Capítulo 3 - Engolindo o próprio veneno
Contém 4k palavras.
Boa leitura ❤️
Derrotada, apenas chorarei agora quando estiver sozinha
Você nunca verá o que está escondido
Escondido lá no fundo, sim, sim
Eu sei, já ouvi que mostrar os sentimentos
É a única maneira de fazer as amizades crescerem
Mas eu estou com muito medo agora, sim, sim
Trecho da música Unstoppable -Sia
O caminho até nossos aposentos foi um tanto longo e incômodo, devido ao silêncio no pequeno grupo. Minha cabeça estava repleta de pensamentos, e não fiz questão alguma de puxar assunto. Os dois ao meu lado pareciam pensar o mesmo, pelo semblante sério e concentrado.
Ao menos, aproveitei para admirar cada detalhe do majestoso lugar. As paredes, feitas de pedras tão brilhantes que a luz nelas refletia de forma quase surreal, criavam um ambiente mágico e acolhedor. As tapeçarias ao longo do corredor, ricamente bordadas com as narrações das gloriosas batalhas dos Deuses, e o chão coberto por um lindo tapete vermelho, tão macio que nossos passos se tornaram silenciosos.
Thor parou rente a uma porta de madeira maciça, adornada com símbolos rúnicos.
— Esses são seus aposentos, Cyrius — Thor indicou a porta, olhando serenamente para o elfo. — Suas coisas já estão acomodadas.
Cyrius assentiu, devolvendo um olhar extremamente sério para o Deus.
— Mantenha suas mãos longe ou ficará sem elas — Cyrius ameaçou, ocasionando um olhar de descrença como resposta.
O que esse velho cabeça dura estava fazendo?
— Cyrius! — resmunguei atônita.
Ele insinuou mesmo que ficaríamos de amassos?
Pior, teve a audácia de enfrentar um Deus por minha causa?
— Ele está avisado, boa noite — Cyrius retrucou, entrando em seu quarto.
Olhei atônita para a porta e então para Thor, que manteve o semblante sereno.
— Por favor, desculpe!
Esperei que ele não se ofendesse e tentasse algo contra Cyrius.
— Imagino que ele queira apenas protegê-la — Thor respondeu ameno, me fazendo sorrir levemente.
— Sim...
Thor continuou a andar, sem acrescentar mais nada, e o segui silenciosamente até o final do corredor, que ficava a metros do quarto de Cyrius.
Virei em sua direção, tomada pelas dúvidas, pois não conseguia esquecer que ele mentira para o próprio pai por minha causa, ainda mais que nem nos conhecíamos. Mesmo que fosse o caso, não entendia o motivo dele ter feito isso.
— Thor...
A mão dele segurou firmemente a minha, e ele simplesmente adentrou no quarto, me puxando junto. Meu corpo ficou tenso pelo contato. Sem medir as consequências, minha perna se ergueu com tudo em direção à sua barriga, chutando-o para longe e pegando-o completamente de surpresa.
— Nossa! — Thor exclamou, colocando a mão sobre a barriga machucada.
Quem ele pensava que era para me tocar dessa forma?
Ele não tinha dito que não faria isso sem minha permissão?
— Achou que fosse uma princesinha que não soubesse lutar? — perguntei irada.
— Honestamente, sim — ele respondeu sincero.
Idiota!
— Que petulância! Sei lutar, seu idiota!
A vontade de varrer o chão com ele cresceu de forma desmedida.
— Estou vendo — ele replicou com um brilho diferente no olhar.
Respirei profundamente, tentando manter a calma. Não importava minha raiva, ele ainda era um Deus.
— Por que me puxou assim?
— Ia me perguntar por que menti para meu pai. O corredor não era lugar para isso e os quartos eram magicamente à prova de som — ele respondeu simplista.
Ele... não tentou nada comigo!
Deuses! Não deveria tê-lo atacado!
— Me perdoe, eu... não deveria ter reagido abruptamente — me desculpei, ansiosa.
Meu semblante chocado apenas o fez rir levemente.
