Capítulo 21 - Insegurança
Contém 3516 palavras.
Boa leitura❤️
Você entrou na sala
E agora meu coração foi roubado
Você me levou de volta no tempo quando eu estava inteiro
Agora você é tudo que eu quero
E soube desde o primeiro momento
Mas eu sei que você nunca me viu
Eu posso ser ele?
Eu ouvi que tinha alguém mas sei que ele não te merece
Se fosse minha, eu nunca deixaria ninguém te machucar
Eu quero secar aquelas lágrimas, beijar aqueles lábios
Isso é tudo que tenho pensado
Can I Be Him - James Arthur
O orgulho percorreu cada célula do meu corpo, preenchendo meu coração com uma alegria pura e indescritível. Nunca imaginei que precisaria de alguém para me proteger com tanta fidelidade, mas ao vê-lo tomar a frente e defender meu povo, que sempre foi minha prioridade, com tanto fervor, me deixou completamente desnorteada.
Ele fez isso não apenas por mim, e foi isso que mais me tocou. Thor agiu movido por seus princípios, por sua própria essência, e isso, de alguma forma, o tornava ainda mais grandioso. Era como se ele brilhasse com uma luz própria, algo que não podia ser forçado ou falsificado.
Ele era perfeito!
A cada nova característica que descobria nele, mais me encantava. Cada gesto, palavra, até mesmo os detalhes mais sutis de sua personalidade me surpreendiam de uma forma que parecia não ter fim. E o mais impressionante era saber que tudo aquilo era apenas o começo.
— Não pense errado, só porque é o rei e um Deus, não tenho medo de você! — Uziel rosnou, atraindo novamente todos os olhares para ele.
Aquelas palavras, com tanta raiva, me fizeram gelar por dentro. A fúria em seu olhar, que antes era sempre tão frio e calculista, agora estava totalmente distorcida. Suas mãos cerradas em punho, as unhas cravadas nas palmas, deixaram-me inquieta. Nunca havia visto Uziel assim, nunca. Ele sempre manteve a calma, a frieza, mas agora, ali, ele parecia... diferente. E isso me aterrorizava.
O que ele estava fazendo?
Tentei manter a compostura, mas meu coração batia acelerado, e as memórias do que aconteceu entre nós me inundaram de uma vez. A mentira que ele sempre foi para mim, o rosto falso de alguém que fingia sentimentos que nunca existiram... Agora, como ele podia estar tão furioso, tão... real?
— Uziel, entendo a sua raiva, sua família está no comando como auxílio desde que Alfheim foi fundada, no entanto, Thor, como rei, tem o direito de escolher quem ele bem entender para o cargo — Sir tentou apaziguar os ânimos.
Mal consegui ouvir as palavras de Sir, minha mente girava em uma espiral de confusão. Uziel se levantou, batendo ambas as palmas na mesa, seus olhos fixos em Thor com uma intensidade que nunca presenciei antes.
— Ele nem deveria ser o rei! Eu quem deveria ser o marido de Selene!
As palavras dele soaram como uma lâmina afiada, cortando o ar. Não conseguia processar o que estava acontecendo. Aquela revelação me deixou em choque. A sala se encheu de um silêncio pesado enquanto todos os conselheiros olhavam para ele, depois para mim, num misto de curiosidade e confusão.
O medo de que ele revelasse nosso passado sombrio, assumindo nossos segredos mais profundos, apertou meu peito com força.
Era isso o que ele queria? Me destruir novamente, fazer com que todos soubessem a verdade?
— Como? — Sir perguntou seriamente.
Não! Ele não faria isso!
O ar ficou preso em meus pulmões, o peso da tensão me esmagando. Queria sair dali, fugir, correr para longe de tudo, mas minhas pernas pareciam presas ao chão, pesando toneladas, como se o simples ato de me mover fosse impossível.
