Capítulo 17
* Sugestão musical para capítulo:
Liability - Lorde
Marjorie ficou parada no meio do corredor, observando David se afastar, a sua figura alta e decidida a desaparecer na multidão estudantil que se encaminhava para o refeitório.
O coração batia rápido, um misto de apreensão e uma estranha expectativa pairando no peito. Rapidamente, Marjorie balançou a cabeça, decidida a afastar aqueles pensamentos intrusivos. Não ia ficar ali a remoer o que David Walker planejava fazer em nome dos seus… “princípios”. O melhor era ignorar. Ignorar a fofoca escolar, ignorar a humilhação, ignorar David e a sua repentina proteção.
Respirou fundo, recompondo a postura e o olhar, e decidiu seguir o seu plano inicial: refugiar-se na biblioteca. Aquele era o seu porto seguro, o lugar onde as palavras dos livros e o silêncio acolhedor das estantes sempre a protegiam do caos exterior. Na biblioteca, entre as páginas amareladas e o cheiro familiar de papel velho, conseguiria finalmente respirar fundo e tentar esquecer David Walker e os seus planos imprevisíveis.
Com passos decididos, Marjorie caminhou para a biblioteca, deixando para trás o corredor movimentado e os sussurros maldosos que ainda pairavam no ar.
Ao entrar no espaço amplo e silencioso, sentiu um alívio imediato. A atmosfera calma e organizada da biblioteca, com as mesas de estudo dispostas em filas ordenadas e as estantes repletas de livros, sempre teve um efeito terapêutico sobre ela. Ali, naquele santuário de conhecimento e tranquilidade, conseguiria respirar fundo e tentar esquecer David Walker.
Enquanto caminhava entre as estantes, em direção à sua mesa de estudo favorita perto da janela, Marjorie sentiu um par de olhos fixos em si. Uma presença intensa e focada nela. Ergueu o olhar, hesitante, e viu Haille Chen. Parada no meio do corredor da biblioteca, com a postura impecável de sempre, Haille parecia esperá-la.
Marjorie sentiu um frio percorrer a espinha. Haille Chen. Uma das garotas mais populares e ricas da Academia Northwood. Linda, desejada, e ex-namorada de David Walker. Os rumores sobre a sua riqueza e beleza corriam pelos corredores da escola, alimentando a aura de inacessibilidade e perfeição que a rodeava. Haille era notória por não tolerar rivais, de qualquer espécie.
Com um sorriso forçado, Haille caminhou até Marjorie, o olhar avaliador a percorrer o uniforme simples e o rabo de cavalo displicente da Marjorie, com um misto de curiosidade e desdém. Marjorie engoliu em seco, apertando os livros contra o peito e sentindo o coração acelerar. O que Haille Chen, a rainha da Northwood, poderia querer com ela?
— Marjorie Cutler, não é? — Haille perguntou, parando em frente a Marjorie, a voz melodiosa e ligeiramente condescendente. — A gente nunca se falou diretamente, eu acho. Mas o seu nome tem andado a circular bastante pelos corredores da escola hoje. E, por coincidência, o nome do David Walker também tem aparecido nas conversas, de uma forma interessante, principalmente em relação ao sábado à noite no Green Door. Dizem que vocês dois estiveram juntos e que depois ele te deixou lá sozinha. É verdade isso, Marjorie? Ou é só mais um boato idiota da Northwood? Porque, sabe como é...
Haille continuou, num tom de voz mais baixo, mas mantendo o sorriso forçado e o olhar fixo.
— Eu e o David temos uma história juntos, não é segredo. E eu ainda me considero “responsável” pelo bem-estar dele. Não gostaria que ninguém estivesse brincando com os sentimentos dele. Principalmente, garotas que talvez não entendam muito bem o “estilo David Walker” de ser. Você me entende, Marjorie?
Marjorie sentiu o veneno nas palavras melodiosas da Haille, o tom condescendente e o sorriso forçado a mascarar uma clara ameaça. Um leve sorriso irônico curvou os lábios de Marjorie, um brilho desafiador a surgir nos olhos castanhos. Se Haille Chen queria guerra, talvez tivesse encontrado a pessoa errada para subestimar.
— Haille — Marjorie começou, com um tom de voz calmo e surpreendentemente seguro, sustentando o olhar avaliador da ex do David sem vacilar. — Que bom que você se considera tão “responsável” pelo bem-estar do David. É realmente louvável essa sua preocupação paternalista. Mas sabe, se você fosse tão essencial para o bem-estar dele assim, talvez vocês ainda estivessem juntos, não acha? Ou será que o “estilo David Walker” inclui ex-namoradas controladoras e ciumentas aparecendo na biblioteca para “proteger” o ex de mim?
Marjorie arqueou as sobrancelhas, com um sorriso ainda mais irônico, observando o leve tremor no sorriso forçado da Haille.
— E, só para esclarecer qualquer dúvida, Haille, — Marjorie continuou, mantendo o tom de voz calmo e ligeiramente divertido. — Não se preocupe com os meus sentimentos em relação ao David. E principalmente, não se preocupe com os sentimentos dele em relação a mim. Nós somos apenas amigos. Apenas amigos. Nada de “brincadeiras com sentimentos”, prometo. E muito menos competições femininas desnecessárias em plena luz do dia na biblioteca da Northwood. Combinado?
