Capítulo 11
Queria colocar na mídia a música O que é o amor, da Selma Reis. Mas não vai.
Procurem escutar. É uma linda canção de amor
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Capítulo 11
Assim que eles saíram, eles gastaram o tempo vagando pela borda do afloramento rochoso, olhando as trilhas e evitando cobras ocasionais se protegendo do calor antes do frio do pôr do sol. Ao anoitecer, Samuel encontrou uma ampla caverna que lhes daria algum abrigo da tempestade que se aproximava e montaram acampamento. Daniel abriu o lençol de plástico e juntou-o aos sacos de dormir enquanto Samuca construía o fogo. Tudo parecia tão natural que Dani questionou quanto tempo tinha passado desde que saiu do sofá do seu irmão.
— A essa hora na semana passada eu ainda estava em BH — disse ele e se endireitou para ver a primeira faísca de fogo pegar o ramo de gravetos.
— O quê? — Samuel perguntou e empilhou mais alguns paus.
Daniel se aproximou e sentou-se perto dele. — Eu estava apenas dizendo que foi apenas na semana passada que eu ainda estava em Belo Horizonte. Parece um mundo inteiro de distância.
— Talvez porque seja — Samuca concordou e se estabeleceu no chão ao lado dele.
— Você acha que vai voltar a fazer essa caminhada?
— Provavelmente, um dia.
— Eu não tenho certeza se poderia ficar longe. Quer dizer, esse lugar é incrível, mas não é onde eu pertenço.
— O que faz você pensar que você não se encaixa num lugar como esse? — Samuel perguntou e cutucou o fogo para agitar algumas novas chamas.
Essa deveria ter sido uma pergunta fácil de responder, mas Daniel se viu olhando desfocado para o fogo. Finalmente ele deu de ombros e admitiu — Não sei. Talvez eu simplesmente não me encaixe. — Um braço fez seu caminho ao redor de seu ombro e Samuel o puxou para mais perto.
Lá está de novo, Daniel pensou no calor que o preenchia." Eu pertenço a você? Ou será que esta parte da minha história termina com ... era tudo apenas um sonho?"
— O que está passando por essa sua cabeça, Dani, porque está fazendo cara feia?
— Apenas imaginando o que vai acontecer quando chegarmos no Coração e for a hora de irmos para casa.
— O que você quer que aconteça?
A pergunta de Samuel o testou. Ele deveria dizer a verdade? Dizer ao caminhante como ele se sentia quando via aquele sorriso radiante; que havia possibilidades de algo estar certo em sua vida? Ou pegar o caminho mais fácil e mentir?
— Está tudo bem, Dani — Samuel disse baixinho e um pouco triste. — Temos que chegar lá primeiro. E o amanhã é apenas uma ideia e não a realidade ainda.
O braço desapareceu do ombro de Daniel, e ele observou Samuca mexer com a lata de café.
— Precisamos chegar lá — o ex-policial murmurou. — O suprimento de café está chegando a níveis perigosos.
— Isso é uma catástrofe — disse Daniel e levantou-se para pegar suas canecas.
***
O jantar foi preparado em silêncio, mas enquanto mastigavam o último dos biscoitos, a conversa começou lentamente.
— Então, o que você quer para o seu aniversário? Uma bicicleta nova e brilhante?
Daniel riu. — Uma vermelha com serpentinas no guidão.
— As pessoas ainda fazem isso? — Samuel perguntou.
— Eu duvido. As crianças são muito "descoladas" para coisas assim agora. Meus sobrinhos preferem jogos de computador onde você luta contra monstros no ciberespaço, e não em seu próprio quintal.
— É assim que você conseguiu isso? — Samuca perguntou e bateu na sobrancelha.
Daniel sentiu a pequena cicatriz. — Isso foi uma briga com uma árvore. Eu estava tentando pegar a mão do meu irmão e errei. Meu rosto encontrou o único tijolo no jardim.
— Ai.
— E você? Como você conseguiu sua cicatriz? — A pergunta pesou entre eles, e Daniel mal respirava, esperando por uma resposta.
— Explosão de granada — disse o ex-policial em voz baixa e olhou brevemente para Daniel sobre a borda de sua xícara de café de lata.
— É com isso que você sonha?
Naquela hora, Samuel sacudiu a cabeça. — Poderia ser mais fácil se fosse. — Ele abaixou a xícara e respirou fundo. — Eu sonho com o que vi, não com o que aconteceu comigo. Isso apenas prova que as feridas externas se curam mais rápido que as internas. Não estou inteiro.
Daniel queria dizer algo que ajudaria, mas tudo o que saiu foi —Sinto muito, Samuel.
— Eu também — Samuca murmurou, então se sacudiu e sorriu. — Agora, de volta ao seu aniversário.
— Tomanocu.— Daniel riu da reversão instantânea no tópico.
— Hmm, sempre uma possibilidade se isso manter o sorriso em seu rosto.
Tão bom quanto o sexo soava, Daniel sabia que não era o que ele precisava. — Você mantém o sorriso no meu rosto, Samuel — disse ele.
— Então, sem sexo selvagem no seu aniversário? — Samuca disse.
Daniel riu e correu os dedos pela barba rala da bochecha de Samuel. — Não estou descartando a possibilidade, mas apenas me deixe acordar com você ao meu lado, ok?
— Isso é fácil — Samuel sussurrou.
***
Um trovão retumbou seu rosnado baixo através das rochas e ao redor de seu abrigo. Daniel ouviu através de seu sonho sobre um caminhão passando do lado de fora da janela do seu quarto. Ele rolou procurando o corpo ao lado dele, encontrando apenas o fundo frio do saco de dormir. Um clarão iluminou o interior de suas pálpebras e foi imediatamente perseguido por um estrondo de balançar os ossos.
Daniel se levantou e lutou para jogar fora o lençol de plástico. Outro flash riscou acima dele apenas um segundo antes do boom inevitável. Ele se encolheu ao ouvir o som e estendeu a mão para Samuel. Não havia ninguém. Dani olhou para o espaço vazio. Ele se lembrava vagamente de Samuca se levantar mais cedo para fazer xixi, mas ele também se lembrava de ter se acomodado de novo sob o lençol.
— Samuel — ele gritou e esperou. Não houve resposta além de um clarão ofuscante e uma nova onda de barulho. Ele saiu do saco e se levantou. Pequenos flashes de luz iluminaram a área ao redor, não mostrando nenhum sinal do caminhante.
— Samuel! — Ele tentou de novo, muito mais alto, mas com um ligeiro tremor.
Dani se levantou e ouviu. A pressa de seu próprio medo se misturava em seus ouvidos com o quase constante estrondo do trovão.
— Onde diabos você está, Samuel? — Ele murmurou e esfregou os braços nervosamente enquanto observava a noite.
— "Acalme-se" — Daniel repreendeu-se e sentou-se no saco de dormir para esperar. — "Sua mochila está aqui ... até suas botas. Ele não te deixou aqui".
Outra descarga elétrica seguida de barulho o sacudiu e Daniel olhou novamente para as botas.
— Isso não está certo. — Ele pegou suas próprias botas, sacudiu-as de cabeça para baixo e as calçou. O trovão parecia rolar ao redor dele, deixando-o nervoso. — É só o trovão, Dani ... só isso. Apenas o trovão.
Daniel agarrou as botas de Samuel e caminhou até as rochas. Ele não tinha ideia de em que direção Samuca tinha ido. Havia um par de aberturas no afloramento de pedras e Daniel olhou entre os dois.
— Este é o mais próximo — disse ele para a trilha escura e se aproximou. Seu coração bateu mais rápido e ele parou apenas dentro da passagem.
— Porra, porra, porra —, ele gemeu e olhou para o pequeno espaço que ele podia ver. — É melhor você estar aqui, Samuel.
Mais alguns passos e ele tinha certeza de que as pedras se fechavam atrás dele. O peito de Daniel se apertou; ele engoliu a respiração rasa e sacudiu os braços. O ar crepitava e ricocheteava entre as rochas, arrepiando os cabelos na nuca. Ele sabia que tinha que chegar a Samuel. Rápido.
— Onde você está, Samuel? — Dani gritou pelo caminho, apenas para ter sua voz engolida pela descarga de luz branca e o trovão. Mas houve outro barulho. Daniel ficou parado e escutou. Lá está ele de novo! Ele franziu a testa e se esforçou para entender. Um grito distante de uma cacatua elevou-se acima do ar estrondoso.
— Isso não está acontecendo! — Daniel gritou para o pássaro, apenas para ouvir o grito novamente. Com um último olhar para trás na direção do acampamento, ele subiu a trilha sinuosa. As rochas vibravam sua própria eletricidade sob suas mãos enquanto ele se espremia entre uma rachadura em uma rocha gigante. Suas costelas doíam do contato com a pedra enquanto ele passava, e começou a duvidar que o caminhante pudesse ter atravessado a passagem.
De novo o grito do pássaro!
Foi alto.
Perto.
Daniel olhou para cima para ver a cabeça branca balançando, observando-o de onde marchava impaciente ao longo da rocha. Um flash de luz branca explodiu sua visão e ele caiu para a frente através da abertura em um espaço aberto.
Trovão rachou alto diretamente acima dele e ele tropeçou em seus pés.
— Você está aqui, Samuel? — Ele disse e sentiu suas palavras ecoarem pelo minúsculo espaço. Não havia sinal do ex-policial, mas ele sabia. Sabia que ele estava lá.
— Dani?
Daniel se virou para encontrar a fonte da voz, mas apenas rochas altas estavam de sentinela.
— Onde você está, Samuel? Não consigo encontrar você.
Uma sombra se moveu na borda de sua visão. Samuca se endireitou no espaço e deu um passo à frente. — Eu estou aqui ... está tudo bem, Dani — ele disse baixinho, apenas para se afastar quando outra rodada de trovão sacudiu acima deles.
— É só uma tempestade ... como o velho Beto disse. Apenas uma tempestade — repetiu Daniel enquanto contornava a beira das rochas. Ele estendeu a mão e sentiu os dedos ásperos.
— Sinto muito — Samuel sussurrou. — Eu não estava lá quando você acordou.
— Mas eu te encontrei, não foi? — Daniel disse. — E eu vou precisar de você para nos tirar daqui.
Samuca acenou com a cabeça, mas não parecia muito certo em deixar o seu buraco.
— Nós podemos ficar aqui por enquanto, ok? — Daniel murmurou e passou o braço ao redor dele. — Nada pode nos alcançar aqui. — Ele os abaixou para se sentar com as costas contra a parede de pedra e segurou Samuel perto.
Daniel olhou para as finas veias de luz que atravessavam as nuvens. — Eu acho que está acabando. Um show de luzes bastante impressionante, no entanto. —Ele se virou e sorriu para Samuel, mas ele não estava olhando para as nuvens. Daniel seguiu a linha de visão do ex-policial e seu sorriso ficou mais amplo. Com as asas dobradas atrás das costas como um velho dando um passeio, a grande cacatua branca contornava a beira das rochas. Ela parou e olhou para eles, dançou de pé para pé, então abriu suas asas e voou para longe.
— Viu só? Você está em casa, Samuel. Este é o seu sertão — Daniel disse e deu um beijo suave em sua têmpora.
— Você trouxe minhas botas — Samuca murmurou.
Daniel o beijou novamente e assentiu. — Que tal colocá-las em seus pés e ver se podemos encontrar o nosso saco de dormir?
Samuel assentiu e pegou as botas. Seus dedos se atrapalharam e uma bota. Ele se esticou para pegá-la, mas Daniel o parou.
— Eu pego — disse ele e agachou-se na frente de seu amigo. Dani cuidadosamente limpou a terra e o cascalho dos pés de Samuel e colocou a bota velha e desgastada. — Eu não pensei em trazer nenhuma meia, me desculpe — ele murmurou enquanto passava os dedos sobre os arranhões sob os dedos de Samuel antes de puxar a segunda bota.
— Você fez melhor que eu. Eu esqueci as botas.
Dani sorriu. A voz de Samuel continha uma pitada de humor. Ele olhou para cima e viu os mesmos olhos perdidos, mas uma contração no canto dos lábios. — Foi assim que eu soube que algo estava errado. Eu vi que você as deixou para trás.
— Sinto muito por ter te deixado, Dani.
— Você não queria. Eu sei que você não pode evitar.
Samuca sacudiu a cabeça. — Eu deixei você mesmo assim.
— Mas eu vim atrás de você. E eu te encontrei.
Dani observou Samuel franzir a testa; não era uma carranca ruim, mas uma pensativa. Ele passou a mão pelo cabelo curto e esperou.
— Nós somos um par bagunçado, não é?
— O policial e o viciado — Daniel disse com uma risada autodepreciativa.
— Ex-policial e ex-viciado — Samuel o corrigiu.
— Estamos chegando lá.
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Olá caminhantes,
Espero que estejam todos bem. Como vcx sabem meu marido faleceu no sábado. Decidi não parar meus projetos. Acho que ele não iria gostar. Mas, estou mais lenta.
Os traumas do Samuca estão ficando mais evidentes. Mostrando a fragilidade do ex-policial em comparação com a determinação e força do Daniel, que não tem uma boa autoestima. Como será que eles terminarão essa jornada?
Bjokas e até a próxima att.
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