Capítulo 2 - Asgard
As imagens de capa são geradas por IA, de como vejo eles na história, claro que Thor tem as tatuagens dele, mas não consegui fazê-las e resolvi deixar assim.
Contém 3847 de palavras.
Boa leitura ❤️
Alguns dias
É difícil de ver
Se eu fui uma tola
Ou você um ladrão
Consegui sair do labirinto
Para encontrar o meu um em um milhão
E agora você é apenas uma página rasgada
Da história que eu estou vivendo
E tudo que eu te dei se foi
Desabou como se fosse pedra
Achei que tínhamos construído uma dinastia que o céu não poderia abalar
Achei que tínhamos construído uma dinastia, diferente de tudo que já foi feito
Achei que tínhamos construído uma dinastia que o para sempre não pudesse separar
A cicatriz que eu não posso reverter
Quanto mais cura, mais machuca
Te dei cada pedaço de mim
Não é à toa que está faltando
Não sei como ficar tão perto de alguém tão distante
E tudo que eu te dei se foi
Desabou como se fosse pedra
Trechos da música - Dynasty - Miia
A doce risada de Cyrius preencheu o ambiente, aumentando meu espanto.
Ele ainda ria?
— Pare de pensar besteira, arrume suas coisas que iremos partir para Asgard agora mesmo — Cyrius retrucou, me surpreendendo.
— Quer que eu morra tão rápido assim? — perguntei, atônita.
Os olhos claros de Cyrius brilharam em diversão.
— Selene, preste atenção, Thor não vai matá-la quando souber — ele começou, mas ao ver meu olhar incrédulo, revirou os olhos. — Temos que ir, antes que Uziel descubra quem é seu noivo. Temo que ele seja o culpado da morte dos seus pais.
Não, isso não podia ser verdade...
Sabia que ele era um louco completo, que tinha sangue-frio, mas não acreditava que tivesse matado meus pais!
— Mas foram os jotuns que os mataram — balbuciei, confusa.
— Controlados pelos poderes dos elfos — Cyrius me olhou com compaixão. — Esse é o motivo das desconfianças recaírem sobre nós quando Asgard foi atacada, pois os jotuns estavam sob controle.
Não consigo acreditar que ele foi capaz de algo assim!
Era óbvio os motivos de meu pai entregar minha mão. Ele jamais faria isso sem pensar no que poderia querer no futuro, já que eu era apenas um bebê.
— Vou matá-lo! — gritei, consumida pela raiva.
Esse maldito miserável!
Ele destruiu minha vida, tirando tudo que me era precioso apenas para ser rei!
— Querida, escute-me, não pode acusá-lo sem prova alguma — olhei irritada para Cyrius, fazendo-o suspirar. — Selene, infelizmente não pode sujar suas mãos, pense no legado de seus pais!
Minha raiva dizia o contrário!
— Agora, o que tem que fazer era se casar, após isso, indicará seu marido ao trono.
— O quê? Indicar Thor ao trono de Alfheim?
Cyrius tomou minhas mãos, me olhando com a seriedade que meu pai costumava ter.
— Selene, pense assim... com ele sendo seu marido, ele seria o rei e você ficaria no poder como consorte. Sem isso, outra pessoa pode assumir. A lei dizia claramente que você não poderia ficar no poder por ter os poderes da escuridão, mas poderia nomear alguém pelo seu direito de sangue. Não estava escrito que tinha que ser um elfo, tanto que seu marido não seria um elfo porque não era lei.
Deuses! Ele tinha razão!
Poderia governar nas sombras, embora isso não fosse o que queria. Essa lei era absurda e arcaica. Meus poderes muitas vezes traziam o pior das trevas, e éramos discriminados e enviados para longe, pois todos que sucumbiram à escuridão enlouqueceram, desligando-se de todo e qualquer sentimento bom. Apesar de meu coração ser tomado pela escuridão, mantinha o sangue-frio, sem deixar as emoções me controlarem.
— Vou me organizar para partirmos!
— Encontre-me daqui a vinte minutos — Cyrius declarou orgulhoso.
O tempo era curto, mas não tínhamos escolhas. Precisava me apressar antes que Uziel tramasse algo.
Não acreditava no que via!
Esse maldito imundo!
Meu sangue ferveu ao adentrar meus aposentos e vê-lo sentado em minha cama, sorrindo abertamente de modo arrogante.
— Saia daqui!
A frieza em minha voz não surpreendeu apenas a ele, mas a mim mesma. Sentia meu sangue quente e uma vontade imensa de esquecer todos os valores que meus pais me ensinaram, apenas para matá-lo.
— Não vai se casar... sabe que não é mais pura — Uziel retrucou, lançando um olhar frio e possessivo sobre mim. — Deflorei e usei todas as partes do seu lindo corpo.
A vontade de vomitar sobre ele cresceu, me deixando enjoada, não só pelas palavras, mas pela sua presença. Ele falava como se eu fosse uma espécie de meia suja!
— Não sei do que está falando — desconversei, evitando dar a ele a oportunidade de me enlouquecer.
Ele queria que partisse para cima dele, que agisse como uma descontrolada!
— Vai mesmo confiar em alguém novamente? Não pensei que fosse tão burra! — o elfo debochou.
Como pude chegar a sentir algo por ele?
O ódio que queimava em meu coração era tão grande que sentia minhas mãos arderem pela vontade de matá-lo. Precisava ficar calma, ele queria um escândalo para chamar a atenção e me acusar.
— Mila! — chamei minha criada.
Uziel arqueou a sobrancelha, surpreso pelo meu controle.
Segundos se passaram até que Mila entrou no quarto, arregalando os olhos ao encontrar o elfo na minha cama.
— Arrume minhas roupas em uma pequena mala — ordenei, e ela assentiu, ainda olhando para Uziel, me fazendo suspirar. — Mas antes, chame os guardas. Diga-lhes que mantenham a segurança em minha porta, pois encontrei este sujeito em minha cama, como se tivesse alguma intimidade comigo.
Uziel revirou os olhos, sorrindo deboche.
— Apenas queria desejar uma boa viagem a você, alteza — ele levantou-se rapidamente da cama e aproximou-se de mim. — Vai arrepender-se disso, não deixarei que governe.
Vamos ver!
Sorri de volta, sem responder. Uziel me olhou irritado e saiu do quarto.
— Senhora, devo chamar os guardas mesmo assim? — Mila perguntou, confusa.
— Claro! Não quero mais ele aqui. Veja minha surpresa ao encontrá-lo em meu quarto, isso não ficaria bem para mim! — retruquei com tanta raiva que a coitada se assustou.
Por que ele não ficava longe de mim?
— Desculpe por ser rude, mas você gostaria de encontrar um homem qualquer em seu quarto?
— Não, senhora! — Mila respondeu apressadamente.
— Faça o que mandei. Depois que sair, fecharei a porta com a chave. Você sabe como entrar — repliquei, me direcionando para o imenso banheiro. Precisava de um longo banho para relaxar.
Sabia que esse dia chegaria mais cedo ou mais tarde. Soube disso no exato momento em que o acordo foi feito, há quase cinquenta e quatro anos. Mas para nós, deuses, esse tempo era relativamente curto. Agora, com o enlace quase à porta, era impossível ficar tranquilo.
Simplesmente não conseguia sossegar. Embora ainda tivesse alguns meses até o casamento, a recente morte dos pais da noiva mudara os planos, tudo seria adiantado.
— Preciso mesmo casar? — olhei ansioso para meu pai, fazendo-o revirar os olhos.
Droga! Não era contra o matrimônio, mas colocar alguém à frente das minhas guerras e lutas era complicado. Não acreditava que seria feliz no mundo cor-de-rosa dos elfos.
Eles eram pacíficos demais, o pensamento de ficar lá até a morte dela era quase entediante, já que elfos demoravam setecentos anos para morrer de velhice. Para um Deus, isso eram apenas dias. No casamento, o tempo era diferente.
Me sentia preso!
— Nunca questionou isso, por que está perguntando agora? — Odin perguntou, curioso.
— Porque agora a forca está mais próxima — Loki respondeu, rindo.
— Loki! — resmunguei entre dentes, completamente furioso.
Idiota! Pior que ele estava certo. Com o casamento quase à porta, era impossível ficar tranquilo como antes.
— Que foi, maninho? Sabe que estou certo — Loki piscou maroto.
Revirei os olhos diante de sua estúpida personalidade. O idiota estava nas nuvens por me ver sofrer.
— Por que não casa o Loki com ela? — perguntei ao pai.
Loki arregalou os olhos em completo pânico, olhando para Odin como se ele fosse concordar. Obviamente, ele não queria perder sua liberdade e aguentar as histerias das mulheres, mas achava engraçado se divertir com minha situação.
— Thor, a mão dela foi dada a você. Fiz o acordo com o pai dela, com você presente, e deu a sua palavra — Odin encerrou o assunto.
Dei a minha palavra, porque não tinha muito a ser feito na época!
Loki sorriu triunfante, aumentando meu mau-humor. Teria que aguentar viver com uma dondoca, pois era isso que ela provavelmente seria.
Uma criada entrou na sala de reuniões com uma carta em mãos, com o selo de Alfheim. Meu pai a pegou com extrema seriedade, lendo-a em silêncio.
— Sua noiva virá para cá, precisam acertar quanto antes o casamento — Odin declarou.
Merda! Sabia que isso aconteceria mais cedo.
— Por que a pressa? — Loki perguntou, curioso.
— Ela sucumbiu à escuridão. Pode apenas governar com seu marido. Para continuar no poder, ela nomeará Thor como rei — Odin respondeu, nos deixando surpresos.
A lei dos elfos tirava seu direito ao trono, por ser filha do rei, o sangue real lhe permitia nomear alguém. Entendia que me nomear era uma maneira de se manter no governo. Isso não me surpreendeu, o que me deixou em choque foi ela ter mudado, sendo que sempre foi descrita como alguém de coração bondoso. Não que a conhecesse, pois nunca a vi antes.
— Thor, sabe os poderes dos elfos, eles podem ser perigosos... não posso permitir que não case com ela. E tem outra... os pais dela foram mortos pelos jotuns — Odin me chamou completamente a atenção.
Os reis dos elfos serem mortos pelos jotuns e ela sucumbir à escuridão significavam apenas uma coisa: conspiração. Alguém estava conspirando pelo poder. Não só os elfos estavam em perigo, mas os deuses também.
— Caso com ela — declarei, decidido, fazendo meu pai suspirar aliviado.
Meu olhar percorreu o espelho, analisando a vestimenta escolhida. Minhas amas certamente não gostaram da mudança para cores mais sombrias, mas não consegui mais usar o que era considerado "puro". A luz do sol adentrava suavemente pela janela, iluminando os detalhes intricados da renda e os padrões elegantes do tecido, numa mistura de cinza e verde-escuro do espartilho. Embora fosse sem mangas, as luvas do mesmo tom cobriam até meu antebraço, conferindo uma sobriedade ao conjunto.
Suspirei ao colocar o broche roxo pertencente à mamãe, talvez para sentir um pouco dela comigo.
— Senhora, colocará sua coroa? — Mila perguntou suavemente, apontando para a coroa da mamãe.
Sorri tristemente ao pegá-la. A dor da saudade é constante, mergulhando-me em melancolia.
— Não, ainda não ocorreu minha coroação — respondi, deixando-a de lado.
Meus cabelos cor de areia estavam soltos, com uma mecha presa em um delicado enfeite na mesma cor do broche.
Estaria deslumbrante, se não fossem meus olhos vazios. O lindo tom de roxo se perdeu na escuridão das escleras, que, após perder meus poderes, agora eram completamente pretas, sem vida.
Estaria mentindo se negasse o quão linda Asgard era, não esperava encontrar uma beleza tão exuberante. Os muros que cercavam toda a cidade, protegendo-a dos jotuns, eram os mesmos desde sua construção, mas no interior, o local era altamente tecnológico. Arranha-céus de cristal refletiam a luz de maneira pura e deslumbrante. As ruas eram pavimentadas com materiais avançados que absorviam a luz solar, fornecendo energia limpa para todo o território. Edifícios interconectados por pontes suspensas me deixavam em choque, mas o que realmente me impressionava era o enorme castelo ao centro de Asgard. Um majestoso monumento cercado por altos e imponentes muros de ouro puro, que não serviam apenas como decoração, mas também como defesa contra qualquer ameaça. As torres do castelo, cada uma adornada com detalhes intricados, estavam equipadas com a mesma tecnologia ao redor. Tudo ali parecia reluzir vida, irradiando brilho.
— Eles estavam nos esperando, vamos! — Cyrius me tirou das divagações, rumando ao castelo.
Fomos direcionados à sala do trono, no coração do castelo, ricamente decorada em ouro puro, com algumas pedras preciosas e uma decoração que incluía armas lendárias e artefatos mágicos.
Meu olhar logo se fixou nos deuses presentes, especialmente nele, que seria meu marido. Thor se destacava dos demais, com mais de dois metros de altura, extremamente musculoso, e longos cabelos ruivos que iam até a cintura. Seus olhos esverdeados tinham a esclera preta, e tatuagens de padrões dourados emitiam um brilho em suas mãos e olhos. Ele usava uma elegante túnica branca com detalhes dourados.
— Princesa Selene Aruna de Alfheim, senti muito pela sua perda — Odin me chamou, quebrando o silêncio.
Olhei para Odin, um homem nitidamente mais velho, mas que não aparentava a idade, vestido em roupas formais totalmente negras, com um tapa-olho sobre seu olho esquerdo e cabelos negros como a noite.
— Obrigada, Senhor Odin — inclinei a cabeça em sinal de respeito.
Odin acenou com a cabeça, um sorriso leve nos lábios.
— Este é meu filho Loki, o mais velho — ele apontou para um jovem musculoso ao seu lado.
Loki era tudo o que diziam dele: usava uma capa de mangas longas, uma luva sem dedos e tinha as orelhas repletas de piercings. Seus cabelos verdes, que iam até o pescoço, lhe conferiam um ar rebelde.
— Prazer em conhecê-lo, Senhor Loki — cumprimentei-o respeitosamente.
— O prazer... era meu — Loki respondeu, piscando maroto.
Quase revirei os olhos, mas mantive um semblante neutro.
— E este é meu outro filho, seu noivo, Thor — Odin apontou para o Deus que permanecia silencioso ao seu lado.
Não precisei olhá-lo novamente, apenas acenei a cabeça.
— Era um prazer conhecê-lo, Senhor Thor — minha voz saiu trêmula, marcada pela raiva, mesmo sem querer.
Entendia que ele não tinha culpa de nada, mas não conseguia evitar a sensação de estar presa. Se pudesse viver isolada, seria o ideal, pois o simples pensamento de me aproximar de homens me causava repulsa, e a culpa era daquele maldito.
— Prazer, princesa — Thor respondeu com serenidade.
Seu olhar calmo encontrou o meu, surpreendendo-me com a profundidade do vazio nele, parecia tão sem vida quanto os meus, como se estivesse apenas existindo, e não vivendo.
— Senhor Odin, o aniversário de Selene era daqui a seis meses, mas não podiam esperar mais — Cyrius interrompeu o silêncio, chamando a atenção dos deuses.
— Li a carta que me mandou, se há um traidor entre os elfos, não podiam mais esperar — Odin concordou com Cyrius, então seu olhar sério se voltou para mim. — Embora confesse que estava surpreso com os poderes da princesa.
Droga! Não queria que ninguém soubesse o que aconteceu, era doloroso e vergonhoso demais admitir em voz alta o quão ingênua fui.
— Os elfos sucumbem à escuridão quando perdem totalmente a esperança. O que fez seu coração ficar despedaçado? — Odin insistiu, totalmente sério.
A vontade de não responder era grande, pois era uma pergunta muito pessoal, mas não pude deixar de entendê-lo. Afinal, se seria esposa de seu filho, ele queria se assegurar de que não era um perigo para Thor.
— Senhor, preferia falar isso ao meu noivo, se não se importar — respondi, surpreendendo-o.
Durante a viagem até Asgard, pensei muito sobre meus passos, sobre o que era seguro fazer, mas não podia esconder isso de Thor. Ele precisava saber. Se quisesse compartilhar com os outros, seria decisão dele, mas queria ser sincera. Após tudo o que me aconteceu, não suportaria começar um casamento baseado em mentiras.
— Selene! — Cyrius me olhou aflito.
Sorri amistosamente em sua direção.
— Estava tudo bem, Cy... queria falar com ele a sós, isso me era permitido? — perguntei a Odin, que acenou levemente.
— Vamos — Thor respondeu, dando-me as costas, um claro sinal para segui-lo.
Realmente seríamos um casal curioso, já que eu tinha apenas um metro e setenta, enquanto ele era uma verdadeira muralha, com mais de dois metros de altura. Não me considerava pequena, ele é que era imenso!
Thor caminhou em direção a uma pequena capela, adornada com arcos pontiagudos e janelas longas, cercada por uma vegetação exuberante. A luz solar filtrava-se através das folhas, criando um ambiente quase mágico. O caminho de pedras, emoldurado por pequenas flores, levava até a capela, que parecia um local secreto, perfeito para nossa conversa privada.
Um suspiro aliviado escapou, e Thor parou rente à capela, olhando para mim com atenção.
— Estávamos sozinhos, ninguém podia nos ouvir ali — disse ele, com um tom suave.
Ainda assim, não era fácil. Como poderia superar tudo que eu aprendi e admitir que cometi um erro colossal no meu reino?
— Então? — ele perguntou, quebrando o silêncio.
— Senhor, eu...
— Somente Thor. Você era minha noiva, não precisávamos ser tão formais — ele me interrompeu gentilmente.
— Thor... soube desse casamento após... depois que aconteceram coisas...
Minha voz falhou, e a respiração ficou acelerada, as palmas suadas. Era difícil me abrir para um desconhecido, especialmente depois de perder meus pais.
Precisava falar, ou deixaria meu reino nas mãos do maldito que arruinou minha vida.
— No meu aniversário de cinquenta anos, eu conheci um rapaz. Acreditei que estava apaixonada, mas era apenas uma ilusão.
Thor me olhou surpreso.
— Por que ilusão? — ele questionou, curioso.
Ele parecia mais curioso do que chocado por me envolver com outro.
— Tudo que ele usou para me encantar era mentira. Apaixonei-me por uma farsa, nada daquilo era real.
Thor assentiu, mostrando compreensão.
— Eu... eu e ele... não sou... — minha voz quase se esvaiu, fechei os olhos para evitar seu olhar.
— Não era mais pura, é isso? — sua pergunta suave me fez abrir os olhos, surpresa.
Seu olhar não mudou, ele permaneceu calmo ao descobrir a verdade.
— Não era. Ele me usou, tirou minha pureza... deixou-me grávida e depois matou a criança. Foi ao ver a morte da minha filha que as trevas tomaram conta do meu coração. Por causa disso, eu perdi meus poderes da luz...
— Ele queria que você se entregasse aos poderes da escuridão, para que não pudesse governar sobre os elfos — Thor concluiu, sua voz grave.
— Sim... — respondi, evitando seu olhar. Era uma conclusão tão óbvia que me encheu de vergonha.
— Isso não muda nada para mim. Soube do nosso casamento desde que nasceu e, de certa forma, me acostumei a isso. O fato de você ser ou não pura era irrelevante para mim — Thor murmurou suavemente.
Ele não se importava?
— Não me acha impura? — perguntei atônita.
— Não.
Sua resposta firme tirou meu fôlego.
Os deuses são assim, ou ele era simplesmente compreensivo?
— As leis dos elfos...
— Isso é arcaico. Não consigo aceitar que não haja igualdade entre os elfos. Se fossem cobradas de todos, seria compreensível, mas era apenas das mulheres. O corpo era seu e ninguém tinha direito a ele — Thor me interrompeu.
Fiquei chocada com sua visão, perdida em um turbilhão de sentimentos. Será que ele realmente acreditava nisso?
— Vai contar ao seu pai? — perguntei para testá-lo.
— Você queria que eu contasse? — ele retrucou.
Se pudesse, não contaria nem ao menos a ele!
— Era algo pessoal, não podia sair espalhando por aí — surpreendi-me com sua resposta.
— Não queria... mas Uziel faria de tudo para estragar o casamento. Ele queria o trono para si — respondi, relutante.
— Ele não poderia fazer nada. Tinha a minha palavra a seu favor — Thor disse, com firmeza.
Era difícil confiar novamente, mas daria a ele o benefício da dúvida.
— Thor... eu... eu sabia que seria sua esposa, mas queria que tivesse paciência no que dizia respeito ao físico...
Sabia que teria obrigações de esposa, mas a ideia de qualquer intimidade me provocava uma raiva insuportável. A lembrança da minha filha em chamas invadia minha mente, um lembrete aterrorizante do que poderia acontecer ao confiar em alguém.
— Não pretendia forçá-la a nada, se era isso que pensava! — Thor respondeu, ofendido.
— Não quis dizer que...
Minhas palavras morreram ao ver sua expressão irritada.
— Selene... entendi o que passou. Jamais a forçaria a se deitar comigo — ele afirmou, claramente ofendido. — Estava deixando claro que as leis dos elfos eram arcaicas. O corpo era seu e somente seu!
Minhas bochechas queimaram, mas mantive o olhar firme.
Não estava errada, não o conhecia!
— Se entende pelo que passei... sabia que não confiava em ninguém. Peço desculpas pela desconfiança, mas não conseguia evitar.
— Eu sabia... desculpe-me por me sentir ofendido também. Vamos com calma... — Thor surpreendeu-me com sua compreensão.
A serenidade que emanava dele chegou como um bálsamo. Há tempos não sentia paz assim, o que é curioso, considerando que mal o conhecia.
— Papai disse que estava tempo demais sozinho com ela — Loki apareceu de repente, saindo de um portal e nos assustando.
— Loki, já falei para não aparecer assim! — Thor rosnou, mas a risada de Loki ecoou na capela.
Sorri ao ver a interação entre eles. Mesmo visivelmente irritado, a cumplicidade era clara, e senti uma pontada de inveja. Sempre desejei irmãos para compartilhar momentos assim.
— Temos que ir — Thor declarou, trazendo-me de volta à realidade.
— Claro.
— Pensei que você fosse manifestar seus poderes das trevas ao ser assustada — Loki brincou, sem perder a chance.
Olhei incrédula para ele.
— Por isso chegou de mansinho? — perguntei, séria.
O Deus sorriu, claramente divertido.
— Jamais conseguiria que manifestasse meus poderes assim — respondi, desafiadora.
— É que nunca vi um elfo da escuridão — Loki explicou, sua curiosidade evidente.
— Loki! — a voz de Thor trovejou, fazendo-o calar-se imediatamente.
Não podia julgá-lo por sua curiosidade, mas a tristeza me invadiu. Meus poderes surgiram em um momento de agonia, e agora evitava usá-los, temendo perder-me ainda mais nas trevas.
— Desculpe pelo Loki — Thor sussurrou suavemente.
Sorrir fracamente em resposta.
A face séria de Odin foi a primeira coisa que reparei ao adentrarmos o salão. Era óbvio que ele questionara Cyrius sobre o ocorrido. Apesar do medo e respeito que sentia pelo Deus, Cyrius se recusara a contar.
— Agora posso saber do que se trata? — a voz de Odin trovejou ao longo do salão.
Suspirei pesadamente. Não podia mais esconder, principalmente se o maldito tentasse usar isso contra mim.
— Eu não sou...
— Selene! — Thor e Cyrius gritaram juntos, me calando.
— Melhor que ele saiba por mim — respondi serenamente, tranquilizando-os. — Eu não...
— Selene perdeu os poderes da luz ao confiar num maldito, que matou alguém muito querido para ela. Agora, ele quer fazer de tudo para tomar o trono — Thor me interrompeu.
Voltei meu olhar para Thor, que manteve o semblante sereno, como se não tivesse acabado de mentir.
Por que ele mentiu para o próprio pai?
— É isso mesmo? — Odin perguntou, olhando-me com seriedade.
Como mentir para o Deus da Sabedoria?
Thor me olhou sério, como um aviso.
— Sim... conheci um amigo no meu aniversário de cinquenta anos. Ficamos muito próximos, quando ele conseguiu minha completa confiança, matou alguém querido na minha frente — contei uma parte da verdade. De fato, isso aconteceu em outro contexto. Odin me olhou com tanta seriedade que senti como se estivesse vendo minha alma.
— Esse alguém querido... você devia amá-lo para liberar seus poderes da escuridão — Odin retrucou, desconfiado.
— Ela era como uma filha para mim... — murmurei tristemente, aumentando sua curiosidade.
— Filha? — Odin perguntou, arqueando a sobrancelha.
— Selene cuidava de uma menina órfã, escondida de seus pais. Ela era um bebê. Selene apegou-se à menina e Uziel, o amigo, aproximou-se de Selene e matou a criança em sua frente — Thor respondeu por mim.
A segunda mentira que ele contou por minha causa?
— Entendo... — Odin respondeu, sério. Não ousei respirar na presença dele, sentindo que a qualquer momento ele poderia descobrir tudo. O que levou Thor a mentir para o próprio pai?
— Agora podemos falar sobre o casamento, Senhor Odin? — Cyrius perguntou, chamando a atenção do Deus.
Odin me olhou atentamente e então desviou o olhar para Cyrius, me fazendo suspirar aliviada.
— Creio que esse Uziel é aquele que quer ocupar o trono? — Odin perguntou seriamente ao elfo, que assentiu com uma careta. — Podemos fazer o casamento em Asgard, ele não ousará tentar nada aqui.
— Perfeito, podemos fazer neste final de semana mesmo — Cyrius me surpreendeu.
Isso é daqui a três dias! Meu coração disparou de forma absurda. Como, em nome de todos os deuses, vou me casar em três dias?
— Pedirei a uma criada que lhes mostre o quarto onde ficarão esta noite. Pela manhã, discutiremos sobre o casamento — Odin deu o assunto por encerrado.
É, não tenho muita opinião para dar...
— Mostro o quarto a eles — Thor respondeu rapidamente, fazendo o pai cerrar os olhos em sua direção.
Eles permaneceram olhando-se por breves minutos, como se estivessem numa conversa muda. No entanto, o semblante de Thor não mudou.
— Certo — Odin cedeu após um tempo.
https://youtu.be/5TXNj1JjH_Q
Deus Thor
Deus Loki
Deus Odin
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