Capítulo 31 - Incredulidade
Contém 3800 palavras.
Boa leitura❤️
Tudo o que posso ser para você
É aquela escuridão que já conhecemos
E esse arrependimento com o qual me acostumei
Era tudo tão bom
Quando estávamos no auge
Eu esperava por você no hotel toda noite
Eu sabia que não éramos o par ideal
Mas a gente se via sempre que podia
Não sei por que me apeguei tanto
A responsabilidade é minha
E você não me deve nada
Mas não sou capaz de ir embora
Tears Dry On Their Own - Amy Winehouse
Dormir sob o peitoral de Thor já era rotina desde o nosso casamento. Ele nunca reclamou, pelo contrário, parecia gostar do meu peso sobre seu corpo. Mas naquela noite, suspirei levemente inquieta. Por mais que amasse aquela intimidade, pela primeira vez, não conseguia dormir. Há horas me sentia mal, um mal-estar insistente que me deixava presa numa inquietação crescente. Não queria acordá-lo, Thor dormia tão tranquilamente que seria um sacrilégio perturbá-lo por um simples enjoo.
Uma tontura leve me atingiu, minha cabeça pesou. Levantei-me, completamente enjoada, e corri para o banheiro. O calor era sufocante, não sabia se era o ambiente ou meu corpo fervendo por dentro. Meu reflexo no espelho me assustou: um semblante desgastado, olheiras profundas cavadas sob meus olhos, a pele pálida como a lua.
Pontos negros dançavam na minha visão, obscurecendo tudo. Abri a boca para gritar, um grito silencioso preso na garganta, mas uma dor aguda no meu ventre me paralisou. Tudo girou, um turbilhão de imagens e sensações, e então, a escuridão me envolveu.
Abri os olhos lentamente, a luz do quarto me atingindo como um golpe. Minha cabeça latejava, um martelar insistente que ecoava na minha têmpora.
— Como ela está? — a voz de Thor, rouca de preocupação, preencheu o silêncio do quarto. A sua presença, próxima, me trouxe um conforto tênue, mas a confusão se instalou em minha mente como uma névoa espessa.
— O q-quê está acontecendo? — consegui murmurar, a voz ainda presa na garganta.
Estava deitada na cama, os lençóis macios e frescos contra minha pele. Mas a memória da queda, do desmaio no banheiro, da dor lancinante que me atingira, retornou com força brutal. Meu corpo tremeu, uma vibração interna que me fez sentir vulnerável. Olhei para Thor, seu rosto marcado pela preocupação, seus olhos cheios de uma angústia como os meus.
— Thor e o bebê? — a pergunta escapou dos meus lábios, carregada de um medo profundo, visceral.
O olhar ansioso dele, a hesitação em seus olhos, apenas aumentavam minha aflição. Um nó se formou na minha garganta, sufocando-me. Então, o médico se aproximou, sua expressão séria me atingindo como um soco no estômago.
— Fique tranquila, minha senhora, como já ia dizer ao seu marido, sua gravidez é de risco, não pode fazer nenhum tipo de esforço físico, recomendo inclusive que passe ela em descanso em seus aposentos, pois até subir e descer as escadas é prejudicial — suas palavras, impessoais, caíram sobre mim como uma sentença.
Um desespero profundo me invadiu, um turbilhão de emoções que me deixou sem fôlego.
O castelo era um labirinto de escadarias. As percorria inúmeras vezes por dia, ajudando Thor com os assuntos do reino, nada pesado. Até mesmo nossas relações físicas eram limitadas a beijos e abraços, a um sono tranquilo em nossos braços entrelaçados. Ele tinha medo de me machucar e, apesar da culpa que me corroía por impedi-lo, também sentia o mesmo receio. Meu bebê estava em primeiro lugar.
A culpa me esmagava como um peso enorme no peito. Se não tivesse tomado aquela maldita erva, agora estaríamos comemorando a chegada do nosso bebê.
— Não sairei desse quarto! — a declaração saiu como um soluço, a voz embargada pela emoção. Minha mão pousou sobre meu ventre, como se esse gesto pudesse proteger o meu pequeno, abrigá-lo do perigo que me cercava.
