Capítulo 26 - Por favor, não!
Sílfio era uma planta umbelífera, de origem norte-africana, sendo muito usada na Antiguidade Clássica, especialmente na cosmética, na culinária e na medicina. A espécie não foi identificada pela botânica moderna e crê-se que se encontre extinta.
Era uma planta conhecida por causar infertilidade momentânea e aborto.
Apenas um aviso, eu não estou fazendo apologia ao aborto ou algo do tipo, tenho minhas crenças assim como todos têm, em minha opinião pessoal, cada um cuida de si e de seu corpo, pois seu corpo, suas regras!
Ástin mín: meu amor.
Contém 3796 palavras.
Boa leitura❤
Você sabe que eu fui machucado antes
Sim, você sabe o placar e eu sei que você quer mais
Você quer que eu descongele
Mas você sabe que eu fico gelada, fico com frio
Quando você não vai devagar, mas eu sei que você quer mais
Você precisa de mim para descongelar
E sei que valeram a pena
E eu sei que isso poderia funcionar se
Eu pudesse apenas deixá-lo entrar
Mas eu estou congelando
Eu não estou fugindo
Eu vou sentir a dor e ficar
Eu não estou fugindo novamente
Mesmo que eu esteja com medo, baby
Eu não vou te congelar
Como eu fui congelada
Eu não vou te congelar
Eu vou deixá-lo entrar
Eu não vou te congelar
Como eu fui congelada
Eu não vou te congelar
Meu coração está derretendo
Então aqui está o meu coração para você segurar
Sinta a batida, sinta o fluxo de sangue quente através do meu frio
Sinta-o descongelar
Sim, eu senti medo, mas eu fiz passar
Vale tanto a pena amar você, você queria mais
E assim eu descongelei
E sei que valeu a pena
E eu sei que isso poderia funcionar se
Eu pudesse apenas deixá-lo entrar
Mas eu estou congelando
Eu não estou fugindo
Eu vou sentir a dor e ficar
Eu não estou fugindo novamente
Mesmo que eu estivesse com medo, baby
Eu não vou te congelar
Como eu fui congelada
Eu não vou te congelar
Eu vou deixá-lo entrar
Meu coração está derretendo
Eu não vou te congelar, meu coração está derretendo
Trechos da música Freeze You Out - Sia
O corpo dela amoleceu contra o meu, um peso quase etéreo em meus braços. Arregalei os olhos, o pavor me gelando por dentro. Meu corpo reagiu por instinto, meus músculos se contraíram, me impulsionando para frente, em direção ao nosso quarto, ao seu quarto. Selene estava tão magra, tão frágil, que parecia desaparecer em meus braços. Um fio de pânico cortou meu ar.
A palidez em sua pele de porcelana era assustadora, nem mesmo o leve rubor que normalmente tingia suas bochechas estava presente.
Perto do quarto, Cyrius surgiu no corredor, vindo em direção contrária. Ele nem sequer perguntou o que estava acontecendo, apenas murmurou algo sobre buscar o médico e saiu correndo, desaparecendo no corredor.
Esperava que ela não estivesse doente. A ideia me perfurou como uma lança, uma dor aguda que me atingiu em cheio.
Estive de olho nela nesse tempo todo. Orgulhoso demais para deixá-la se aproximar, com medo de acreditar em suas palavras, com medo de me entregar novamente. Vê-la nos braços daquele maldito... A dor era uma ferida aberta em meu peito, uma dor que não conseguia estancar. Não queria me magoar mais, mas nem por isso deixei de observá-la. Sabia que ela estava se descuidando, que estava se deixando definhar. Apesar de ter colocado Cyrius para vigiá-la, sabia que muitas vezes ela deixava de se alimentar. Perdi a conta de quantas vezes deixei uma bandeja com comida em seu quarto, sem que ela percebesse, para que ela não tivesse desculpas.
Deitei-a na cama com o maior cuidado, meus movimentos lentos e hesitantes, como se temesse quebrá-la. Meu coração apertou, uma dor que me esmagava, me sufocando. Deslizei as mãos em seus longos cabelos cor de areia, espalhados pelo travesseiro, como seda macia sob meus dedos.
Como podia ser linda até mesmo assim?
Ela lentamente abriu os olhos, um brilho fraco que mal iluminava a escuridão em seu olhar. Um sorriso fraco, quase imperceptível, tocou seus lábios, enquanto meus dedos ainda acariciavam seus cabelos. Ela me tinha nas mãos, e nem se dava conta. Mil batalhas, mil guerras, enfrentaria sem hesitar, mas vê-la assim... era uma agulha que perfurava meu coração.
— Como está? — minha voz saiu rouca, áspera, como se minha garganta estivesse seca. Deslizei a mão até suas bochechas, meus dedos buscando o calor que parecia ter desaparecido de sua pele. — Ainda está muito pálida.
Selene sorriu levemente, um sorriso que mal tocava seus lábios, mas que carregava uma fragilidade que me partia o coração. Sua mão encontrou a minha, cobrindo-a com uma delicadeza que me fez estremecer. Meu coração disparou, um ritmo frenético que ecoava em meus ouvidos. Um sorriso involuntário, um reflexo de minha alma, tocou meus lábios.
— Sinto-me um pouco tonta — ela murmurou, sua voz baixa, quase inaudível, como o sussurro do vento.
Sentei-me ao seu lado na cama, incapaz de me afastar, de quebrar o contato que nos unia. Nossas mãos entrelaçadas, um elo que me prendia a ela, que me ancorava na realidade.
— Não se preocupe, o médico já irá chegar — respondi, minha voz suave, tentando transmitir calma, tentando acalmar a tempestade que se formava em meu peito.
Ela sorriu fracamente, um sorriso triste, quase imperceptível. Seus lindos olhos roxos se perderam nos meus, um olhar profundo, carregado de uma fragilidade que me consumia. Antes que ela os fechasse, um suspiro escapuliu de seus lábios, um suspiro que carregava todo o peso do mundo.
— Desculpe por incomodá-lo com besteiras — ela declarou num sussurro, sua voz quase inaudível, carregada de culpa.
Afastei-me, observando-a com descrença, com incredulidade. Ela realmente pensava isso de mim? Que a deixaria ficar doente, que não me importaria com sua saúde?
— Sua saúde jamais será besteira para mim! — retruquei, minha voz carregada de uma fúria que mal conseguia controlar.
Não conseguia acreditar nisso!
— Thor... — sua voz foi um sussurro, uma tentativa de acalmar a tempestade em mim.
— Não sou como seu querido elfo, realmente me preocupo com você, para mim a sua saúde é o mais importante! — interrompi-a, minha voz áspera, cortante, carregada de uma fúria que me consumia.
Levantei-me da cama, afastando-me ainda mais, aumentando a distância entre nós. Seus olhos se arregalaram, um reflexo de surpresa e incredulidade. Um leve rubor, uma onda de calor, tingiu suas bochechas, um contraste com a palidez que a assombrou.
— Era você... era você... — ela murmurou, suas palavras entrecortadas, como se estivesse lutando contra as próprias emoções.
Franzi o cenho, sem entender seus sussurros.
— Era você que deixava as bandejas de comida! — ela murmurou, perplexa, a compreensão finalmente chegando.
Suspirei, frustrado. Sério que ela só estava se dando conta disso agora? Ela não tinha notado que as bandejas continham coisas que ela amava?
Espere...
— Pensou que fosse seu amante? — perguntei, minha voz ácida, carregada de sarcasmo.
A compreensão da sua confusão me atingiu como um raio. Ela realmente achava que tinha sido ele, o maldito elfo!