— Não precisa pedir desculpas. Bom saber que sabe se defender — Thor retrucou, piscando maroto.
Ele não era como pensei que fosse...
— Por que mentiu para seu pai?
— Ele... não entenderia. Além disso, isso era algo íntimo seu, não queria que fosse obrigada a contar para ninguém, ainda mais que disse que não queria que ninguém soubesse — ele admitiu.
Thor me protegeu somente porque considerou meus sentimentos?
Ele, sendo um homem, não somente me entendeu e não me julgou, como acreditava que o que queria era importante?
— Boa noite — Thor sorriu ameno, virando-se para sair.
Ele realmente não era como esperei. Era completamente diferente de tudo, mas, no momento, estava aliviada por isso.
— Thor... obrigada.
As lembranças do encontro com ela continuavam a preencher meus pensamentos, de forma irritante. Suspirei, mantendo o olhar atento ao teto. Selene não era nada do que imaginei. Quando ela chegou acompanhada de um dos anciões élficos, somente confirmou meus pensamentos de que sua aparência remetia a uma princesa frágil e mimada, mesmo com a clara escuridão emanada dela.
A primeira surpresa foi ela querer conversar a sós comigo, sendo que, de acordo com os costumes deles, isso não era praticável, principalmente para uma dama, mas a surpresa maior foi o motivo da conversa. Não que ligasse para ela ser ou não virgem, pois sempre pensei no quão arcaicas eram as leis deles, que beneficiavam apenas os homens, e isso, para mim, era um insulto.
Se a mulher era forte, então ela era igual ao homem!
Selene teve coragem de admitir seu segredo, mesmo sabendo que, apesar de não ser um elfo, poderia ordenar sua morte ao denunciá-la por quebrar a lei mais importante deles. Ela me deu a chance de liberdade, mas não quis fazer isso, ela já sofreu demais para merecer um destino assim.
Sua história era totalmente revoltante, o ódio que senti do miserável por se aproveitar de uma mulher para obter poder era absurdo. Esse Uziel não poderia casar com ela, pois Selene já era minha noiva e o acordo não poderia ser desfeito, então, sua maneira de roubar o trono foi desonrá-la e matar sua própria filha.
O verme matou o sangue dele, e isso era imperdoável!
Como ele foi capaz de matar um ser que não era capaz de se defender?
Um bebê, parte dele, e que apenas precisava de sua proteção e amor!
Ele teve a audácia de enfrentar uma mulher após ela passar por um parto sozinha, pois não era homem suficiente para se garantir contra ela, pois se Selene estivesse recuperada, Uziel teria morrido e não sua filha.
— Aquele maldito vai pagar por tudo! — rosnei, levantando-me num salto, como se ele estivesse em minha frente.
A pontada na minha barriga me fez gemer de dor. Sorri ao tocá-la.
— Até que a princesa era forte...
Quando peguei sua mão, não pensei que estava invadindo seu espaço pessoal, meu primeiro pensamento foi no quanto éramos diferentes, pois a pequena mão sumia na minha, mas ainda assim ela se encaixava bem ali. A surpresa logo foi desfeita ao senti-la me chutar, reação compreensível dado seu passado, mesmo assim, foi surpreendente sentir dor, pois nunca na vida alguém conseguiu ser forte o bastante para me enfrentar como igual, menos ainda me causar dor.
O estúpido sorriso malicioso surgiu antes que conseguisse controlá-lo, somente com o pensamento dela tão brava comigo.
Ela não era indefesa, para uma princesa. Um ser tão pequeno, com tanta força...
— Gostaria de saber o quanto ela sabia lutar...
Ela podia ter uma força considerável, mas nunca seria capaz de me vencer.
Por que não poderia deixar para ela resolver tudo sobre o casamento e simplesmente aparecer na hora?
Seria totalmente entediante e fora da minha zona de conforto!
— Diga-me qual foi o motivo que o levou a mentir para nosso pai? — Loki perguntou, aparecendo no canto do quarto.
Sem querer, o suspiro exasperado escapou, para a diversão dele.
