Capítulo 6
Capítulo 6
A água do chuveiro quase não estava aquecida, mas a pele de Daniel formigava e seus músculos relaxaram. Ele inclinou a cabeça para trás e enxaguou o resto do xampu de seus longos cabelos. Realmente foi apenas um dia desde o meu último banho? Merda, parece uma vida inteira. Ele apertou o condicionador na palma da mão e alisou-o. Talvez devesse usar o cabelo curto como Samuel? Mas por mais que tentasse, Daniel não conseguia se imaginar cortando o cabelo.
Daniel abriu os olhos e viu Samuel em pé na porta do banheiro.
- Seu time ganhou? - Ele perguntou, só porque não conseguia pensar em mais nada.
- Não faço ideia. As regras são bem malucas.
Daniel sorriu, mas notou a postura autoconsciente de Samuel ao lado da fileira de chuveiros. Daniel propositalmente pegou o que estava no fundo, o mais distante da porta, e se perguntou se eles tinham um chuveiro para cada um. Esse seria o seu?
- Este chuveiro é o seu favorito?
- Não, está tudo bem, eu apenas tento entrar e sair daqui antes que todos os outros cheguem - o ex-policial murmurou e tirou suas roupas empoeiradas para rapidamente entrar no fluxo de água. Era óbvio para Daniel que Samuel estava desconfortável, mas ele não conseguia entender o porquê. O caminhante permaneceu meio afastado, mas não para esconder sua bunda ou pênis. Daniel notou tanto nos poucos olhares que ele conseguiu esgueirar. Pelo que ele podia ver, Samuel tinha um corpo bonito; um pouco de pelo no peito que se arrastava pela barriga até um pênis que Daniel não se atreveu a encarar. Definitivamente não havia nada para se envergonhar. Mas quando o homem estendeu a mão para passar a barra de sabão pelos fios de seu cabelo cortado, Daniel teve um vislumbre de ... ele não tinha certeza se era alguma coisa ou um truque da luz. A lateral do corpo de Samuel, a pele parecia diferente. Era a cor errada, ou a textura errada, talvez? Daniel se recostou na água e balançou a cabeça. - "Tudo o que penso ultimamente são sombras e sonhos".
Quando o excesso do condicionador foi levado pelo ralo, não havia desculpa para ficar sob a água. Além disso, Daniel sabia que os outros não estariam muito longe, e ele não planejava dar uma visão pública de todas as suas tatuagens e piercings. Ele desligou a água, reuniu seus produtos de higiene, e envolveu uma toalha em volta da cabeça e a outra em volta da cintura. Suas roupas foram jogadas em um banco do outro lado do banheiro e ele pensou em secar e se vestir ali, mas quando olhou para Samuel, notou que o caminhante havia se virado para esconder novamente parte de seu corpo.
- Ninguém me disse onde vou ficar esta noite - disse Daniel quando chegou à porta e percebeu que não sabia para onde deveria ir.
- O último quarto - disse Sam sem olhar em volta. - É o que fica ao lado de Beto.
- Obrigado - Daniel respondeu e saiu.
Ele ouviu os assobios antes de ver os homens observando-o de seu jogo de futebol.
- Ótimo - ele murmurou e acenou em sua direção, ignorando os insultos de brincadeira sobre suas tatuagens e piercings de mamilo.
Beto riu quando passou por ele e disse - Você se jogou na cova dos leões, meu amigo, mas eles são bons garotos e não querem ofender.
- Sim, eu tenho ouvido muito isso ultimamente - Daniel resmungou. - Samuel disse que este é o meu quarto? - Ele inclinou a cabeça para a porta aberta perto do velho Beto.
- É, e se você ouvir algo parecido com um terremoto durante a noite, não entre em pânico será apenas eu roncando. Entre e se vista, porque o sino do jantar será tocado em breve, e será espaguete, galinhada e de sobremesa: pudim. Você não quer perder isso.
Daniel acenou com a cabeça e se retirou para o quarto, embora, uma vez lá dentro, viu que havia duas camas de solteiro e uma delas tinha a mochila de Samuel sobre ela. Não havia muito mais no pequeno cômodo. Cada cama tinha uma mesinha de cabeceira, havia um lavatório e espelho, duas cadeiras de madeira e um armário que parecia mais velho do que o Beto contra a parede. Mas quando Daniel testou a cama, ela era macia e o lençol estava limpo. Ele já dormiu em lugares piores. Muito piores.
Ele estava vestido e secando o cabelo quando seu novo colega de quarto passou pela porta. Samuel exibia um enorme sorriso e nada do desconforto do banheiro.
- O velho Beto disse que é noite de espaguete com galinhada e isso geralmente significa pudim de pão para depois - anunciou ele alegremente.
- Sim, ele me disse - Daniel respondeu e olhou em volta para onde pendurar a toalha molhada.
- Dá aqui. - Samuel pegou e juntou com a sua. - Elas secam rápido no corrimão da varanda e ninguém vai pegá-las.
Daniel o seguiu para fora, onde suas toalhas foram penduradas ao lado da de Samuel.
- Tem certeza de que está tudo bem eu ficar aqui hoje à noite? Devo me oferecer para pagar ou algo assim?
- Você já pagou. O trabalho de um dia é mais que suficiente.
- Não parece suficiente.
- É o suficiente. Vou até a cozinha e pegar nossa comida antes que as hordas desçam. Volto em um minuto.
Daniel se virou e olhou para Beto, que simplesmente deu de ombros. - Samuca não come com o resto de nós. Ele prefere trazê-lo aqui.
***
O jantar, como prometido, foi servido em grandes porções e seguido por uma porção igualmente considerável de pudim de pão. Comida simples feita em grandes quantidades para satisfazer a barriga de peões famintos. Samuel comeu o seu e um pouco do de Daniel antes de o par se juntar a alguns dos outros homens no jogo de pôquer do barracão.
As brincadeiras e tentativas de trapacear lembraram Daniel das noites de sábado ao redor da mesa da cozinha de sua família. Não era pôquer naquela época, mas os numerosos jogos de tabuleiro eram simplesmente uma desculpa para conversas em família. Eles conversavam e riam até o que pareciam as primeiras horas da manhã para os irmãos jovens, mesmo que fosse apenas uma hora depois da hora normal de dormir. Foi uma época em que qualquer história poderia ser contada. Não havia segredos guardados, exceto talvez como uma rachadura apareceu no vaso sobre a lareira ou como o pacote meio comido de biscoitos de chocolate foi escondido em sua caixa de brinquedos. Foi uma época em que Daniel sorria tanto quanto seu irmão.
Os peões apostavam com dinheiro, não com fichas, e a pilha de moedas de Daniel crescia continuamente à medida que a noite avançava. Samuel, por outro lado, não tinha o rosto para o pôquer. Ele sorriu ou gemeu com a queda das cartas e cada jogador esperou por sua reação antes de apostar, mas o ex-policial levou tudo com diversão. Ele ainda estava rindo quando seu chamado "aposto tudo" significou a perda de suas últimas cinco moedas. Daniel se ofereceu para dividir seus ganhos, mas Samuel não quis saber disso.
- O dinheiro não significa muito aqui, exceto talvez uma cerveja extra ou um novo par de botas -, explicou.
Daniel deixou todas as moedas na mesa para reabastecer a geladeira de cerveja.
***
O dormitório estava na escuridão quando algo agitou Daniel de seu sono. Deitou-se de barriga para cima e piscou algumas vezes até que seus olhos se ajustaram ao quarto. Não havia relógio digital ou aparelhos eletrônicos ligados para identificar áreas do cômodo, mas ele viu que a porta estava aberta. Daniel sentou-se rapidamente e olhou para a outra cama. Estava vazia. Ele balançou as pernas para o lado do colchão e enfiou os pés nas botas antes de se aventurar lá fora.
Samuel estava encostado no corrimão, olhando para os currais. O cigarro entre os lábios incendiou-se por um momento antes que um jato de fumaça cinzenta se elevasse no ar frio da noite.
