Capítulo 25 - Acredite em mim!
Contém 3766 palavras.
Boa leitura❤️
Eu queria que você soubesse que
Adoro o jeito que você ri
Eu quero te abraçar forte
E levar sua dor para longe
Eu guardo sua fotografia
E eu sei que ela me faz bem
Eu quero te abraçar forte
E roubar sua dor
Porque eu fico em pedaços
Quando estou só
E eu não me sinto bem
Quando você vai embora
Broken - Seether feat Amy Lee
O vazio do quarto ecoava a solidão que me consumia. Não queria dar chances a explicações, o medo do que escutaria me paralisava. Preferia a frieza do desapego, a ilusão de que nunca nos envolveremos. Se não houvesse conflito, voltaria para Asgard hoje mesmo. A proximidade física se tornou uma tortura, tão perto e, ao mesmo tempo, incrivelmente distante.
Um nó se formou na minha garganta, sufocando um soluço. Queria sua felicidade, sim, mas a visão daquela felicidade me dilacerava. Deveria me sentir aliviado, mas a certeza de que ela sairia ferida me assombrava. Uziel não a amava, ele queria apenas o trono. Ela não via.
Uma lágrima quente escorreu pelo meu rosto, outra, e outra. Inacreditável. Estava chorando. Era assim que se sentia o coração partido? Uma dor lancinante, um vazio que me sugava para dentro.
A emoção me invadiu, rompendo as barreiras da minha resistência. Era difícil admitir, mas a verdade era dura: ela nunca me amaria como eu a amava. Por mais que aquele maldito tivesse machucado seu coração, não podia impedi-la de amá-lo.
Um tênue raio de sol atravessou as frestas da cortina, anunciando o amanhecer. Mas meus olhos permaneciam fechados, presos na escuridão dos meus pensamentos. Levantei-me sem ânimo, o corpo pesado como chumbo. O céu nublado espelhava a tempestade dentro de mim. Queria me afogar naquela escuridão, mas minhas responsabilidades me chamavam. Se não podia protegê-la, protegeria o povo daquele maldito.
O caminho até a reunião foi curto, curto demais. Meu coração batia forte no peito, um tambor frenético anunciava a aproximação. Ao chegar à porta, a vi. Esperando. Seu rosto refletia a minha própria angústia. A tristeza em seus olhos me atingiu como um golpe. Uma pontada de compaixão, mas a amargura da decepção me aprisionou. Não podia fazer nada. As escolhas dela a levaram até ali.
Escutei um fio de voz, quase inaudível: Bom dia. Meu corpo ficou tenso, como uma corda de arco prestes a arrebentar. Os músculos da mandíbula se contraíram, a garganta se fechou, impedindo qualquer resposta verbal. Minha cabeça se moveu em um gesto mínimo de aceno, um movimento contido, quase imperceptível. A porta se abriu com um ranger seco, um movimento brusco, sem hesitação, sem espaço para conversa. Não queria ouvi-la, não agora. Não queria ver sua face, não queria ver a tristeza em seus olhos.
O peso da madeira da mesa do conselho pressionava meus antebraços. Os anciãos chegaram, suas vozes ecoando naquela sala imponente, retomando a discussão sobre os treinamentos dos recrutas. Mas as palavras eram apenas um ruído distante. Meu olhar, fixo em Uziel, registrava cada detalhe: o brilho arrogante em seus olhos gelados, a curva quase cruel de seus lábios, a maneira como ele inclinava a cabeça ligeiramente, como um gato satisfeito. O sorriso dele, um sorriso triunfante, quase obsceno, se espalhava por seu rosto, revelando dentes brancos e pontudos. Era como se ele estivesse esfregando na minha cara sua vitória, cada músculo de seu rosto irradiando satisfação.
Uma pontada de raiva, quente e aguda, perfurou meu peito. Conquista? Ela era muito mais do que uma simples coroa, muito mais do que um prêmio a ser exibido. Sua beleza, sua inteligência, sua bondade... Só via a verdadeira essência dela, a mulher por trás da rainha. Aquele elfo cego não via nada disso.