Seus olhos cruzaram os meus. O mundo pareceu parar. O tempo paralisou enquanto os segundos se arrastavam, e a intensidade do olhar dele me envolvia de uma maneira que não sabia decifrar. Havia algo ali que me fez tremer, algo que me prendeu. Temi, sim, que ele fosse usar aquele momento para falar sobre nosso passado, para me acusar, para se aproveitar de tudo que compartilhamos... Mas, em meio ao caos de minhas emoções, vi uma leve mudança em seu olhar. Foi como se algo dentro dele se suavizasse, como se, por um breve instante, visse o Uziel que conheci, aquele que parecia ser gentil, amoroso, que transmitia calma e compreensão.
O que... Por que ele estava assim?
Não conseguia entender. Cada segundo em que seus olhos estavam fixos nos meus, meu corpo tremia de um misto de temor e incredulidade.
Como ele podia agir dessa forma, depois de tudo que fez?
— Eu amo Selene, apenas não queria que ela vivesse com alguém que claramente não ama — Uziel disse, sem desviar os olhos dos meus, sua voz carregada de uma intensidade que não estava preparada para ouvir.
Como ele ousava se declarar na frente de todos?
Ele estava ali, com uma postura convicta, como se sua declaração fosse algo que deveria ser aceitável, como se sua presença e palavras fossem verdadeiras.
Agindo como se realmente pudesse ter algum sentimento por mim, como se todas as mentiras que me disse, todas as vezes que me enganou e manipulou, nunca tivessem existido. E o pior... Ele estava se colocando nesse papel, tentando parecer que se importava, tentando apagar o passado.
Uziel queria apagar tudo o que aconteceu entre nós, como se fosse fácil esquecer, como se eu fosse uma tola que cairia de novo em sua conversa.
Não era mais a mesma, nunca mais cairei em suas mentiras.
Um estrondo ensurdecedor ecoou pela sala, fazendo meu corpo saltar para trás. Thor, em um ímpeto de fúria, quebrou a mesa do conselho com um único tapa, os pedaços de madeira voaram pelo ar, espalhando-se em mil fragmentos. Sua raiva pulsava como uma força viva, tão intensa que as correntes elétricas percorriam seu corpo, em um azul brilhante e ameaçador, criando uma corrente pulsante que parecia estar à beira de se soltar.
— Como ousa se declarar! Selene é minha esposa, os sentimentos dela não são da sua conta! — Thor rosnou, sua voz carregada de um ódio primitivo.
O olhar de Uziel não vacilou. Apenas sorriu, seus olhos irados queimando com uma intensidade que só aumentava a tensão. Com um gesto desdenhoso, bateu na própria roupa, tirando o pó de maneira desafiadora, um ato claro de desprezo e provocação.
— Os sentimentos dela são do meu interesse, sim. Você, mais que ninguém, sabe disso! — Uziel retrucou com um desafio feroz, sua voz cortante como lâminas.
Thor rugiu, um som tão profundo e ameaçador que parecia rasgar o ar. Com um movimento abrupto, ele avançou contra Uziel, seus músculos tensos, o poder em seu corpo irradiando como uma tempestade prestes a explodir. As correntes elétricas percorriam suas veias como um pulso incontrolável, se esticando e contorcendo como se quisessem libertar-se e destruir tudo em seu caminho.
Seus olhos amarelo-esverdeados brilhavam com fúria, parecendo pura eletricidade, em um contraste gritante com a calma gelada de Uziel.
Uziel, por sua vez, não recuou. Seus olhos fixos em Thor, refletindo uma calma ameaçadora, mas suas mãos estavam prontas para se defender, esperando o golpe com uma precisão mortal. A diferença entre eles era gritante, o fogo de Thor contra o gelo de Uziel, a eletricidade furiosa de um Deus contra a calma ameaçadora de um traidor.