— Não menti! Já disse para não aparecer assim! — resmunguei, dando-lhe as costas.
Tantas horas para ele me encher a paciência, ele escolheu justamente quando acordei.
— Sem essa! Papai sabe que mentiu e deixou por isso mesmo, ele confia em você — Loki retrucou, me exasperando.
— Se ele confia, por que estava me enchendo o saco logo cedo?
Assim que a pergunta escapou, me arrependi ao ver seu sorriso malicioso.
— Realmente mentiu... o que será que ela fez para que tivesse compaixão... — Loki sorriu maroto.
Droga!
— SAI! — apontei para a saída.
Loki riu antes de sumir em um de seus portais.
Ele me dava nos nervos, uma hora ainda o mataria!
Todos já estavam à minha espera, menos ela.
Sem querer, olhei para o corredor, fechando o rosto ao ver o sorriso de Loki.
— Ela está a caminho — Loki piscou maliciosamente.
Sentei-me sem responder, não estou com maior paciência para suas brincadeiras logo cedo.
— Bom dia, desculpe-me o atraso — sua voz ecoou ao adentrar na sala.
Sem controle, meu olhar foi até ela, ao contrário do que pensei. Selene vestiu um traje de luta, a longa túnica branca até as coxas sob a armadura superior feita de um corset delicado num tom misturado entre branco e roxo, transpassada com duas placas de metal abaixo do busto e cinto, ajudadas pelo tronco delicado. Apesar dos ombros de fora, as mangas vão até o pulso. Também usando uma calça de material flexível e botas até os joelhos.
Engraçado vê-la assim, já que a programação era ver a decoração do nosso casamento...
— Bom dia, não está atrasada, princesa — Odin respondeu, indicando para que se sentasse ao seu lado na longa mesa.
Selene acenou em cumprimento, sentando-se ao meu lado.
Precisava admitir que estava mesmo errado sobre ela, pois para mim as mulheres sempre gostavam de chamar atenção, mas Selene era silenciosa, exatamente igual a mim.
Não podia mais pressupor que a conhecia baseado nas outras...
— Senhor Odin, sei que o casamento ocorrerá aqui, mas gostaria que fosse honrado com o costume dos casamentos dos elfos — Cyrius anunciou assim que terminamos o desjejum.
Selene revirou os olhos, me fazendo rir.
Ela não quer honrar seus costumes?
— Não gosta do casamento feito com seus costumes? — provoquei.
— Elfos casam-se uma vez na vida, em sua maioria eles apaixonam-se rapidamente e com isso firmam a união, quando ela não é firmada com interesse nas posses que ambos possuem — ela explicou, entediada.
Ainda não explicava a minha pergunta...
Selene revirou os olhos ao notar meu olhar.
— É verdade que os elfos apaixonam-se apenas uma vez na vida? — Loki perguntou, curiosamente, deixando-a tensa.
Ela já foi apaixonada, então significa que jamais me amará?
— Sim, por isso evitamos contatos com outros antes do casamento, principalmente dentro da realeza, onde os casamentos são arranjados — Cyrius respondeu por Selene.
Olhei atentamente em sua direção, vendo-a com os olhos focados no copo à sua frente, com os pensamentos longe.
Ela ainda amava o desgraçado que acabou com a sua vida?
Não conseguia acreditar que ela simplesmente sentia algo por alguém como ele!
— Sobre a cerimônia... não me importo de ter uma que seja do costume dos elfos — Selene respondeu após um tempo.
Por que me importava se ela gostava ou não dele?
Apesar de tudo, não era da minha conta, nossa união era apenas contrato!
— Por que você não cuida disso? — perguntei, azedo.
Não sentia a menor vontade de passar horas lidando com essa questão, principalmente após notar o rumo dos pensamentos dela.
Selene passará o tempo inteiro pensando no quanto queria que o casamento fosse com alguém que ela realmente quisesse?
A onda de fúria dela atraiu meu olhar em sua direção, a pequena coisinha parecia ferver.
Ah! Ela tem um nervo...
