de tristeza, compaixão e uma profunda resignação.
— Essa é uma luta dela, tudo que pode fazer é esperar, não pode lutar pela sua alma, apenas ela pode fazer isso — Cyrius declarou, sua voz firme, mas carregada de uma melancolia profunda. Suas palavras foram como um golpe, atingindo-me em cheio.
Esperar? Ficar sentado igual a um idiota enquanto ela sofre?
— Não posso! — exclamei, a voz carregada de revolta. Meus olhos brilhavam com uma determinação inabalável. Não poderia simplesmente esperar. Tinha que fazer algo.
— Ela está no Niflheim, mas não creio que possa fazer algo — Cyrius retrucou, a exaustão evidente em sua voz. Mas suas palavras não me convenceram.
Sorri, um sorriso amargo e irônico. A ideia era audaciosa, quase insana, mas era a única que conseguia conceber.
— Irei até o Niflheim então! — declarei, minha voz firme, carregada de uma determinação inabalável.
Cyrius arregalou os olhos, a surpresa e o choque estampados em seu rosto. Ele não esperava por essa reação. Mas não me importava.
Pouco importavam as consequências, estaria ao seu lado!
Sentia meu corpo tão leve, flutuando em um mar de tranquilidade. Era uma sensação estranha, deliciosa, como se estivesse livre de toda a dor, tristeza e raiva que me assombravam. Não tinha a menor vontade de abrir os olhos, queria me perder naquele oceano de paz, tão sonhado, tão desejado. Cada músculo do meu corpo estava relaxado, se rendendo a uma sensação de bem-estar profundo. Era um descanso para a alma, um refúgio perfeito. Meu coração batia lentamente, em um ritmo suave e constante, como as ondas suaves de um mar calmo.
Queria estar para sempre, apenas flutuando em suas águas, sem nenhuma dor, apenas sentindo a paz.
— Não pode fugir sempre, meu bem! — uma voz suave, melodiosa, como o som de um sino distante, me fez abrir os olhos bruscamente. O choque me percorreu, quebrando a magia da tranquilidade. A sensação de paz se dissipou como fumaça ao vento, dando lugar a uma confusão crescente. Meus músculos se contraíram, me preparando para a reação.
A imagem flutuava diante de mim, etérea como uma miragem no deserto. Era exatamente como da última vez: a elfa, jovem e radiante, com longos cabelos cor de areia que pareciam fluir como cascatas douradas ao redor dela. Seus olhos, um castanho-claro quase mel, brilhavam com um amor tão intenso que me aqueceram por dentro. Ao lado dela, um elfo de cabelos curtos, da mesma tonalidade arenosa, mas com um toque mais cinzento ao sol. Seus olhos, ametistas claros, cintilavam com um brilho divertido, como se ele estivesse participando de uma brincadeira secreta. O ar ao redor deles vibrava com uma energia positiva, palpável, quase doce como o néctar das flores. Senti o cheiro suave de grama recém-cortada e flores silvestres, e o calor suave de seus corpos próximos ao meu, como se uma brisa leve os envolvesse.
Meus pais!
A visão de meus pais me deixou sem fôlego. O choque era tão intenso que senti meu corpo tremer levemente. A expressão em meu rosto, a mistura de espanto e incredulidade, deve ter sido visível até para eles, pois seus sorrisos se alargaram, como se eles estivessem lendo meus pensamentos. Um sussurro quase inaudível, como o farfalhar de asas de borboleta, quebrou o silêncio que pairava no ar. O som era tão sutil que mal consegui percebê-lo, mas ele quebrou a tensão, criando um espaço para a emoção. Meu olhar se fixou em minha mãe, seus olhos brilhando com uma ternura que me aqueceu por dentro, enquanto ela segurava Luna em seus braços, exatamente como da última vez. Senti o cheiro familiar de seu perfume, uma fragrância suave e reconfortante que me trouxe uma sensação de segurança e calma.
— Mamãe! Papai! — exclamei, a voz embargada pela emoção. Corri até eles, abraçando-os com força, sentindo o calor de seus corpos me envolvendo como um abraço protetor.
Os braços fortes de papai me envolveram em um abraço apertado, um abraço que transmitia não apenas segurança, mas também um amor profundo e reconfortante, como o calor de um braseiro em uma noite fria. Senti a textura áspera, porém reconfortante, de sua camisa de linho contra minha pele, e o cheiro familiar de sua pele, uma mistura inebriante de sabonete de pinho e madeira recém-serrada, me envolvendo como um manto protetor e familiar. Mamãe, ao meu lado, deitou a cabeça em meu ombro com um gesto delicado e suave, seus cabelos macios, com um leve aroma de jasmim e baunilha, roçando minha bochecha como uma pena. Senti o peso leve e quente de sua cabeça, o calor suave e constante de sua pele contra a minha, e o perfume delicado de seu cabelo, uma fragrância floral e doce, como um jardim secreto em plena floração, me acalmou profundamente, dissipando a tensão que ainda persistia em meus músculos. A pequena Luna, aninhada em seus braços, resmungou baixinho, um som suave e reconfortante como o murmúrio de um riacho em uma tarde ensolarada, um som que fez meu coração disparar de alegria, uma alegria tão intensa que senti minhas bochechas corarem e uma onda de calor me percorrer do peito aos dedos dos pés. Me afastei levemente, meus olhos encontrando os de Luna, um olhar tão puro que me inundou com um amor incondicional, um amor puro e infinito, que transcendia palavras e me conectava à essência da minha alma, me enchendo de uma paz profunda e duradoura.
— Luna! — sussurrei, meu coração transbordando de felicidade.
O sorriso de minha mãe, um sorriso radiante que transbordava alegria e alívio, iluminou seu rosto como um raio de sol rompendo as nuvens de uma tempestade. Aquele sorriso, tão familiar e reconfortante, acompanhou o gesto delicado de colocar Luna em meus braços. No instante em que senti o peso incrivelmente leve de minha filha contra meu corpo, uma onda de amor incondicional, tão avassaladora que me deixou sem fôlego, me percorreu. Era um amor que transcendia palavras, um amor visceral, primitivo, que me conectava à minha filha de uma forma profunda e inabalável. Seu cheiro, o cheiro único e inconfundível de minha filha, uma mistura inebriante de leite materno, pele macia e um toque sutil de talco de bebê, me envolveu como um manto protetor e reconfortante, acalmando a tempestade de emoções que ainda me assolava. Era um aroma celestial, um perfume que me transportava para um lugar de paz e serenidade. Senti a textura macia de sua pele contra a minha, tão suave quanto as pétalas de uma rosa recém-desabrochada, um toque que me transmitiu uma sensação de completa entrega e confiança. Era como se um elo invisível, um laço sagrado e inquebrantável, nos unisse para sempre, um laço que nenhum obstáculo poderia romper. Todas as peças do meu mundo, antes fragmentadas e desordenadas como um quebra-cabeça jogado ao chão, se encaixaram perfeitamente em um clique suave e harmonioso, criando uma imagem completa, serena e profundamente satisfatória.
— Meu amor, me perdoa pelo que aconteceu! — chorei copiosamente, beijando sua pequena testa. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, carregando consigo toda a dor, todo o sofrimento que passei.
Senti uma onda de amor tão intensa que me deixou sem fôlego. Senti tanta falta dela, do seu calor, do seu cheiro, da sua presença. Mal pude aproveitar aqueles primeiros momentos em que a segurei pela primeira vez, mas agora, naquele instante, não queria mais soltá-la nunca. Seus cabelos, na mesma tonalidade arenosa dos meus, eram finos e delicados, quase uma penugem macia. Meus dedos acariciavam suas madeixas, sentindo a textura suave sob minhas pontas dos dedos. Era uma sensação reconfortante, um bálsamo para minha alma. Luna abriu os olhos lentamente, me encarando com uma curiosidade inocente. Eram os mesmos olhos gelados de Uziel, mas apesar de serem da mesma intensidade glacial, carregavam uma doçura inegável. Aquilo me fez sorrir, um sorriso entrecortado por lágrimas.
— Selene, não foi sua culpa! — a voz do papai ecoou no ambiente, séria, mas carregada de compaixão.
Olhei para ele, incapaz de conter a tristeza que me consumia. Era uma tristeza profunda, um peso que carregava em meu peito.
— Deveria ter sido mais forte! Poderia ter lutado contra Uziel! — murmurei, a culpa me corroendo por dentro.
A verdade era que não me preparei para um ataque enquanto estava grávida de Luna. Não imaginei que Uziel seria capaz de matar a própria filha. Mas isso não era desculpa. Se não tomei precauções durante a gravidez, deveria ter lutado após o parto. Deveria ter sido mais forte.
— Meu amor, foi muito forte, poucos aguentariam tudo isso! — minha mãe segurou minhas mãos, seus dedos entrelaçados aos meus.
Balancei a cabeça veementemente, as lágrimas escorrendo sem controle pelo meu rosto. Não conseguia parar de chorar.
— Não aguento mais, tudo desmoronou em minha volta, perdi minha Luna, meu bebê, deixei as trevas dominarem meu coração e perdi vocês! — as palavras escaparam de mim como um grito de desespero, cada sílaba pesada como uma âncora.
A dor que assolava meu coração era agonizante, uma pressão insuportável que me fazia sentir como se fosse desmoronar a qualquer momento. A sensação de perda era avassaladora, um buraco negro que sugava toda a luz e esperança. Não suportaria viver sabendo que nunca conheceria meu pequeno. A ideia me cortava como uma lâmina afiada, e a culpa me consumia.
As mãos do papai tomaram meu rosto, senti a suavidade de seus dedos secos sobre minhas bochechas molhadas de lágrimas. Ele se esforçou para me olhar nos olhos, como se estivesse tentando alcançar a parte de mim que ainda tinha esperança. Antes de beijar carinhosamente meu nariz, um gesto que trazia um calor reconfortante, ele se afastou um pouco, mas não o suficiente para perder o contato visual. Seu olhar era tão carinhoso, tão cheio de amor, que meu coração apertou, como se estivesse sendo comprimido entre suas mãos.
— Minha princesa, não perdeu seu bebê! — ele declarou, um sorriso iluminando seu rosto.
Não... não perdi? Meu bebê... ele... estava comigo?
— O quê? — minha voz saiu baixa, quase um sussurro, enquanto olhei para eles, buscando respostas.
Os rostos deles estavam serenos, e vi como mamãe sorria, a expressão dela cheia de encorajamento. Olhei para Luna, que segurou meus cabelos com seus dedinhos pequenos, era tranquilo. Ela fechou os olhos, parecendo tão calma, tão em paz, e isso aqueceu meu coração, como um raio de sol em um dia nublado. A cena me fez imaginar meu pequeno assim, em nossos braços, como uma família novamente.
Meu olhar fixou-se insistentemente no papai, que sorria levemente, sua expressão era uma mistura de amor e determinação.
— Uziel usou um metamorfo que é leal a ele, com isso a fez ver Thor com outra — a voz calma do meu pai ecoou, cada palavra ressoando dentro de mim, arregalei pelo choque. — Thor nunca a traiu, não era seu marido que viu.
Não era... não era Thor!
Minha mente fervilhava, revivendo a cena da luta, a fúria que me consumiu, a dor que infligi a ele, a dor que senti. O ataquei, física e emocionalmente, movida por uma suspeita infundada. Ele era inocente! Desconfiei dele, não lhe dei o benefício da dúvida, não pensei em outras possibilidades. Simplesmente aceitei a ilusão como verdade absoluta.
A verdade era que sempre esperaria o pior, que meu coração estava tão ferido, tão marcado pela desconfiança, que não conseguia pensar com racionalidade. Por mais provas que ele me desse, para mim, seria normal ele me trair. Era um ciclo vicioso de dor e desconfiança que precisava quebrar. Meus ombros tremeram e senti um nó na garganta. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, carregando consigo a amargura da culpa.
— Me explica melhor, pois não entendo nada! — declarei, a voz trêmula, a desesperança me consumindo. Minhas mãos se fecharam em punho, sentia uma necessidade incontrolável de me debater contra a realidade.
Papai assentiu, seus olhos se tornando um ametista luminoso, irradiando uma aura de calma e sabedoria. Suas mãos se elevaram, pousando suavemente em minhas têmporas, senti seu toque suave.
Uziel atravessava a mata como uma sombra, seus pés se movendo pela terra sem produzir o menor som. Não havia pressa em seus passos, mas uma aura de poder emanava dele, como se a própria floresta cedesse à sua passagem. Os galhos se dobravam, as folhas se afastavam, como se o reconhecessem como seu mestre. A cena era hipnótica, senti um frio percorrer minha espinha. A atmosfera era densa, carregada de uma energia sinistra.
O ar denso serpenteava em sua volta, enquanto ele adentrava mais na floresta escura. E lá estava ela, a ninfa, a mesma que esteve com Thor. Seus cabelos negros a envolviam como uma cortina luminosa, contrastando com a luz do sol que penetrava entre as árvores. Ao seu lado, um jovem metamorfo, esguio e pálido, com curtos cabelos lavanda e olhos negros brilhantes. A imagem era tão vívida, tão real, que sentia como se estivesse lá, observando tudo de perto.
A raiva me preencheu de maneira surpreendente. Não esperava sentir emoções tão intensas, principalmente por saber que tudo aquilo era uma visão mostrada pelo meu pai. Mas a raiva era descomunal, palpável, como se uma corrente elétrica percorresse minhas veias. Meus punhos se fecharam, sentia uma vontade incontrolável de gritar, de me vingar.
— Está atrasado! — resmungou a ninfa, contrariada.
Uziel lhe direcionou um olhar gelado, um olhar que congelaria o Helheim. A ninfa recuou levemente, submissa ao seu poder.
— Mitsu, você se transformará em Thor, com isso seu acesso será livre ao quarto, preste bastante atenção, pois precisa ser realista! — Uziel ordenou ao jovem, sua voz fria e implacável. O metamorfo assentiu, enquanto a ninfa suspirava, descontente.
— Preferia transar com Thor e não um sósia idiota! — ela resmungou, cruzando os braços.
O metamorfo riu alto, se aproximando dela com um olhar malicioso.
— Posso garantir que vai se divertir bastante comigo! — Mitsu declarou, sua voz carregada de confiança.
Ela revirou os olhos, empurrando-o com desdém.
— Sei que consigo seduzir o verdadeiro Thor! — a ninfa retrucou, ignorando-o completamente.
Uziel suspirou, elevando as mãos às têmporas, como se estivesse exausto daquela situação.
— Não conseguirá, o pateta está apaixonado e não olhará para ninguém além da esposa — Uziel rosnou, os dentes cerrados. Seu olhar vagou ao longe, como se estivesse perdido em pensamentos. — Compreensível... também não trocaria ela por você.
Ela arregalou os olhos, ofendida.
— Sou linda...
— Entendeu o que fará? — Uziel perguntou friamente, cortando a fala dela.
— Sim! — ela resmungou, virando o rosto, contrariada.
A visão mudou. O metamorfo, agora com as roupas de Thor, caminhava calmamente pelo corredor, indo em direção ao quarto que dividíamos. Seu andar, a maneira como seus cabelos se moviam, tudo era tão semelhante ao Thor que mal conseguia distinguir. Não havia magia ali, era algo além, algo aterrador. Um frio gélido percorreu meu corpo.
Me afastei do papai, interrompendo a visão por conta própria. Sabia o que veria a seguir, e não tinha forças para suportar mais aquela imagem. Meu corpo tremia, sentia um aperto no peito, como se meu coração estivesse sendo esmagado. A raiva me consumia, uma fúria que me queimava por dentro.
— Aquele maldito! Como ele ousa fazer isso? — rosnei, meus punhos se fecharam com força, sentia uma vontade incontrolável de me vingar.
Cai novamente no jogo dele, suspeitando tão facilmente de Thor. Como pude fazer isso? Ele me deu tantas provas de seu amor, mas bastou uma única dúvida para que tudo ruísse.
A imagem do sangue escorrendo pelas minhas pernas invadiu minha mente, mas, ao contrário da dor dilacerante que esperava sentir, só restou a confusão. Como meu filho teria sobrevivido?
— Minha filha, quase perdeu seu bebê, mas ele conseguiu se proteger, o sangue que viu foi isso, seu corpo lutando contra a força dele — mamãe explicou, sua voz suave, mas firme. — Não se esqueça de que essa criança é metade Deus, não de um qualquer, logo, fraco não é.
— E sendo franco, se fosse filho de qualquer outro, já estaria morto desde quando tomou o chá para evitar a gravidez, somente não funcionou por ele ser um semideus — meu pai completou, sua voz carregada de uma ternura que me confortou.
Elevei a mão até meu ventre, sentindo o leve movimento do meu filho. Um sorriso aliviado se abriu em meus lábios. Ele estava vivo. Meu filho estava vivo.
— Espere, mas se ele está vivo, o que estou fazendo aqui? — perguntei, confusa. Olhei para meus pais, buscando respostas.
Eles se entreolharam, um receio evidente em seus olhos.
— Quando decidiu levar Alfheim para a escuridão eterna, ele, sem querer, usou os poderes da luz em conjunto com a eletricidade, isso anulou os seus, acabou desmaiando por isso, está no Niflheim — meu pai explicou.
Niflheim... Um mundo de ilusão, um estado indefinido entre a realidade e o sonho, onde a névoa densa e opaca se aquecia sob a fúria dos ventos infernais de Muspelheim. Estar aqui significava que minha alma estava em penitência, presa neste limbo até que expiasse meus erros. E os três seres diante de mim eram a personificação da minha culpa, os responsáveis por minha jornada tortuosa.
Um tremor percorreu meu corpo, um pressentimento de perigo iminente, como se uma sombra ameaçadora se aproximasse. Talvez... talvez não conseguisse voltar para casa...
Siv e Arkyn respectivamente, os pais de Selene
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