Meu coração doía, um peso insuportável no peito, como se uma mão invisível o esmagasse. A cada batida, uma onda de dor me atingia, uma dor física, palpável. Mesmo a tratando com respeito, com carinho, com a ternura que ela merecia, os sentimentos dela estavam voltados para aquele elfo, para aquele que a via como um troféu, uma posse. Senti o gosto metálico do sangue na minha boca, um gosto amargo de derrota. Se não houvesse consequências, apostaria que ele gritaria aos quatro ventos sobre o beijo da noite anterior. Mas as leis de Alfheim eram claras, implacáveis. Eu era o rei, o detentor do poder de vida e morte. Mandar matá-lo seria fácil. Mas a ideia de perdê-la junto com ele me consumia, uma angústia que me apertava a garganta, me sufocando. O desejo de vingança lutava contra a dor da perda, uma batalha interna que me dilacerava.
— Não vejo problema nenhum, sua majestade pode sim cuidar dos treinamentos, é um guerreiro formidável e os recrutas somente têm a ganhar com isso — Uziel concordou, um sorriso quase imperceptível curvando seus lábios.
A veia latejou na minha testa, mas não era só raiva. Era também a irritação de saber que ele estava me provocando, um sorriso de canto de boca, uma provocação calculada. Ele sabia que estava me machucando, e essa concordância era uma forma de esfregar sal na ferida, uma demonstração de superioridade.
Esse idiota estava concordando com tudo que eu dizia, apenas para me irritar. A raiva subiu como uma lava incandescente, queimando minha garganta. Cada músculo do meu corpo se contraiu, pronto para a ação. Minhas mãos se fecharam em punho, os dedos cravando-se nas palmas. Senti a pulsação frenética do meu sangue nas têmporas.
— Se concordam, estão dispensados, até a próxima reunião — murmurei, minha voz ríspida.
Os outros anciãos, absortos em seus próprios pensamentos, alheios à minha dor, não perceberam a tempestade que se formava dentro de mim. A satisfação dele era uma afronta, uma demonstração da minha própria impotência.
— Até a próxima, majestade, tenha um lindo dia! — Uziel piscou maroto em minha direção, um sorriso triunfante nos lábios, antes de lançar um olhar para Selene, um olhar carregado de um significado que me cortava como uma lâmina. Aquele olhar, cheio de uma posse insolente, me encheu de um ódio frio e calculista.
Fechei os olhos com força, tentando conter a fúria que me consumia. Não sabia quanto tempo conseguiria manter o controle. A respiração ficou presa na garganta, um nó sufocante que me impedia de respirar. Então, um calor suave na minha mão, um toque inesperado, delicado. Ao abrir os olhos, vi Selene, sua mão cobrindo a minha com um carinho delicado. Seus dedos entrelaçavam-se aos meus, um toque suave que, apesar da ternura, me causou um arrepio, uma sensação desconfortável, quase repulsiva. Olhei em seus olhos, cheios de uma esperança que me doía profundamente, uma esperança que não conseguia retribuir. Em seguida, afastei-me bruscamente, como se seu toque me queimasse.
Seu olhar se tornou imediatamente magoado. A dor em seus olhos me atingiu como um golpe direto no coração. Uma onda de culpa, fria e cortante, me percorreu, mas foi rapidamente substituída pela amargura da decepção.
O que ela esperava? A vi com aquele maldito elfo na noite anterior. Estava preso a ela, obrigado a viver esse casamento, um casamento vazio, sem amor, sem afeição. E agora, teria que vê-los juntos, dia após dia! Ela ousava pensar que tudo voltaria ao normal?
Ela escolheu esse caminho. E não queria mais ficar perto dela. A dor era muito intensa. Muito profunda. Um vazio imenso se instalou no meu peito, um vazio frio e desolador, como um abismo sem fundo.