— Lindo! Quer dizer que os costumes arcaicos servem apenas para quando quer? — Selene perguntou, ácida.
Por que elas sempre distorcem o que falamos?
— É apenas óbvio que tem mais familiaridade com isso por ser uma elfa.
Os olhos intensamente roxos brilharam em fúria, era divertido vê-la como se estivesse prestes a me bater.
Que paciência curta, princesa!
— Que tal uma aposta? — Selene retrucou entre dentes.
— Qual? — perguntei, debochado.
— Uma luta... se ganhar, você ajuda em tudo! — Selene propõe, ocasionando meu riso.
Sério que ela queria lutar comigo?
Nunca perdi uma luta, sequer tenho alguém que bata de frente comigo. Ela querer se arriscar dessa forma?
Meu olhar percorreu seu corpo por inteiro, enquanto sorri estupidamente malicioso.
— Princesa, se quer morrer, existem formas menos dolorosas — debochei.
A raiva em seu olhar aumentou, para meu divertimento.
— Selene, não é uma boa ideia! — Cyrius respondeu, assustado.
Era uma ideia horrível! Sequer vou poder tocá-la sem que a matasse sem querer, possivelmente qualquer movimento meu poderia esmagá-la!
— Deixe-os — Odin ordenou, olhando sério para mim.
Claro, quer que tenha mais contato com ela, mas tomando os devidos cuidados, pois ele não quer que ela morra.
— Vamos! — Selene levantou-se decidida.
Segui-a, sem conter o sorriso debochado.
— Onde pretende lutar?
Ela quer me guiar em casa, sendo que não conhecia nada daqui?
— Onde quiser! — Selene retrucou, revirando os olhos.
Thrudheim, meu local privado em Asgard, onde ficava o maior palácio do reino, cercado por montanhas majestosas e solo coberto de uma mistura de areia e pedras. O centro de treinamento era ideal para combates intensos, por intensificar a mente além do corpo. Apesar de estar tentado a treinar no salão coberto, por ser usado para treinos controlados, além de estar com minhas armas divinas, preferi seguir até o campo, onde teríamos mais liberdade. Confessava que era mais para dar espaço para ela do que para mim.
O vasto campo era cercado por extensas paredes, com gravações rúnicas para proteção, além de um percurso desafiador para treinamento de escalada e armadilhas que testavam a agilidade, força e resistência.
O olhar curioso de Selene ia para todo o canto, quase com um brilho infantil.
— Para ficar mais justo, não usarei o Mjölnir nem Jarngreipr.
Se usasse o martelo, ela não teria a menor chance, além de que as luvas eram para manejar o Mjölnir antes do seu despertar.
Ela estava irritada, pude sentir seu sangue ferver apenas com essa menção, isso aumentou meu divertimento.
— Apenas perdi meus poderes da luz, mas ainda sou uma elfa, tenho todos os poderes da minha raça! — Selene esbravejou.
O seu punho voou em minha direção, sem me dar chance de resposta, sua velocidade extremamente alta me pegou de surpresa. Se não tivesse reflexo divino, provavelmente não conseguiria acompanhá-la. Mantive a atenção em seus movimentos, desviando-me de cada soco, sem nenhum alarde, ocasionando uma carranca em resposta. Sua velocidade aumentou, forçando-me a ficar na defensiva. Meu corpo foi levemente para a esquerda, em simultâneo, seu punho acertou meu rosto.
Ela previu meu movimento, mesmo que por milésimos de segundos?
— É um poder que não gosto de usar, mas é útil numa batalha — Selene resmungou.
Seu punho esquerdo voou, me acertando novamente.
— NÃO ACREDITO! — Loki gritou furiosamente ao me ver ser golpeado.
Deveria adivinhar que ele nos seguiria, ele não perdia a oportunidade de me zoar.
Não acredito que ela conseguiu me acertar duas vezes!
— Realmente é forte, para uma pequena princesa — retruquei com o sangue fervente.
Selene apenas revirou os olhos.
Ela não era arrogante, sabe bem que não vou usar a força total e, mesmo assim, ela não podia contra mim, provavelmente estava pensando em alguma alternativa para ganhar.