Haille piscou os olhos ligeiramente surpresa com a resposta afiada e inesperada da Marjorie. O sorriso forçado desapareceu completamente dos lábios perfeitamente desenhados, dando lugar a uma expressão mais confusa e irritada. Por um instante, o silêncio pesou entre as duas, apenas interrompido pelo sussurro das páginas virando ao longe e o eco distante do movimento dos alunos nos corredores da escola.
Haille avaliou Marjorie por mais um instante, o olhar agora mais frio e calculista, como se tentasse decifrar se a segurança daquelas palavras era genuína ou apenas uma fachada bem construída. Engoliu em seco, apertando a tira da mala de grife entre os dedos bem cuidados, e finalmente recompôs a postura impecável, substituindo a irritação momentânea por um sorriso forçado, apenas ligeiramente menos artificial que o anterior.
— Combinado, Marjorie — Haille respondeu finalmente, o tom de voz novamente melódioso e condescendente, mas com uma ponta ligeiramente mais fria e distante. — Fico feliz que tenhamos nos entendido tão bem. E aliviada em saber que você compreende o “estilo David Walker” de ser. Bom… sendo assim, acho que não temos mais nada a conversar, certo? Tenho certeza que você tem livros mais interessantes para explorar do que a minha… humilde pessoa — Haille concluiu a frase com um sorriso fino e ligeiramente vitorioso, como se quisesse minimizar o impacto da sua pequena “derrota” naquele confronto verbal inesperado.
Sem esperar por uma resposta da Marjorie, Haille virou-se nos calcanhares com a leveza e a graça de uma felina ofendida, e afastou-se pelo corredor da biblioteca, a postura ereta e altiva, a bolsa de grife balançando ritmicamente ao seu lado, os saltos a ressonarem no silêncio relativo do espaço. Mas, apesar da aparente confiança e do sorriso afetado, David, que observava a cena de longe, escondido atrás de uma estante alta de livros de arte, percebeu um ligeiro crispar no maxilar de Haille, um ligeiríssimo apertar dos lábios pintados, um sinal sútil de que as palavras afiadas da Marjorie, apesar de tudo, tinham atingido o seu alvo com precisão e eficácia. Ela não gostou nada disso, pensou David, com um leve sorriso de satisfação a curvar-lhe os lábios. E a Marjorie… a Marjorie foi incrível.
Deixando Haille para trás, Marjorie suspirou aliviada, o corpo ainda ligeiramente tenso pela adrenalina do confronto verbal inesperado, mas com uma sensação de estranha satisfação. Ela enfrentara Haille Chen, a “abelha rainha” da Northwood, e não apenas não cedera à sua intimidação velada, como ainda a tinha desarmado com palavras afiadas e seguras. Talvez eu não seja tão “invisível” e “insignificante” quanto pensava, pensou Marjorie, com um leve brilho de auto-confiança a nascer nos olhos azuis. Talvez eu até consiga ser ligeiramente interessante… quando realmente preciso.
Naquele preciso instante, quebrando o silêncio relativo da biblioteca com a sua energia contagiante e ligeiramente descontrolada, Marylin surgiu no corredor da biblioteca como um furacão cor-de-rosa, o uniforme impecável e o sorriso radiante a iluminar todo o espaço à sua volta. Os olhos brilhavam de excitação, as bochechas coradas e a voz quase inaudível de tanta euforia matinal.
— Marjorie! Marjorie! Adivinha! Adivinha! Adivinha! Você não vai acreditar no que acabou de acontecer! É a melhor segunda-feira da minha vida! Juro! A melhor segunda-feira de todos os tempos! Você simplesmente não vai acreditar!
Marjorie franziu a testa, confusa e ligeiramente alarmada com a agitação da irmã.
— Marylin? O que foi? Por que você está falando tão alto na biblioteca? E por que você parece que vai explodir de tanta euforia matinal? Aconteceu alguma coisa? E principalmente, por que você está me interrompendo no meio da minha sessão terapêutica com os livros? Isso é uma emergência existencial de nível apocalíptico?
Marylin respirou fundo, tentando controlar a excitação e o tom de voz, mas a energia continuava a transbordar.
— Emergência “existencial” de nível apocalíptico, Marjorie, é exatamente isso! Mas de nível mega hiper positivo! Você simplesmente não vai acreditar! O Brandon… o Brandon me pediu em namoro! Agorinha mesmo! Antes da aula de Química! No corredor principal! Com flores e tudo! Flores de verdade, Marjorie! Rosas vermelhas, lindíssimas! Você precisa ver! É a coisa mais romântica e mais incrível que já me aconteceu na vida! Eu estou oficialmente namorando o Brandon! Namorando de verdade! Com pedido e flores e tudo mais! Você está entendendo a gravidade existencial dessa notícia, Marjorie? É a melhor segunda-feira da minha vida! E eu precisava contar pra você agora mesmo! Antes que eu exploda de tanta felicidade e romantismo matinal incontrolável!
Com um sorriso ainda mais radiante e um brilho ainda mais intenso nos olhos, Marylin abriu os braços e abraçou Marjorie com força, esmagando-a num turbilhão de euforia adolescente e perfume floral que, naquele momento particular, parecia ainda mais contrastante e ligeiramente mais doloroso do que o habitual para o coração já fragilizado e ligeiramente sarcástico de Marjorie Cutler, a exploradora urbana de Northwood, perdida entre números, valentões hormonais, ex-namoradas ciumentas, e garotos problema com olhos azuis e uma queda por “princípios”.
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