Isso não estava acontecendo. Era como se o mundo tivesse parado em um confronto direto, onde ambos estavam prontos para se destruir, e eu, no centro, temia que nada restasse depois daquela explosão.
— Parem agora com essa briga idiota! — agi sem pensar, me colocando entre ambos, minha voz saindo com mais força do que pretendia. — Não vamos nos esquecer onde estamos!
A tensão era quase palpável, como se o ar ao redor estivesse carregado de eletricidade, tanto pela fúria de Thor quanto pela frieza de Uziel.
— Uziel, sinto muito, mas meus sentimentos para com meu marido não são da sua conta. Peço que, se ainda tem algum decoro, esqueça a minha existência! — minha voz saiu fria, quase cortante.
Não precisava ser amigável, nem mesmo neste momento. Respondi daquela maneira não para evitar mais confronto, mas porque queria que tudo aquilo acabasse logo. Não ia demonstrar fraqueza, ainda que sentisse o peso das palavras, o nó na garganta.
— Desculpe, não irei importuná-la novamente com meus sentimentos — ele murmurou baixo, antes de deixar a sala furioso.
Quando ele se foi, um peso imenso parecia ter caído sobre mim, como se uma montanha tivesse sido colocada sobre meus ombros. A exaustão era avassaladora, e não sabia se o cansaço era físico ou emocional. O que sabia era que estava perdida na confusão dos sentimentos que vinham de todos os lados.
Os olhos dos conselheiros estavam fixos em mim, como se esperassem uma reação, uma explicação. Mas, em meio àquelas olhadas julgadoras, mantive minha cabeça erguida. Meu olhar procurou por Thor, e a necessidade de sua presença foi instantânea, como um farol que me chamava para fora da escuridão.
— Creio que a reunião acabou, certo, marido? — perguntei, minha voz tentando soar doce, mas minha ansiedade não conseguia se esconder.
— Sim, acabou — ele respondeu com firmeza, e logo ergueu a palma da mão, esperando que eu a colocasse sobre a dele. Quando finalmente o fiz, uma onda de alívio me invadiu. Ali, com sua mão segura na minha, senti como se finalmente estivesse em casa. Tudo parecia mais leve.
O caminho até nossos aposentos foi silencioso, ambos perdidos em pensamentos. Confesso que não queria encará-lo, uma parte de mim se roendo em culpa, mesmo sabendo que não tinha culpa por nada.
Mas como afastar esse sentimento?
Fui eu quem me envolvi com Uziel, e era por minha causa que Thor estava irritado. Sentia seu corpo tenso, apesar de a mão segurar delicadamente a minha. Sabia que ele queria voltar e acabar com Uziel, e não o condenava por isso, pelo contrário, concordava.
— Selene... o que sente por ele? — Thor perguntou assim que adentramos o quarto. Sua voz estava baixa, tensa, e isso me fez suspirar descontente.
Pensei que fosse óbvio!
Soltei-me dele, uma sensação de raiva subiu pelo meu corpo, não porque o culpasse, mas pela situação em si, pela dor que ele estava sentindo. Queria tanto que tudo fosse mais simples.
— Raiva, nojo, repulsa... todos os sentimentos ruins que se possa nomear — respondi prontamente, mas o peso de minhas palavras parecia mais pesado do que queria.
Thor riu fraco, balançando a cabeça. Era um som amargo, como se ele não estivesse mais acreditando nas minhas palavras.
— O quê?
— Pensei que fosse dizer que não sente nada, mas sente até demais — ele respondeu, sua voz vazia de emoção, mas cheia de uma decepção profunda.
Aquelas palavras cortaram meu peito como facas afiadas.
— Mas não é surpresa, visto a maneira como ambos se olharam.
O quê! Como ele podia pensar isso?
— Thor... — comecei, mas ele já tinha se fechado.
— Tudo bem, ele é o seu... sempre vai ser seu primeiro amor, talvez o único — ele murmurou, a dor em sua voz era clara, e aquilo me fez vacilar, meu coração esmagado entre as palavras não ditas.
