Capítulo 16 - O início de tudo
Me aventurei a descrever melhor sobre Uziel, esse capitulo é por completo na visão dele, dividi ele em duas partes para conseguir captar melhor a essência dele mostrando um pouco de sua personalidade e sentimentos.
Lembrando que eu não estou romantizando-o e nem nada relacionado a isso, apenas queria aprofundar sua versão!
Contém 3660 palavras.
Boa leitura ❤
Talvez eu seja frio
Congelado por causa do meu passado recente
Droga
Não chegue muito perto
Você não vai encontrar o que está procurando
Ah, não
E espero que você não me julgue
Tudo que sei é como ser eu mesmo
E se você começar a me tocar
Espero que você saiba qual é a nossa situação
Não diga que me ama
Pois eu não serei recíproco
Não diga que precisa de mim
Pois eu não preciso disso
Não diga que me quer
Pois eu estou sozinho
Então quando a gente terminar de se pegar
Garota, eu estarei completamente só
Alone - bazzi
O amor... Para mim, sempre foi a emoção mais confusa e, ao mesmo tempo, a mais inútil. Exigia uma entrega cega, um comprometimento sem razão, uma perda de controle. Conectar-me a outra pessoa significava dar-lhe poder sobre mim, algo que jamais faria. Cuidado, afeto, empatia... todas essas palavras me pareciam fraquezas, elementos de uma fantasia em que as pessoas se perdiam, acreditando que era possível existir uma troca genuína. Mas não passa de ilusão. O amor, como os tolos acreditavam, era apenas uma armadilha, uma condenação que os fazia prisioneiros de suas próprias emoções.
Entre nós, elfos, o víamos apenas como uma bênção. No entanto, sempre soube que ele também era uma maldição. Ao entregarmos nosso coração, confiávamos ao outro o poder absoluto sobre nossos sentimentos. Era um ato de vulnerabilidade que, muitas vezes, só compreendíamos quando já era tarde demais.
Para mim, nunca passou de pura besteira. Dar ao outro oportunidade de nos deixar vulneráveis era sem dúvida a maior burrice que existia. Aprendi isso desde cedo, convivendo não somente com os membros da minha casa, que sem dúvida são os mais sensatos, salvo por poucos que ainda mantêm esse tipo de estupidez, mas em especial pelos meus pais.
Ele se apaixonou ainda na infância. O sentimento cresceu com ele, mas, mesmo estando ao lado dela desde sempre, compartilhando cada momento, foi pelo primo dele que ela se apaixonou. Ele teve que assistir, imponente, todas as etapas do relacionamento deles, enquanto ela entregava seus sentimentos sem reservas, sem nunca sequer considerá-lo digno de atenção.
Ela, Siv, da casa de Gorm, a quarta ramificação, não tinha laços diretos com o herdeiro ao trono. Arkyn a conquistou de uma maneira que meu pai jamais conseguiu.
Ele nunca teve chance...
Isso não destruiu apenas o coração dele, mas também o que restava de seus sentimentos. Incapaz de suportar a perda, mergulhou em uma dor tão profunda que decidiu lacrar suas emoções. Foi até uma bruxa antiga, que lançou um feitiço para selar tudo o que ele sentia. A partir daquele momento, ele se tornou uma pessoa fria, calculista. O casamento com minha mãe aconteceu não por amor, mas por interesse pela fortuna dela.
Era isso que os sentimentos traziam, vazio e uma imensa desilusão, um mundo de dor e submissão, não importava quais fossem as razões, tudo sempre acabava da pior forma possível.
Apesar de achar bem patético meu pai recorrer a um feitiço, apenas por ter o coração machucado, foi uma boa opção.
Meus pais pertenciam à casa Asger e compartilhavam o mesmo destino. Nessa ramificação, os sentimentos não tinham valor, não em primeiro lugar, com frequência eram selados parcial ou completamente. Não éramos guerreiros à toa, a frieza era uma ferramenta essencial, tanto nas batalhas quanto na vida. Embora alguns tolos ainda se deixassem levar por paixões, meus pais nunca cometeram esse erro.