— Por que não me ataca? — Selene retrucou, mordaz.
Ela quer mesmo apanhar?
Sorri maroto, partindo para cima dela com as mãos em punho, acertando seu antebraço, continuamente a socando, com a força contida, todo meu esforço focado em conter meus movimentos para não machucá-la.
Se acertá-la para valer, vou matá-la e isso estava fora de questão!
Meu punho voou em sua direção, ela desviou rapidamente, aproximando-se de mim, seu olhar antes feroz assumiu um brilho doce, sua palma se ergueu, tocando suavemente em meu rosto, sem conseguir manter o controle, meu corpo parou de imediato, em simultâneo ela chutou fortemente minha barriga, me fazendo voar contra o muro.
Por que ela gostava de me chutar?
— Parece que ganhei — Selene declarou ao me ver nocauteado.
— CARALHO! EU TINHA QUE TER GRAVADO ISSO! — Loki gritou, rindo de mim.
Selene riu junto de Loki, aumentando minha carranca.
Ela ganhou de mim?
Sem tirar o sorriso do rosto, ela se aproximou, estendendo a mão em minha direção.
Perdi para uma elfa?
Um ser que é menos da metade do meu tamanho?
Ela ganhou de mim sem sequer derramar uma gota do meu suor!
Que poder foi aquele que ela usou?
— Você roubou! — resmunguei irritado ao aceitar ajuda.
— Nunca disse que jogaria limpo, além do mais... usei os poderes dos elfos, um em especial que é o poder de persuadir com toque — Selene declarou, piscando marota.
Elfos têm esse poder?
Desvio o olhar para Loki, que já estava roxo de tanto rir.
Escutarei isso pela eternidade!
— Vamos ver esses lacinhos! — resmunguei, dando-lhe as costas.
— Sabe... na próxima vez eu te mato! Por que tem uma visão tão cor-de-rosa de mim? — Selene perguntou, aborrecida.
— Deve ser pelo fato de ser uma princesa — respondi sarcástico.
— Você é um Deus e nem por isso o comparo aos asnos! — Selene retrucou ácida, saindo irritada do campo.
Era sério isso?
Ela, além de me humilhar numa luta, vai fazer isso verbalmente?
— Vou pedir para o papai adotar ela no seu lugar! — Loki riu ao se aproximar.
Senti uma veia saltar em minha testa.
— Ela também te chamou de asno, imbecil! — retruquei, irritado.
Loki parou de rir, olhando para o caminho por onde Selene saiu, analisando a última frase dela.
— Que filha da mãe! — Loki resmungou, bravo.
Revirei os olhos, irritado, deixando-o no campo.
Se Selene acreditava que a última palavra era dela, estava bem enganada!
Nem mesmo a carranca dela em observar as extensas listas de decoração me deixou animado, não após ela me comparar com um asno.
— Chegou a margarida! — Selene resmungou ao me ver entrar na biblioteca.
A mesa repleta de livros, cada um deles com temas para casamento, além de revistas modernas, me exasperou.
Não vou fazer nada enquanto estiver irritado com o que ela disse!
— Não pense que ficará com a última palavra! — vociferei emburrado.
— Fiquei sabendo que vocês têm um lindo jardim e um gazebo bem charmoso, podemos usá-lo de altar, assim poupa-nos o trabalho de montar um — Selene me ignorou totalmente.
Mulher desrespeitosa! Nunca aprendeu a tratar um Deus com respeito?
— Estou falando! — resmunguei, indignado.
Selene desviou o olhar do livro de decorações de festa, analisando-me serenamente.
— Ainda não estou surda — ela retrucou audaciosa, então sorriu suavemente. — Pensei num arco de flores, quais rosas prefere?
Ela nem ao menos vai pedir desculpa por ser desrespeitosa com um ser superior a ela?
Suspirei pesadamente, dando-lhe as costas.
— Se sair, além de me deixar novamente com a última palavra, será um péssimo perdedor...— Selene riu, animada.
Virei-me em sua direção, ficando mais irritado com seu olhar debochado.
— Tons vermelhos — respondi entre dentes.
Ela revirou os olhos, debochada.
— O quê? — cerrei os olhos pela crítica óbvia.
— Ao menos sabe os tipos de rosas existentes? — Selene perguntou, arrogante.
— Claro, são as rosas vermelhas — respondi, ocasionando um sorriso enorme no rosto dela.
— Existem muitas flores vermelhas, como as rosas, hibiscos, tulipas, cravos, crisântemos...
— Para que citar todas as flores existentes? — interrompi, irritado.
Selene sorri maliciosamente.
— Para irritar você — Selene retrucou.
— Caralho! Rosas vermelhas e ponto final! — resmunguei indignado. — Pode, por favor, ser gentil? Não entendo nada disso!
Ela revirou os olhos, chamando-me para sentar ao seu lado.
— Vamos intercalar as rosas com outras cores mais claras, não quero um arco tão escuro, mas podemos colocar rosas vermelhas nas mesas — ela explicou, mas ao ver meu semblante, ela olha ao redor. — Espere, onde tem um papel para desenhar?
Vou até a pequena mesa que mantemos ao final da biblioteca, pegando alguns pergaminhos.
Ela sorriu ao pegá-los, sem responder nada, e começou a desenhar, para meu espanto.
O gazebo, elegantemente desenhado, com as colunas adornadas com uma profusão de flores entrelaçadas, criando um belo ambiente. Atrás, um arco floral erguido, com ramos de rosa vermelha misturados às brancas, ao redor dele as mesas para os convidados, completando a decoração.
— Você desenha bem — elogiei, deixando-a um pouco sem graça.
— Obrigada... — Selene corou, desviando o olhar para o desenho. — Acha que ficará boa a cerimônia dessa forma?
— É perfeito! — respondi sincero, ocasionando seu primeiro sorriso honesto do dia.
— Ótimo, então apresentarei para seu pai, ele falou que daria a conclusão final — Selene suspirou para o desenho.
— Besteira!
— Thor!
— Está do jeito que quer? — retruquei.
— Sim... — ela me olhou confusa.
— Então mandaremos os criados cuidarem disso — declarei, para sua surpresa, sorri maroto — O casamento é nosso, são as nossas decisões, ninguém tem nada com isso.
Ela sorriu ao concordar.
— Quanto aos costumes élficos, você terá que customizar uma pulseira com fitas da cor que acha que combine comigo e com nossa união — Selene respondeu divertida.
O quê?
— Por que eu?
— É um sinal de que pensou em mim ao fazê-lo, está pensando nos meus gostos e a cor da fita significa o que quer para a união — ela explicou.
Mas isso significa que terei que ver algo de que não faço ideia!
— Não podemos fazer juntos? — perguntei, desesperado.
Selene teve a audácia de rir, aumentando minha carranca.
— Não podemos ver as fitas antes da hora.
Ótimo! Agora terei que ver tudo sozinho!
— O que mais acontece?
Cada costume deles me deixou um pouco surpreso, com quão arcaicos eles realmente são, não é necessária tanta formalidade, ainda mais em um casamento com um Deus, eles provavelmente sabem disso.
— Então temos a troca das alianças, apenas isso na cerimônia — Selene concluiu.
Olhei chocado em sua direção.
— Já vimos tudo? — perguntei apressado.
— Sim, aconteceu algo? — Selene perguntou, surpresa.
— Não! Preciso resolver algo, lembrei-me agora — respondi, saindo rapidamente como um foguete, deixando-a confusa.
Como esqueci desse detalhe?
Óbvio que deveria lembrar que casamento envolve aliança!
Não era totalmente culpa minha, pois nunca me envolvi verdadeiramente com ninguém, não para um relacionamento ao menos. Por isso, a simples menção de uma aliança me deixou completamente aturdido, preferi sair escondido para procurar delas.
Nem morto permito um joalheiro em casa, somente para Loki me encher o saco!
Olhei para as inúmeras joias, sem realmente vê-las, pois todas pareciam iguais.