Duas semanas. Duas semanas de um silêncio gélido, de um vazio que ecoava entre nós. Duas semanas desde que ele começou a me evitar, a se afastar, como se eu fosse uma doença contagiosa. A cada dia que passava, a dor se intensificava, corroendo meu interior. Sabia que seria difícil reconquistar sua confiança, que quebrei muito mais do que seu coração. Seu olhar magoado, carregado de uma tristeza profunda, me sufocava, me perseguia em meus sonhos. A rejeição de Uziel foi uma dor lancinante, sim, mas nada se comparava à angústia de ver Thor sofrendo por minha culpa. A culpa era um peso insuportável, uma ferida aberta que sangrava incessantemente.
Apesar de sua raiva e decepção, ele ainda me incluía em todas as decisões do reino. Uma comprovação de que ele cumpriria sua palavra, apesar de não poder governar, teria meu lugar no meu lar. Embora para os anciões, apenas estivesse sendo uma consorte e boa esposa, participando das reuniões, como era o caso daquela manhã. Sentei-me à mesa de madeira escura e polida, o frio da superfície contrastando com o calor que subia em meu rosto. Meu corpo estava tenso, como uma corda de arco esticada ao máximo. Minhas mãos tremiam, tão levemente que só eu percebia, mas a umidade fria na minha pele denunciava meu nervosismo.
— Thor, precisamos resolver as questões do imposto de que conversamos antes — minha voz saiu mais alta do que pretendia, um tremor sutil denunciando meu nervosismo. As palavras ecoaram na sala silenciosa, cada sílaba carregada de uma tensão que mal conseguia controlar.
Observei os anciãos se levantarem apressadamente, seus rostos enrugados expressando alívio. Um alívio que não era meu. Uziel foi o último a sair, seu olhar passando por mim com uma lentidão calculada. E então, para meu desespero, ele piscou para mim, um piscar de olho lento, carregado de um significado que me deixou gelada. Meu coração disparou no peito. Aquele gesto, tão simples, tão aparentemente inocente, era uma provocação direta, um sinal claro de intimidade que Thor poderia interpretar de forma completamente errada. O medo me gelou, o medo de que a situação piorasse ainda mais.
O rosto de Thor se fechou como uma porta de aço, as linhas de sua expressão endurecendo. Vi a tensão em seus ombros, a rigidez em sua postura. Ele não tinha escolha a não ser me ouvir, mas a presença de Uziel ainda o incomodava, isso era evidente. A raiva contida emanava dele como um calor opressivo. Sentia a necessidade de mudar as coisas, de quebrar o silêncio gélido que nos separava.
Não podia mais deixar as coisas como estão!
Ele fez um gesto com a cabeça, indicando que o seguisse. Apesar de estarmos sozinhos naquela sala, sabia que aquele não era o lugar certo para uma conversa tão íntima. Caminhamos em silêncio até sua sala particular, ao final do corredor. O silêncio era pesado, carregado de uma tensão palpável. Ali seria melhor. A sala à prova de som era o cenário ideal para uma conversa privada, longe de olhares indiscretos.
— O que quer? — a voz dele era áspera, cortante, como uma lâmina. A pergunta foi lançada como um desafio, um teste.
Suspirei, sentando-me na cadeira estofada. Indiquei com um gesto para que ele fizesse o mesmo. Com um revirar de olhos visível, ele se sentou, cruzando os braços sobre o peito, o semblante sério, quase impenetrável. A postura dele gritava resistência, descrença.
— Uziel estava na minha sala, pois queria falar comigo. Parece que seu pai ordenou que uma bruxa o enfeitiçasse quando nasceu, por isso ele não podia sentir sentimentos, que foi por isso que ele fez tudo aquilo a mim — as palavras saíram numa rajada de confissões e explicações que mal conseguia controlar. Meu peito ardia, minha respiração ofegante.
Respirei profundamente, tentando recuperar meu fôlego. Thor ergueu uma sobrancelha, um sorriso ladino, quase cruel, se formou em seus lábios. Era um sorriso de deboche, de descrença.
— Ele se declarou para mim, falou sentir mesmo sentimentos de amor por mim e que se arrependia de tudo — a confissão saiu como um sussurro, carregada de uma vergonha que me queimava.
