Capítulo 1
Capítulo 1
Um empoeirado sedan verde estava parado no acostamento da estrada vazia. Tinha meio tanque de combustível, o radiador estava cheio e o carro ligaria se a chave fosse girada na ignição. Mas ainda estava lá enquanto o sol se punha laranja e vermelho abaixo do horizonte sem fim.
Daniel Oliveira estava sentado no teto do carro que roubara de seu irmão mais velho. Não houve maldade no roubo. Muito pelo contrário. Ele amava seu irmão e sabia que ele se importava, então depois de uma longa conversa que se estendeu até tarde da noite, Daniel sabia que Silvio o entenderia por pegar o carro "emprestado".
O último raio do sol brilhou, depois desapareceu, deixando um colorido final que irradiava no horizonte e sumia lentamente até as estrelas surgirem. Daniel se deitou. O teto do carro se dobrou, mas voltou à forma normal. Estava quente através do tecido fino de sua camiseta e queimava a pele exposta de seus braços, mas ele não se importou. Era bom sentir alguma coisa.
O ar esfriou rapidamente sob o céu noturno sem nuvens. Daniel levantou a mão e olhou para as estrelas através de seus dedos. Ele não conseguia se lembrar de alguma vez ter visto tantas. O céu na cidade grande é escuro, sem vida. Os dedos se fecharam e se abriram novamente ao redor da meia lua. Era a mesma lua que ele via todas as noites em BH, exceto naquela noite, ela parecia um pouco perdida na imensidão estrelada. Daniel fechou a mão em um punho e sentou-se.
A estrada se estendia à sua frente, reta, intacta, até ser engolida pela noite.
Daniel escorregou para o capô e depois balançou as longas pernas para ficar ao lado do carro. Inclinou-se pela janela do lado do motorista e girou a chave o suficiente para acender os faróis. As luzes iluminaram o asfalto e refletiram as linhas curtas, brancas dividindo a pista em duas. Ele caminhou até a frente do carro e olhou para sua sombra alongada. Ele se sentia errado a tanto tempo.
— Amanhã — ele murmurou, sentando no banco do motorista e virou o carro de volta para a pequena cidade à beira da BR.
***
— Oi querido, já está de volta? Estou feliz que você tenha decidido não encarar a mata hoje à noite. Muito esperto. Pegue o mesmo quarto, e eu terei a chave esperando por você na recepção quando você estiver pronto para subir — disse Mila, a proprietária da pousada, detrás do balcão. — Posso convence-lo a jantar desta vez? — Ela levantou um cardápio com sua lista muito pequena de refeições e sorriu.
— Não, obrigado — disse Daniel educadamente. — Apenas um suco de laranja, por favor.
— Você sabe que você não vai durar muito tempo lá fora se não colocar alguma sustança em seu corpo — brincou ela, mas Daniel apenas sorriu e separou o dinheiro para sua bebida.
Os outros poucos clientes observaram-no caminhar até uma mesa num canto. A pousada da Mila era a última antes de um grande trecho de estrada deserta, então eles estavam acostumados com um visitante ocasional, mas não com aqueles que pareciam como Daniel. Com sua pele pálida e vestido de preto, longos cabelos lisos e negros, e uma miríade de tatuagens, ele atraía poucos olhares nas ruas de Belo Horizonte, mas ali, tão ao norte, ele poderia ser confundido com um alienígena.
— Fugiu de um filme de terror — ele ouviu um murmúrio, mas não se ofendeu. Isso era exatamente o que ele parecia em comparação com os velhos vestindo jeans que tomavam cervejas no bar.
— Isso é o suficiente, Bino. Cuide da sua própria vida — Mila repreendeu quando passou por ele com o suco de Daniel. — Ignore-os. Eles fofocam como homens aposentados sentados em velhas cadeiras na porta de casa.
Daniel sorriu e pegou a bebida. O suco era ácido em sua língua e gelou o caminho para sua barriga vazia, mas ele rapidamente tomou metade do copo.
Os velhos perderam o interesse no cara estranho da cidade assim que Mila colocou um conjunto de dominó na frente deles e anunciou — O vencedor ganha bebidas de graça pelo resto da noite.
Daniel recostou-se contra a parede e começou a assistir o jogo, com suas discussões bem-humoradas e um monte de trapaça. A tagarelice dissolveu-se em zumbido de fundo e o foco de Daniel vacilou. Rostos dos jogadores perderam a definição e a melodia de uma canção que ele cantou na escola seduziu suas pálpebras e o arrastou para o sonho de dançar com sapos e urubus ... — "Só pra ver no fim da festa como é que sapo voa ..." — A linha da música ecoou e se tornou mais insistente.
— Vamos lá, querido. Você está dormindo em pé.
Daniel piscou e olhou para a proprietária. — Me desculpe eu ...
— Você parece cansado. Acho que é hora de subir as escadas para o seu quarto. Sua chave já está na recepção.
Os velhos ainda bebiam e jogavam. Daniel endireitou-se em seu assento, a cabeça ainda tão cheia de nuvens que ele olhou cegamente ao redor, sem perceber que estava olhando indiscretamente para um homem que colocava uma última garfada de torta na boca. O homem olhou para cima e, ainda mastigando, lançou lhe uma piscadela insolente.
Daniel ficou olhando por mais alguns segundos, sem compreender que estava acordado, em seguida, forçou os lábios em um sorriso envergonhado antes de desviar o olhar. Ele inclinou-se para a mesa e esfregou os olhos até os fios de pensamentos se conectarem em padrões coerentes.
Finalmente, a promessa de lençóis limpos e um colchão macio o fizeram ficar de pé. Seu primeiro passo foi um pouco instável, mas Daniel sabia que era simplesmente o preço da caminhada de longa distância, e se ele subisse as escadas, ele poderia realmente dormir uma noite inteira.
A fechadura da porta foi o próximo desafio, e os dedos entorpecidos de Daniel se atrapalharam com a chave antiga. Não acertava a fechadura, depois parecia que não era a correta que estava dentro. Ele conseguiu mais cedo, mas em seu estado exausto, a fechadura e a porta de seu quarto na Pousada da Mila pareciam conspirar contra ele. A testa de Daniel caiu contra o número de metal na porta; o parafuso do "um" espetou sua pele. Ele suspirou cansado.
— Levante um pouco a maçaneta — disse uma voz por trás. — É uma porta velha e a fechadura tem jogo.
Assustado, Daniel deu um passo para trás, mas o outro homem apenas sorriu e fez o truque com a porta. Com um pequeno meneio da chave e um empurrão, a porta se abriu.
— Aí está. Durma bem, companheiro, parece que você precisa. — Outra piscadela e o homem continuou seu caminho pelo corredor.
Daniel observou até que o desconhecido sumisse na curva da escada e entrou em seu quarto. Ele reuniu a última de sua energia para desatar os longos cordões de suas botas de couro pretas e tirar seu jeans apertado antes de cair na cama.
Demorou um minuto ou dois para a tensão em seus músculos se soltar. A imagem mental de si mesmo acalmando centímetro por centímetro lentamente deu ao seu corpo permissão para relaxar. Dedos primeiro, depois pés, pernas, quadris ... o aperto em seu intestino era mais teimoso. Daniel encheu os pulmões de ar e lentamente exalou. Repita se você precisar. Daniel fez o que lhe foi ensinado e um número suficiente de nós desfez-se, de modo que ele afundou lentamente no colchão.
Ele não dormiu na noite anterior. Discussões mentais e expectativas lutaram por atenção em seus pensamentos, apenas para serem usurpados pelo medo. O medo de que ele não tivesse sucesso e que fosse obrigado a voltar de mãos vazias.
Não comece isso de novo. A tensão voltou para o corpo dele. Daniel forçou seus pensamentos para a estrada. O longo e interminável trecho de asfalto ladeado por ambos os lados pela vegetação; a estação seca não chegou ainda, mas isso viria. O refrão da infância estava lá novamente em sua mente enquanto ele viajava mentalmente pela estrada e a história que ouvia quando criança sobre um sapo que queria ir numa festa de pássaros no céu, o embalou até dormir.
**
olá caminhantes,
vamos embarcar nessa jornada com o Daniel?
vambora,
bjokas e até a próxima att.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro