Capítulo 18
* Sugestão musical para capítulo:
Motion Sickness - Phoebe Bridgers
Marylin ainda exalava felicidade enquanto acompanhava Marjorie de volta ao interior da biblioteca. Mas, aos poucos, enquanto o turbilhão cor-de-rosa se dissipava, Marylin começou a notar a postura mais fechada da irmã. O sorriso hesitante que Marjorie lhe dera antes não alcançava os olhos, e havia uma sombra indefinível pairando sobre o seu rosto.
— Marjorie? — Marylin perguntou, a voz agora mais baixa e suave, um tom preocupado substituindo a euforia matinal. — Você… você parece meio… sei lá. Não tão feliz quanto eu esperava que você ficasse com a minha super novidade. Aconteceu alguma coisa? É por causa daquela garota, a Haille? Ela te disse alguma coisa chata?
Marjorie suspirou, parando no corredor da biblioteca e desviando o olhar para as estantes repletas de livros. O refúgio silencioso parecia chamá-la de volta, um contraste gritante com a explosão de felicidade da irmã.
— Não é nada, Marylin — Marjorie respondeu, tentando manter o tom de voz leve e desinteressado, mas a máscara sarcástica não convencia totalmente. — Só estou processando a sua felicidade matinal. E, sabe como é, felicidade alheia em excesso pode ser meio… indigesta para corações como o meu.
Marylin franziu a testa, o olhar preocupado fixo no rosto da irmã. Ela conhecia aquele tom de voz da Marjorie, a forma como ela se escondia por trás do sarcasmo quando algo a incomodava.
— Marjorie — Marylin insistiu, aproximando-se e colocando a mão no braço da irmã, um gesto raro de afeto mais explícito. — Eu te conheço. E sei que “nada” geralmente significa “tudo” no seu dicionário particular. E não, não é só por causa da minha felicidade, né? Tem mais alguma coisa te incomodando? Foi aquela conversa com a Haille? Ou… ou é por causa do Brandon?
O nome do Brandon pairou no ar como um peso invisível, fazendo Marjorie desviar o olhar ainda mais e apertar os livros contra o peito. A menção do ex-amor, mesmo vindo da irmã com a melhor das intenções, ainda era como um toque doloroso em uma ferida mal cicatrizada.
— Marylin, por favor — Marjorie murmurou, a voz agora quase inaudível. — Não começa com isso agora, tá? Eu já disse que não é nada. Só preciso ficar um pouco sozinha, ler alguma coisa, voltar para o meu refúgio particular com os livros.
— Mas, Marjorie, você nem comeu nada hoje! — Marylin retrucou, a preocupação aumentando ainda mais. — E ficar trancada aqui na biblioteca o dia todo não vai te fazer bem. Principalmente se você estiver… se você não estiver se sentindo bem. Vem almoçar comigo, vai? A gente come alguma coisa na cantina, coloca o papo em dia, esquece um pouco dos problemas… Por favor, Marjorie? Só hoje? Por mim? Pra comemorar o meu dia mais feliz de todos os tempos?
Marjorie hesitou, mordendo o lábio inferior e olhando para o rosto preocupado da irmã. A insistência de Marylin, o brilho radiante nos olhos ainda marejados de felicidade, era difícil de ignorar. E, no fundo, apesar da vontade de se refugiar no silêncio e na solidão, uma pequena parte dela ansiava por alguma distração, por algum respiro naquele turbilhão emocional.
— Só… só um almoço rápido, tá? — Marjorie cedeu, finalmente, um leve suspiro escapando dos lábios. — E sem falar mais sobre… sobre o Brandon, ou sobre… só… almoço. E silêncio, combinado?
Marylin abriu um sorriso radiante, a felicidade voltando a iluminar o seu rosto, aliviada por ver a irmã ceder.
— Combinadíssimo! — Marylin exclamou, pegando no braço da Marjorie e puxando-a gentilmente na direção da saída da biblioteca. — Você vai ver, almoço com a sua irmã mais romântica e feliz do mundo é a melhor terapia que existe! E, prometo, silêncio total. Só… pizza e fofoca leve sobre o modelito da professora de biologia, pode ser?
Marjorie revirou os olhos, um leve sorriso sarcástico a curvar os lábios, mas seguiu a irmã para fora da biblioteca, deixando para trás o silêncio acolhedor das estantes e se encaminhando para o refeitório movimentado e barulhento da Northwood Academy.
O refeitório da Northwood fervilhava com a agitação habitual do horário de almoço. O burburinho das conversas, o tilintar dos talheres, o aroma misturado de comida efervescente e hormônios adolescentes preenchiam o espaço amplo e iluminado. Marylin, radiante, conduziu Marjorie até uma mesa mais afastada, perto da janela, onde a luz do sol entrava em cascata, criando uma ilha de relativa calma no meio do caos estudantil.
Enquanto esperavam na fila do buffet, Marylin continuava a tagarelar sobre o pedido de namoro, os detalhes “mais românticos” das rosas vermelhas e do olhar apaixonado do Brandon, preenchendo o silêncio tenso que pairava entre as irmãs. Marjorie ouvia em silêncio, mastigando a comida sem realmente sentir o sabor, o olhar perdido no movimento dos alunos ao redor.
De repente, Marylin cutucou o braço da Marjorie, a voz agora num tom mais baixo e cúmplice.
— Olha ali, Marjorie! Não é o David? — Marylin apontou discretamente com o queixo para um canto mais afastado do refeitório. — Ele não está conversando com o… com o Jake? Eles parecem super sérios, né? Será que aconteceu alguma coisa?
Marjorie seguiu o olhar da irmã, o coração a acelerar ligeiramente ao reconhecer a figura alta e familiar do David no meio da multidão. Ele estava de pé, encostado numa parede, conversando em voz baixa com Jake. Ambos os rostos estavam sérios, quase tensos, e a proximidade física e a intensidade da conversa transmitiam uma sensação de urgência e confidencialidade.
E então, como se sentisse o seu olhar, Jake ergueu a cabeça e fitou Marjorie diretamente. Os olhos escuros encontraram os azuis de Marjorie, e por um breve instante, o tempo pareceu suspender-se no refeitório barulhento. No olhar do Jake, Marjorie viu mais do que simples curiosidade ou reconhecimento. Viu hostilidade. Desaprovação. Quase fúria. Um olhar fulminante que a percorreu da cabeça aos pés, transmitindo uma mensagem clara e inequívoca: ela não era bem-vinda naquele espaço, naquele círculo, naquele mundo.
Marjorie engoliu em seco, desviando o olhar rapidamente e sentindo um frio percorrer a espinha. O aperto no peito, que ela tentava ignorar desde a manhã, intensificou-se, misturando-se a uma nova sensação de apreensão e medo.
O almoço com a Marylin, que mal havia começado, já havia perdido todo o seu efeito calmante. E a sombra dos “princípios” de David Walker, e do olhar fulminante de Jake, pairava agora sobre Marjorie, mais densa e ameaçadora do que nunca.
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