O que estava acontecendo? Como ele poderia pensar isso? Ele sabia tudo o que havia acontecido, sabia da dor que Uziel me causou, sabia do que ele havia feito com minha filha!
Thor suspirou e virou-se para sair do quarto.
— Não! Espere, está tirando conclusões precipitadas, não amo e nunca amei ele! — respondi nervosa, minha voz quase tremendo.
— Se não amasse... não sentiria nada por ele, mas sempre fica alvoroçada em sua presença! — ele murmurou, parado contra o batente da porta, sua voz carregada de amargura.
Não! Tudo que não queria era ver seu olhar magoado dessa maneira!
Aproximei-me rapidamente, sem pensar, e o abracei, sentindo a tensão de seu corpo contra o meu.
— Thor, juro para você que não sinto nada por ele! — minha voz estava quase desesperada, querendo afastar a dúvida que pairava entre nós.
Ele ficou rígido contra mim, mas não se afastou. Mas era estranho, tão estranho. Sempre fui recebida de braços abertos, mas agora ele parecia fazer um esforço para não se afastar bruscamente.
— Por favor, me solta — ele murmurou, a voz baixa, quase quebrada.
Assustada, meus braços caíram ao redor do meu próprio corpo, um vazio se instalando no lugar do calor que sempre senti. Dei alguns passos para trás, sem saber o que fazer. Nunca o vi assim. Ele não era mais o Thor caloroso e presente, mas alguém distante, quase irreconhecível.
— Minha família parte hoje, me juntarei a eles para me despedir — ele murmurou, ainda de costas, sua voz calma, mas sem vida. — Não vou demorar.
O que estava acontecendo?
Nessa manhã, tudo estava tranquilo, como sempre foi, e agora... agora parecia que estávamos a quilômetros de distância, mesmo estando tão perto.
Uziel... ele não era nada além de uma lembrança amarga e triste. Sim, eu possuía sentimentos negativos por ele, mas esses sentimentos não tinham nada a ver com o que Thor estava pensando. Uziel havia tirado a minha filha, ele a matou. Ela foi a única coisa boa que ele me deu, e ainda assim, foi ele quem a tirou de mim. Mas não era mais nada, além disso, não era amor, não era saudade, era dor. Só dor.
Como Thor podia ter ciúmes disso?
O longo corredor até o salão onde minha família me aguardava estava completamente vazio, o que era bom, pois não queria encontrar ninguém. Bastava a minha própria presença para me consumir.
Essa dor era totalmente nova. Nunca, em toda a minha existência, senti algo assim. Um vazio profundo, como um buraco que me devorava por dentro. A sensação de amor não correspondido, mesmo que ela sentisse algo por mim. Sabia que ela jamais seria capaz de me amar da mesma maneira.
Seu coração pertencia a ele. Sempre pertencerá a ele. Será assim pela eternidade.
Por mais que ela negasse, não havia mais espaço para dúvidas. O maldito mexia com suas emoções de uma maneira que nunca conseguirei. Não podia competir com o passado deles, com o que eles compartilharam.
Era tão irritante, tão insuportável. Queria ser racional, mas não conseguia. Saber que ela amava Uziel, que ele era a única pessoa que ela amaria... isso era como a morte, como um golpe direto no peito. Mas a verdade era clara: amava-a com cada fibra do meu ser. Mas sabia que nunca seria retribuído da mesma forma.
— Estávamos esperando, cadê sua bela esposa? — Loki perguntou, quebrando meus pensamentos.
Tão absorto em minha própria dor que nem percebi que já estava ali, parado, diante do meu pai e irmão, com o olhar deles fixo em mim. Loki, apesar da brincadeira, mantinha um olhar sério, igual ao meu pai.
— Descansando, o dia foi bem cheio.
Estava tentando parecer calmo, mas a tensão em meu peito era quase insuportável.
— Thor...
— Precisam mesmo partir hoje? — interrompi Loki, mudando de assunto, para evitar o que estava se formando dentro de mim.
Não estava pronto para falar sobre isso. Não agora.
— Sim, Asgard não pode ficar sozinha — Odin respondeu, olhando-me com um semblante sério.
— Entendo — mal podia acreditar nas minhas próprias palavras. O vazio só aumentava.
Me sentia patético. Um rei, um deus, com tanta responsabilidade, mas aqui estava, vulnerável, implorando para que eles ficassem. Sentindo-me completamente derrotado. Nunca perdi nenhuma batalha, mas agora estava perdendo o coração de Selene. E o pior era que não havia nada para lutar. Ela já entregou o dela a outro. Não tinha mais nenhuma chance.
— Posso ficar mais uns dias, até você se adaptar. Não me importo de ficar aqui! — Loki declarou, com uma seriedade incomum.
Estava mesmo patético. Até meu irmão, que raramente se importava com os outros, estava com pena de mim.
Um sorriso involuntário apareceu no meu rosto, e meu coração aqueceu um pouco. Loki me irritava grande parte do tempo, mas sabia que, no fundo, sempre podia contar com ele, não importava o assunto.
— Não precisa, tem seus deveres em Asgard — respondi, tentando ser sério, mas com um peso que não conseguia esconder.
Loki cerrou os olhos.
— Nenhum deles é mais importante que você! — Loki respondeu, arrancando um sorriso genuíno de mim, mesmo que ainda me sentisse um inútil.
— Está tudo bem mesmo, qualquer coisa, comunico a vocês — o sorriso se desfez, e a preocupação voltou a me consumir.
— Não acho que esteja bem...
Odin segurou o braço de Loki, parando o protesto dele.
— Sei que quer protegê-lo, Loki, mas Thor precisa enfrentar essa batalha sozinho — ele declarou. Quis protestar, mas me mantive quieto, ao contrário de Loki, que revirou os olhos. — Ele ficará bem.
— Tudo bem, qualquer coisa, nos chame! — Loki resmungou, aceitando o que o pai disse, embora o desconforto ainda fosse visível em sua expressão.
— Estaremos no aguardo de notícias suas — Odin se aproximou de mim e me abraçou com uma ternura inesperada, que me desconcertou. — Tudo ficará bem, filho.
Não sabia se ele realmente acreditava nisso, ou se apenas queria me acalmar, mas desejei acreditar em suas palavras.
A verdade era que me sentia um merda.
O silêncio que me envolvia era ensurdecedor, mais pesado que qualquer batalha que já enfrentei. Minha mente estava um turbilhão, completamente perdida na confusão. As belezas de Alfheim, que antes tanto me impressionavam, agora eram sombras distantes que mal conseguiam chamar minha atenção. Aquele vazio crescente dentro de mim, como uma fenda profunda, me consumia por dentro.
Não sabia lidar com esses sentimentos, sequer conseguia lidar com a euforia que sentia perto dela, ainda mais com a sensação de perda.
Sabia que não deveria me importar, mas a declaração dele me deixou mais irritado do que normalmente ficaria, ainda mais porque sabia que isso mexeu com ela, por mais que ela não estivesse pronta para admitir.
Era ridículo, sabia bem disso.
O passado de ambos foi conturbado demais, trágico diria, sequer era um bom exemplo e não deveria ter ciúmes disso.
Mas como impedir isso se vi a maneira como ambos trocaram um simples olhar?
Mesmo após tudo que ele fez, Uziel acalmou Selene apenas olhando-a e ela aceitou, pois, apesar das mentiras, ela o conhecia bem.
Me sentir intruso, quase indesejável, foi uma experiência bem traumática e não estava sabendo lidar com isso.
Ela se declarou para mim, admitiu que estava se apaixonando, mas e se esse sentimento for apenas causa do sofrimento dela?
Selene sofreu demais com Uziel, mas não sabia se acreditava totalmente que ela não sentiu amor por ele.
Deveria ser mais forte do que isso. Era um guerreiro!
Nunca tive medo, sempre lutei até o fim. Então, o que estava fazendo aqui? Afundando-me em pensamentos tortuosos e ridículos, lamentando-me como um covarde. Como pude chegar a esse ponto?
Não era assim. Não podia ser.
Ela... Selene. O que sentia por ela era inegável, mas será que ela poderia sentir o mesmo por mim?
As dúvidas me corroíam, mas, mesmo assim, não queria me esconder. Não mais. Se ela nunca pudesse me amar da mesma forma que a amo, ainda assim, isso não era uma razão para desistir. Sabia que tínhamos algo forte, algo que muitos desejariam: respeito, confiança e lealdade. Podemos construir algo juntos, mesmo que nossas sombras do passado ainda nos sigam.
Precisava apenas deixar de ser um bastardo covarde!
Não importava se o caminho seria árduo, o importante era ser honesto comigo e com ela, sem me esconder mais, por medo de sofrer.
A cada passo que dava em direção ao quarto, minha mente estava mais firme. Não podia mais seguir com esses pensamentos, se fizermos as pazes, seria para deixar tudo isso no passado, esquecer e seguir em frente, ou ao menos tentar.
Talvez, finalmente, pudéssemos sair... como um verdadeiro casal. Sem os fantasmas do passado nos assombrando.
Quando abri a porta, tudo aconteceu rápido demais. Ela pulou assustada, seus olhos fixos em mim, como se me esperasse o tempo todo, como se estivesse... esperando por algo. Mas nada me impactou tanto quanto o que vi em suas mãos. Uma camisa minha. Uma pequena peça de roupa, mas que falava mais do que qualquer palavra poderia expressar. Aos poucos, ela estava fazendo minha presença se tornar uma parte de sua vida. Minhas coisas estavam ali, espalhadas por todo o quarto. Era como se, de repente, tudo que me pertencia se entrelaçasse com o que era dela. Essa intimidade... nunca a tive com ninguém.
Antes que pudesse processar, Selene reagiu de maneira inesperada. Ela correu em minha direção com um impulso tão forte que me fez perder o equilíbrio por um segundo. Num salto, ela me envolveu com força, os braços em volta do meu pescoço e as pernas ao redor da minha cintura, me prendendo em um abraço caloroso. A segurei instintivamente, um pouco espantado, mas sem conseguir evitar a sensação de prazer que esse gesto tão simples me causou. Aquele abraço... era mais do que um simples ato. Era um pedido. Um pedido de afeto, de proximidade.
— Senti sua falta... demorou... — disse ela, a timidez em sua voz me arrancando um sorriso genuíno. Aquela vulnerabilidade me tocava de uma maneira profunda, e senti uma onda de carinho por ela.
— Estava me despedindo da minha família... — respondi, acariciando suavemente seus cabelos, meu toque sendo mais calmo do que realmente me sentia. — Desculpe pela demora.
Ela afastou-se levemente, suas bochechas coradas e o olhar tão ansioso em seus olhos, fazendo-me suspirar. O simples fato de ela se importar tanto com minha presença era algo que me alegrava demais.
— Não quis incomodá-lo indo atrás, mas por um instante pensei que tivesse ido com eles... — sua voz soava mais baixa, mas havia uma preocupação ali que me cortou o coração.
A afastei levemente, minhas mãos agora acariciando sua face, quase como se tentasse garantir que ela ainda estivesse ali, comigo. Não podíamos seguir em frente sem arrumar algumas coisas. Sabia disso. Não podia permitir que as sombras do passado ficassem pairando entre nós, como uma ameaça constante.
Tinha que ser honesto. Não só com ela, mas também comigo.
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