— Pensei que fosse o Cyrius, não imaginei que fosse se preocupar comigo depois de tudo — ela respondeu, sem graça, a culpa evidente em seu olhar.
— Como posso não me preocupar com a mulher que am... — tossi, interrompendo meu próprio deslize. Fechei o semblante, olhando-a seriamente, tentando controlar a tempestade de emoções que me assolava. — Com a minha esposa?
Quase falei dos meus sentimentos! Não queria que fosse assim, não queria que essa fosse a forma como expressaria meu amor por ela. Mas não conseguia esquecer tudo o que aconteceu, a traição, a dor. Talvez fosse menos doloroso se fosse qualquer outro, menos aquele maldito.
— Que bom que acordou, querida, o médico está aqui para vê-la! — a voz de Cyrius cortou o ar, sua entrada no quarto tão repentina. Ele estava acompanhado de um velho elfo, cuja presença imponente preenchia o espaço. A interrupção foi brusca, impedindo qualquer tentativa de resposta de Selene.
O elfo curvou levemente a cabeça em cumprimento, seus olhos avaliando a situação com uma precisão que me deixou desconfortável. Aproximou-se de Selene, mas parou, como se hesitasse, ao perceber que não nos movíamos.
— Cyrius, majestade, por favor, queiram se retirar para que possa examinar a rainha — a voz do elfo era firme, autoritária, sem espaço para contestações.
Cyrius assentiu, obedecendo sem hesitar. Ele saiu do quarto, mas não me movi. Meus pés estavam presos ao chão, minha vontade de me afastar de Selene era inexistente. Fechei a porta com um movimento firme, meu olhar fixo no elfo, transmitindo minha determinação.
— Não vou sair daqui, ela é minha esposa! — retruquei, minha voz firme, carregada de uma intensidade que não deixava espaço para dúvidas.
Selene sorriu fracamente, seus olhos brilhando com um carinho que me aqueceu por dentro, dissipando parte da tensão que me consumia.
— Deixe-o aqui — ela murmurou, sua voz suave, carregada de um afeto que me fez estremecer.
Meu rosto corou, uma onda de calor que me atingiu de surpresa. A preocupação por ela era maior que qualquer outra coisa, maior que meu orgulho. Não queria me afastar dela, não queria deixá-la sozinha. Por um momento, esqueci de tudo, de nossas brigas, de nossas diferenças, de tudo que nos separou. Só existia ela.
O elfo médico assentiu, sua expressão séria enquanto examinava Selene com uma atenção minuciosa. Por instantes, ele utilizou aparelhos estranhos, instrumentos que nunca vi antes, sua destreza impressionante. Então, ele parou, seus dedos delicados pousando sobre seu pulso, e começou a fazer uma série de perguntas que não conseguia compreender, perguntas sobre sua saúde, sobre seus hábitos, sobre sua rotina. Meu interior se contraía a cada instante, um aperto doloroso que me faltava o ar. A possibilidade de perdê-la me assombrava, me esmagava. Poderia suportar vê-la feliz nos braços de outro, mas não suportaria perdê-la para a morte. Iria até o Helheim, enfrentaria Hela, se fosse preciso, para salvá-la.
Estava morrendo de medo. Medo de que ela estivesse doente, medo do que faria sem ela. Meu orgulho era imenso, nossa separação era um abismo entre nós. Mas era sortudo, incrivelmente sortudo, por estar no mesmo mundo que ela, por respirar o mesmo ar. Selene era o amor da minha vida, e não suportaria perdê-la assim.
— Meus parabéns, senhores! — a voz alegre do elfo médico cortou o silêncio, sua alegria vibrante contrastando com a tensão que dominava o ambiente.
Olhei para ele, confuso, sua expressão radiante. O sorriso enorme em seu rosto era incompatível com o olhar assustado, quase incrédulo, que Selene lançava para mim.
— Parabéns? — perguntei, minha voz rouca, minha mente incapaz de processar a informação.