— Não ficará presa também, cuidarei sempre que quiser sair, estou aqui, sabe disso — as mãos de Thor envolveram as minhas, seus dedos longos e fortes entrelaçados aos meus. O calor da sua pele, a firmeza do seu toque, me transmitiram uma força que não sabia que precisava.
Um alívio profundo, como uma onda suave, inundou meu coração. Sentir a sua presença, o seu apoio incondicional, era como um bálsamo para a minha alma ferida. Não sabia se conseguiria enfrentar tudo sozinha. Mas com ele ao meu lado, com o seu amor me envolvendo como um escudo protetor, sentia que poderia, sim, enfrentar qualquer desafio. Que, juntos, nós superaríamos tudo.
O início do quarto mês de gestação foi como renascer. Uma felicidade imensa, inebriante, inundou meu ser, apesar do turbilhão de emoções que me assolaram durante o terceiro mês. Lembro-me da sensação de leveza, como se um peso enorme tivesse sido tirado das minhas costas. A náusea matinal ainda persistia, mas agora era apenas um incômodo, um pequeno preço a pagar pela imensa alegria que me preenchia.
Thor me tratava com uma delicadeza que me derretia por dentro. Seus cuidados, seus gestos, seus olhares carinhosos, a forma como ele me olhava, com uma mistura de admiração e ternura, me fazia sentir a mulher mais amada do mundo. Cada toque era uma reafirmação do seu amor, uma demonstração do seu apoio. Era impossível não me apaixonar cada vez mais por ele, por sua força, por sua gentileza, por seu amor incondicional. Ele era meu porto seguro, meu refúgio.
Era uma mulher incrivelmente sortuda por tê-lo ao meu lado, por sentir o seu amor me envolvendo como um manto protetor, mesmo diante das dificuldades que a gravidez me impunha. Os enjoos constantes, a fadiga, as mudanças de humor, tudo parecia menos pesado, menos penoso com ele ali, sempre sorridente, paciente e disposto a me confortar, acalmar e me amar. Nunca reclamando ou se mostrando impaciente, sempre com um sorriso nos lábios e um olhar terno nos olhos.
"Fechei os olhos, permitindo que a brisa fresca acariciasse meu rosto, trazendo consigo o cheiro salgado do mar. Senti os braços de Thor circundarem minha cintura, puxando-me para mais perto, contra seu peito forte e protetor. Um suspiro contente escapuliu dos meus lábios, um reflexo do carinho que ele me oferecia. Sua mão repousava sobre meu ventre, agora um pouco mais inchado. A cada dia que passava, minha barriga crescia e me perdia na ideia de que não havia como esconder isso. Era diferente de Luna, com ela, nessa altura, ainda era possível disfarçar.
— Como está? Não está sentindo nada? — a voz de Thor sussurrou suavemente, despertando um sorriso involuntário em meu rosto. O cuidado em sua pergunta, a preocupação em seus olhos, me deixavam aquecida por dentro.
Encostei a cabeça contra seu peitoral, aproveitando o calor que emanava dele, como um abrigo seguro em meio à imensidão do mundo. O som das ondas quebrando contra as rochas era como uma melodia tranquilizadora, e a brisa do mar serpenteava nossos cabelos, criando um momento mágico.
— Estou bem, adoro essa vista — respondi, deixando a felicidade transbordar em minha voz. Era verdade, a vista de Alfheim, com suas cores vibrantes e a beleza indescritível, era um espetáculo que nunca me cansaria de admirar.
Desviei o olhar para longe, fascinado pelos peixes que pulavam continuamente na água cristalina, suas escamas brilhando sob a luz do sol. Sem controle, minha barriga roncou, um som inusitado que chamou a atenção de Thor. Ele virou o olhar para mim, confuso, e não pude evitar lamber os lábios, a salivação instantânea trazendo à tona a consciência de que estava com fome.
— Quero peixe, estou faminta! — o pedido escapou dos meus lábios como um sussurro, mas carregado de uma intensidade que me surpreendeu. A fragrância do mar, carregada pelo vento, impregnava o ar, intensificando a minha fome de uma forma quase incontrolável.
Thor olhou para o mar, o azul profundo refletindo em seus olhos, como se ele estivesse absorto na imensidão do oceano. Então, franziu o cenho, um gesto sutil que denunciava sua confusão.