— Precisa ver o significado delas, as mulheres adoram isso — a voz debochada de Loki ecoou, me assustando.
Olhei irritado para o idiota ao meu lado, que não perdeu a oportunidade de sorrir animadamente.
Não mereço isso!
— Sua noiva disse que saiu apressado, então segui você — Loki deu de ombros, sorrindo.
— Cai fora!
O idiota apenas revirou os olhos, rindo alto.
— Precisa da minha ajuda! — Loki retrucou.
Não era possível que tudo daria errado para mim hoje!
— SAI!
— Deixa de ser cabeça-dura!
— Precisam de ajuda? — a atendente perguntou suavemente ao se aproximar.
— NÃO! — falamos juntos, assustando-a.
Ótimo, estou chamando toda a atenção que não queria!
Loki sorriu abertamente, voltando-se para ela com um estúpido olhar sedutor.
Não, ele não vai fazer isso!
— Loki...
— Ele precisa de ajuda, meu bem — ele me interrompeu com a voz melosa. — Vai se casar e nem sabe comprar uma joia!
— Senhor Thor, se casará? — a moça perguntou, surpresa.
— Seu troll! — resmunguei, indignado, apenas para Loki.
— Você me ama — Loki sussurrou, brincalhão.
Revirei os olhos, voltando a atenção para a moça.
— Quero ver os anéis de casamento — resmunguei.
Ela sorriu, mas mais pareceu uma careta.
— Sim, ele vai casar, aproveita agora enquanto ele é solteiro — Loki respondeu, piscando suavemente para a moça que corou.
Ela virou-se para pegar as joias, dando-me liberdade para conversar com Loki.
— Linguarudo! Não era para ninguém saber ainda! — resmunguei, fazendo o sorriso dele aumentar.
A atendente voltou, segurando uma enorme caixa, com um sorriso sensual, até demais.
Maldito seja! Ela estava tentando me seduzir!
Ela passou por mim, encostando desnecessariamente o corpo contra o meu, quase revirei os olhos, saltando para trás, mantendo os olhos nas joias.
Não preciso de mais problemas, mulher, pare com isso antes que eu seja ríspido!
A moça novamente tentou encostar o corpo no meu, suspirei pesado, tomei a caixa de joias e me afastei dela, para poder olhá-las em paz.
— Essa aqui é perfeita — afirmei ao segurar um com tom de roxo igual aos olhos de Selene.
— Senhor, quer que experimente para ter uma ideia se caberá na mão da sua noiva? — a moça perguntou, com a voz melosa.
Meu pai!
— Não, conheço as mãos da minha noiva.
— E-esta bem — ela respondeu tremulamente.
Loki riu ao ver a moça envergonhada, fazendo o embrulho do anel.
— Que maldade... Quebrou o coração da pobre moça — Loki murmurou, malicioso.
Preferi não respondê-lo, não vale a pena entrar na onda dele, pois Loki somente quer me irritar.
Pego a joia, saindo em direção à loja para comprar as malditas fitas.
Droga! Como saberei qual comprar?
Não tenho a menor ideia dos significados das cores, menos ainda se o tecido é adequado.
Importava tudo isso?
Ao menos, fiquei sossegado na loja, ninguém se incomodou comigo, o que foi um pouco pior.
Meu pai, para que tantas cores?
Pego uma fita rosa e outra roxa, analisando-as com uma careta.
Crianças usam essa cor, então significava algo puro... talvez seja uma escolha razoável.
— Bela escolha... Reflete amizade e companheirismo — Loki surgiu ao meu lado, me assustando novamente.
Que grande porcaria, estou tão disperso que não notei esse idiota me seguindo?
— É esse mesmo o significado? — perguntei, incerto.
Loki sorriu misteriosamente e meu interior se contraiu com seu olhar.
Deveria mesmo confiar nesse idiota?
Olhei para as fitas em minhas mãos, me sentindo ansioso, não tenho escolha, não queria perguntar para outra pessoa, vou matar Loki por ser um tremendo intrometido.
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