— Sim, minha senhora está grávida de três meses — ele respondeu, sua voz vibrante, carregada de uma alegria que não conseguia compartilhar naquele momento.
Grávida... Selene estava grávida? Olhei em choque para ela, para o médico, incapaz de me mover, incapaz de falar. Meu peito se encheu de um turbilhão de emoções, um sentimento desconhecido, intenso, que inundou meu coração.
Mas e se... e se for de Uziel?
NÃO! Era impossível. Ela não me traiu. Não há tanto tempo. Esse filho era meu. Não podia deixar minha mágoa, minha dor, se sobressair!
Por tudo que era sagrado nesse universo! Era meu filho. Ela, minha esposa, meu amor, estava carregando nosso bebê. Meus olhos marejaram, as lágrimas ameaçaram transbordar. Não controlei o sorriso que se abriu em meu rosto, um sorriso enorme, radiante, que inundou meu ser. Senti uma mistura de emoções, uma tempestade de sentimentos que me consumiam, mas acima de tudo, um amor incondicional, um amor infinito, pelo pequeno ser que estava crescendo dentro dela.
A alegria que transbordava em mim se choca com o semblante assustado de Selene. A imagem dela segurando nosso bebê preencheu minha mente e meu coração se apertou, uma mistura de amor e medo que quase me deixou sem fôlego. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, queria muito ser pai. A ideia de ter um filho com a mulher da minha vida era um sonho, mas não sabia se ela queria o mesmo.
— Não posso, eu... tomo sílfio para evitar... nós acabamos de nos casar, sabe... — sua voz tremia, as palavras saindo apressadas.
Olhei para ela, meu coração disparando em desespero. O médico ao nosso lado ficou pálido, e a expressão em seu rosto refletia o meu medo. A reação dele me fez sentir uma dor profunda no peito. A planta era bem conhecida por sua eficácia contra a gravidez, e se a concepção já tivesse ocorrido... Um frio cortante percorreu minha espinha, paralisando-me. A respiração ficou presa na garganta, o ar se tornou denso e sufocante. Cada batida do meu coração ecoava em meus ouvidos, amplificando o terror da possibilidade de perder nosso filho antes mesmo de conhecê-lo.
Nosso filho poderia estar em perigo!
— Teremos que fazer exames mais complexos, aqui não consigo encontrar nada, talvez seja por conta de Thor — o médico balbuciou, seu tom sério cortando o ar pesado entre nós. — Senhor, deve saber que as elfas são diferentes das demais raças. As deusas não têm ciclos menstruais e sabem quando engravidam. As humanas são mais frágeis. Já as elfas possuem uma ligação com a energia da lua. Por conta de Selene ser herdeira do trono e responsável pela continuidade da linhagem real, sei que seus períodos férteis são ligados à lua cheia e duram cerca de quatro dias.
Franzi a testa, tentando me lembrar. A verdade era que nunca fui muito ligado a fenômenos, principalmente a prestar atenção na lua.
— Senhor, a questão é que muitas elfas tomam sílfio como controle de natalidade, já que é impossível, mesmo com rituais, barrar completamente a influência da lua e da fertilidade. Então, as chances de engravidar tomando o chá regularmente são muito baixas — o médico explicou, sua expressão séria, quase dura. Seus olhos, fixos em mim, transmitiam a gravidade da situação. — O senhor é um Deus, um dos mais poderosos do panteão nórdico, talvez, sem querer, tenha interferido ou anulado o efeito da planta. Basta um único dia em que ela estivesse fértil para que isso acontecesse.
— Então, não há riscos? — minha voz saiu rouca, a confusão me consumindo.
O médico suspirou, um som pesado que ecoou no silêncio do quarto. Ele se voltou para Selene, seu olhar penetrante, avaliador.
— Faremos os exames amanhã cedo, mas você está tomando esse chá constantemente? — a pergunta saiu firme, direta, sem rodeios.
— Parei de tomar há um mês... — a voz dela era baixa, quase um sussurro. Seus olhos estavam fixos em mim, carregados de uma tristeza que me partia o coração.
O elfo médico assentiu, seus dedos delicados pairando sobre o ventre de Selene, como se estivesse sentindo a vida que se formava ali dentro. Sua concentração era intensa, palpável.
— O bebê... ou ela... estão em risco? — a pergunta escapou de meus lábios, carregada de um desespero que mal conseguia controlar. A ideia de perder um ou ambos era insuportável.
— Os exames preliminares apontam falta de nutrientes para o bebê. Ela está muito magra e pálida demais. Precisamos fazer exames mais eficazes, mas não posso mentir, ambos correm risco — suas palavras foram como um golpe no meu estômago, me deixando sem ar.
Meu coração apertou dolorosamente, uma dor física intensa que parecia corroer minha alma. Uma onda de pânico me invadiu, sufocando-me.
Isso não. Que aconteça qualquer coisa comigo, mas não com ela e nosso pequeno bebê!
— Thor! — a voz dela, carregada de pânico, cortou o ar, me fazendo reagir instantaneamente. Meu corpo se moveu por instinto, levando-me até ela.
Sentei-me na cama, segurando sua mão com firmeza, meu olhar preso ao dela, buscando transmitir calma, segurança.
— Ástin mín, por favor, fique calma! — levei sua mão aos meus lábios, beijando-a com carinho, um gesto suave para acalmá-la. Inclinei-me em sua direção, aproximando meu rosto do dela, buscando transmitir todo o meu amor. — Estou com você!
— A culpa é toda minha! — as palavras dela foram um rasgo em meu coração, acompanhadas por um choro copioso, um desespero que me dilacerava.
— Não, não! Por favor, não fale isso, você não tem culpa! — aflito, sequei suas lágrimas com meus dedos, sentindo seu corpo tremer contra o meu. A impotência me corroía, preferia morrer a ver a dor em seu olhar.
— Tem algo que possamos fazer? — minha pergunta foi dirigida ao médico, uma esperança tênue, quase inaudível.
— Podem tirar a criança... — as palavras do médico cortaram o ar como uma lâmina, frias e implacáveis.
— NÃO! — o grito de Selene foi um trovão, cortando a sugestão do médico.
Tomei seu rosto em minhas mãos, sentindo a fragilidade dela, a intensidade de seu desespero. Seus olhos, cheios de lágrimas, refletiam um medo profundo, uma angústia que me consumia.
— Selene... — minha voz era um sussurro.
— Thor, não o deixe fazer isso, por favor, não! — seu pedido foi um apelo desesperado, um grito silencioso que ecoava em meu peito.
Meu coração se apertou como nunca antes. Não queria perder nosso bebê. Compreendia a dor dela, embora nunca tivesse passado por uma experiência semelhante. A intensidade de seu sofrimento me esmagava. Não podia fazê-la passar por uma perda assim, não de novo.
Não podia perdê-la, não podia fazê-la sofrer. Era uma encruzilhada!
— Senhora, sua gravidez será de risco, terá que passar por ela com inúmeros cuidados, fora o quanto isso pode prejudicar a sua saúde — o médico declarou, seu olhar carregado de pena. — Precisa pensar na descendência do reino, vocês podem ter outros filhos.
Olhei para ele, minha raiva explodiu. Ele pulou, assustado com minha reação.
— NÃO FALE COMO SE MEU BEBÊ FOSSE ALGO QUE PUDESSE COLOCAR FORA! — Selene colocou as mãos de forma protetora sobre seu ventre plano, um gesto instintivo, cheio de amor e determinação.
Minha mão seguiu o exemplo, cobrindo seu ventre com carinho, enquanto meu olhar permanecia fixo no médico.
— Deixe-nos a sós! — minha voz era fria, firme, carregada de autoridade. Ele assentiu rapidamente, mas quando ia falar, suspirei, buscando controlar minha raiva. — Sim, iremos ao seu encontro no primeiro horário amanhã!
— Claro, senhor! — Ele assentiu, saindo apressadamente do quarto.
Quando a porta se fechou, uma de minhas mãos subiu para seu rosto banhado em lágrimas, enquanto a outra permanecia em seu ventre. Não suportava ver a dor em seus olhos, um reflexo de pura angústia que me consumia. Faria qualquer coisa para que ela não sentisse mais essa dor.
Queria muito esse filho, mas não queria que ela se sacrificasse. Mas tinha o direito de escolher?
— Thor, não deixe tirar nosso filho, por favor, só te peço isso. Não me deixe passar por essa dor novamente, não o deixe morrer! — a voz dela, trêmula, carregada de um desespero que me dilacerava, ecoou em meus ouvidos. Seus dedos se agarraram aos meus com força, como se temesse que a abandonasse.
Puxei-a para meus braços, abraçando-a com força, meu corpo tremendo, minhas lágrimas se misturando às dela. Um grito silencioso de desespero escapou de meu peito. Lutaria, se fosse preciso. Mataria até o último Deus que ousasse se opor a mim. Ninguém encostaria neles, a morte não os tocaria.
— Amor, acalme-se, por favor, não fará bem ficar assim! — murmurei contra seus cabelos, sentindo seus soluços abalarem seu corpo. Seu choro copioso, encharcando minha camisa. — Prometo que nada vai acontecer a vocês.
Ela se afastou um pouco, seus olhos inchados, cheios de lágrimas, buscando os meus. A angústia em seu olhar era uma faca afiada em meu peito.
— Sabe que é seu filho, nunca tive nada com Uziel depois que nos casamos, juro a você! — a declaração dela foi um sussurro urgente, carregado de uma necessidade desesperada de me assegurar. Seus dedos crispados em meus braços demonstravam sua fragilidade, seu medo.
Suspirei, sentindo o peso de sua dor, de sua insegurança. Puxei-a novamente para meus braços, abraçando-a com mais força ainda.
— Sei que é meu filho, não duvido de você, por favor, se acalme! — minha voz era suave, carinhosa, tentando transmitir calma. Seu corpo relaxou contra o meu, seu choro diminuiu aos poucos, seu corpo encontrou um refúgio em meus braços. Um suspiro aliviado escapou de seus lábios.
Mesmo sendo um Deus, não podia interferir diretamente no destino dos outros, mesmo que fosse o dela. A impotência me corroía, me esmagava. Isso seria um grande problema, uma ameaça que pairaria sobre nós. Por enquanto, minhas mãos estavam atadas. Mas se algo acontecesse a eles, lutaria contra a morte, contra o destino, para trazê-los de volta. Mesmo que tivesse que desafiar os próprios deuses.
Olhei para o pequeno corpo aninhado em meus braços, para Selene. Ela estava muito magra, sua fragilidade me atingiu como um golpe. Meu olhar desceu até seu ventre plano, ainda sem curvas, mas que carregava em seu interior o nosso milagre. Um sorriso largo e radiante se abriu em meu rosto. Ali, dentro dela, estava sendo gerado nosso bebê, um pequeno pontinho de vida que já me fazia sentir nas nuvens. O amor por Selene era tão profundo, tão intenso, que se multiplicou, se expandiu, me fazendo sentir o ser mais sortudo do universo.
Mas nem tudo eram alegrias. A fragilidade de sua gravidez não era minha única preocupação. Uziel não deixaria de interferir. Ele tentaria algo, e não me conteria. Faria o que já deveria ter feito há muito tempo: mataria o desgraçado.
Pouco me importavam as consequências. Entendia que as regras de Alfheim eram diferentes, que aceitei me submeter a elas. Isso poderia acarretar uma guerra dos elfos contra os deuses. Mas não permitiria que ele chegasse perto da minha esposa, do nosso bebê.