O casamento deles prosperou porque minha mãe era tão prática e desprovida de emoções quanto meu pai. Nenhum dos dois esperava afeto ou compreensão, apenas resultados. O objetivo era claro: produzir uma prole poderosa, apta a perpetuar a casa Asger.
Meu nascimento não foi um acaso, foi meticulosamente planejado, e desde o momento em que fui concebido, já estava destinado a ocupar o trono. Os governantes atuais, apesar de muitos anos de casamento, mais tempo do que o aceitável para gerar descendência, não tinham filhos. Por isso, minha família, a próxima na linha de sucessão, era vista como esperança. A importância do meu nascimento não era um desejo, mas uma necessidade. Meus pais não demonstravam orgulho em me criar, mas viam em mim a continuidade de um legado, algo muito maior do que qualquer sentimento pessoal.
Siv era constantemente cobrada, mas, devido aos nossos costumes rígidos, nunca houve separação ou filhos fora do casamento para perpetuar a linhagem de Aruna.
Quando nasci, o reino inteiro comemorou. Não por minha existência, mas pela certeza de que a linhagem estava segura. Todos sabiam que eu seria o próximo rei, o próximo passo lógico na sucessão. Não havia dúvida, nem oposição. O trono estava inevitavelmente em minhas mãos, como se fosse um cargo hereditário, uma posição sem qualquer margem para erro.
Desde o momento em que fui concebido, sabia qual era meu destino. Para que eu não fosse fragilizado como meu pai, meus sentimentos foram lacrados ainda no ventre de minha mãe. Nunca teria a capacidade de reconhecer ou entender qualquer tipo de emoção, nem mesmo se os visse diante de mim. Era mais uma decisão lógica do que uma escolha. Antes de aprender a falar ou entender o mundo, já era uma réplica vazia de meus pais, moldado para ser o sucessor de um reino.
Nunca soube o que era sentir. Dor emocional, compreensão, simpatia, bondade... palavras vazias, que não faziam sentido. Meu coração foi moldado para ser uma máquina, não um ser que sente. Havia apenas um vazio, um abismo sem fim. Não havia espaço para mais nada, nem mesmo para a ilusão de algo como 'emoção'. Era uma criação, um reflexo do que minha linhagem necessitava, e nada mais.
Minha infância foi tranquila, até o ataque dos jotuns. Tinha apenas oito anos quando aconteceu. Lembro-me vagamente do ocorrido, especialmente da fúria do meu pai nos dias seguintes, quando soube que o reino agora tinha um herdeiro direto.
Herdeira, na verdade.
A rainha Siv deu à luz a uma menina, que, antes mesmo de completar uma semana de vida, já estava prometida a alguém. Provavelmente, foi para garantir que não houvesse qualquer vínculo com a casa Asger.
Após isso, minha vida mudou. A infância tranquila e mimada que conhecia desapareceu. Meu pai se tornou ainda mais rigoroso, ainda mais frio. E, muitas vezes, me peguei me perguntando se meu nascimento não foi apenas um meio para que meu pai subisse de patamar, uma maneira de mostrar a todos que ele era perfeito, pois conseguiu ter um filho homem antes do próprio rei. Algo que seria comemorado por muitos, visto que nossas tradições exaltavam tal feito.
Mas para mim, aquilo era irrelevante. Não sentia o peso do orgulho ou da realização. O que acontecia ao meu redor nunca me afetava, e a busca incessante de meu pai por status não significava nada para mim.
Quantas vezes não sofri fisicamente por isso?
Milhares. O pior de tudo não era a dor em si. Mas o fato de sentir apenas dor física tornava tudo ainda mais insuportável, porque, para meu pai, isso era apenas uma demonstração de sentimentalismo.
Fui punido por algo que sequer entendia.
Mesmo quando perguntava sobre os sentimentos que estava supostamente demonstrando, meu pai ficava furioso. Sua ira não tinha lógica para mim. Em um dos seus acessos de fúria, me enviou para o treinamento militar quando tinha apenas oito anos.
Crescer em meio às rígidas regras militares da casa Asger foi uma experiência árida. Todos esperavam mais de mim. Não bastava ser bom, tinha que ser perfeito, sem margem para falhas.
Assim, nasceu o melhor guerreiro do reino, cujos feitos eram elogiados até pelo próprio rei, que me via como exemplo. E aceitei isso sem emoção, sem prazer. Apenas constatei o fato.
Obviamente, isso alimentava meu ego, mas também não passava de uma constatação fria.
Não existia ninguém melhor que eu.
Sempre estive à margem de tudo, sem me importar com o que ocorria no reino. Contudo, no aniversário de cinquenta anos da princesa, fui forçado a voltar. Era a comemoração de sua entrada na juventude, e, embora estivesse no auge dos meus cinquenta e oito anos, não vi motivo para inventar uma desculpa. Sabia que essa era apenas a primeira etapa do plano dos meus pais.
Não foi difícil encontrá-la no grande salão. Ela usava um vestido de um branco tão puro que parecia irreal, longo e refinado, com um brilho sutil que capturava a luz de forma hipnotizante. O tecido liso, com bordados dourados nas mangas e no corpete, acentuava sua figura delicada. As mangas caídas revelavam sua clavícula esculpida e braços finos, expondo mais do que qualquer outra elfa teria o costume de mostrar. O espartilho modelava sua silhueta com perfeição, e seus cabelos cor de areia deslizavam em cascatas pelas suas costas.
Ela era, sem dúvida, a personificação da pureza. Sua beleza era impressionante, quase impossível de ignorar. Nós temos a natureza etérea e costumamos ser atraentes, mas ela possuía uma elegância que a destacava de todos.
Percorrer os olhos ao longo de seu corpo por completo demonstrou de fato que ela era uma bela visão.
Ao menos seria bem divertido!
— Aquela é a Princesa Selene — Leif apontou para onde já observava, sabia exatamente o que ele diria a seguir. — Ela é quem deve falar, como combinamos.
— Exatamente como nas cartas, tão bondosa que sua luz parece irradiante. — respondi, claramente entediado.
Meu pai franziu os lábios, um gesto que transparecia puro desgosto.
— Sim, seus poderes são impressionantes. E sua aura... pura, cativando todos no salão — ele fez uma pausa, e sua expressão ficou mais severa, algo que não via há muito tempo. — Mesmo sendo mulher, ela é a favorita ao trono, apenas por ter mais poder que você, além de ser filha dos tão adorados reis.
Muita coisa seria poupada a ela se me deixassem assumir o trono, e pouparia também meu tempo.
— Pelas nossas leis, eu deveria ser o preferido, pois sou homem, e melhor ainda, sou o melhor soldado que o reino já teve! — rosnei, com descaso.
— Os poderes dela são iguais aos descritos pelo primeiro Aruna — Lei resmungou, irritado.
Besteira! Ainda sou homem! Nada mais justo que assumir o lugar dela. Duvido que ela sequer consiga se proteger, imagine proteger o reino!
Não era apenas uma questão de ganância, era uma questão de visão clara. Ela não era forte o suficiente para nos proteger, mesmo que seus poderes fossem iguais aos do primeiro da casa Aruna. Ela ainda era ingênua demais, e pela sua aura, isso não irá mudar. Ela poderá nos levar à ruína.
O próprio rei já confessou que, se tivesse um filho homem, gostaria que fosse igual a mim. Isso não foi só um enorme elogio para engrandecer meu ego, mas também uma maneira de ferir meu próprio pai.
Não entendia os motivos desse lugar, cheio de regras que privilegiam os homens, aceitando o fato dela ser a próxima rainha.
— Todos caíram nas graças dela, não se importam com o fato dela ser mulher! — os olhos azul-gelo do meu pai ficaram ainda mais frios, embora seu rosto estivesse irritado. — Nossas leis pouco importam, pois ela encantou a todos!
Desviei o olhar novamente para ela, observando-a sorrir tão serenamente para sua dama de companhia.
Como podia alguém ser tão... irritante?
Ela era como o sol, cegando todos ao seu redor com essa aura idiota. Isso era muito além do patético. Sou o único que conseguia ver através dessa ilusão. O resto estava completamente cego.
Estava ficando enjoado só de estar aqui.