- Eu não sabia que você fumava - Daniel disse baixinho por falta de algo melhor para dizer.
Samuel não se virou. - Só quando estou aqui - ele murmurou. - E só quando eu sei que isso não vai me matar. - Ele puxou o cigarro e a ponta se tornou um pequeno farol de luz no escuro.
Daniel se juntou a ele na varanda, onde ficaram em silêncio assistindo nada em particular. Embora a noite o esfriasse através de sua camiseta e calça de tecido, Daniel permaneceu ao lado de Samuel. No fundo de seu núcleo, ele sabia que ele era necessário.
O ex-policial ofereceu-lhe o cigarro, mas Daniel balançou a cabeça com a explicação - Não quero retornar a nenhum dos meus vícios.
Samuel assentiu.
- Posso perguntar em que situação a luz de um cigarro te mataria? - A pergunta foi hesitante, mas a noite parecia ser a hora de faze-la.
Depois de um momento de silêncio, Samuel ergueu o cigarro e começou. - Sempre tem um ou dois vigias. Você sabe que eles estão lá ao redor da casa que serve de cativeiro, observando você à noite, esperando por qualquer coisa. Às vezes, nós acendíamos alguns cigarros para ver se eles mordiam a isca. Agitávamos a pequena luz vermelha girando no ar como um convite para eles começarem e assim poderíamos entrar atirando, ou só para saber se estavam armados e gastarem munição à toa.
- Eles mordem a isca?
Samuel se encolheu, como se tivesse momentaneamente esquecido a presença do outro homem e balançou a cabeça. - Não, eles não são idiotas. Apenas agem como se tivéssemos feito o que eles queriam. - Samuel sugou o ar da noite e expirou antes de tirar o cigarro da boca e jogar no chão de terra batida. Brilhou por alguns segundos antes de morrer na poeira. - O velho Beto me disse que vamos caminhar amanhã - ele disse e se virou para sorrir para Daniel.
- Porra, eu não sei - respondeu Daniel. - Chego na entrada do parque em uma hora de carro.
- E então o que? Vai dar meia-volta e dirigir para casa?
- Sim, eu acho que sim. - Daniel deu de ombros porque chegar ao parque foi tão longe quanto ele pensou sobre isso. Ele podia ver que Samuel estava esperando por uma resposta melhor, mas ele realmente não tinha uma. - Eu só ... oh porra, eu realmente não sei.
- Então você precisa percorrer a jornada e descobrir isso, ou pular em um ônibus de turismo, juntar-se com todos os outros turistas para fingir ser um explorador de cavernas, e posar para a sua foto para mostrar que você esteve lá e fez isso.
Um arrepio percorreu Daniel. Pode ter sido o ar frio da noite, mas ele duvidava disso. - Quanto tempo levará para caminhar até lá?
- O tanto certo - disse Samuca. - O tanto que você precisar.
- Merda - Daniel murmurou.
**
Olá caminhantes,
Um pouquinho dos demônios do Samuel mostraram a cara. Mas, foi bem rapidinho. Nem o Dani nem nós conseguimos ver o quadro todo.
Como será que vai ser essa caminhada até o coração, hmm?
bjokas e até a próxima att.
**
Não consigo por a mídia que eu quero. Seria a música A Estrada dos titãs.
Estou na estrada
Ou a estrada é que está em mim
Tenho pressa
Será que a estrada é que não tem fim
Em cada curva uma vontade
Em cada reta uma ilusão
Se eu queria uma resposta
Só encontro interrogação
O tempo passa
Ou será que quem passou fui eu
Vou em frente
Não conheço outra direção
Se estou sozinho não é meu destino
Se estou perdido sinto a solidão
Se estou sozinho não é por acaso
Se estou perdido entrei na contra-mão
Ela não acaba
Quando chego em casa
Ela não acaba
Quando eu chego
Estou na estrada
Ou essa estrada passa onde estou
Tenho pressa
Não interessa até aonde eu vou
O tempo passa
Ou foi o vento que passou então
Vou em frente
Aonde foi que eu perdi o chão
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