Ele suspirou, elevando a mão até a ponte do nariz, os dedos friccionando a pele com um gesto cansado, quase resignado. A tensão em seus ombros se relaxou ligeiramente, mas seus olhos continuavam cheios de uma dúvida profunda.
— E eu com isso? — a grosseria em sua voz me atingiu como um tapa. O ar escapou dos meus pulmões em um arquejo. Era a primeira vez que ele me tratava com tamanha aspereza, e a frieza em suas palavras me congelou por dentro. Meu coração disparou no peito, um ritmo frenético que ecoava no silêncio da sala.
Seu olhar encontrou o meu, tão frio... tão distante. Era um olhar que não reconhecia, um olhar vazio, sem calor, sem o brilho familiar que tanto amava. Senti um nó na garganta, a umidade nos meus olhos.
— Thor, tive uma história com ele, foi uma história trágica que terminou da pior forma possível, não vou negar que poderia tê-lo impedido de me beijar, meu corpo paralisou, tanto pelos seus poderes, como pela minha própria mente, estava confusa, sem conseguir raciocinar! — as palavras saíram em um fio de voz, trêmulas, incertas. Minhas mãos se fecharam em punho, meus dedos cravaram-se na pele.
Ele me olhou, cerrando os olhos com força, como se estivesse tentando decifrar um enigma insolúvel. A tensão em seu rosto era palpável, a raiva contida irradiando dele como um calor escaldante.
— Confusa? — a pergunta foi um rosnado, uma explosão de descrença.
— Sobre o que sinto, por você... por ele... — minhas palavras foram um sussurro, quase inaudíveis. A confusão em meu coração era tão grande que me deixava sem fôlego.
Ele riu, um riso sem humor, sem alegria, um som frio e cortante que me atingiu como um golpe.
— E beijando-o descobriu? — a pergunta foi lançada com sarcasmo, com deboche, como se ele estivesse me acusando, me julgando.
— Eu... amo você — declarei, minha voz quase inaudível, perdida no eco do silêncio que se seguiu.
Observei a descrença se espalhando em seu rosto, como uma sombra que encobriu a luz em seus olhos. A esperança que nutria se esvaiu como fumaça ao vento.
— Ama... você me ama? — a pergunta foi um sussurro, quase incrédulo, carregado de uma mistura de dor e confusão. Seus olhos me olhavam com uma intensidade que me deixava sem fôlego.
Meu coração apertou, um aperto doloroso que me faltava o ar. Não era assim que imaginei. Esperava um sorriso, um brilho em seus olhos, uma confirmação do amor que eu sentia. Em vez disso, encontrei descrença, desconfiança, uma frieza que me congelava por dentro.
— Sim, eu amo você! — minhas palavras saíram em um sussurro, fracas, inseguras.
— Muito conveniente isso, descobrir que me ama após ser pega em flagrante com seu amante! — ele rosnou, as palavras saindo entre os dentes cerrados, como se fossem veneno. Um choque percorreu meu corpo, a força de sua raiva me atingindo como uma onda.
— Ele não é meu amante! — retruquei, minha voz aguda, os olhos arregalados, meu corpo inteiro tremendo.
Ele se levantou, caminhando pela sala como um touro bravo, seus passos pesados ecoando no silêncio. Cada passo era uma demonstração de sua fúria contida, um sinal da tempestade que se formava dentro dele.
— Estava nos braços dele, se não é seu amante, é o quê? — ele perguntou, a voz carregada de raiva, de dor, de uma desconfiança que me dilacerava.
— Thor, por favor, acredita em mim, eu amo você! — minhas palavras foram um apelo desesperado, um grito silencioso de dor e sofrimento. As lágrimas ardiam nos meus olhos, ameaçando transbordar.
Thor parou abruptamente no meio da sala, como se tivesse sido atingido por um golpe invisível. Fez uma pausa, fechando os olhos com força, como se estivesse lutando contra uma dor insuportável. Os ombros tremeram, um tremor sutil que denunciava a intensidade de suas emoções.
— Esperei tanto para ouvir isso... amei você desde que a vi pela primeira vez, me conquistou dia após dia, esperava que conseguisse curar seu coração, que pudesse se entregar a mim... da mesma forma que me entreguei a você — ele murmurou, a voz rouca, carregada de uma tristeza profunda, de uma decepção que me partia o coração. As palavras foram um sussurro, quase inaudível, mas a dor nelas contida era avassaladora.
Levantei-me num salto, a adrenalina pulsando em minhas veias. Segurei seu rosto entre minhas mãos, meus dedos procurando o calor da sua pele. Ele se retraiu levemente, um gesto quase imperceptível, mas sua proximidade permaneceu, a respiração ofegante denunciando a intensidade do momento, mesmo que seu semblante permanecesse frio, impenetrável.
— Me entreguei a você, estou aqui na sua frente totalmente despida do meu passado para falar que só existe você para mim! — minhas palavras foram um grito silencioso, um desespero que ecoava no silêncio da sala. Meus olhos estavam fixos nos seus, procurando um sinal, uma centelha de esperança.
Ele segurou minhas mãos, seus dedos frios e firmes me afastaram com uma frieza que me cortou como gelo. O toque, apesar de suave, carregava uma distância intransponível, um abismo que se abria entre nós. Ele se moveu para o outro lado da sala, em direção à porta, como se estivesse se afastando de mim, de nós.
— Não sabe o quanto queria escutar isso antes, esperei tanto tempo para ouvir isso de você, mas agora é tarde, nosso casamento será apenas de fachada, espero que respeite essa minha vontade ao menos! — sua voz era um fio de gelo, cortante, implacável. Cada palavra era um golpe certeiro em meu coração, um martelo que esmagava minhas esperanças. Vi a dor em seus olhos, uma dor profunda, uma dor que eu mesma causei.
Meu coração partiu-se em mil pedaços ao vê-lo sair da sala, a porta se fechando com um baque silencioso que ecoou em meus ouvidos. Senti que toda a vida que ele me deu, todo o calor do seu amor, se esvaía com ele, deixando para trás um vazio imenso, um frio desolador. Perdi para sempre o seu amor, por minha culpa!
Observá-lo de longe era como a lua observando o sol de uma distância intransponível, um anseio constante, uma sede insaciável de proximidade que nunca seria saciada. Dois meses. Dois meses de um vazio imenso, de uma saudade que me corroía por dentro, me esmagava. Dois meses desde que começamos a viver separados, dois meses de um silêncio gélido que ecoava entre nós. A distância física era pequena, ele estava em Alfheim, no castelo, numa ala próxima ao meu quarto, mas a distância emocional era um abismo intransponível. Não era como antes, claro que não. A lembrança do seu toque, do seu calor, me assombrava, me atormentava.
Ele se mantinha distante, frio, como um iceberg impenetrável. Conversava comigo apenas quando era estritamente necessário, apenas assuntos do reino. Em público, mantínhamos a fachada de um casal, um casal unido, um casal apaixonado. Sorrisos forçados, gestos contidos, um teatro cruel que encenava todos os dias. Todos acreditavam que éramos um casal tímido, reservado. Mas a sós, quando não se tratava de assuntos relacionados ao reino, era Cyrius quem se comunicava comigo, meu fiel escudeiro, meu único confidente.
Thor me tratava com uma frieza cortante que me dilacerava. Sua educação era uma máscara, uma armadura impenetrável que escondia a dor, a decepção, a descrença. Era um tratamento educado, distante, frio, glacial. Ele me olhava com uma polidez cortante, uma frieza que me congelava por dentro. A cada dia que passava, a angústia se intensificava, me sufocando. Não sabia mais o que fazer para provar para ele que meus sentimentos eram reais, que meu amor era verdadeiro, que eu o amava mais do que tudo. A desesperança me consumia, me aprisionava.