— Conseguiu descobrir quem é o prometido dela? — perguntei, mais por curiosidade do que por realmente me importar.
— Não. Sua mãe chegou a insinuar para a rainha que seria você, mas pela resposta dela, não creio que seja — Leif respondeu, furioso.
Olhei curiosamente para ele, notando a instabilidade em sua postura. Sempre ficava assim quando a rainha era mencionada. Mesmo sem seus sentimentos, ela ainda mexia com ele. Por que isso?
O feitiço não foi forte o suficiente?
— O que ela disse? — perguntei com um interesse calculado.
Meu pai suspirou, claramente exasperado.
— Siv disse que jamais daria a mão de sua amada filha a você. Um elfo criado no exército, sem sentimentos... Ela não quer isso para sua única filha. Seu sonho é que Selene encontre o amor verdadeiro — ele respondeu, com um desdém evidente.
Não consegui conter o riso sarcástico. O olhar feroz que ele me lançou foi resposta suficiente para alimentar ainda mais o meu desprezo.
Era a melhor opção, não só para Selene, mas para o reino.
Siv estava completamente louca. Não só sou forte o suficiente para manter a princesa segura, como nunca teria motivos para magoá-la. Minha lealdade estava com o reino, meus objetivos eram claros. Selene teria um casamento satisfatório ao meu lado, sem surpresas.
E mais: o reino nunca mais sofreria ataques.
— Se eu fosse o noivo, muita coisa poderia ser poupada de acontecer — não pude esconder a malícia em minha voz.
— Não me faça me arrepender de tê-lo como filho! — rosnou ele, me olhando com frieza.
Conhecia esse olhar. Mas não tinha medo dele. Nunca tive, nem mesmo quando era criança. Ele me criou para ser assim, perfeito e imune às falhas que o atormentaram. O contrário dele, porque sou superior até nisso.
Devolvi o olhar, sereno como uma pedra, ao contrário da raiva em sua face.
Minha frieza era maior. Não tinha medo de nada, nem escrúpulos, se isso significaria alcançar o que queria.
Seu semblante mudou. Um sorriso orgulhoso surgiu em sua face. Aparentemente, atingi a perfeição que ele tanto desejava.
Voltei meu olhar para a princesa, que agora saía do salão sozinha, com uma expressão melancólica.
O que teria acontecido com ela?
Uma festa inteira em sua homenagem, mas, ao contrário de todas as outras, ela não parecia contente. Algo estava errado.
— Você sabe o que fazer. Espero que não me decepcione — Leif murmurou baixo, antes de se afastar, me deixando sozinho.
Sorri, malicioso.
Farei o que não fez. Assim, ele veria o quanto a vida dele era patética, se comparada à minha.
Por conhecer o castelo como ninguém, não foi difícil planejar um encontro "casual" com ela. Ao vê-la vindo na direção contrária à minha, diminui os passos, estudando-a com mais atenção. Selene estava com a cabeça baixa, completamente absorvida em seus pensamentos, o que me parecia uma distração perigosa.
Ela deveria estar atenta ao ambiente, especialmente neste lugar. Mas lá estava, completamente alheia ao que acontecia ao seu redor.
Nos encontramos de forma quase imperceptível, seu corpo esbarrando levemente contra o meu. Segurei-a automaticamente pela cintura, puxando-a com firmeza, mais do que o necessário, como se quisesse testar sua reação.
Ela se recuperou rapidamente, as mãos delicadas tocando meu peito para se equilibrar. O contato direto foi quase mecânico, uma troca de espaço e controle. Não senti nada além de uma leve irritação, além de uma oportunidade de ver como ela reagiria. E, como era esperado, nada além de fragilidade. Isso tornaria as coisas mais fáceis.
— Perdoe-me, Princesa, estava distraído. Não queria machucá-la — murmurei, minha voz suave como o toque de uma seda, soltando-a com uma delicadeza calculada.
Os olhos roxos dela se encontraram com os meus, e algo neles me prendeu, um tom hipnotizante, tão puro quanto a aparência dela. Algo quase irresistível... Mas não por sua beleza, não por ela, mas pela oportunidade de manipular.
Fácil... mais doce do que imaginei...
