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Prólogo


Novembro 1865

Nampara, Inglaterra

O padre havia sido chamado com maior urgência naquela noite de Novembro. Sr.Milton pensava que a vida do seu mais novo se lhe esvaía pelas mãos. A febre desconhecida havia já levado dezenas de pessoas na aldeia e John Milton pensava que chegava então a hora de também ele ser atormentado por esta doença levando-lhe o seu filho.

Francis, com 10 anos, não entendia o que se passava mas a verdade é que ardia em febre e mal conseguia respirar, também ele pensava que morreria. O padre chegou para que lhe fizesse a extrema-unção e encontrasse as portas do paraíso abertas na hora da sua partida. O médico, já nada tentava e rezava também para que a morte fosse rápida e não causasse mais sofrimento aquela criança.

Porém, ao fim de alguns dias de sofrimento atroz, Francis parecia recuperar-se do seu estado febril. Para surpresa de todos, sobrevivera.

A partir daquele dia Sr.Milton decidiu que o futuro de Francis seria outro que não o dos irmãos, se Deus o tinha poupado á morte, seria porque estaria destinado a algo maior.

*

Milton era um homem de origem bastante humilde, mas com grande esforço do seu próprio trabalho conseguiu subir na vida e ficar na frente de quase todos os cultivos da sua região. A aldeia vivia sobretudo da agricultura e Milton era o maior produtor não só de gado como de campo de centeio. Os seus filhos mais velhos tinham estudado apenas o básico e depressa se meteram ao trabalho de seguir as pisadas do pai. Tinham ambos grande robustez e avidez para o trabalho e não presavam os assuntos dos estudiosos. Procuravam apenas uma vida simples mas com conforto económico. O mais velho, também ele John Milton, já se encontrava casado com uma dama da terra. Alfred Milton, não tão sortudo com o sexo feminino, e também ainda muito novo, ainda não encontrara o par ideal. Jane Milton, era a sua única menina, pouco mais velha que Francis, a quem parecia não interessar realmente grande coisa, a verdade é que só anos mais tarde encontrou uma felicidade enorme e plena no seu casamento e filhos devindos. Francis era o mais novo, e era bastante mais franzino que os irmãos. Qualquer rajada forte de inverno parecia mortal naquela criatura, por isso, quando a febre se abateu sobre ele sem o matar, todos acharam que havia sido um milagre, e realmente quem sabe o teria sido.


Março 1870

Francis arrumava as suas malas e pertences para embarcar numa nova viagem. Iria finalmente prosseguir os seus estudos na Faculdade de Direito, pretendia tornar-se advogado e o pai tinha as mesma aspirações para ele. Francis, apesar da sua figura frágil, era extremamente hábil com as palavras, conseguia ser um ótimo manipulador quando necessário e parecia entender significados nas coisas para além daquilo que era o visível. O seu pai, embora o adorasse imenso, sentia por vezes que Francis era como se não fosse seu filho, não tinha nada a ver com ele, nem com os irmãos, ou até mesmo com a sua falecida mãe. Francis falava de coisas e assuntos que ninguém parecia entender, e por esse motivo John decidiu suportar todos os custos dos estudos de Francis na capital porque ali, em Nampara, nunca poderia explorar o seu potencial da maneira que realmente merecia.

O mais novo ficou muito receoso com a ideia de sair da sua terra, apesar de o querer muito. A verdade é que por ser o mais novo, e também o mais franzino, acabou sempre por ser mais protegido por todos, tanto família como o resto da comunidade local. Não conhecia nada além daquilo, nunca tinha visto outros campos que não os de Nampara, outras cabeças de gado que não as do seu pai e criadores dos arredores, outras pessoas que não aquelas, e mesmo assim, sentia-se como se não pertencesse ali, e isso era o maior motivo que o fazia rejeitar o seu medo do desconhecido e embarcar numa diligência rumo a Londres.

Depois de arrumadas todas as malas e objetos, e a diligência que o levaria a Londres chegar, seu pai e irmãos e muitos outros membros da comunidade se despediram dele em prantos, diziam-lhe para escrever, para os visitar, para ir dando noticias, contudo, seu pai parecia ter uma postura algo distinta:

- Francis, meu filho, vai, e nunca mais te lembres de nós. Não te preocupes mais com a nossa vida aqui, nada há de mudar aqui. Aqui, nada mais há que campo e nostalgia. Vai, e não voltes até que a tua missão esteja cumprida, seja ela qual for - Quando ouviu isto, Francis não acreditou realmente que o faria, apesar de tudo, gostava imenso do seu pai e irmãos, e não pretendia ficar muito tempo sem voltar á sua terra. Porém meus caros leitores, a verdade é que apenas 13 anos depois da sua partida Francis voltou a Nampara. 

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