Capítulo 06
* Sugestão musical para capítulo:
Lover - Taylor Swift
O “paraíso dos hambúrgueres” que David mencionara chamava-se “Burguer Bliss” e, para a surpresa de Marjorie, era realmente um lugar bem legal. Longe da formalidade de um restaurante chique, o Burguer Bliss era um misto de lanchonete retrô e pub moderninho, com paredes de tijolo à vista, mesas de madeira rústica e luzes indiretas criando um clima aconchegante e descolado ao mesmo tempo. O ar cheirava a carne grelhada, queijo derretido e batata frita crocante, um aroma que imediatamente abriu o apetite de Marjorie. Era um lugar com personalidade, notou Marjorie, e David parecia genuinamente à vontade ali.
Encontraram uma mesa mais reservada no canto, perto de uma janela que dava para a rua movimentada. David puxou a cadeira para Marjorie se sentar, um gesto simples, que ela registrou como um traço persistente de seu comportamento. Sentaram-se lado a lado num daqueles bancos corridos de madeira, e Marjorie percebeu que a proximidade física, naquele ambiente informal e acolhedor, já não parecia tão carregada de tensão.
— E aí, impressionada com o meu paraíso particular? — David perguntou, com um sorriso convencido enquanto pegava os cardápios sobre a mesa. Havia um quê de orgulho genuíno na voz dele, Marjorie percebeu, ao falar daquele lugar. Como se o Burguer Bliss fosse mais do que um simples restaurante para ele.
Marjorie riu, pegando o seu cardápio também.
— Confesso que o paraíso me parece bem apetitoso, Walker. Mas vamos ver se os hambúrgueres fazem jus à propaganda.
— Ah, os hambúrgueres… — David suspirou dramaticamente, folheando o cardápio com ar de especialista. — Cutler, você está prestes a ter uma experiência transcendental. Se prepare para o melhor hambúrguer da sua vida. Eu recomendo o “Bliss Burguer” clássico. É tipo… a perfeição em forma de sanduíche.
Exagerado, como sempre, pensou Marjorie, mas com um brilho divertido nos olhos. Ela começava a perceber que aquele tom pomposo era parte do charme de David Walker.
— “Experiência transcendental”, “perfeição em forma de sanduíche”… — Marjorie repetiu, rindo e balançando a cabeça. — Walker, você leva os hambúrgueres a sério demais. É só um hambúrguer, David.
— “Só um hambúrguer”? — David arregalou os olhos, fingindo-se chocado. — Marjorie Cutler, você precisa urgentemente expandir seus horizontes gastronômicos. Um bom hambúrguer não é “só um hambúrguer”. É uma obra de arte, uma sinfonia de sabores, uma…
— Tá, tá, já entendi, Walker — Marjorie interrompeu, rindo mais alto. — Hambúrguer é quase uma religião pra você. Ok, “Bliss Burguer” clássico pra mim então. E o tal milkshake de chocolate que você tanto elogiou. Mas se eu não gostar, você vai ter que compensar com sorvete depois.
— Fechado — David concordou, com um sorriso largo e satisfeito. — Sorvete por sorvete, se for preciso. Mas confie em mim, Cutler, você não vai precisar de sorvete pra melhorar essa experiência.
O sorriso dele era contagiante, Marjorie percebeu. E quando ele sorria assim, abertamente, o sarcasmo parecia sumir completamente, revelando um lado mais leve, mais… acessível?
Fizeram os pedidos a um garçom simpático que parecia conhecer David pelo nome. Enquanto esperavam os hambúrgueres, o silêncio entre eles já não causava desconforto. Era um silêncio diferente daquele do cinema, Marjorie notou, menos carregado, mais… natural. Talvez eles estivessem começando a se acostumar um com o outro?
Marjorie observou David enquanto ele olhava ao redor do restaurante, o olhar avaliando o movimento, a música ambiente, as outras pessoas nas mesas. Ele observava tudo com uma intensidade silenciosa. Como se estivesse sempre absorvendo o mundo ao redor, processando informações que escapavam ao olhar comum.
— Então… — Marjorie começou, quebrando o silêncio suave. — “Walker’s Burger Bliss”. Frequenta muito aqui?
David voltou o olhar para ela, um sorriso divertido brincando nos lábios.
— Digamos que… é meu refúgio gastronômico. Quando preciso de um respiro do caos da vida, ou quando simplesmente tô a fim de comer o melhor hambúrguer da cidade, é pra cá que eu venho.
“Refúgio gastronômico”. “Caos da vida”. Marjorie registrou as expressões. Ele usava termos fortes, quase dramáticos, para descrever coisas… cotidianas? Ou será que o “caos” de David Walker era algo real e palpável?
— E o caos da vida seria… o quê exatamente? — Marjorie perguntou, a curiosidade falando mais alto. — A temível rotina da Academia Northwood? A pressão de ser o garoto problema mais charmoso da escola? — ela provocou de leve, mas havia uma curiosidade genuína por trás da brincadeira. Queria ver até onde David se abriria, quanta profundidade haveria por trás da fachada.
David riu, um riso curto e sem humor. O tom dele mudou ligeiramente, ficando um pouco mais sério.
— Digamos que… o caos da vida é um pouco mais complicado que a Academia Northwood, Cutler — o riso sumiu rápido.
Havia algo mais ali, por trás das palavras evasivas. Um indício de uma complexidade que ela mal começava a suspeitar.
O tom evasivo dele despertou ainda mais a curiosidade de Marjorie. Ela sentiu uma vontade súbita de saber mais sobre aquele garoto enigmático, de desvendar as camadas que ele escondia por trás do sarcasmo e das provocações. Mas ao mesmo tempo, hesitou. Não sabia se tinha o direito de invadir a privacidade dele, se ele sequer estaria disposto a se abrir com ela.
Curiosidade intensa. Marjorie se deu conta. Queria saber mais. Muito mais. Mas… até onde ela podia ir? Ele se abriria? Ou ela estaria apenas sendo indiscreta?
— Entendi — Marjorie respondeu, mantendo o tom casual, mas com um quê de expectativa silenciosa. — Mistérios da vida do garoto problema mais charmoso da Northwood, é isso? Talvez um dia você me deixe desvendar alguns deles, Walker. Se eu for uma boa acompanhante de hambúrguer, claro — tom casual, mas expectativa silenciosa, ela avaliou a própria fala. Um convite velado? Um desafio disfarçado de brincadeira? Ela estava jogando com fogo, e… estava gostando disso.
David sustentou o olhar dela por um instante, o brilho divertido nos olhos azuis agora misturado com algo mais profundo, quase intenso. E pela primeira vez naquela noite, Marjorie sentiu que a curiosidade era mútua. Que David Walker, o garoto problema enigmático da Northwood, também estava começando a querer desvendá-la. O olhar dele… fixo. Intenso. Quase… vulnerável. Marjorie sentiu um frio na barriga ao perceber a reciprocidade naquele momento. Ele também estava curioso sobre ela. Inesperado. Intrigante. E ligeiramente excitante.
Os hambúrgueres chegaram, fumegantes e apetitosos, interrompendo o breve momento de intensidade silenciosa. O garçom colocou os pratos na mesa, junto com os milkshakes de chocolate que pareciam densos e cremosos. O aroma delicioso invadiu o espaço, fazendo a fome de Marjorie se manifestar com força total. Hambúrgueres, pensou Marjorie, finalmente. Ela observou, de relance, David pegar o seu sanduíche com as duas mãos, os olhos fixos no prato como se estivesse diante de um tesouro. Ele realmente levava isso a sério, ela sorriu discretamente.
— Com licença a conversa profunda, mas… hora do banquete! — David anunciou, com um sorriso largo e faminto, pegando o hambúrguer com as duas mãos. — Prepare-se, Cutler, para a oitava maravilha do mundo moderno.
Marjorie riu, pegando seu próprio hambúrguer, já salivando com a visão da carne suculenta, do queijo derretido e do pão macio. Deu a primeira mordida, e os olhos se fecharam por um instante, saboreando a explosão de sabores.
David não estava brincando, aquele hambúrguer era realmente… transcendental. Naquele primeiro contato com o “Bliss Burguer”, Marjorie sentiu o sabor explodir em suas papilas gustativas, uma complexidade de texturas e aromas que realmente justificavam o entusiasmo de David. Ok, Walker, ela admitiu mentalmente, nos hambúrgueres você manda bem.
— Meu Deus — Marjorie murmurou, de boca cheia, os olhos arregalados para David. — Você… você não estava exagerando, Walker. Isso aqui é divino.
David sorriu, satisfeito com a aprovação.
— Eu te avisei, Cutler. Eu nunca erro quando o assunto é hambúrguer. Ou… revelações gastronômicas em geral — havia um tom de brincadeira na voz dele, Marjorie percebeu, mas também um fundo de autoestima que não parecia ser mera pose. Ele confiava em si mesmo, e talvez tivesse motivos para isso.
— Hummm, modesto você, hein, Walker? — Marjorie provocou, entre uma mordida e outra. — E quais seriam as próximas revelações gastronômicas? Pizza? Sushi? Talvez um rodízio de churrasco? Estou aberta a propostas, sabe — ela brincou.
Mas havia um fundo de verdade naquelas palavras. Ela estava realmente curiosa para descobrir mais “revelações” de David Walker, gastronômicas ou não.
David riu, mastigando o hambúrguer com evidente prazer.
— Calma, Cutler, não vamos exagerar no entusiasmo gastronômico no nosso… segundo encontro. Por enquanto, foquemos na perfeição do momento presente. Hambúrguer, milkshake, boa companhia… precisamos de mais alguma coisa?
“Segundo encontro”. Marjorie registrou a expressão mentalmente. Ele estava considerando aquilo um “encontro”? E já falava em “segundo”? Era mais direto do que ela teria imaginado.
Ela considerou a pergunta por um instante, enquanto tomava um gole do milkshake gelado e cremoso. Boa companhia, definitivamente. Hambúrguer divino, com certeza. Milkshake de chocolate… sem palavras.
Boa companhia, ele dissera. Marjorie sentiu um calor no rosto ao ponderar aquelas palavras. Ele achava a companhia dela boa. David Walker estava gostando de estar ali com ela. O milkshake estava realmente perfeito, cremoso e gelado na medida certa. E o hambúrguer… divino era a palavra.
Olhou para David, sentado ao lado dela, comendo com um apetite despreocupado, o cabelo escuro ligeiramente despenteado, os olhos azuis brilhando à luz indireta do restaurante. Naquele instante, observando-o saborear o hambúrguer com tanto… prazer genuíno.
Marjorie sentiu uma onda de calma e contentamento. Uma sensação estranha e inesperada de… perfeição? Não, pensou, naquele momento específico, naquele lugar improvável, com aquele garoto enigmático, ela realmente não precisava de mais nada.
— Acho que… por hoje, estamos perfeitos assim, Walker — Marjorie respondeu, com um sorriso genuíno nos lábios. — Mas não me prometa mundos e fundos gastronômicos se não pretende cumprir, ouviu bem? Minhas expectativas agora estão lá em cima, graças a você.
— Expectativas são feitas para serem superadas, Cutler — David respondeu, com um brilho divertido nos olhos. — E eu, pode apostar, adoro superar expectativas. Em todos os sentidos.
Marjorie sentiu um arrepio percorrer a espinha com aquelas palavras e com o brilho provocador no olhar de David. O que ele queria dizer com aquilo? Era um desafio? Uma promessa? Ou apenas mais uma de suas frases de efeito enigmáticas? De qualquer forma, Marjorie admitiu para si mesma, ele sabia como deixar uma garota curiosa.
O resto do jantar passou num ritmo leve e descontraído. Entre mordidas nos hambúrgueres e goles nos milkshakes, Marjorie e David conversaram sobre coisas banais no início – aulas, professores, os filmes em cartaz, música. Aos poucos, porém, a conversa foi se aprofundando, escorregando para temas mais pessoais, revelando pequenas facetas das suas personalidades e vidas. A conversa fluía com uma leveza surpreendente. De tópicos superficiais, eles foram chegando a assuntos mais íntimos, compartilhando pedaços de si mesmos de uma forma inesperadamente fácil.
David, por sua vez, parecia genuinamente interessado em ouvir Marjorie falar sobre os seus livros preferidos, os seus sonhos de escrever histórias e a sua paixão por comédias românticas “fofas e previsíveis”, como ele gostava de provocar. Ele a questionava com um olhar curioso, incitando-a a explicar o que a atraía naqueles mundos de ficção, a desvendar as camadas por trás da sua aparente doçura e ingenuidade. Ele queria entendê-la, Marjorie percebeu com uma ponta de surpresa. David Walker, o garoto problema, estava interessado em desvendar a ingênua Marjorie Cutler? O mundo dava mesmo voltas.
E assim, enquanto os hambúrgueres desapareciam e os milkshakes diminuíam nos copos, Marjorie percebeu que o “encontro” improvável com David Walker, que começara com um convite despretensioso e algumas provocações sarcásticas, estava se transformando em algo muito mais interessante e inesperado do que ela jamais poderia ter imaginado. O jantar estava chegando ao fim, Marjorie se deu conta, e com ele, uma sensação estranha. Uma mistura de… surpresa? Contentamento? E… uma pitada de… decepção por estar acabando? Inacreditável.
E que, talvez, o garoto problema enigmático da Northwood, por trás de todas as camadas de sarcasmo e mistério, escondia uma complexidade e uma profundidade que ela estava cada vez mais desejosa de explorar. David Walker, Marjorie pensou, enquanto o observava conversar distraidamente com o garçom enquanto pedia a conta. Um enigma completo. Irritante. Intrigante. E… inesperadamente atraente. E Marjorie Cutler, a garota que nunca se interessara pelo “garoto problema” da escola, estava agora… desejando desvendá-lo. Completamente inesperado. E… definitivamente interessante.
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