Capítulo 13 - Sentimentos confusos
Contém 3515 palavras.
Boa leitura ❤️
Como você consegue ver dentro dos meus olhos como se eles fossem portas abertas?
Te guiando para o meu interior, onde fiquei anestesiada
Sem uma alma, meu espírito repousa em algum lugar frio
Até você encontrá-lo e guiá-lo de volta para casa
Agora que sei o que está faltando
Você não pode me deixar assim
Me sopre o fôlego e me torne real
Me traga à vida
Fria, por dentro, sem o seu toque
Sem o seu amor, meu bem
Só você é a vida entre os mortos
Esse tempo todo, não acredito que não pude ver
Estava na escuridão, mas você estava lá, diante de mim
Parece que estive dormente por mil anos
Pude enfim abrir os olhos para tudo
Sem consciência, sem voz, sem alma
Não me deixe morrer aqui, tem que haver algo a mais
Me traga à vida
Bring Me To Life - Evanescence
A alegria do povo de Alfheim em nos ver como soberanos era palpável. Seus sorrisos orgulhosos e olhares calorosos estavam longe de serem contidos, mesmo enquanto Thor ignorava solenemente o protocolo ao me colocar à frente nos cumprimentos. Ele, o rei, era quem deveria estar em destaque, mas insistia em me fazer sentir como mais do que apenas uma consorte. Thor parecia surdo aos cumprimentos que lhe eram dirigidos, até que os elfos perceberam e passaram a me saudar primeiro.
Todas as famílias nobres vieram nos saudar, umas em conjunto, outras enviando seus representantes. A família de Uziel optou por delegar a tarefa à mãe dele, o que me trouxe um alívio inesperado, pois a ideia de sequer encostar nele, mesmo por formalidade, seria insuportável.
Quando o último convidado se afastou, Thor suspirou de um jeito tão audível que não pude conter um sorriso.
— Quer dançar? — perguntou ele, rouco, próximo ao meu ouvido. Um arrepio subiu pela minha pele ao som de sua voz.
Era impossível negar que ele já estava dentro da minha vida de uma forma que sequer conseguia conter, e, sinceramente, nem queria. Thor estava rompendo as paredes que me cercavam, penetrando camadas profundas, e me permitia cair cada vez mais nessa entrega.
— Sim, adoraria dançar com você — respondi, com a voz baixa e suave.
Ele sorriu, estendendo a mão em minha direção, e ao pousar minha palma contra a dele, senti a onda de calor que emanava de sua pele, me envolvendo em uma sensação de bem-estar e pequenos choques. O sorriso dele se ampliou ao notar o quanto seu toque me afetava.
No meio do salão, nossos olhos se encontraram e todo o ambiente pareceu desaparecer. Thor e eu éramos os únicos ali, e seu olhar estava fixo em mim, como se quisesse decifrar cada camada da minha alma. Suas mãos firmes em minha cintura puxaram-me para mais perto, e, apesar de nossa diferença de altura, que o salto que usava apenas diminuía, meu corpo encaixava-se no dele como peças de um mesmo quebra-cabeça.
Como alguém poderia ser tão perfeito?
O jeito como ele me olhava aquecia meu coração, dissolvendo a escuridão que sempre senti me cercar. Ao lado de Thor, aquela dor constante parecia distante, embora ainda estivesse lá. Era uma ferida que sangrava todos os dias pela ausência de minha filha, mas ao lado dele não me sentia sozinha. Ele segurava minha mão nas trevas, oferecendo-me apoio incondicional.
Um brilho intenso acendeu-se no olhar dele, e um frio gostoso me percorreu a espinha. Nunca, em toda minha vida, havia sentido algo assim. Thor despertava em mim uma coragem quase insana, como se pudesse pular da nuvem mais alta e saber que ele estaria lá embaixo para me segurar. Ele nunca me machucaria, instintivamente, sabia disso.
Meu coração começava a confiar nele.
