Capítulo 29
Quando terminaram o chá, David pegou os controles remotos sobre a mesa de centro e entregou um para Marjorie.
— Preparada para a “tortura” do filme japonês, Cutler? — ele perguntou, com um sorriso divertido, enquanto se ajeitava no sofá, afofando as almofadas atrás de si.
Marjorie revirou os olhos, mas pegou o controle com um sorriso no rosto.
— Já disse que não tenho medo da sua “tortura”, Walker. Mas, se o filme for muito chato, eu me reservo o direito de mudar para um documentário sobre a vida marinha. Que tal?
David riu, balançando a cabeça.
— Documentário sobre a vida marinha? Ah não, Cutler, aí já é tortura demais para o meu gosto. Mas relaxa, A Viagem de Chihiro não tem nada de “vida marinha depressiva”. Pelo contrário, é pura magia — apontou o controle para a TV e apertou o botão “play”, as luzes da sala diminuindo suavemente, criando uma atmosfera acolhedora e intimista.
A tela da TV se iluminou, preenchendo o cômodo com as cores vibrantes e a música melódica da animação japonesa. Marjorie e David se acomodaram no sofá, lado a lado, mas mantendo uma distância respeitosa, os olhos fixos na tela, absorvendo os primeiros minutos do filme em silêncio.
No início, a atmosfera era de descontração e curiosidade mútua. Marjorie observava a animação com um sorriso leve, redescobrindo as cenas mágicas e os personagens cativantes de A Viagem de Chihiro com um olhar adulto, enquanto David parecia genuinamente envolvido pela história, rindo em alguns momentos, suspirando em outros, com a mesma animação de uma criança descobrindo um mundo novo e fascinante.
Em certo ponto do filme, quando Chihiro, a protagonista, se sente sozinha e perdida em um mundo estranho e hostil, Marjorie sentiu um aperto no peito, uma pontada de identificação com a personagem sensível e deslocada. E, naquele momento, como se lesse seus pensamentos, David se inclinou levemente na direção dela, sussurrando baixinho, quase imperceptível em meio à trilha sonora envolvente do filme:
— Triste, né? — David murmurou, o tom surpreendentemente suave e… compreensivo. — Mas não se preocupe, bruxa Cutler. No final, tudo fica bem. É tipo… a magia da animação japonesa, sabe? Até a tristeza vira beleza no final.
Marjorie virou o rosto para encarar David, surpresa com o comentário sensível e inesperado. Os olhos azuis dele brilhavam com uma intensidade diferente. Mais suave. Mais humana.
E, pela primeira vez naquela noite, Marjorie sentiu que estava começando a ver além da máscara de sarcasmo e provocação do David Walker. Que, por trás daquele “garoto problema” enigmático e sedutor, existia talvez… um garoto sensível, atento e profundamente interessante.
Um sorriso hesitante surgiu nos lábios da Marjorie, um sorriso genuíno e quase terno.
— É… meio triste, sim — ela murmurou de volta, a voz baixa e suave, acompanhando o tom de David. — Mas bonito, né? E mágico como você disse. Acho que… estou começando a entender a “magia da animação japonesa”, Walker. E talvez… a sua também.
David sorriu de canto, o olhar fixo nos olhos da Marjorie por um instante que pareceu durar uma eternidade.
— É só o começo da magia, bruxa Cutler — ele sussurrou de volta, a voz ainda mais rouca e baixa, quase um segredo compartilhado. — Confia em mim. A noite está só começando. E a magia… também.
E, naquele momento, como se a “magia” do filme tivesse realmente invadido a sala de estar da Marjorie, o ar entre eles se carregou de uma eletricidade palpável, uma tensão crescente e inegável. A distância respeitosa no sofá começou a diminuir imperceptivelmente, os olhares se tornaram mais demorados e intensos, os sussurros mais próximos e carregados de segundas intenções.
Em algum momento, durante uma cena em que Chihiro e Haku, o misterioso dragão, voavam juntos em meio a um céu estrelado e mágico, Marjorie sentiu a mão do David roçar de leve a sua mão sobre o sofá.
Um toque casual, quase acidental, mas que enviou um choque elétrico por todo o seu corpo. Ela hesitou por um instante, prendendo a respiração, o coração batendo descompassado no peito. E então, com uma ousadia inesperada, quase impulsiva, Marjorie não recuou. Pelo contrário, ela moveu os dedos de leve, roçando-os de volta nos dedos do David, em um contato tímido, exploratório, mas inegavelmente intencional.
E, no momento em que os dedos deles se entrelaçaram, em um aperto suave, mas firme, Marjorie soube, com uma certeza intuitiva e avassaladora, que a “viagem” deles naquela segunda-feira à noite, não seria nada “civilizada”. E que, talvez, essa fosse a “magia” mais irresistível de todas.
O filme continuou a se desenrolar na tela, mas a atenção da Marjorie já não estava totalmente focada nas aventuras de Chihiro no mundo mágico. Agora, sua mente e seu corpo estavam hiperconectados com a presença de David ao seu lado, com o calor da sua mão na sua, com a eletricidade palpável que dançava no ar entre eles, prenúncio de algo mais algo inevitável.
E, como se atendesse aos seus pensamentos mais íntimos e secretos, David se virou para ela de repente, o rosto a centímetros do rosto dela, os olhos azuis faiscando com uma intensidade… provocadora? Desafiadora? Irresistível?
— Sabe de uma coisa, bruxa Cutler? — David sussurrou, a voz rouca e baixa, quase um comando. — Acho que a gente merece uma “recompensa” por ter sobrevivido a tanta “magia japonesa” sem virar sapo ou zumbi, não acha? E acho também que essa recompensa… — fez uma pausa dramática, o olhar fixo nos lábios dela, com uma intensidade hipnótica. — …talvez devesse envolver um certo “quarto” que eu ainda não tive o prazer de explorar. O que você acha da ideia, bruxa Cutler? Topa continuar a “exploração mútua” num território… mais íntimo?
A proposta de David pairou no ar, carregada de uma tensão palpável, de uma promessa implícita, de um convite irrecusável ao território desconhecido do desejo mútuo. Marjorie sentiu o coração acelerar ainda mais no peito, o rubor invadir suas bochechas, a respiração prender na garganta.
Mas, antes que Marjorie pudesse sequer formular uma resposta, David se inclinou ainda mais, quebrando a barreira da hesitação, selando seus lábios em um beijo apaixonado, urgente, avassalador, que silenciou todas as vozes da razão, anulou qualquer vestígio de resistência, e a transportou para um universo paralelo de sensações intensas e inegavelmente mágicas.
O beijo se aprofundou, se intensificou, se tornou tudo o que importava naquele momento. O filme na tela, a sala de estar aconchegante, o mundo exterior… tudo desapareceu, engolido pelo turbilhão de emoções que a invadiam por completo. A mão de David deslizou do rosto dela para a nuca, aprofundando o beijo, enquanto a outra mão agarrava sua cintura, puxando-a para mais perto, colando seus corpos em um contato íntimo e inequivocamente excitante.
Marjorie cedeu completamente ao beijo, entregando-se de corpo e alma àquela nova realidade que se abria diante dela. Seus braços envolveram o pescoço de David instintivamente, os dedos se enroscando nos cabelos macios da nuca, puxando-o para mais perto, correspondendo à urgência do beijo com uma voracidade que a surpreendeu até a ela mesma. A língua de David explorava sua boca com uma ousadia crescente, um ritmo frenético e incendiário, que acendia um fogo há muito adormecido em seu corpo, despertando desejos jamais antes experimentados.
Em meio ao beijo apaixonado e cada vez mais demandante, a mão dele deslizou da cintura da Marjorie para a barra da sua camiseta, roçando de leve a pele quente e sensível da barriga, enquanto os dedos da Marjorie, por sua vez, se aprofundavam ainda mais nos cabelos da nuca de David, puxando-o para mais perto, buscando mais contato, mais intensidade, mais… tudo.
Mas, em algum recôndito da sua mente, a voz da razão ainda sussurrava, lembrando-a de que aquela “noite mágica” não poderia durar para sempre. E que, por mais que ela desejasse se entregar completamente àquele momento inesperadamente… perfeito, a realidade da segunda-feira à noite, da aula na manhã seguinte, inevitavelmente voltaria a interromper aquele fluxo quente e envolvente. E, em meio ao turbilhão de sensações, uma ideia começou a germinar na mente da Marjorie, uma ideia que misturava desejo e razão, entrega e autocontrole, paixão e… responsabilidade.
Com um esforço ainda maior do que da última vez, Marjorie começou a diminuir a intensidade do beijo, afastando os lábios de David lentamente, mas mantendo o corpo colado ao dele, os braços ainda envolvendo seu pescoço, o rosto colado ao rosto dele, a respiração ofegante misturada à dele.
Ele se aproximou um pouco mais, diminuindo a distância entre eles, a voz agora quase um sussurro confidencial.
— Mas, falando sério, Cutler… — David hesitou por um instante, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. — Obrigado. Pelo chá. E por… me receber na sua casa. Sei que talvez não pareça, mas… — ele desviou o olhar por um segundo, como se estivesse ligeiramente constrangido. — Mas eu tava precisando disso, sabe? De um pouco de civilidade. E de um chá de camomila com mel mágico, claro — voltou a encará-la, um sorriso genuíno, quase doce, iluminando seus olhos azuis. — Então, valeu, bruxa Cutler. De verdade.
Marjorie sentiu um calor gostoso se espalhar pelo peito com as palavras inesperadamente sinceras do David. Um sorriso genuíno surgiu em seus lábios, dissipando qualquer vestígio de nervosismo ou hesitação.
— Não por isso, Walker — respondeu, o tom mais suave do que de costume, o olhar fixo nos olhos azuis do David, agora brilhando com uma intensidade palpável. — Eu também… — hesitou por um instante, a palavra “precisando” pairando no ar entre eles, carregada de um significado implícito e inegavelmente íntimo. — … também tava precisando de um pouco de civilidade, Walker. E, confesso, de uma noite como esta.
Ela piscou um olho lentamente, o sorriso divertido voltando a brilhar.
— Talvez até de um “garoto problema convertido em príncipe encantado” pra variar um pouco a rotina mágica da bruxa sábia — ela completou a frase com um sorriso divertido e um leve rubor nas bochechas, sustentando o olhar desafiador do David por alguns instantes que pareceram durar uma eternidade.
No momento seguinte, porém, a ousadia da Marjorie pareceu dissolver-se sob a intensidade do olhar do David, e um nervosismo palpável substituiu o tom brincalhão, fazendo-a desviar o olhar ligeiramente, quase como se tivesse se arrependido da própria provocação. David, percebendo a hesitação da Marjorie, aproveitou o momento para se aproximar ainda mais, diminuindo perigosamente a distância entre eles, o hálito quente roçando sua bochecha.
— Príncipe encantado, é? — ele sussurrou, a voz ainda mais rouca e baixa, o tom carregado de insinuação. — Hum… interessante essa sua rotina mágica, bruxa Cutler. Muito interessante. E confesso que estou começando a ficar bem curioso pra conhecê-la melhor.
David aproximou-se ainda mais, diminuindo a distância entre eles a zero, o rosto quase colado ao rosto dela, os olhos fixos nos lábios da Marjorie.
— Por acaso envolve algum tipo de… exploração de território desconhecido, bruxa Cutler? Tipo… um certo quarto que eu ainda não tive o prazer de visitar no seu porão medieval? Que me diz, bruxa sábia? Topa explorar o território desconhecido do seu príncipe encantado hoje à noite? Ou tá com medo de se perder no labirinto mágico do castelo do Walker? — o sorriso malicioso voltando a brilhar, mas agora com uma intensidade inegavelmente sedutora.
— David…
Marjorie murmurou de novo, a voz rouca e entrecortada, o olhar perdido nos olhos azuis do David, que a encaravam com uma intensidade deslumbrada e ligeiramente confusa.
— Espera… um pouco… — ela respirou fundo, tentando organizar os pensamentos que insistiam em girar em sua mente como um turbilhão. — Eu… eu gostei muito de... De tudo, Walker. Muito mesmo.
Corou ligeiramente, um sorriso tímido surgindo nos lábios.
— E confesso que estou começando a ficar bem curiosa pra explorar esse território íntimo que você mencionou. Mas… — hesitou por um instante, o tom mais sério agora, o olhar ligeiramente preocupado. — Amanhã tem aula, David. E eu… eu preciso acordar cedo. E estar completamente despertada pra aula. Sabe como é… — forçou um sorriso nervoso, tentando quebrar a tensão palpável que pairava no ar entre eles. — Eu sou a “bruxa sábia e aplicada”, lembra? Tenho obrigações acadêmicas mágicas a cumprir.
David permaneceu em silêncio por alguns instantes, o olhar fixo no rosto da Marjorie, como se estivesse tentando decifrar se ela estava falando sério ou apenas tentando escapar da tensão sexual crescente entre eles. Então, um sorriso malicioso curvou seus lábios, e ele se afastou o suficiente para encará-la nos olhos com um brilho divertido e provocador.
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