— Você não come carne — ele murmurou, a voz baixa, carregada de um questionamento suave.
Revirei os olhos, atônita com sua reação.
— Thor, estou salivando por esse peixe — respondi, a ansiedade evidente na minha voz. A imagem dos peixes pulando na água, brilhando sob o sol, me deixava ainda mais faminta.
— Tudo bem, pedirei para prepararem no jantar — ele respondeu, sua voz calma, mas a sua resposta me exasperou.
Jantar? Eram nem duas da tarde!
— Não! Quero agora e quero aquele! — apontei para o mar, a impaciência evidente no meu gesto.
Um sorriso divertido surgiu nos lábios de Thor. Senti seu corpo se mexer contra as minhas costas, uma vibração suave que denunciava seu riso silencioso. Ele achava graça da minha situação, e isso me deixou ainda mais emburrada.
— Amor, aqui não tem onde cuidar... — ele começou a dizer, mas a sua frase foi interrompida pelo meu olhar. Virei-me em sua direção, meus olhos cheios de uma tristeza que o surpreendeu, paralisando-o.
— O que custa buscá-lo para mim? Pensei que cuidaria de mim, está me negando isso? — as lágrimas escorriam pelo meu rosto, carregadas de uma frustração que me deixava sem fôlego. Meu corpo tremia e minha voz estava embargada pela emoção.
Thor arregalou os olhos, surpreso com a minha reação.
— Não estou negando! — ele declarou, levantando-se com pressa, a preocupação evidente em seus movimentos. Sua expressão demonstrava um misto de surpresa e culpa.
— Está sim, pedi e está arrumando desculpas, quer nos deixar morrer de fome? — resmunguei, a minha voz carregada de birra.
Comeria ele com as escamas, mas queria o peixe!
— Selene, não precisa de tudo isso, vou buscar o peixe! — ele respondeu, incrédulo diante da minha teimosia. Mas a sua voz demonstrava um carinho que me acalmou um pouco. Ele buscaria o peixe, finalmente.
A cena, vista de longe, era um tanto engraçada. Thor, o Deus do Trovão, totalmente concentrado na pescaria. Ao avistar o cardume pulando sobre a água, ele utilizou suas descargas elétricas, matando os peixes instantaneamente. Não consegui controlar o riso diante daquela cena inusitada. Sabia que ele não estava acreditando que usou seus poderes numa pescaria tão trivial.
Ele voltou, trazendo os pequenos peixes, ainda vibrantes e brilhantes. O cheiro deles me enfeitiçou, intensificando a minha fome. Sorrindo para mim, ele limpou os peixes com seus poderes, uma demonstração de carinho e cuidado que me deixou ainda mais emocionada. Então, ele os assou sobre uma pequena fogueira, sob o meu olhar ansioso e faminto.
O aroma começou a preencher o local, maravilhoso e divino. Era como se o cheiro dançasse no ar, envolvendo-me em uma onda de antecipação. Quando finalmente estava pronto, Thor me entregou. Não aguentei a espera e abocanhei avidamente a carne quente, que derretia na minha boca, liberando sabores que me fizeram suspirar. Ele sorriu ao meu lado, com um brilho de alegria nos olhos, claramente satisfeito por me ver comer com tanto entusiasmo.
— Melhor? — ele perguntou, com um tom maroto na voz, a expressão dele era de pura diversão.
— Está uma delícia, quer? — respondi, a felicidade transbordando em minha voz.
Ele sorriu, negando com um gesto gracioso da mão. O calor do seu olhar me envolveu, e o jeito como ele balançou a cabeça, rindo suavemente, fez meu coração acelerar. Aquela simplicidade, aquele momento, era tudo o que precisava. Era como se o mundo ao nosso redor desaparecesse, e tudo o que importava era nós dois, juntos, desfrutando da companhia um do outro e do sabor daquele momento."
Um sorriso suave, quase imperceptível, tocou meus lábios. A lembrança daquela pequena cena de felicidade me aqueceu por dentro, como um abraço reconfortante. Era sempre assim, ele atento a cada detalhe, a cada necessidade minha. Muitas vezes, nem precisava mencionar o que queria, ele parecia ler meus pensamentos, antecipar meus desejos.
Mesmo possuindo a aparência imponente de um guerreiro, com um semblante que muitos consideravam frio e calculista, Thor estava longe de ser assim. Aquele olhar penetrante, que intimidava muitos, para mim era um oceano de ternura. Por trás daquela armadura de força e poder, existia um homem amoroso, carinhoso, um ser de extrema sensibilidade. E esse amor não se limitava a mim, ele se estendia ao nosso bebê. Sentia o seu amor pulsando em cada batida do meu coração.
"A cada dia que passava, levantar-me da cama se tornava uma tarefa hercúlea. A exaustão me dominava, me envolvendo em um abraço pesado e sufocante. Era melhor ficar na cama, aninhada nos lençóis macios, do que enfrentar o mundo lá fora. Os enjoos eram constantes, uma náusea que me deixava fraca e sem energia.
Minha alimentação se tornou um desafio. Experimentei de tudo, buscando alimentos que me proporcionassem alguma energia. Até que percebi que precisava de alimentos mais fortes e nutritivos. Mas em Alfheim, a comida era leve. Então, tivemos a certeza de que precisava de comida mais robusta e consistente de Asgard. E assim foi feito. A comida me deu um pouco mais de energia, mas os enjoos persistiram. Mas, não importava o que ingerisse ou quanto Thor usasse seus poderes para ajudar, nada aliviava a náusea constante.
E as dores, essas, eram insuportáveis. Pareciam me arrebentar de dentro para fora, como se meu corpo estivesse sendo rasgado, dilacerado. A minha pelve doía, como se carregasse um peso enorme, um peso que parecia desproporcional ao tamanho da minha barriga. A pressão era constante, uma sensação de peso que me deixava sem ar. Thor acreditava que era por conta da mistura de nossos sangues: ele, um poderoso deus, com parte jotun em suas veias, e eu, uma elfa, mais delicada, mais frágil. Ele se sentia culpado, como se fosse o responsável por minhas dores. Via a culpa em seus olhos, na forma como ele me tocava com cuidado, como se temesse me machucar ainda mais.
O calor que invadia o quarto, o sol da manhã penetrando pelas frestas das cortinas, já estava me deixando ansiosa. Meus olhos tremeram, mas, ao perceber a movimentação de Thor, mantive-me quieta, fingindo dormir. Ele não percebeu que já estava acordada. Então, um singelo e delicado beijo foi depositado em minha barriga, um gesto de amor e carinho que me aqueceu por dentro. Senti o seu toque suave, a sua ternura, e um sorriso involuntário se formou em meus lábios, mas o controlei para que ele não percebesse que estava acordada. Aquele pequeno gesto foi suficiente para acalmar minhas dores, mesmo que por um instante.
— Bom dia, meu amorzinho, espero que esteja tudo bem aí! — a voz de Thor era como uma canção de ninar, rouca e cheia de ternura, preencheu o quarto, transmitindo todo seu amor. Suas mãos deslizaram suavemente sobre meu ventre, acariciando a pele sob o tecido fino do meu vestido. — A barriga da mamãe está crescendo, então acho que tem bastante espaço aí, mas não se preocupe, estou cuidando de tudo aqui, vou proteger vocês de tudo.
Suas palavras, carregadas de um afeto profundo, derreteram meu coração. Senti um amor imenso, avassalador, inundar meu peito, como uma onda quente e reconfortante. Era uma sensação de plenitude, de paz, de segurança.
— Estou tão ansioso para vê-lo — Thor pressionou os lábios contra minha barriga, um beijo delicado, cheio de ternura, que me fez estremecer. A sua pele contra a minha, o calor do seu corpo, a sua presença próxima, me transmitiam uma força que me deixava segura. Antes de se afastar, ele sorriu, um sorriso largo, radiante, que iluminou o quarto inteiro. — Será que é um garotinho ou uma linda menina como sua mãe?
Como ele conseguia me deixar ainda mais apaixonada a cada dia? Meu coração parecia prestes a explodir de felicidade, de gratidão, de amor. Uma felicidade tão intensa, tão profunda, que me deixava sem fôlego. Era uma sensação de estar completa, de estar no lugar certo, no momento certo, com a pessoa certa. A felicidade pura e simples de amar e ser amada.
— Amorzinho, tenta não deixar a mamãe enjoada — a voz de Thor era um sussurro, carregado de ternura e preocupação. Sua mão deslizava suavemente pelo meu ventre, num gesto delicado, quase hesitante, como se temesse me incomodar.
Não consegui conter o riso. Abri os olhos, encontrando o olhar de Thor, completamente corado, pego em flagrante. Ele estava tão concentrado na conversa com o nosso bebê que não percebeu que estava acordada.
— Thor, a culpa não é do bebê! — retruquei, a diversão evidente na minha voz.
— É feio escutar as conversas dos outros! — ele resmungou, o constrangimento evidente em sua voz. Ele tentou esconder o rosto, mas o sorriso que se formava em seus lábios denunciava sua tentativa frustrada de se manter sério.
— Não podia deixar a minha barriga para dar privacidade! — respondi, rindo abertamente.
— Malandra! — ele resmungou, um sorriso leve e divertido surgindo em seus lábios. A sua expressão era um misto de carinho e admiração. Não consegui evitar sorrir junto a ele."
Nunca imaginei que seria capaz de encontrar tamanha felicidade, principalmente depois de tudo o que passei. Mas ele, com seu amor incondicional, me provou o contrário. Nosso sentimento floresceu gradualmente, como uma planta delicada que encontrava forças para crescer mesmo em solo árido. Foi plantada na esperança, naquele desejo ardente de proteger meu povo, naquele olhar que ele nunca desviou, mesmo tendo todos os motivos para me abandonar. Se fosse qualquer outro, principalmente se fosse um elfo, estaria morta agora. Mas ele não. Ele me escolheu.
Seu cuidado, carinho e proteção incansável foram o que me tiraram do fundo do poço, resgatando-me das trevas que me envolviam. Demorei muito tempo para perceber, mas ele era o sol na minha vida, iluminando tudo ao meu redor, afugentando as sombras. Ao seu lado, não tive mais motivos para sucumbir. Apesar de ter perdido meus poderes de luz, nunca me senti tão em paz como agora.
O aroma inebriante de seu perfume preencheu o ambiente, desenhando um doce sorriso em meus lábios. Seus braços fortes e acolhedores me envolveram, puxando-me pela cintura contra seu peito. Suspirei, sentindo o calor do seu corpo me envolvendo, como um manto protetor, me aquecendo por dentro.
— Como está se sentindo? — ele perguntou, a voz rouca e cheia de preocupação. Suas mãos repousavam suavemente sobre meu ventre. — Está com dor?
Sorri, voltando-me para ele, meus olhos encontrando os seus. O brilho amarelo-esverdeado em seus olhos, a intensidade do seu olhar, fizeram meu coração bater freneticamente.
— Estamos bem, não se preocupe — respondi, um sorriso sincero se formando em meus lábios. Aconcheguei-me ainda mais contra o seu corpo, sentindo o calor do seu abraço me envolvendo como um manto protetor. — Estou cansada, mas não com dor ou enjoo.
— Quer ir ao jardim? — ele perguntou, depositando um beijo carinhoso no topo da minha cabeça. — O ar está ameno lá fora.
Sempre que demonstrava o desejo de sair do quarto, Thor me carregava nos braços, levando-me para onde quisesse. Não precisava me esforçar para nada. Tínhamos medo de que algo acontecesse ao nosso bebê, que pudesse machucá-lo com qualquer movimento. Além das recomendações médicas para evitar qualquer tipo de esforço, os sangramentos que sofri naquele período nos deixaram apavorados. Estava estritamente proibida de sair do quarto, nem ao menos podia caminhar sem ajuda. Mas enfrentaria qualquer sacrifício para que nosso filho nascesse saudável e forte.
Me sentia tão impotente. Até mesmo para tomar um banho, precisava de ajuda. A fadiga era constante, esmagadora. Se não tivesse tomado aquele maldito remédio, o bebê estaria bem.
— Quero descansar agora — suspirei, a exaustão evidente na minha voz.
Thor sorriu levemente, um sorriso compreensivo e carinhoso. Ele depositou um beijo doce e demorado em meus lábios. Ele me soltou com cuidado, sem tirar o brilho amoroso dos seus olhos. Com delicadeza, colocou-me de volta na cama, ajeitando os travesseiros e deixando tudo ao meu alcance: água, um livro, um casaco. Ele cuidava de mim com uma ternura que me deixava sem palavras.
— Estarei em reunião com Cyrius, mas se sentir algo, somente clame meu nome que escutarei — a preocupação era palpável em sua voz, em seus olhos. Assenti com a cabeça, sentindo uma leve tontura me invadir. A fadiga era uma companheira indesejada em todos os momentos. — É sério, mesmo que ache que é besteira, clame por mim, não faça nenhum esforço.
— Não se preocupe, abusarei do fato de ser um Deus — respondi, um sorriso leve tocando meus lábios.
Ele suspirou profundamente, denunciando sua ansiedade, se abaixou, depositando um beijo suave e demorado em meus lábios.
Observei-o sair do quarto, um pouco receoso, um pouco hesitante. Um aperto no peito me invadiu. Não queria lhe dar tanto trabalho. Além de cuidar do reino, de cumprir seus deveres como Deus, ele ainda tinha que cuidar de mim, de todas as minhas necessidades. Sentia-me um fardo, uma responsabilidade que pesava sobre seus ombros. Estava falhando em todos os sentidos, até mesmo como esposa. Mas ele nunca reclamava, pelo contrário, ficava ofendido quando ousava mencionar isso.
Para Thor, o nosso bem-estar era o que importava. Ele sempre dizia que teríamos toda uma vida pela frente para desfrutarmos da nossa felicidade. Me sentia incrivelmente sortuda por tê-lo na minha vida, por ter um companheiro que me apoiava incondicionalmente, que me entendia em todos os momentos. Sem ele, não conseguiria suportar, talvez nem estivesse mais aqui. Talvez tivesse desistido, sucumbido à dor e à desesperança. Mas ele foi a minha luz, foi quem me salvou.
Meus olhos pesaram, um cansaço profundo envolveu-me como um abraço sufocante. Meu corpo ficou dormente, mergulhando em um estado de sono leve e inquieto que me impedia de descansar verdadeiramente. Odiava aquele estado, aquela sensação de estar presente e ausente ao mesmo tempo.
Um som estranho começou a preencher minha mente, um som que gradualmente foi se intensificando, me despertando lentamente. Abri os olhos, sentindo-me grogue, desorientada. O quarto estava vazio, silencioso. Pelo visto, não se passou muito tempo desde que decidi dormir. Levantei-me com dificuldade, sentindo minha respiração ofegante, meu corpo pesado e dolorido.
Preciso chamar o Thor...
Mas então, um gemido alto ecoou pelo quarto, paralisando meus pensamentos. Era um som gutural, potente, como um rosnado profundo, um som que conhecia muito bem.
Não, isso não era real!
Segurei-me firme na mobília, sentindo minhas pernas bambas, meu corpo fraco e trêmulo. Caminhei lenta e tortuosamente em direção ao banheiro, de onde os sons pareciam emanar. A cada passo, os gemidos ficavam mais altos, mais intensos, misturando-se a um gemido feminino agudo e estridente. Com grande dificuldade, cheguei até a porta, mas a visão que se apresentou aos meus olhos me paralisou.
Ele estava lá, parcialmente mergulhado na banheira, com uma bela ninfa aninhada em seu colo. Suas mãos seguravam as nádegas dela com um desejo evidente, sua cabeça estava jogada para trás, os olhos fechados em puro prazer. Ela se movia avidamente contra ele, os cabelos negros e longos serpenteando ao redor, batendo contra a água. Seus olhos, parcialmente fechados, deixavam entrever um brilho dourado e intenso. Seu corpo curvilíneo se movia contra o dele com uma avidez voraz, os seios esfregando em sua face.
Não!
Tentei me concentrar, respirar fundo, mas minha respiração estava ofegante, presa na minha garganta. A raiva me consumia, me paralisava. Não conseguia raciocinar, tudo que via era ele, a traição.
— Thor... — sussurrei, a voz rouca, quase inaudível. Seus olhos amarelo-esverdeados encontraram os meus, um olhar estranho, frio, sem o amor que conhecia. Ele sorriu, um sorriso malicioso, continuando avidamente a se unir àquela mulher, sem se importar com a minha presença.
O que estava acontecendo?
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