— Você está linda, ninguém aqui se compara à sua beleza — ele murmurou, a voz rouca e profunda. — Sou um homem de sorte.
Meu coração acelerou e um sorriso malicioso dançou em seus lábios, como se ele soubesse exatamente o efeito que causava em mim. O brilho intenso em seus olhos era como uma corrente elétrica, e seu olhar me envolvia, me dizendo, sem palavras, que era o seu maior tesouro.
Entrelaçando meus braços ao redor do seu pescoço, senti as mãos firmes dele apertarem minha cintura, nos aproximando ainda mais, fazendo a dança entre nós se tornar mais íntima, mais nossa.
Era tão incrivelmente perfeito que temia acordar desse sonho.
— Você também está lindo, meu marido — murmurei, em um tom possessivo.
Thor sempre atraiu olhares, sabia. Senti ciúmes dele pela primeira vez ao perceber como ele despertava o interesse de outras mulheres. Mas ele nunca desviou os olhos dos meus, como se não houvesse mais ninguém no mundo. E agora, nesse salão, era como se ele reafirmasse, sem uma única palavra, que era eu a escolhida, a única.
Esses pequenos gestos pareciam gigantes para um coração que sempre temeu não ser o bastante. Não sou uma peça de posse ou uma moeda para ele. Sou sua esposa, e ele lutava por um lugar no meu coração.
— Gostei disso — ele disse, com um sorriso satisfeito.
— Gostou? — perguntei, ligeiramente confusa.
— De me chamar de "meu marido" — respondeu, com um brilho nos olhos que fez meu coração vibrar de alegria.
Sabia que ele teve muitas amantes ao longo dos anos, mas ele jamais pareceu desviar a atenção para outra desde que estávamos juntos. Isso me preenchia de uma felicidade tranquila.
— Precisamos ficar até o final? — ele perguntou, os olhos fixos nos meus.
Senti meu corpo inteiro responder ao calor de seu olhar. As lembranças dos nossos momentos juntos vieram à tona, o toque de sua pele na minha, a maneira como ele me fazia sentir adorada.
— Quer ficar sozinho comigo? — perguntei, provocativa.
— Quero — ele respondeu, apertando-me ainda mais contra si, provocando um frenesi dentro de mim, como se um vulcão estivesse prestes a entrar em erupção. — Quero ficar a sós desde o momento em que a vi nesse vestido.
Minhas pernas tremeram com o desejo crescente, e um arrepio percorreu minha pele.
— Passei a noite imaginando o que havia por baixo dele — disse Thor, deslizando a mão suavemente pelas minhas costas enquanto nossos corpos ainda seguiam o ritmo da música. — Imaginei seus cabelos soltos no travesseiro, seu rosto entregue enquanto me afundo em você.
Por todos os deuses! Ele queria me enlouquecer!
O calor de seu corpo parecia consumir o meu, e o desejo por ele se intensificava, dissolvendo qualquer outro pensamento. Já cumprimos nossas obrigações sociais, somos recém-casados, afinal. Não há ninguém que pudesse nos recriminar por querermos ficar a sós.
Mais do que nunca, queria fugir com ele e finalmente me entregar por completo.
Sorri para ele, prestes a confirmar que poderíamos ficar a sós, quando uma sombra obscureceu a luz suave que caía sobre nós, junto com o final da música. Meu olhar desviou automaticamente para o lado e, como um estalo, senti meu interior ferver com uma raiva latente.
Não era possível que ele teria essa ousadia!
— Thor, se me permite, quero ter a honra da segunda dança com Selene — Uziel murmurou, sua voz carregada de malícia.
Ele era louco?
Será que ele não percebia que não tinha mais lugar na minha vida? Não entendia que precisava me deixar em paz?
Ele já tirou tudo de mim, o que mais ele queria?
Seu olhar gelado ainda estava fixo em Thor, enquanto me ignorava completamente.
— Nem sobre o meu cadáver, já falei para ficar longe dela! — Thor rosnou entre os dentes, a raiva evidente.
Uziel sorriu, com um desdém que não se abalava pela ameaça de um Deus.
— Estava perguntando por educação. Selene sabe que não seria inteligente armar uma confusão dessas em frente a todos, por causa de uma simples dança, não é, minha querida? — Uziel completou, o sarcasmo impregnando cada sílaba.
— Uziel, por favor, vá embora! Não vou dançar com você — sussurrei, a fúria espremendo as palavras em minha garganta.
Não queria que ele me tocasse, não queria que se aproximasse!
— Já foi mais inteligente... Não vou pedir novamente de forma educada. Vamos, Selene — Uziel estendeu a mão, o gesto claro e impositivo. Vi que o salão inteiro nos observava, curiosidade velada nos olhares.
Maldito!
Ele sabia que o reino estava instável, Thor acabou de ser nomeado rei e a família de Uziel estava na linha de sucessão. Se algo acontecer a ele, perderia tudo. E era provável que acabem nos acusando.
Pelos deuses, Thor poderia ser acusado de me controlar, mesmo com o pouco tempo de casamento. Os elfos não vão aceitá-lo como rei se isso acontecer.
Não tinha escolha, não podia permitir que Uziel tirasse meu lar de mim.
Olhei para Thor, apertando sua mão e chamando sua atenção.
— Thor, me desculpe por isso... Terei que dançar com ele — sussurrei, as palavras pesando como pedras em meu peito.
Seu rosto se fechou. Ele desviou o olhar para Uziel, que sorria de forma insuportável.
Sabia o que ele estava sentindo. Parte de mim quer que Thor simplesmente mate Uziel, que acabe com isso de uma vez. Mas sabia que esse não era o caminho. Não podia buscar felicidade sobre o sangue de outra pessoa, mesmo que ele merecesse. Não era como esse maldito!
Thor suspirou, soltando minha mão com um semblante irritado.
— Vamos logo, maldito! — resmunguei, colocando a mão sobre a de Uziel.
Observei, de canto de olho, Thor se afastando, exalando fúria. Meu coração apertou. Não queria deixá-lo assim, mas não o condenava. Sabia que ele queria matar Uziel, mas permitir isso me faria igual a ele. Não podia fazer isso, não podia afundar minha alma mais do que já estava.
Estava prestes a explodir, estava tendo uma noite perfeita com Thor, e agora ele aparecia, destruindo tudo!
— O seu marido é ciumento, não o julgo. Afinal, ter uma peça rara como você exige esperteza — Uziel comentou, debochado, suas mãos apertando minha cintura, puxando-me para mais perto.
Essa não era a maneira adequada de uma mulher casada se comportar com outro homem. E, para ser honesta, nem se fosse solteira isso seria permitido!
O que ele queria? Deixar claro que tinha algo comigo?
Isso só me dava mais raiva, pois ele sempre teve esses comportamentos. Mas, na minha burrice, nunca percebi, cega pelos meus sentimentos. Mas não era mais a mesma. Ele não tinha mais controle sobre mim!
Senti a energia dos meus poderes rondando, como uma névoa prestes a explodir. Precisava me controlar, não podia colocar tudo a perder por causa dele. Minha alma vale muito mais que sua vida miserável.
— Não é da sua conta como meu marido age — retruquei, furiosa, afastando-me dele para que a dança fosse mais respeitosa. — E pare de grudar seu corpo no meu!
— Pelo que me lembro, você adorava ficar assim, grudadinha comigo. Aliás, quantas vezes tomei seu corpo, Selene? — Uziel perguntou roucamente, seus olhos brilhando com malícia. Isso me deixou enjoada.
O que fiz de tão ruim para merecer isso em minha vida?
Fechei os olhos por um momento, tentando manter o controle, mas ele era como álcool jogado sobre o fogo, tornando minha raiva mais forte e descontrolada. Em sua presença, meus poderes quase explodiam.
— Fale logo o que quer. Não tenho tempo para seus jogos! — rosnei, irritada.
Ele sorriu, seus olhos frios brilhando com satisfação.
— Você sabe que não desisti. Vou lutar com todas as armas que tenho — disse ele, sem esconder o orgulho em sua voz.
Revirei os olhos, suspirando pesadamente.
— Não tem armas, Uziel! — retruquei, com desdém.
Uziel sorriu ainda mais, sua mão subindo pela minha espinha, e eu sabia que, para quem olhasse de fora, pareceria um gesto carinhoso, como se fôssemos um casal. Mas eu sabia: era apenas uma marca de sua posse.
Cravei as unhas em seus ombros, um aviso claro para que ele parasse, mas sua mão desceu até a base da minha coluna.
— Selene... você me conhece. Não vou desistir do que é meu — seu sorriso arrogante cresceu enquanto ele me olhava com aqueles olhos frios. — Sim, meu amor, essa coroa é minha. Se precisar, tomarei o que é meu por direito.
— Essa coroa não é sua! — retruquei, com raiva, tentando afastá-lo ainda mais.
Uziel desceu o olhar para o meu corpo, de uma maneira que, antigamente, me deixaria em êxtase. Mas agora, tudo o que senti foi repulsa.
— Mas você é... Selene, você é toda minha — ele respondeu com malícia, e senti a bile subir na garganta, minhas palmas tremendo de nervoso.
— Não sou sua!
Uziel apenas sorriu, desviando o olhar brevemente. Suas mãos me puxaram mais para perto, e meu corpo se moldou contra o dele.
— Se não fosse minha, você não estaria tremendo assim nos meus braços — ele disse, com malícia.
— Estou me controlando para não sujar esse vestido com o nojo que sinto por você. Meu marido gostou dele em mim — repliquei, ácida.
Uziel riu, balançando a cabeça.
— Preciso concordar, você está deslumbrante nele... — seus olhos focaram os meus, e pela primeira vez, não vi frieza neles. O calor que exalavam era mais apavorante do que a frieza que costumavam ter. — Mas sei que ainda tenho um lugar em seu coração. Talvez o mais importante, porque, como sabe, nós, elfos, amamos uma vez na vida.
Tremi de medo. Essa sempre foi minha maior dúvida. Algo que não queria escavar. Tinha medo de saber a resposta, de perceber que meu coração ainda era prisioneiro dele, mesmo depois de tudo o que fez.
Não merecia um castigo assim.
— Você será completamente minha na hora certa, como deveria ter sido antes. Infelizmente, fui burro e me deixei guiar pela ambição. Mas agora, sei o que é realmente importante — ele murmurou sério, seus olhos desviando, como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos.
— Eu te odeio! Tenho tanto nojo que só de respirar o mesmo ar que você. Não tenho lugar para você no meu coração, e se tivesse, o arrancaria. Prefiro morrer!
Após tudo o que fez, ainda tinha a audácia de dizer que sou dele?
Não, mesmo que não ame mais ninguém, preferiria viver nos braços da morte, mas não seria estúpida de novo!
— Minha querida, nós temos uma história... temos uma filha juntos. Isso não é algo que se apaga facilmente — ele retrucou, com um tom que nunca tinha ouvido antes. Arrependimento misturado com tristeza.
Parei de dançar, sem acreditar no que ouvia.
— História que você destruiu, filha que você matou em minha frente! Uziel, você enlouqueceu se acredita que sou sua, pois os únicos sentimentos que tenho por você são ódio! — sussurrei irada, preferia dar vazão aos meus sentimentos e berrar o que estava entalado em minha garganta, mas não vou estragar tudo por ele.
— Selene...
— Você tinha tudo! Lhe entregaria o mundo, estava louca por você! Mesmo que não me quisesse, tudo seria seu, apenas se me deixasse com minha filha! — interrompi, irada, seu olhar desviou para o chão e ele fechou os olhos com força. — O único sentimento que tenho por você é ódio, mas apenas por ter tirado minha filha de mim!
— Esse é o maior arrependimento da minha vida... ter feito mal à nossa filha... — ele murmurou com semblante que nunca vi, arrependimento misturado à tristeza. — Nunca deveria ter agido dessa forma, deveria ter assumido as duas e me dói pensar que não tenho como voltar atrás.
Ele não estava dizendo isso!
— Deixa de ser hipócrita! Você matou um ser completamente indefeso que era metade sua, tudo isso com um sorriso no rosto, não foi impulso, foi premeditado e você admitiu isso!
O que ele esperava que fizesse? Acreditasse cegamente que ele tinha algum tipo de sentimento por mim?
Queria gritar, mas me contive, sentindo a tensão explodindo em cada célula do meu corpo.
— Juro que estou arrependido, minha querida...
Meu olhar totalmente irado o paralisou, ele suspirou rendido.
Essa atitude era patética demais para ele!
— Não me chame de minha querida! Escuta bem o que vou dizer a você, melhor se conformar, esse seu teatro não vai funcionar comigo, não foi apenas a minha filha que matou naquele dia, mas também a idiota inocente que acreditava em tudo que você falava, agora deixe-me em paz!
Sai rapidamente, deixando-o sozinho em meio à música. Pouco importavam os olhares de curiosidade, já fiz demais, não vou mais fingir simpatia por esse imbecil!
Não compreendia o que ele ganhava agindo como antes, pois era assim que ele era comigo. Doce, malicioso, brincalhão e gentil, suas palavras eram como mel aos meus ouvidos. Tudo que ouvia era como melodia, tanto que acreditava cegamente nele.
Uziel foi meu pior erro, não deveria ter seguido ele, acreditado que ele me amava ao ponto de enfrentar meus pais para que ficássemos juntos. Ele dizia que, se meus pais não aceitassem, nós fugiríamos, renegaríamos a coroa, pois tudo que importava para ele era a mim.
Suas palavras hipnotizaram a jovem ingênua que era, mas agora não é mais assim!
Esse teatro dele era ridículo, não me causou nada além de raiva, tudo que precisava era me manter atenta, pois ele era capaz de tudo.
Estávamos em uma bolha, envoltos numa calmaria que fazia o resto do salão desaparecer. Sentir o corpo de Selene contra o meu era como flutuar. Havia um conforto que não fazia sentido, considerando que tínhamos acabado de nos conhecer. E, no entanto, parecia que não precisava de mais ninguém além dela.
A noite toda, só quis estar a sós com Selene, mas precisávamos socializar, mesmo que isso me irritasse. Ao menos deixei claro a todos as minhas intenções: Selene era a soberana deste reino.
Não importava o que dissessem as leis, estava casado com a herdeira do trono e não iria permitir que tirassem seu lugar. Ela já perdeu demais, e usar meu poder para proteger seu direito não era sacrifício.
Quando finalmente conseguimos um descanso, não hesitei em puxá-la para dançar, sentindo o calor dela e o desejo que correspondia ao meu. Era quase desconcertante sentir tanto por alguém em tão pouco tempo.
Como isso era possível?
Selene estava se tornando o centro do meu mundo, e não queria impedir isso.
Mas, como sempre, nada acontecia como queríamos. Tive que ver aquele idiota estragar tudo.
Como ele ousou chamá-la para dançar?
E ainda a chamou de minha querida na minha frente!
Ele queria me fazer perder o controle. Via isso em cada palavra, em cada gesto premeditado. E, pela forma como a provocou, não deu a ela nenhuma chance de recusar. A sensação de vê-lo segurá-la em seus braços embrulhava meu estômago. Saí rapidamente para não fazer besteira ali, diante de todos.
Selene não deveria estar ali, dançando tão próxima a ele!
A raiva era quase insana, um sentimento novo e selvagem. Senti o sangue ferver, as correntes elétricas pulsando pelas veias. Queria arrancar aquelas malditas mãos que a tocavam como se ela ainda fosse dele.
Maldito elfo!
O mundo não perderia nada se ele sumisse.
Fechei os punhos ao vê-lo aproximar o corpo dela ao seu. Não acreditava que ele estava jogando na minha cara que ela já foi dele.
— Está com uma cara assassina. Melhor se acalmar, ou os súditos vão pensar que seu rei é um tirano — provocou meu irmão, Loki, com um sorriso brincalhão. Suspirei irritado, sem desviar os olhos daquela cena repugnante.
Será que ele não percebia que estava se aproximando demais?
— Loki, por tudo o que é mais sagrado, não agora! — rosnei, furioso.
O sorriso de Uziel para Selene fez meu estômago revirar de novo. Sabia que Loki só queria ajudar, mas estava prestes a descontar nele a raiva que estava sentindo.
— Relaxa, não quero te irritar mais. Mas notei algo sobre aquele elfo — a seriedade na voz de Loki chamou minha atenção. Seus olhos estavam focados no casal irritante na pista de dança. — Ele está proclamando posse sobre sua esposa diante de todos.
Era óbvio. E não podia agir, não podia me deixar guiar pelo ciúme!
Desviei o olhar para eles, notando o quanto estavam próximos, em uma exibição clara de intimidade. Era como um lembrete amargo de que ela já pertencera a ele.
O coração dela ainda pertencia a Uziel, e não havia nada que pudesse fazer.
— Quero matá-lo por isso — rosnei, a fúria latente.
Queria acabar com ele por muitas razões. Pela dor que causou a Selene, pela vida inocente que tirou, pela filha dela, que nunca foi ameaça para ninguém. Mas não serei hipócrita: o que mais me enfurecia era a maneira como ele a tocava, como se ela ainda fosse dele.
Estava sendo um tolo possessivo, eu sabia. Prometi que jamais a trataria assim, mas a raiva não me deixava em paz. Selene era minha esposa. Não queria ser arcaico, mas ela era minha, e eu dela. Era errado pensar assim?
Afastei o olhar antes de perder o controle. Não estava gostando dos sentimentos que estavam surgindo, ainda mais ao vê-la com outro, com ele, que tinha um lugar em seu coração que eu nunca poderia ocupar.
Loki colocou uma taça de hidromel em minhas mãos, o olhar cúmplice.
— Precisa relaxar, beba — murmura ele, com um sorriso.
Loki estava certo, eu precisava me distrair.
— Thor, eu não sei o que ela tem com esse elfo e nem quero saber. Mas tome cuidado. A forma como ele a olhava... era puro veneno. Não havia nenhum sentimento genuíno ali — alertou Loki, sério.
— Eu sei. Quero matá-lo só por respirar o mesmo ar que ela. — Desviei o olhar para a pista, onde eles continuavam próximos demais.
Maldito! Ele estava marcando território, proclamando-a como dele para todos verem.
Apertei o copo, quase o quebrando.
— Não precisa ficar com ciúmes, todos podem ver que ela está desconfortável — Loki apontou para o rosto de Selene, que demonstrava sua própria raiva para Uziel.
Sabia que ela o odiava, mas também sabia que ele foi seu primeiro amor, talvez o único. Selene entregaou sua alma a ele, e agora via que nunca teria espaço.
Será que ela conseguiria me amar?
Os elfos amavam uma única vez na vida. Se Uziel foi seu primeiro amor, o que sobraria para mim?
Meu peito se apertou. A ideia de que Selene nunca me amaria como amou Uziel era sufocante. Seria apenas um acordo político, um mero amigo em seu coração, forçado a partilhar seu reino e seu corpo. Nunca seria importante para ela, nunca seria nada além de um acordo.
Era isso que éramos, afinal: um tratado de paz entre Alfheim e Asgard.
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