Hoje era para ser um dia especial. Quatro meses de casamento. Deveria ser uma comemoração, uma celebração do nosso amor. Mas não havia nada para comemorar. Nosso casamento era uma casca vazia, uma fachada que mantínhamos para o mundo. Os conselheiros, não sabiam disso. Em sua infinita sabedoria, decidiram que deveríamos ter uma festa, uma pequena comemoração em nossa homenagem. Singela, sim, mas importante para eles. Thor se recusou, mas sua voz foi silenciada. Asha, Cyrius, todos os conselheiros se uniram contra ele, seus votos se erguendo em um coro uníssono, implacável. Ele foi derrotado, sem escapatória, sem desculpas para evitar a festa.
Isso significava que ele seria obrigado a passar mais tempo do que o desejado ao meu lado, algo que ele evitava a todo custo. Sua aflição era palpável, uma tensão que se intensificava a cada minuto que passava. Observei sua angústia crescente durante a reunião, a rigidez em seus ombros, a palidez em seu rosto, o suor frio em sua testa. Quando o último conselheiro se retirou, ele suspirou, um suspiro profundo e audível que ecoou no silêncio da sala. Seu rosto, sério, impassível, se voltou para mim.
— Passo às oito para pegá-la em seu quarto — suas palavras foram pronunciadas com uma frieza que me gelou por dentro. A voz fria, contida, mas o desconforto era evidente. Era uma sentença, uma obrigação, não um convite.
Esse modo de agir estava me magoando a cada dia, cravando uma faca no meu coração, uma faca afiada que perfurava minha alma. Sabia que era uma reação automática, uma defesa contra a dor, contra a decepção. Mas isso não diminuía a dor, não aliviava a pontada constante em meu peito.
— Thor... o que preciso fazer para que me perdoe? — minha voz era um fio de voz, um sussurro quase inaudível, carregado de uma desesperança que me consumia. As lágrimas ardiam nos meus olhos, ameaçando transbordar.
Seu olhar amarelo-esverdeado tornou-se elétrico, um brilho intenso que deixava claro o poder que ele continha. Thor respirou profundamente, fechando as mãos em punho, como se estivesse lutando contra uma tempestade interna. Ele buscava calma, mas não me respondeu. Em vez disso, virou as costas, um gesto que ecoou em meu peito como um golpe.
Era sempre assim. Ele evitava qualquer assunto que nos envolvesse, qualquer conversa que pudesse trazer à tona a verdade de nós dois. A frustração ardia em mim, mas as palavras não saíam.
— Thor, esp... — minha voz morreu em minha garganta, o som se dissipando como fumaça. As vistas embaçaram, a sala começou a girar ao meu redor. Uma tontura súbita me preencheu, como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés.
Um frio percorreu minha espinha, uma onda de fraqueza que fazia minhas pernas tremerem. Cambaleei, tentando encontrar equilíbrio, mas a escuridão se aproximava, engolindo minha visão.
— Selene! — o chamado foi como um eco distante, mas a próxima coisa que percebi foi a rapidez com que ele se aproximou. Apenas percebi que já estava em seus braços, envolta na segurança de seu abraço.
Meu corpo arrepiou-se ao entrar em contato com o dele, mesmo através das camadas de roupa. O calor dele era uma chama que me consumia, me envolvia em uma sensação de conforto e segurança que não sentia há tanto tempo. Senti tanta falta disso, do calor da sua pele, do seu cheiro familiar, da forma como seu toque parecia derreter todas as minhas inseguranças.
Minha boca secou e senti a angústia em seu olhar, a preocupação que refletia em seus olhos. Ele me observava com um misto de aflição e desespero, como se visse um quebra-cabeça que não conseguia montar.
— Está pálida, o que está sentindo? — a pergunta saiu de seus lábios com uma urgência que cortava o ar ao nosso redor.
— Não sei, eu... — as palavras mal saíram, uma confusão de emoções que se misturavam em minha mente. Minhas vistas escureceram, a última coisa que meus olhos captaram foram seus lindos olhos, cheios de preocupação, refletindo a luz que ansiava, antes que tudo se tornasse escuridão.
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