— Sabe o que vai acontecer se Uziel souber, não sabe? — minha voz saiu entre os dentes, carregada de uma ameaça velada.
Ela suspirou, se aninhando ainda mais em meus braços, buscando conforto, buscando segurança. O calor de seu corpo contra o meu fez meu coração disparar, uma alegria e uma dor ao mesmo tempo. Senti tanta falta disso, da proximidade dela, do seu calor, do seu perfume.
— Sei... ele não parou de me procurar durante esse tempo. Na mente dele, vamos ficar juntos. Não sei no que ele acredita! — sua voz era baixa, quase um murmúrio, carregada de exaustão.
— Acredita que pode ter você. Convenhamos, você deu brechas para isso! — minha resposta foi ácida, carregada de uma raiva que mal conseguia controlar.
— Thor, já expliquei a você! — sua réplica foi um suspiro cansado, uma demonstração de sua frustração.
Respirei fundo, buscando acalmar a tempestade que me assolava. Essa não era a hora para brigas, para ressentimentos. Agora, precisávamos nos unir, precisávamos ser uma força para cuidar dessa pequena vida que estava sendo gerada dentro dela. Nosso filho precisaria de nós dois, unidos, fortes. Selene precisaria de mim, mesmo que a dor do passado ainda me assombrasse. Deixaria meu orgulho de lado, por eles, por nosso filho. Eles eram mais importantes que qualquer coisa.
Deitei-a suavemente na cama, meus movimentos lentos, cuidadosos. Seu olhar ansioso, cheio de insegurança, me atingiu como um golpe.
— Vamos esquecer isso... Estou voltando para o quarto, quero cuidar melhor de você — minha voz era suave, carinhosa, tentando acalmar a tempestade que a consumia.
Afastei-me um pouco, dando-lhe espaço. Um sorriso tímido tocou seus lábios, suas bochechas foram tingidas por um leve rubor.
— Vai voltar a dormir comigo? — a pergunta dela foi um sussurro, quase inaudível, carregada de uma esperança que me partia o coração.
— Dormirei no sofá — apontei para o sofá no canto do quarto, meu tom firme, mas minha decisão me custava caro.
Seu rosto desmoronou, a esperança deu lugar à desolação. Sabia que estava fazendo-a sofrer, que estava a machucando. Mas precisávamos ser mais maduros, mais responsáveis. Não éramos apenas nós dois. Uma decisão impensada, um ato de impulso, poderia prejudicar um ser que estava em desenvolvimento, um ser que nem sequer sabia se defender. Era melhor ir com calma, passo a passo.
— Selene, estou voltando para ficar de olho em você, cuidar da sua saúde e de nosso filho. Não pense em nada, além disso. Não quero nos machucar ainda mais — declarei, meu tom sério, minha voz firme, tentando transmitir a sinceridade de minhas palavras.
— É só por senso de obrigação? — a pergunta dela foi um fio de voz, um sussurro carregado de insegurança.
Suspirei pesadamente.
— Claro que não! — resmunguei, cruzando os braços, tentando controlar a frustração que me consumia. — Sei que estou machucando você, mas se coloque no meu lugar, ainda dói pensar no que aconteceu.
— Ter você perto, mas tão longe, é angustiante para mim. O que preciso fazer para que me perdoe? — a pergunta dela foi um murmúrio triste, carregado de uma dor profunda, uma angústia que me esmagava.
Engoli em seco, a garganta seca, a emoção me sufocando. Doía em mim também. Sentia falta do seu sorriso, da sua presença constante, do seu corpo enroscado no meu, dela toda. Ela não conseguia perceber que era tudo para mim, que faria qualquer coisa por ela. Mas isso não era algo que conseguia dar a ela naquele momento.
Era egoísta, sabia. Mas precisava de tempo, de espaço. Não suportaria me machucar novamente.
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