— D-desculpe-me, a culpa foi toda minha! — Selene balbuciou, os olhos ainda fixos nos meus, com um olhar que conhecia bem. Seu nervosismo não era uma surpresa, ela estava em minhas mãos desde o momento em que permiti.
Não consegui impedir o sorriso que se formou em meus lábios, ciente de que ela provavelmente interpretaria de outra maneira. Seu rosto corou, sabia que o desejo estava ali, escondido nas suas reações. Ela não sabia, mas já estava começando a ceder.
Tão ingênua...
— Uziel Asger, filho de Leif, primo de segundo grau de seu pai — curvei-me suavemente, num gesto calculado, e estendi a mão. Ela, sem hesitar, colocou a sua sobre a minha, e a ergui com uma suavidade que beirava o desinteresse, mas que a faria perceber o toque sutil de domínio. Beijei a ponta de seus dedos, como se fosse o gesto mais natural. — Prazer em conhecê-la, princesa.
— É um prazer, Uziel... apenas Selene — ela respondeu timidamente, e me diverti ao perceber como sua voz vacilava.
— Não seria apropriado chamá-la com tanta intimidade — retruquei cortês.
— Ah! Claro...
As bochechas de Selene ficaram mais rosadas e seus olhos brilharam com uma pitada de ansiedade. Uma reação previsível, mas ainda assim interessante.
— Mas, se me permitir, posso chamá-la pelo primeiro nome em particular — continuei, moldando minha voz de forma suave, como se fizesse uma proposta tentadora. — Poderíamos manter uma amizade discreta, se desejar.
— Claro que permito, Uziel. Adoraria ser sua amiga! — ela respondeu, sua voz rápida e com um entusiasmo que parecia um pouco exagerado.
A ingenuidade dela foi... cativante. Ou talvez fosse apenas conveniente para mim.
— Gostaria de dançar? — perguntei, erguendo a mão, esperando que ela colocasse a dela sobre a minha.
Observei sua reação divertida, a expressão de desgosto que ela não conseguiu disfarçar.
— Qual é o problema? Não quer dançar comigo? — perguntei, provocando com leveza.
Ela corou e negou com a cabeça, aparentemente um pouco desconcertada.
— Não é isso, mas papai e mamãe colocaram apenas músicas antigas no meu aniversário e me proibiram de dançar com outras pessoas — ela respondeu, inflando as bochechas.
Entendo. Os pais dela provavelmente não queriam arriscar que ela fizesse alguma conexão com alguém que não fosse o prometido dela. Pelo que sabia, ela tinha limites rígidos sobre com quem poderia se envolver, especialmente com os elfos.
— Não se preocupe com isso. Venha comigo, conheço um lugar perfeito para nós dois — disse, sorrindo de forma discreta enquanto acelerava os passos, levando-a em direção ao jardim secreto que costumava frequentar na infância.
Selene nem hesitou. O sorriso tímido dela era suficiente para mostrar que, por mais que fosse obediente a seus pais, a curiosidade a estava levando a seguir-me.
— Aonde vamos? — ela perguntou, a voz cheia de expectativa, sua mão ainda firmemente na minha.
— Tenho um lugar favorito aqui no castelo, um segredo meu — respondi, mantendo o tom casual, como se isso fosse apenas uma pequena diversão para nós dois.
A luz da lua lançava uma luz prateada sobre o labirinto. Para quem não o conhecia, era um caminho complicado, ao dia ou à noite. Mas, nessa em especial, a luz brilhava tão intensamente que deixava todo o local claro, suas paredes vivas, formadas por arbustos altos e densos, exalavam um aroma doce e envolvente, que deixou Selene mais encantada à medida que adentrávamos nele.
Obviamente ela não ia para ali, visto que era um local dito como perigoso pelas suas passagens complicadas, mas como sabia de cor cada uma delas, nos direcionava diretamente ao centro, deixando que ela aproveitasse o caminho, encantada com as flores encantadas. O chão de verde musgo, embora macio e amortecendo nossos passos, maculou seu lindo vestido, mas isso de certa forma a deixou mais "selvagem".
Ao alcançarmos o centro, no jardim oculto, seus olhos roxos brilharam como a lua, totalmente encantados, meu ego vibrou alto.
Ela era tão fácil de impressionar...
O jardim com flores vibrantes que brilhavam em contraste com a lua deixou-a em um mundo dos pensamentos por longos minutos, seus olhos percorriam o local com a curiosidade quase infantil.
Ainda segurando sua mão, me afastei, cruzando pela fonte de cristal ao centro do jardim, que jorrava uma água límpida e cintilante, da qual Selene parou abruptamente para colocar a mão, soltando um leve gritinho antes mesmo de me puxar para mais longe.
Nos sentamos próximos às densas árvores com troncos retorcidos, suas folhas resplandecendo um verde intenso e iluminado, que prendeu a sua atenção por longos minutos.
Poucos conheciam esse lugar, embora fosse perigoso, pelo fato de que uma delas fossem os pais dela, ainda era perfeito para tentar uma aproximação.
Apesar de ser essa minha intenção, ainda era um pouco irônico ela ficar tão à vontade em minha presença, sendo que nem me conhecia.
Seus pais não lhe ensinaram a não confiar em ninguém?
Imagine-a como rainha, em um dia de regência, colocará Alfheim em risco!
— Uziel, posso chamá-lo pelo primeiro nome? — ela perguntou, seus olhos brilhando para mim.
Não era possível que essa idiota já tivesse se apaixonado!
Ela não me daria nem o prazer da caça?
— Claro, mencionei que podemos ser amigos — respondi, sorrindo gentilmente.
Seu olhar aumentou o brilho e ela desviou-o levemente, com as bochechas rosadas.
Não, ela já está completamente em minhas mãos... pelo visto, logo poderei fazer o que quiser com ela...
— Nossos pais são primos, mas nunca conheci você — ela apontou curiosa, me olhando de canto. — Não lembro de tê-lo visto antes de hoje.
— Sou oito anos mais velho que você. Logo após o seu nascimento, fui mandado pelo meu pai para que tivesse treinamento militar. Das poucas vezes que voltei para casa, fiquei recluso com meus pais — respondi, ganhando um olhar de uma tristeza compreensiva.
Espere... ela estava com pena de mim?
Tudo que passei me tornou nessa perfeição que sou e ela acreditava que isso era triste?
— Deve ter sido triste ficar longe de sua família — ela sussurrou meigamente, segurando minha mão como apoio. — Não me imagino em seu lugar.
Ela era mais estúpida do que pensava!
Toda essa tristeza que ela dizia apenas me moldou, em nenhum dia senti isso, aliás, nem saberia reconhecer o sentimento.
— Na verdade, não, meus pais não se casaram por amor, mas por interesse. Quando você nasceu, fui deixado de lado por não ser mais o herdeiro, então era um alívio ficar longe deles — respondi sincero em partes.
Ter sossego mental foi o melhor. Após o nascimento dela, meus pais brigavam o tempo inteiro e isso somente era irritante e me dava dor de cabeça, pois nunca pensei que eles seriam sentimentais e fracos dessa forma.
— Oh!
Quase ri de seu semblante chocado.
Assumi a melhor face de coitado, tentando imitar seu olhar triste.
— Selene, não disse isso para que sentisse culpa ou algo assim, afinal, não tem culpa de ter nascido e sendo honesto com você... não quero o trono — murmurei baixo.
Ela apertou minhas mãos com os olhos brilhando.
Pelos deuses! Ela não choraria, não é?
— Nem eu... sinto que minha vida não me pertence — ela respondeu, triste.
— Comigo, pode ser você mesma! — acariciei sua mão, sem tirar os olhos dos dela. — Quero conhecer a Selene e não a princesa.
O sorriso cobriu todo seu rosto, me dando a indicação de que estava no caminho certo para ganhar sua confiança completa.
Que patética!
Apesar da sua estupidez, era prazeroso vê-la cair em toda minha lábia, sem sequer desconfiar de nada. Obviamente, se ela conseguisse ver a frieza em meus olhos, veria que não sentia absolutamente nada além do prazer em jogar e ganhar tudo que queria.
Pais do Uziel
https://youtu.be/3_kXyMFBDio
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro