Capítulo 26
— Em tão pouco tempo, Walker? — Marjorie provocou de volta, o sorriso agora abertamente flertuoso, o olhar desafiando o dele. — Se você acha que me impressiona tão fácil assim, acho que superestima as suas… habilidades.
David riu, um som curto e divertido, mas o brilho nos olhos azuis intensificou-se, revelando um misto de excitação e antecipação?
— Ah é, Cutler? — ele sussurrou, o polegar ainda acariciando a pele macia do rosto dela, agora descendo lentamente até o queixo, inclinando levemente o rosto de Marjorie para cima, forçando-a a manter o contato visual. — Então me diga, Marjorie, o que seria preciso para impressionar você… de verdade?
O tom de voz dele, agora sussurrando seu nome, o toque suave e firme no queixo, o olhar fixo e penetrante, tudo aquilo fez Marjorie sentir o coração errar uma batida, o rubor nas bochechas aumentar, a respiração prender na garganta. Ela sabia que estava entrando num jogo perigoso, um jogo de sedução e provocação mútua com David Walker. Mas, para sua surpresa, e talvez para seu deleite, Marjorie descobriu que estava ansiosa para jogar.
— Me surpreenda, Walker — ela respondeu, a voz agora quase inaudível, mas carregada de um desafio silencioso, de uma promessa velada. — Me mostre algo que eu nunca vi antes. Algo que me faça questionar tudo o que eu pensava que sabia.
David sorriu, um sorriso lento, satisfeito, quase predador? Ele se aproximou ainda mais, o rosto agora a centímetros do dela, o hálito quente e mentolado roçando seus lábios.
— Questionar tudo o que você pensava que sabia, hum? — ele repetiu, o sussurro agora ainda mais rouco, mais íntimo, mais perigoso. — Adoro um bom desafio, Marjorie. E adoro surpreender.
E com essas palavras pairando no ar, como uma promessa, como uma ameaça, como um convite irresistível, David manteve o rosto próximo ao de Marjorie por mais um instante, os olhos fixos nos dela, o corpo tenso e expectante. Então, em um movimento rápido e inesperado, ele se afastou, soltando o queixo dela e abrindo um sorriso largo e divertido, quebrando a tensão palpável que pairava entre eles.
— Mas por enquanto, — David disse, elevando um pouco o tom de voz para se fazer ouvir acima da música da festa, o brilho divertido voltando a dominar seu olhar — que tal a gente deixar as surpresas para mais tarde, e aproveitar um pouco da festa? Que me diz, Cutler? Topa encarar a pista de dança comigo, ou prefere que eu continue te impressionando com os meus… dotes de beijoqueiro?
Marjorie piscou, um pouco desorientada pela mudança repentina de tom e pela forma como David dissipara a tensão do momento anterior com uma piada. Mas o sorriso divertido dele era contagiante, e a sugestão de “curtir a festa” soava, de repente, surpreendentemente… atraente.
— Pista de dança, Walker? — Marjorie respondeu, arqueando uma sobrancelha cética, mas com um sorriso divertido também começando a surgir em seus lábios. — Sério? Achei que garotos problemáticos como você preferissem bancar os misteriosos nos cantos escuros, em vez de… dançar “música chiclete” com garotas como eu.
David riu de novo, um som mais aberto e divertido, balançando a cabeça levemente.
— “Garotos problemáticos”, agora? Nossa, Cutler, como você me desmascarou — ele respondeu, com um brilho divertido nos olhos azuis. — Talvez eu tenha um lado… digamos… mais eclético do que você imagina. E, além disso, — ele piscou um olho, o sorriso se tornando ainda mais provocador — quem disse que eu não posso ser misterioso e dançar “música chiclete” ao mesmo tempo?
Marjorie revirou os olhos, fingindo irritação, mas o sorriso divertido em seus lábios entregava o contrário.
— Convencido — ela murmurou, mas já se deixando levar pelo braço que David lhe oferecia, permitindo que ele a guiasse em direção à pista de dança improvisada no centro do ginásio. — Mas eu ainda estou de olho em você, Walker — ela acrescentou, o tom de voz carregado de um aviso divertido, enquanto se deixava conduzir para o meio da multidão animada. — Se começar a bancar o “misterioso” demais na pista de dança, eu me reservo o direito de voltar para o meu canto… e deixar você sozinho com a sua “ecleticidade”.
David gargalhou, um som gostoso e espontâneo, envolvendo a mão de Marjorie com a sua enquanto a guiava habilmente através da multidão dançante.
— Não se preocupe, Cutler — ele respondeu, a voz um pouco mais alta para superar o volume da música, mas ainda carregada de diversão e algo mais? — Eu prometo ser o mais “desproblemático” possível pelo menos por uns cinco minutos. Depois disso, não garanto nada.
E com um sorriso tranquilo e um último olhar provocador, David puxou Marjorie para a pista de dança, guiando-a habilmente por entre os grupos de adolescentes que se moviam no ritmo da música pop chiclete que ecoava pelo ginásio.
Marjorie inicialmente sentiu-se um pouco deslocada naquele mar de corpos em movimento, as luzes estroboscópicas piscando em seus olhos, o som alto vibrando em seus ouvidos. Mas a mão de David em sua cintura, guiando-a suavemente, e o sorriso divertido que ele lhe lançava de vez em quando, a fizeram relaxar um pouco e começar a se deixar levar pela batida contagiante da música.
Eles dançaram por algumas músicas, em um ritmo descontraído e divertido, mais rindo um do outro e trocando comentários sarcásticos sobre a performance alheia do que realmente se dedicando a passos elaborados. Para Marjorie, acostumada ao isolamento dos livros e bibliotecas, a experiência era estranhamente libertadora. Deixar-se levar pela música, mover o corpo sem pensar muito, rir abertamente com David no meio da multidão era inesperadamente agradável.
Em algum momento, porém, a necessidade de um respiro e, mais urgentemente, de encontrar um banheiro se fez sentir.
— Preciso de uma pausa e encontrar o banheiro — Marjorie gritou no ouvido de David, tentando superar o volume ensurdecedor da música.
— Banheiro, é? — David repetiu, num tom malicioso. — Tudo bem, Cutler. Vou te escoltar em segurança até o “território inimigo”. Mas promete que volta?
Marjorie semicerrou os olhos, fingindo irritação, mas com um sorriso divertido nos lábios.
— Você sabe que eu vou voltar, Walker — ela respondeu, deixando-se guiar por David para fora da pista de dança, em direção à área menos movimentada do ginásio, rumo aos banheiros.
O banheiro era amplo e elegante, com mármore negro nas bancadas e luzes brancas que brilhavam frias no teto alto, reverberando o eco distante da música abafada. O ar cheirava levemente a produtos de limpeza e flores doces, uma tentativa vã de mascarar o desinfetante onipresente da escola. O espelho, que ocupava quase toda a extensão da parede, refletia a imagem de Marjorie de forma nítida demais. Os olhos brilhantes, as bochechas quentes, o batom levemente borrado nos lábios. Ela sentia um leve tremor nas mãos e não conseguia respirar direito.
Apoiada na pia de porcelana branca, gelada sob seus dedos, Marjorie tentou ignorar o burburinho distante da festa, abafado pelo som constante da música e pelo eco ocasional de vozes femininas. Mais perto, o som irritante de uma torneira pingando em gotas lentas ressoava no silêncio elegante. Seus dedos apertaram a borda fria da pia, como se o contato com o material sólido pudesse acalmá-la.
O gosto de David ainda estava ali, doce e mentolado. Ela passou a língua pelos lábios, como se isso pudesse apagar a sensação do beijo, mas não adiantava. A lembrança era forte, quase tangível, o calor dos braços dele ainda a envolvia em sua memória. O que foi aquilo?
Seus pensamentos estavam um caos. Seu corpo, um traidor, respondendo a um toque como se fosse a coisa mais natural do mundo. E sua mente, completamente perdida, tentando desesperadamente racionalizar o inexplicável. Porque, no fundo, não era só sobre o beijo. Era sobre o jeito como David a olhou antes. Como se soubesse exatamente o que estava fazendo com ela. Como se estivesse a testando, medindo sua reação. E pior: como se tivesse gostado da reação dela.
"Um beijo é só um beijo", tentou se convencer, olhando fixamente para seu reflexo no espelho. Mas sabia que não era verdade.
A porta do banheiro se abriu com um leve clique. Marjorie olhou rapidamente pelo reflexo do espelho e sentiu um aperto no estômago ao ver Haille entrar. O som elegante dos seus saltos ecoou no mármore. Ela parecia impecável como sempre. O vestido justo cor de vinho abraçava suas curvas, os cabelos longos e castanhos estavam arrumados com perfeição e os olhos amendoados, levemente puxados, carregavam aquele brilho frio e calculado. Uma presença forte. Inabalável.
Haille a viu. E parou, avaliando-a de cima a baixo com um olhar demorado. Por um instante, um silêncio carregado reinou, apenas o som constante da música abafada preenchendo o espaço entre elas. Então, sem se deter, Haille caminhou com passos firmes até a bancada e ficou ao lado de Marjorie, observando-a fixamente pelo espelho. O olhar dela desceu brevemente até os lábios de Marjorie, captando o pequeno borrão avermelhado de batom.
Haille soltou um riso curto, quase inaudível, mas que ecoou nitidamente no silêncio do banheiro.
— Então é verdade — sua voz era baixa, aveludada, mas carregada de um significado que fez a espinha de Marjorie gelar.
Marjorie piscou, sentindo o rosto esquentar sob o olhar avaliador da outra.
— O quê?
— Você e o Walker.
O coração de Marjorie deu um pulo estranho no peito, acelerando o ritmo descompassado. Não havia um "eu e o Walker". Não existia “nós”. Mas tentar explicar isso para Haille, naquele momento, parecia uma completa perda de tempo. Então, com um leve encolher de ombros, permaneceu em silêncio, sustentando o olhar da outra através do espelho.
Haille, por outro lado, parecia ter muito a dizer. Um sorriso mínimo curvou seus lábios, mas não alcançou os olhos frios.
— Escuta, eu não sou o tipo de pessoa que faz cena — começou, virando-se apenas o suficiente para encará-la diretamente. — Mas, como alguém que já esteve onde você está, eu vou te dar um aviso: toma cuidado.
Aquelas palavras, ditas com tanta convicção e um quê de ameaça velada, causaram um desconforto imediato em Marjorie.
— Cuidado? — repetiu, franzindo a testa, tentando disfarçar a crescente irritação.
— Sim. Você não faz ideia do que está fazendo — Haille afirmou, mantendo o olhar fixo, como se pudesse ler a alma da Marjorie através do espelho.
Haille disse aquilo com uma certeza quase irritante, como se possuísse algum conhecimento secreto, alguma verdade incontestável sobre David. Como se estivesse um passo à frente, vendo um perigo que Marjorie era ingênua demais para perceber.
— Ah, claro — Marjorie cruzou os braços, tentando soar indiferente, mas sentindo o tom defensivo inevitável em sua própria voz. — Porque você sabe tudo sobre ele, não é?
Haille inclinou a cabeça de leve, um micro-movimento quase imperceptível, mas que transmitia uma confiança absoluta.
— Sei — a resposta veio rápida, firme. Sem a menor hesitação. Isso fez um calafrio percorrer a espinha da Marjorie, um incômodo estranho que se instalou no estômago, como se Haille realmente tivesse algum direito sobre esse conhecimento. Como se existisse uma parte de David que só ela conhecia, um território proibido onde Marjorie não era bem-vinda.
— Então me ilumine — Marjorie ironizou, erguendo uma sobrancelha, o tom ácido agora transparecendo em sua voz.
Haille deu um meio sorriso de escárnio, finalmente desviando o olhar do reflexo de Marjorie. Virou as costas e caminhou em direção à porta, deixando um rastro de perfume caro no ar.
— Você é esperta, Marjorie. Só não se iluda — disse, antes de alcançar a saída do banheiro. A mão elegante pairou sobre a maçaneta por um instante, como se hesitasse em partir. Então, com um último olhar de soslaio por cima do ombro, completou, em um sussurro quase ameaçador: — O Walker não é um príncipe encantado.
E então, Haille desapareceu porta afora, deixando Marjorie sozinha novamente, no silêncio frio do banheiro.
Marjorie continuou encarando seu reflexo no espelho, a imagem da Haille, impecável e enigmática, ainda pairando no ar. "Bobagem", pensou, respirando fundo, tentando afastar as palavras da outra como se fossem moscas irritantes. Mas, por mais que se esforçasse, a semente da dúvida já estava plantada. O que Haille sabia sobre o David que ela não sabia? E por que, de repente, a opinião dela importava tanto? Uma irritação crescente borbulhava em seu peito, misturada com uma pontada de… receio? Ela não precisava que Haille lhe dissesse quem David era. E, no entanto… algo naquela conversa a incomodava mais do que deveria.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro