capítulo único.
Opa, tudo bem, meus amores?
Não irei falar nada aqui no começo. Gente, dêem a sua estrelinha, comentem bastante e caprtilhe pra ajudar.
Fiquem atentos aos gatilhos!!!!!
Boa leitura!
Lembrando que a one é em primeira pessoa! No começo, Jimin se trata no feminino, certo?
Perdão pelos erros gramaticais.
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Eu sempre me declarei como alguém confuso.
Parecia que eu estava de costas para o mundo, enquanto ele chicoteava a minha derme com os seus julgamentos ou responsabilidades eternas, e repetindo, eu nunca fui tão estranha em toda a minha vida.
Talvez eu esteja errada, talvez eu não nascesse para viver normalmente, assim como os outros vivem. Parece que estou no mundo apenas para respirar e apenas isso.
E isso foi constatado na primeira vez que fui falar verdadeiramente com Deus. Eu tinha treze anos.
Estava com as pernas ajoelhadas, as mãos entrelaçadas e um bico nos lábios. O meu pijama de coelhinho tocava no chão, era um vestido afinal, bom, não gostava dele, mas é o que eu tinha.
Vocês devem estar se perguntando: "O que diabos você estava falando com Deus?"
Bom, eu apenas o questionava do por que eu me sentir tão triste e diferente, com apenas o começo da minha vida tão normal e tediosa, talvez um tanto deprimente.
Era como se eu fosse uma praga, uma aberração, algo que não era para ser.
Mas eu não sabia o que, não sabia o que eu queria ser. Talvez tudo seja tão confuso, que me sentia tão…Diferente?
Essas questões são tão fáceis e difíceis de responder ao mesmo tempo. Talvez eu não seja a adolescente que todos desejavam, que a minha mãe desejava, o meu pai, família...Enfim, eu era uma nada, mais especificamente.
Uma situação que me deixava um tanto quanto pesada, eram os espelhos. Eu os via como monstros, porque eles costumavam mostrar-me a verdade. Refletia a minha imagem do jeitinho que eu sou, do jeito que é para ser.
Uma menina linda de cabelos claros, olhos esbeltos e finos, bochecha gordinha - nunca gostei dessa parte -, corpo simétrico e fora do padrão da sociedade coreana, eu aprendi a lidar com isso da pior maneira. Lábios carnudos e avermelhados, um olhar feminino.
Tudo certo.
Mas tudo está errado.
E esse era o ponto, eu não sabia o que me deixava tão angustiada quando vestia-me de uma forma tão…"Normal". Talvez isso tenha sido o começo do inferno constante na minha vida.
O dia em que eu resolvi odiar a mim mesma, ou talvez onde eu resolvi apontar erros na minha vida cotidiana.
Esta manhã foi o pior dia que eu imaginava, nesse mês, a agenda, enfim, era a segunda. A escola me espera, e adivinha? Eu nunca gostei dessa merda.
Eu arrumava os meus cabelos, enquanto estava sentada diante o espelho, bom, eu continha uma careta, tentando não reparar nos meus traços tão feios. A saia do meu colégio estava um tanto curta, e isso me deixava super desconfortável. Pedi para o meu pai tentar convencer o diretor a abrir uma exceção e me deixar ir de calça.
Mas bem, como resultado, eu recebi uma bela bronca de meu pai, ele gritou dizendo: "Você devia se vestir mais feminino, porque você vestiria calça, você é uma menina!"
Bom, resumindo, não consegui.
Passei o meu batom rosa nos meus lábios. Afastei-me um pouco e avaliei a minha aparência.
Não gostei.
Por isso pego um lenço umedecido e limpo com força, tirando a coloração rosada.
Levantei-me e peguei a mochila que estava jogada em algum canto do quarto, coloquei-a em torno de meus braços e abri a porta, fechando-a novamente quando eu saí e desci as escadas de minha casa. Na minha visão apareceu a cozinha, o cheirinho do café da manhã, o meu humor melhorou rapidinho. Vi a minha mãe de costas para mim, ela vestia um avental para que não se sujasse, era fofo até, florido…Rosa, enfim, bonitinho.
Terminei de descer as escadas e andei até a mesa, logo coloquei um sorriso no rosto, levantando a minha cabeça e comprimentei a minha mãe: ㅡ Olá, mãe, bom dia!
Ela virou sutilmente a sua cabeça e apenas sorriu, fazendo com que os seus olhos sumissem por conta de suas pálpebras. Eu achava isso lindo, nela, não em mim, até porque herdei os mesmos traços dela.
ㅡ Bom dia minha filha, como está? ㅡ ela me questiona de primeira, sua voz doce e gentil.
Dei de ombros, pegando o bully e colocando o café quentinho em um dos copos que estava em meu aguardo, em cima da mesa.
ㅡ Normal. Estou apenas preocupada com as minhas notas no fim do semestre, o professor judiou um pouco da gente ㅡ soltei uma risada arrastada, no fundo sentindo raiva daquele velho nojento. Ele sempre desconta a as coisas na gente ㅡ e a sua manhã, senhorita Yeri, está sendo boa?
ㅡ Oh, está indo bem, minha filha ㅡ me responde, pegando a frigideira e colocando o ovo no prato. Após isso, pegou o objeto de vidro e andou até mim, colocando-a na minha frente. Sinto o meu estômago roncar com um cheiro gostoso. ㅡ aqui, precisa se alimentar mais, minha bebê. Você não tem comido muito bem..
Ah, isso? É porque eu tenho feito dietas absurdas, tentando emagrecer e ficar mais bonita. Sabe? Nada demais. Contudo, estico um sorriso, pegando o copo e bebericando um pouco do café, sentindo gostinho amargo.
ㅡ Fica tranquila, mãe ㅡ digo, após afastar o copo de meus lábios. Ela me olha, visivelmente preocupada. Suspiro, olhando-a com um sorriso ladino ㅡ tô falando sério, está tudo bem! É apenas falta de apetite. Talvez seja os remédios que tenho tomado recentemente, dipirona ou algo assim..
ㅡ Filha…Esse remédio não tira a fome, ele-
ㅡ Eita, olha o horário! ㅡ desconversei, levantando-me e correndo até a porta.
ㅡ Filha, e o ovo!? ㅡ escuto a minha mãe me questionar, quase que chocada com a minha ação.
ㅡ Eu tô com pressa, mãe ㅡ abro a porta e me viro rapidamente, mandando um beijo no ar e sorrindo ㅡ tchau, te amo.
Ela, por fim, suspira novamente, rendida. Levanta o rosto e sorri, acenando para mim.
ㅡ Também te amo, minha filha.
Após a sua resposta, fecho a porta e caminho até o ponto de ônibus. Pego o meu celular na bolsa e coloco os fones de ouvido. Coloquei uma música calma e um pouco baixo astral, eu amo coisas assim.
Espero por mais ou menos um minuto, quando vejo o automóvel virar a esquina e dirigir em minha direção. Logo me apresso para pegar o meu cartão. O ônibus para bem na minha frente, o cheiro horrível de gasolina se infiltra em minhas narinas. Com uma careta, apenas subo e passo o cartão na maquininha, logo passando pela catraca.
Começo a andar pelo corredor, escutando várias pessoas resmungar e conversar sobre assuntos aleatórios e que, sinceramente, não me interessa.
ㅡ Que pernas, hein… ㅡ escuto uma voz masculina dizer em um bom tom, parecendo pouco se importar se eu escutei ou não. Algumas risadas foram soltadas pelos seus colegas.
E eu apenas os ignorei.
Continuei a minha caminhada até o último banco do automóvel, me sentando quando eu vi que estava o mais longe possível desses idiotas. Suspiro e inclino a minha cabeça para trás, sentindo um pouco de desconforto pelas frases que escutei.
Não que não seja a primeira vez, mas essa é a questão, eu nunca vou me acostumar. É tão nojento, me sinto como um pedaço de carne.
E sabe, que merda, pois não posso fazer nada a respeito.
Finalmente o ônibus começou a andar novamente. Comecei a encarar a paisagem atrás do espelho. Eu gostava de ver essas coisas, era bonito ver a natureza. Pássaros em cima dos fios, comecei a observar as nuvens que formavam forma aleatória.
Olha só, aquela parecia…Um bicho incomum que eu jamais vi na vida. Ok, não, não tem nada de igual.
Mas vejamos, essa é a graça.
Depois de uns vinte minutos, chegamos na escola. Me apresso a levantar e descer do automóvel. Ando pelo pátio, tentando ignorar a ansiedade que crescia dentro de mim quando eu avistava uma horda de adolescentes me encarando.
Para de me encarar, porra. Isso é desconfortável pra cacete.
Apressei os meus passos, entrando pela entrada da escola, caminhando pelos corredores apertados e cheios. Paro na frente de meus armários e os abro, colocando a minha mochila lá e pegando apenas os livros necessários.
ㅡ Epa! ㅡ sinto uma mão em meus ombros, viro a minha cabeça, assustada. Mas logo me acalmo ao ver que era Dahyun, a minha amiga. ㅡ Nossa, que isso, tá assustada por que?
ㅡ Bom dia pra você também ㅡ reviro os meus olhos, sorrindo de lado.
Ela solta uma risadinha baixa, levando os seus dedos até os seus cabelos negros e lisos e os empurrando para trás, os tirando de seus ombros.
E bem, o que falar sobre Dahyun? Irei resumir, ela é literalmente perfeita.
Contém uma aparência linda, seus lábios finos e cheios de gloss chamavam a atenção. Seu corpo magro e em forma cabia lindamente em seu uniforme escolar. Uma presilha prendia a sua franja, enquanto os seus olhos redondos e com a coloração clara, dava um ponto final pra sua beleza. Seu nariz era lindo, suas sobrancelhas finas e além da sua maquiagem, que, completando, era ideal para ela.
Todos os dias eu me pergunto, por que diabos ela é amiga de uma pessoa como eu? Sem graça e…Enfim, não popular.
Ela me mostra a língua, soltando uma risada provocativa e sorrateira. Ela abriu o seu armário, que ficava ao lado do meu - coincidência, né? -, e fez o mesmo que eu; colocou a sua mochila lá e pegou alguns livros.
Ela se virou para mim e começou a tagarelar, como sempre fazia. Parecia uma máquina de falar, mas não posso reclamar, é incrível somente escutar.
ㅡ Ontem eu fui pro cinema com o meu ficante, sabe? O Luhan, do terceiro ㅡ ela virou o seu rosto para mim, franzindo a sua testa ao ver que eu não fazia ideia de quem era. Ela bufou, porém continuou ㅡ enfim, sabe, ele ficou me beijando toda a santa hora. Uma hora ele pegava na minha coxa, e não que eu reclame disso, fora de mim fazer isso, até por que eu gosto, me sobe um arrepio e..
ㅡ Menos detalhes, por favor… ㅡ peço quando ela começa a andar ao meu lado, enquanto íamos rumo à sala de aula.
Ela revirou os olhos, batendo de ombros e continuando, sem papas na língua.
ㅡ Bem, continuando. Ele não parava de falar, e eu querendo saber o que estava rolando na porcaria do filme, saca!? ㅡ ela disse, com uma pontada de indignação na voz ㅡ porra, eu só queria saber quem morreu no final, sabe? Eu estava assistindo "it, a coisa", foda demais, mas ele não deixava eu sequer assitir tranquilamente sem querer colocar a língua pra dentro da minha boca.
Solto uma risada alta, entrando na sala, ela entra logo em seguida, me seguindo até às nossas carteiras. Me sentei em uma cadeira lá do fundo - deu pra perceber que eu não gosto de atenção, certo? -, ela me seguiu, mesmo que sentasse na frente.
Pousei o meu queixo nas palmas das minhas mãos e a olhei, sorrindo de canto.
ㅡ Deveria ser sincera com ele, iludir alguém não é uma coisa legal. ㅡ Lhe aconselho, porém ela revira os olhos novamente e enrola os seus fios de cabelos em um de seus dedos.
ㅡ Você é muito dramática, eu nunca dei esperança para ele. Apenas disse que eu queria ficar com ele, pois é bonito ㅡ se defendeu, suspirando ㅡ os meninos que são muito emocionados, eu só queria beijar.
ㅡ Bom, aí eu já não sei.
ㅡ Mas e você, Jimin ㅡ ela provocou-me, pegando uma cadeira, virando-a e se sentando na minha frente, olhando-me com um olhar malicioso ㅡ quando irá beijar?
ㅡ Hun, se eu beijar alguém, é capaz do meu pai me matar ㅡ digo rindo, mas no fundo, com medo, pois eu sei que ele seria bem capaz disso.
ㅡ Ai credo, amiga ㅡ ela contorceu os lábios, juntando as suas sobrancelhas ㅡ é só uma bitoquinha, acho que você está exagerando.
ㅡ pois é… ㅡ desvio o meu olhar, suspirando.
Neste momento, a professora chegou, fazendo com que Dahyun se assustasse e pulasse para a sua carteira, quase tropeçando no meio do caminho. Um pouco aliviada pela paz, abro o meu livro na página da antiga aula, e espero os comprimentos da professora.
ㅡ Bom dia, alunos! ㅡ Ela disse alto, recebendo alguns resmungos como resposta, e isso a fez rir, negando com a cabeça ㅡ quanta animação, vou fingir que vocês me amam ㅡ ela colocou as suas pastas em cima da mesa, logo virando-se para frente da sala ㅡ Bom, espero que tenham tido um bom final de semana. Mas acabou o descanso, vamos voltar para a página onde paramos, certo?
Alguns confirmaram, alguns reclamaram e eu apenas dei de ombros - novamente -, passando a minha íris pelos textos longos que estavam escritos no livro de biologia.
ㅡ Hoje iremos falar sobre ideologia de gênero, certo? ㅡ ela arrumou os seus óculos, se encostando na mesa grande ㅡ alguém sabe o que é isso?
Um aluno levantou a mão, ela sorriu e disse: ㅡ Diga, Jisoo.
ㅡ Obrigada, professora! ㅡ ela sorriu, levantando-se e arrumando a sua saia. Levantou a sua cabeça e logo respondeu: ㅡ Nos estudos de gênero, ideologia de gênero é a expressão usada para descrever as crenças normativas sobre os papéis sociais apropriados e as naturezas fundamentais de mulheres e homens, sejam essas pessoas cisgênero ou transgênero, nas sociedades humanas.
ㅡ Hum, bom, o que mais? ㅡ a professora exigiu.
A garota sorriu, assentindo.
ㅡ Trata-se de uma narrativa criada dentro de uma igreja católica por grupos neo fundamentalistas, entres os anos de "1990 e 2000", na Europa e Nos Estados Unidos, por uma aula conservadora da igreja. Que inclui os pró vidas e pró famílias. O termo foi apropriado rapidamente.
A professora sorriu, afastando-se da mesa e começando a andar pela sala.
ㅡ Obrigada querida. Bom, a expressão "ideologia de gênero" não é reconhecida no mundo acadêmico. O termo, na verdade, é uma distorção dos estudos de gêneros que tiveram início nos Estados Unidos e Europa em 1960. Estudo de gênero são pesquisas que teorizam sobre a diferença entre sexo biológico e gênero. ㅡ ela parou um pouco, observando se alguém não está entendo, logo continuou ㅡ Oh, e precisamos lembrar que sexo é um conjunto de atributos biológicos, anatômicos e físicos que nos definem: Menino, menina, homem ou mulher. E gênero é tudo aquilo que a sociedade por base na cultura espera e projeta em matéria de comportamento, capacidade, entre outros pontos para o homem e pra mulher. Sendo assim, ideologia de gênero não existe. É uma invenção fundamentalista em base científica que visa apenas a estimular o preconceito e a discriminação.
A sala fez um barulho como "oh", de surpresa. Eu apenas fiquei focada nesta explicação.
Existem outros gêneros? Como assim?
ㅡ Professora ㅡ Um aluno levantou a mão, recebendo um aceno da professora ㅡ o que é uma pessoa trans?
ㅡ Hun, O termo trans é utilizado para se referir a uma pessoa que não se identifica com o gênero ao qual foi designado em seu nascimento. Quando nascemos, nossos gêneros são determinados pelo nosso sexo. ㅡ ela sorriu.
ㅡ Oh, então…Uma mulher pode querer ser homem?
ㅡ Mais ou menos isso, querido. Mas eu não utilizaria essas palavras. Eles sempre foram o que foram, só bastava descobrir! ㅡ ela disse, fazendo com que o aluno entendesse e se sentasse.
Ok, aquilo era estranho.
Como uma pessoa não pode querer ser…Quem é? Isso é tão ridículo. Nojento, não sei, eu não consigo entender.
E por que estou ficando nervosa?
Passo as minhas mãos no meu rosto e suspiro, negando com a cabeça. Deito a minha cabeça na carteira e fecho os meus olhos, apenas me esquecendo daquela aula tão idiota e maluca. Acabo por pegar no sono, me desligando lentamente do mundo real.
⚫⚪⚫⚪⚫⚪⚫
Eu estava em uma pequena bolha.
Olhei para os lados, confusa. Eu vestia um vestido longo e branco, os meus cabelos soltos e um pouco ondulados.
Engulo seco, quase surtando quando abaixo os meus olhos e me vejo sem sutiã. Com desconforto, tampo os meus seios, ficando vermelha de vergonha.
ㅡ O-onde estou!? ㅡ indaguei alto, olhando para os lados.
Havia apenas um vazio. Estava tudo escuro, não havia barulho, apenas silêncio. Tentei enxergar alguma coisa, mas nada vinha em minha visão, literalmente nada.
ㅡ Oi. ㅡ escutei uma voz um pouco mais grossa, mas tão reconhecível, soar. Virei-me para trás e vi um grande espelho, um espelho bem limpo e bonito.
Nela, refletia-se um garoto de cabelos curtos, da mesma coloração que o meu. Ele tinha os mesmos traços; boca cheinha, olhos miúdos, bochechas inchadas e dentes tortinhos. Ele estava sem blusa, mostrando o seu peitoral restinho e um pouco trincado.
Era igualzinho a mim.
ㅡ O-o que é você? ㅡ lhe questiono, medrosa. Ele sorri, apontando para si.
ㅡ Eu? ㅡ Ele pergunta.
ㅡ Sim, você! ㅡ confirmo, sentindo lágrimas em meus olhos.
Ele coloca as suas mãos atrás de si e inclina a cabeça para o lado, não tirando o sorriso bonito dos lábios.
ㅡ Eu sou você. ㅡ ele me responde, me deixando mais confusa ainda.
Dou alguns passos para trás, sentindo, realmente, um medo estridente crescer dentro de mim. Nego com a cabeça, olhando-o de forma chocada.
ㅡ Pare com isso, eu não sei quem é você…Mas-
ㅡ Ah, sabe sim! ㅡ ele me contradiz, fazendo os mesmos movimentos que eu, dando passos para trás ㅡ No fundo você sabe, certo? Eu sou você, o verdadeiro você.
ㅡ Impossível… ㅡ nego, desacreditada. Fungo, e coloco os as minhas mãos nos meus cabelos ㅡ não é possível, v-você é um-
ㅡ Um menino? ㅡ Ele completa, finalmente começando a se aproximar. Como instinto, começo a me afastar também, continuando a negar repetidamente com a cabeça ㅡ Eu sou seu espelho, Jimin. Você é eu, mas eu sou você, eu sou o seu verdadeiro eu.
Continuo a me afastar, enquanto observo o estranho passar pelo espelho, como se fosse um portal. Quando ele sai do grande vidro, ele anda até mim, sem recuar os passos em nenhum momento.
ㅡ Você sabe que é verdade, pare de fingir que não sabe. ㅡ ele dizia enquanto caminhava lentamente até mim.
Sinto as minhas costas bater em uma parede, viro a minha cabeça e vejo que, de algum modo, eu não tinha pra onde ir. Comecei a me desesperar, sentindo o meu coração acelerar.
Ele se aproximava tanto, que quando chegou bem pertinho de mim, levantou as suas mãos e acariciou a minha bochecha.
De repente, o medo foi-se embora.
Franzi a testa, confusa. Ele continuava a me fazer carinho, com aquele sorriso gentil e amável. Um de seus dentes tortos, que nem o meu.
ㅡ Está na hora de despertar, meu querido. ㅡ ele anunciou, abrindo os seus braços e, de repente, me abraçando.
"Querido."
Sinto um calor grande me cobrir, como se fosse um cobertor quentinho. Fecho os meus olhos molhados e aproveito o calor tão bom.
ㅡ Agora, acorde… ㅡ ele pediu, com a voz plena e suave.
"acorde, acorde, acorde.
desperte."
Sinto então alguém me chacoalhar, tudo me fez ficar zonza, me fazendo levantar a cabeça e arregalar os olhos. Olhei para os lados e eu já não estava mais naquele lugar, estava na sala de aula.
Tudo estava do jeitinho que eu sempre vi, tudo igual. Não havia espelho, o garoto já não estava mais lá.
Tudo estava no lugar.
ㅡ Ei, Jimin? ㅡ Dahyun pergunta, um pouco assustada ㅡ você está bem?
Levo o meu olhar até a menina, sentindo a minha respiração um pouco pesada. Levo os meus dedos até a minha testa e sinto gotas molhadas deslizar, eu estava suando.
Dahyun me olhava, com a testa franzida e um olhar confuso.
ㅡ O que… ㅡ soltei, desacreditada.
O que diabos tinha acontecido!?
⚫⚪⚫⚪⚫⚪⚫
Após ficar horas convencendo a Dahyun que eu apenas tive um pesadelo ruim, volto para casa de ônibus - assim como vim de manhã -, chegando em casa e indo direto para o meu quarto, jogando-me na cama e suspirando.
O que aconteceu comigo?
Aquilo foi muito real, foi estranho. Não que eu consiga captar as sensações diretamente, até porque eu não me lembro exatamente o que ocorreu. Eu só consigo me lembrar da imagem daquele menino, me abraçando e dizendo que era…Eu.
Levantei-me rapidamente, num impulso, sentindo-me um pouco tonta por conta da rapidez. Andei até frente ao espelho e tentei me manter calma. Levei a minha íris até o meu reflexo, e quase desmaiei com o que eu vi.
Por um segundo, um mínimo segundo, eu o vi ali, seus cabelos curtos e tingidos, seu sorriso igualzinho ao meu e o seu corpo tão másculo.
Mas foi por apenas um momento, pois fechei os meus olhos, levando ambas palmas das minhas mãos até o meu rosto, tentando controlar essa sensação que surgiu em mim. Meio hesitando, afasto um dos dedos dos meus olhos, abrindo um buraco para que eu possa ver novamente.
Graças a Deus, esse, sei lá o que seja, foi embora. Novamente, me vi sendo, hun, eu mesma?
Ok. Tudo certo, eu tô ficando louca, vão me internar, eu não tô bem.
Passei a andar novamente para lá e para cá, quase tropeçando em um ursinho que estava jogado na bagunça do meu quarto. Mordi descontrolavelmente a minha unha, tentando me acalmar.
ㅡ O que foi isso, esse sentimento.. ㅡ coloco a minha mão no meu peito, ofegante ㅡ E-eu tô ficando paranoica, preciso ir a igreja, eu preciso sei lá, eu…ㅡ Sinto uma sensação ruim na garganta, sentindo os meus olhos molhados.
Mas por que eu estou surtando, assim? É só uma porcaria de imagem fictícia, uma alucinação. Haha, isso, nada é real.
E, nossa, Jimin, você está assim por um reflexo que mostra o seu eu masculino. Não é tão ruim assim.
Então…Por que, porque me sinto tão agitada?
Acabei por me livrar desses meus pensamentos e ir até a minha cama, obrigando-me a fechar os meus olhos e esquecer essa minha doidice.
Afinal, tudo foi apenas uma sensação ruim.
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Eu queria mesmo dizer que aquilo foi apenas coisa da minha cabeça, mas após aquela noite, tudo piorou. E eu não sei o que mudou, eu apenas me sinto tão diferente, tipo, não diferente fisicamente.
Mas algo mudou, e eu não estou gostando nada disso.
Faziam-se meses que eu já não me sentia como eu mesma. Toda vez que eu vestia aquela merda de saia do colégio, eu me sentia desconfortável, me sentia tão feia, como se eu fosse algo que eu não quero ser. E eu não entendo, não entendo por que eu não faço nada de errado.
Eu sou apenas eu, e estou me sentindo mal com isso. Talvez eu não gostasse da minha aparência.
Talvez auto estima baixa? Insegurança? Eu não sei.
Só queria saber do por que odiar a minha aparência ao ponto de querer vomitar quando eu a via.
Eu mesma me machucava. Eu mesma me rejeitava.
E eu ainda não sabia o por quê.
De madrugada, eu me levantava da minha cama. Não sabia quando comecei a querer não dormir, pois eu sempre sonhava com algo que eu não queria, que eu não conseguia compreender.
Levei a minha mão até o espelho e novamente odiei o que eu vi.
Desde quando eu era tão feia? Eu lembro de ser bonita. Eu acho, pelo menos. Sou dramática, não deveria me importar com esses tipos de coisas, tem gente pior que eu…E tô aqui, deprimida.
Talvez eu seja egoísta.
Talvez eu seja horrível.
Eu quero morrer.
⚫⚪⚫⚪⚫⚪⚫
ㅡ Jimin, o que aconteceu? ㅡ Dahyun pega no meu braço, olhando-me com aquele olhar que estava se tornando até que normal pra mim. O da preocupação, julgamento. ㅡ Você está estranha, o que houve?
Eu tenho sentido ódio dela. Não sei, talvez algo me desagradasse quando ela abria a boca. Mas não era a culpa dela, e era isso que me matava lentamente.
ㅡ Nada, Dahyun, você está delirando. ㅡ respondo-a, desviando o meu olhar.
ㅡ Eu? Delirando? ㅡ ela afina a voz, indignada. ㅡ Você se afastou de mim, tem agido como uma babaca comigo e eu que estou delirando!?
ㅡ Sim, porra! ㅡ Grito, afastando-a de mim, puxando o meu braço brutalmente ㅡ mas você não deve entender, já que tem a vida tão perfeita, hun?
Ela arregalou os olhos, olhando-me de forma magoada. Saiam lágrimas de si, e isso, de repente, me deixou muito mal. Ela deu alguns passos para trás, apertando as mãos.
ㅡ Você não é a Jimin que eu conheço. ㅡ ela disse, negando com a cabeça.
Empino o meu nariz, tentando esconder as lágrimas que insistiam em cair. Apertei as alças da minha bolsa e olhei-a debochadamente, sorrindo forçadamente de lado.
ㅡ Eu nunca fui, Dahyun.
E desta vez, me virei, indo para longe da minha melhor - agora ex - amiga. Sequer olhando para trás, apenas seguindo em frente, percorrendo um caminho que eu não conhecia.
Por que eu fiz aquilo com ela? Eu não queria fazer aquilo. De fato, eu não sou mais a mesma.
A mesma.
A mesma.
A mesma.
O Mesmo-
Parei por um instante, balançando a minha cabeça freneticamente. Olhei para o céu, e suspirei, deixando finalmente as lágrimas contidas caírem.
ㅡ O que está acontecendo comigo?
⚫⚪⚫⚪⚫⚪⚫
Talvez eu esteja neste mundo para sofrer.
Mas calma, wooow, que frase clichê, né? Eu sei, uma merda, mas o que eu posso fazer? Saltitar e falar que a minha vida é boa? Gritar aos quatro ventos que eu sou uma pessoa feliz, apesar das dificuldades que eu venho enfrentando?
Menos, certo? Eu perdi a minha melhor amiga, perdi ela pois eu cometi um erro. Eu sou a porra de uma merda, consegui fazer algo que estava difícil, ficar ainda mais pior.
E eu sabia do por que eu fiz aquilo.
Ha! Sim, sim, eu sabia. Mas por motivos egoístas eu apenas guardei os meus sentimentos e vontades numa caixinha, sabe por que?
Por medo.
Talvez seja estranho eu dizer medo. Eu tinha medo de quê, afinal?
Não sei. Mas eu sei. Mas não quero admitir.
E esse é o meu pequeno ciclo vicioso.
Eu, novamente, estava deitad..a, hun, na minha cama. Continha o meu notebook nos meus joelhos, enquanto encarava a barra vazia do Google.
Estava tentando ter coragem por meses.
Respirei fundo e finalmente deslizei os meus dígitos para digitar: "O que é uma pessoa trans?"
Cliquei para pesquisar e esperei carregar. Entrei no primeiro site que aparece, mordendo os lábios, comecei a ler o que eu mais temia.
ㅡ O termo trans é utilizado para se referir a uma pessoa que não se identifica com o gênero ao qual foi designado em seu nascimento. Quando nascemos, nossos gêneros são determinados pelo nosso sexo. Assim, uma pessoa que nasce com um pênis é considerada como um homem e uma pessoa que nasce com uma vagina, como uma mulher. Contudo, algumas pessoas percebem que se identificam com outro gênero e passam a viver como assim desejam e se sentem melhor consigo mesmas. ㅡ engoli a seco, tentando não recuar.
Eu estava com os olhos um poucos embaçados, mas mesmo com um desconforto, continuei a ler:
ㅡ Dessa forma, podemos utilizar “mulher trans” ou “pessoa transfeminina” para se referir a alguém que foi designado homem, mas se entende como uma figura feminina. Já o termo “homem trans” ou “pessoa transmasculina” é indicado para tratar uma pessoa que foi designada mulher, mas se identifica com uma imagem pessoal… ㅡ Comecei a chorar, tentando não ler a última palavra, tentando não surtar e ter um ataque de pânico.
Se identifica com uma imagem pessoal masculina.
Homem.
ㅡ NÃO, EU NÃO SOU ISSO! ㅡ Levantei e me afastei do aparelho, começando a puxar inconscientemente os meus cabelos. Eu me sentia sufocada, horrível ㅡ EU SOU NORMAL, EU SOU NORMAL, EU SOU NOR-
ㅡ Filha, o que houve? ㅡ Escutei a voz desesperada de minha mãe me questionar, enquanto ela entrava no quarto rapidamente.
Senti as suas mãos trêmulas tentar me pegar, mas me afasto e nego com a cabeça, a olhando, assusta…da.
ㅡ NÃO, MÃE, NÃO. EU NÃO QUERO! ㅡ Eu disse alto, sentindo todo o ar do meu pulmão sumir.
Eu estava sem ar. Eu não consigo respirar, o que está acontecendo?
Não, não, por favor, eu não gosto disso…Alguém me ajuda, alguém me ajuda.
Alguém me-
ㅡ Filha… ㅡ Ela se aproximou e puxou-me para perto, forçando-me a ficar perto dela ㅡ Olha pra mamãe, hun? ㅡ ela colocou as suas mãos leves em minha bochecha molhada, me fazendo olhar para ela ㅡ Eu estou aqui, certo?
Assenti com a cabeça, olhando-a fixamente, enquanto eu tentava regular novamente a minha respiração.
ㅡ Olha só…Viu? você conseguiu! ㅡ Ela sorriu, mas era nítido os seus olhos molhados.
ㅡ Mamãe.. ㅡ Chamei-a, deitando a minha cabeça em seu peito.
ㅡ Eu sempre estarei aqui, meu amor…
Ela sempre estaria lá..
⚫⚪⚫⚪⚫⚪⚫
Era domingo. Dia da igreja.
Eu saí do banho com uma toalha rondando o meu corpo. Suspirei e fui até o meu guarda roupa, abrindo-o e pegando um vestido longo e branco.
Tirei a toalha e sequei-me, logo me vestindo, com uma lentidão que eu não sabia que era possível. Peguei a escova em cima de minha estante, e comecei a pentear os meus cabelos.
Fui até na frente do espelho. Continuei a pentear. A escova descia e subia, desembocando nos meus fios de cabelos. Eu sentia um ardor, mas era suportável.
Olhei-me novamente.
O vestido era horrível. Odiava como a minha pele era exposta desta maneira, odiava o meu cabelo, odiava.
Odiava a mim…mesma? Mesma. Sim, ela.
ㅡ Ela… ㅡ Senti o meu peito se apertar. Neguei com a cabeça, tentando ignorar esse desconforto. ㅡ Jimin, você vai conseguir, você consegue ser você m-mesma. É apenas um vestido, não um monstro. ㅡ ditei para mim mesma, deixando a escova novamente em cima da onde estava e abrindo a porta do meu quarto, começando a descer as escadas.
Enquanto eu descia, o sentimento ruim crescia. Talvez eu não gostasse mesmo de vestidos. Sim, era a única explicação.
Mesmo hesitante, fui até a porta aberta e avistei a minha mãe me esperando, ela olhou-me quase que na hora em que pisei o pé lá fora. Mamãe sorriu.
ㅡ Você está linda, minha filha. ㅡ elogiou-me.
E este foi o ponto final. Sentia tudo ir para cima, fazendo-me lacrimejar.
Coloquei a minha mão em meus lábios, e então, corri para dentro novamente, ignorando os gritos de meu pai e indo em direção ao banheiro, e de lá, pra privada. Direcionei a minha cabeça e comecei a vomitar.
Tudo, que já não era muito, saindo de mim de um jeito grotesco. Tudo isso, porque eu me sentia nojo de mim mesma.
As palavras de minha mãe, mesmo que genuínas, pareciam facas, que foram lançadas e cravadas em minha consciência e coração.
Eu então percebi o pior, o que eu tanto abominava.
Eu não odiava quem eu era.
Eu odiava do jeito que eu era, não gostava de tudo relacionado a mim mesma, por conta do meu sexo feminino.
Eu odiava ser, na verdade, ela.
Não eu.
Eu, na verdade, era…Talvez…Ele.
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Perceber aquilo acabou comigo. Eu não queria mais aquilo, eu estava perdido, e com medo.
Eu queria ser normal. Sei que esse verbo é um pouco horrível para se dizer, mas é o único em que eu acreditava se tô certo.
Tudo estava escuro. Tudo estava doloroso, na verdade. Eu odiava como as coisas eram e deviam ser, eu odiava nascer assim.
Eu sou uma aberração.
ㅡ E se eu matasse você, hun? ㅡ disse para mim mesmo, enquanto encarava, novamente, o meu reflexo. Havia uma navalha em minhas mãos, peguei escondido do meu professor de artes. ㅡ Você me odiaria?
Levantei lentamente a lâmina afiada, passando-a - sem cortar - em volta de meus seios, que estavam expostos. Eu odiava aquilo. O volume. Eu não queria ele ali, de jeito nenhum.
ㅡ Talvez se eu os retirasse… ㅡ Cogitei, olhando-os de um modo frio, como se fossem algum tipo de monstro.
Eu sei que fazer tudo aquilo era inútil, mas era tão ruim ter o corpo que não queria, realmente, ter.
Suspirei, balançando a minha cabeça para os lados. Larguei a navalha e sentei-me novamente no chão. Escondi o meu rosto nos meus joelhos e senti-me novamente desabar.
Eu estava ficando louco…
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Eu acho que após algum tempo, aprendemos a suportar uma dor que estava presente todo dia em nossas vidas, até aquela em que juramos ser a pior.
A minha mente continuava uma bagunça. A depressão estava um pouco controlada, mas já eu já tinha me acostumado com a ideia de ser, na verdade, um homem.
E, sabe, não foi fácil.
Sabe quantas vezes eu quis tirar a minha vida por achar que, o que eu estava fazendo, era errado!?, sim, muitas. Se descobrir ser algo que nunca saberia que era, é uma das coisas mais confusas de nossas vidas. Admitir é difícil, suportar é pior ainda.
Eu tentei, de verdade, tirar de minha cabeça e acabar um outra saída para esse meu desespero profundo. Quis retirar várias vezes esse meu eu, quis sumir, para nascer em outra vida.
Em outro corpo.
Mas talvez seja isso que todos querem. Me ver cair por conta de meu gênero, sexualidade, não sei. Eles só queriam ser cruéis.
E esse meu primeiro contato com a crueldade humana foi assustadora. O jeito que eles me olhavam, o jeito que falavam coisas terríveis, era… Horripilante.
Haviam três garotos. Um mais velho, outro no primeiro ano e o último, repetente. Eles olhavam-me com nojo, enquanto diziam-me palavras horríveis.
ㅡ Estão a sapatona quer respeito, hun? ㅡ O moleque disse, sorrindo de um jeito assustador. ㅡ faça-me um favor! Você é nojenta!
ㅡ Sim, nojenta. ㅡ O amigo do garoto repetiu, agachado-se para perto de mim ㅡ uma mulher nojenta.
ㅡ Não se engane, Jimin. ㅡ O repetente disse, olhando-me de longe ㅡ você é um garota, e sempre será. Para nós, e para a sociedade.
Senti o meu estômago se revirar, neguei com a cabeça, afastando-se dos três que insistiam em se aproximar.
ㅡ Eu sou quem eu digo que sou! ㅡ Grito, recebendo caretas irritadas dos mesmos ㅡ e eu sou um homem!
ㅡ Cala boca, sua nojenta! ㅡ Um dos meninos mandaram, fazendo-me fungar, assustado. ㅡ Você é uma mulher, por que, o que você tem bem aqui ㅡ ele olha para os meus peitos e, depois, para as minhas partes íntimas, sorrindo ㅡ diz isso.
ㅡ EU SOU UM HOMEM! ㅡ Insisto, desta vez, protegendo o meu corpo com as minhas mãos. Olhando-os com ódio.
No final, eles tentaram me bater, mas um aluno chegou bem na hora e chamou a diretora. Não houve punição para os três, e somente eu, fui punido, pois eles disseram-na que eu mentia sobre a minha identidade.
O que fazer, se até a diretora, concorda com esse tipo de preconceito?
Depois disso, eu passei a não querer ir pra escola. Eu já não queria, já não gostava, piorou quando eu finalmente tentei ser eu mesmo.
Mas eu acho que o que fui, de fato, horrível de aceitar, foi a negação de meu pai. Ele não era uma das pessoas mais legais e boas que eu poderia ter, mas, bem, ele era o meu pai.
Pai até o momento em que eu resolvi contar.
Minha mãe já tinha me visto vestido com roupas "masculinas", no meu quarto. Demorou um pouco para ela se acostumar, mas ela, de braços abertos, me aceitou. Disse-me que eu ia continuar sendo o seu bebê, e que, aos seus olhos, eu não tinha mudado nadinha.
Mas a reação de meu pai foi pior.
Estávamos todos sentados na mesa do jantar. Mamãe está tensa porque sabia que eu ia contar. Eu estava encolhido na cadeira, enquanto observava papai ler o jornal, enquanto bebericava um pouco do suco de morango, o gostoso suco que minha mãe sempre fazia.
Eu estava roçando as minhas mãos por puro nervosismo e ansiedade. Os meus batimentos cardíacos estavam um tanto quanto desengonçados.
Papai, então, olhou para cima e percebeu os nossos olhos nele. Ele bufou, e largou o papel em cima da mesa, olhando-nos com uma expressão irritada.
ㅡ O que vocês querem, afinal? ㅡ Ele perguntou-nos, cruzando os braços na frente de seu peitoral.
Mamãe engole a seco e sorri, nervosa. Anda lentamente até o meu lado e coloca a mão em meus ombros, como um incentivo.
ㅡ Jimin quer nos falar algo, marido. ㅡ ela o respondeu, olhando-me de solsleio.
Olho de volta para ela e respiro fundo, deslizando a minha íris até de encontro com os do meu pai, olhando-o com uma cara séria e direta.
ㅡ Papai, eu.. ㅡ começo, um pouco hesitante, porém continuo: ㅡ…Quero te contar uma coisa. Não quero que me crucifique e me xingue, ok? Eu só sou o que sou e eu juro que-
ㅡ Nade logo, menina! ㅡ ele me apressou, franzindo a testa, mal humorado. ㅡ não tenho o tempo todo.
Solto um suspiro, abaixando a minha cabeça para conseguir novamente a minha coragem. Contudo, após alguns segundos, levanto a face novamente e digo rapidamente: ㅡ Eu sou um homem.
Meu pai, por algum tempo, olhou-me com uma expressão assustada. Depois, passou a rir, negando com a cabeça e abanando as suas palmas de mão.
ㅡ Filha, pare com essa brincadeira ㅡ ele disse, pegando um pedaço de pão, começando a passar um pouco de pasta ㅡ aí, aí, esses filhos. Pare com isso, tem gente que pode levar o que você disse, a sério.
ㅡ Pai.. ㅡ Chamo-o, com os olhos marejados. ㅡ eu não tô brincando.
Ele me olha, desta vez, com uma carranca no rosto.
ㅡ Pare com isso, agora, Jimin! ㅡ ele me repreendeu com um tom mais firme, encarando-me seriamente ㅡ não diga tais baboseiras!
ㅡ E-eu não tô dizendo baboseira, papai, e-eu sou um homem… ㅡ Começo a gaguejar, talvez por medo e tristeza, não sei ㅡ eu sei que é confuso pra você, mas eu irei lhe explicar. Eu sei que nasci, hun, menina…Mas eu não gosto disso…Sabe? E-eu sou um menino, sempre fui, sempre serei e eu acho que não adianta negar isso-
Ele bateu na mesa com força, fazendo com que eu e a minha mãe se assustasse com tal ato. Olho-o, assustado.
ㅡ Chega, garota! ㅡ senti o meu coração se despedaçar, nego com a cabeça, já sentindo as lágrimas em minhas bochechas ㅡ fica dizendo essas coisas do demônio! Quem te influenciou? Onde viu essas besteiras?
ㅡ Eu não vi em nada! ㅡ respondi-o, com desgosto ㅡ eu mesmo descobri, tive que aceitar o que eu não queria, pai! Não é questão de escolha e-
ㅡ É escolha sim!, se não fosse, não estaria me dando tanta decepção assim… ㅡ ele cuspia, olhando-me com nojo ㅡ mas acho que já sei o que é, é falta de surra! Eu devia ter lhe batido, mas eu fraquejei, como uma porra de um bichinha…
Ele, então, começou a tirar a conta de si fivela. Deslizando o couro entre as suas mãos e os dobrando, logo em seguida, começando a caminhar em minha direção. Me afasto, por medo, rondando a mesa e o encarando em choque.
ㅡ JIHOON, NÃO! ㅡ Minha mãe entra na minha frente, o enfrentando, entre lágrimas. Meu pai a empurrou para o lado, jogando-a no chão.
ㅡ Silêncio, mulher! ㅡ ele ordenou, apontando para minha mãe ㅡ se não fosse tão fraca na criação de Jimin, ela não teria esse tipo de comportamento! Você fracassou!
Ele se virou novamente para mim, andando para perto e levantando a cinta, e antes que fizesse algo mais, disse: ㅡ Te darei uma lição, Jimin. Para que nunca mais diga essas coisas.
E então, desferiu a primeira cintada.
O impacto fez um estalo, fazendo a minha derme arder de imediato. Me encolhi e comecei a arfar de dor, chorando e soluçando com as outras várias que ele depositava em minha pele.
E não foi só uma, foi duas, três, quatro…Chegou no cinco. Ele não parava, parecia ter raiva e ódio de mim.
Meu próprio pai.
ㅡ P-para, por favor.. ㅡ peço entre lágrimas, tentando me proteger com as mãos, enquanto ele respirava e olhava-me sem pena nenhuma.
Minha mãe, que até então estava chorando e jogada no chão. Levantou-se e pegou o telefone fixo que estava colocado na parede. De repente gritou e chamou a atenção de meu…"pai".
ㅡ EU JURO POR DEUS, QUE SE VOCÊ FAZER MAIS ALGO COM O MEU FILHO, EU CHAMO A POLÍCIA JIHOON! ㅡ Ela o ameaçou, olhando-o com as íris embaçadas de lágrimas ㅡ EU MESMA TE DENUNCIO NA POLÍCIA, DIGO QUE VOCÊ ME BATIA POR CINCO ANOS. EU JURO POR DEUS!
ㅡ O'Que? Você não teria cora-
ㅡ Ah, não? ㅡ ela soltou uma risada soprada, começando a digitar os números no telefone. Meu pai, antes nervoso, agora estava com medo, afastando-se de mim ㅡ eu quero você fora dessa casa. Entre nós, acabou, entendeu? Eu permeia você fazer o que quiser comigo, menos, MENOS COM O MEU BEBÊ.
ㅡ Ok, ok, calma.. ㅡ ele soltou a cinta no chão, colocando os seus fios negros de cabelos para trás e olhando-me de relance. Ele pareceu hesitante, antes de pegar a sua bolsa e sair pela porta da frente, sem sequer olhar para trás.
Eu, então, chorei. Sentia tudo no meu corpo doer, sentia o meu coração doer pela rejeição de meu próprio pai.
Minha mãe soltou rapidamente o telefone e correu até mim, colocando-me em seus braços quentes e trêmulos. Ela também estava nervosa e parecia muito, muito triste, assim como eu. Mas mesmo assim sorria para mim, acariciando os meus cabelos longos.
ㅡ Meu filho, meu bebê… ㅡ Ela disse, enquanto tentava manter a sua voz firme ㅡ eu nunca mais vou deixar ele chegar perto de você…
ㅡ M-mãe… ㅡ Chamei-a, o tom de voz quebrado é fraco, rouco demais. ㅡ por que você nunca me contou que ele…
Ela suspirou, negando com a cabeça, dando um beijinho na minha cabeça.
ㅡ As vezes temos que sacrificar alguma coisa por quem amamos, meu filho.. ㅡ ela se explicou ㅡ e eu amo você Jimin, amo muita mais do que eu mesma.
Neguei com a cabeça, abraçando-a mais forte do que antes. Sentia a culpa me cobrir, enquanto soluçava e molhava a sua roupa.
Por que sofremos tanto?
Eu queria tanto proteger eu mesmo e a minha mãe, não queria vê-la chorar. E saber que ela sofria por todos esses anos calada, me deixava nervoso.
Me deixava com raiva. Raiva dele.
Eu já não queria considerá-lo mais como o meu pai.
Ele não era mais o meu pai.
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Passou-se dois anos após aquela situação.
Meu pai tentava sempre se aproximar de nós duas, falando-nos que estava nervoso e que se arrependia. Mas eu não acreditava nele, e toda vez que a minha mãe chorava por ele, a minha raiva só aumentava.
Eu o odiava e o queria longe.
Depois de um tempo, comecei a trabalhar, após a saída da escola. Eu não tinha um futuro previsto, e após a saída de meu pai, tive que colocar comida em casa, ao menos tentar ajudar a mamãe, que estava sobrecarregada.
Consegui um trabalho na loja de conveniência de um amigo da família. Ele conseguiu o caixa pra mim, o salário não era lá umas quatro belezuras, mas era o que eu tinha. Trabalhava com muito gosto, sorrindo e vendendo comidas e coisas de higines.
Com o tempo, o fardo de aceitar que eu sou, quem eu sou, vem se abaixando. Talvez eu tenha me convencido que ser, na verdade, ele, não era tão ruim. Eu já não tinha mais aquela dúvida tão constante na minha vida.
Mesmo que as pessoas erram e me chamassem por problema femininos, eu não me importava tanto. Eu já havia passado pelo médico e pegado remédio para hormônios. A minha voz, ao menos, engrossou um pouco. Senti até pelinhos no meu queixo, quase tive um ataque quando os vi.
Por quê eu me barbeei pela primeira vez.
Eu não gostava de bigodes, não mesmo. Então, peguei a gilete, um pouco de sabão, e com a ajuda de minha mãe, raspei tudo o que tinha pra raspar.
Foi muito divertido.
A minha vida parecia um pouco melhor. A minha depressão ainda continua me visitando, os ataques também. Mas, ao menos, são por outros motivos, haha, até que deu uma aliviada.
Eu estava no turno da noite do meu trabalho. O meu chefe havia falado para que eu ficasse mais tempo, pois ele tinha que sair mais cedo. E eu aceitei, contanto que ele me pague os extras, eu realmente não me importo.
ㅡ Obrigada por comprar aqui, volte sempre. ㅡ me reverenciei, sorrindo para o cliente que acabará de pagar as suas comprar e ir embora.
Suspiro e estico-me, sentindo-me estalar os ossos. Foi gostoso, mas o meu torcicologo ia me matar. Céus.
Escuto o soninho - o que indicava a entrada de um novo cliente - soar, logo arrumei a minha postura e voltei a sorrir, mostrando todos os meus dentes existentes.
ㅡ Seja bem vin-
ㅡ Oh! ㅡ A cliente abriu a boca, um pouco surpresa. Eu tive a mesma reação quando reconheci os seus cabelos negros e ondulados, seus olhos redondos e o seu olhar.
Dahyun.
Ela estava na minha frente, olhando-me em choque, pega desprevenida pela minha companhia. Eu, finalmente, sorri, tentando não parecer um completo estranho.
ㅡ D-dahyun!? ㅡ Gaguejei, um pouco nervoso ㅡ que surpresa…, e a quanto tempo.
ㅡ O-oh, sim, é… ㅡ Ela soltou uma risadinha constrangida, colocando alguns fios de cabelo atrás de sua orelha ㅡ Você mudou eim? Ficou mais bonita, continua, na verdade.
Junto as minhas sobrancelhas, um pouco desconfortável pelo pronome, contudo estico um sorriso de agradecimento. O meu cabelo estava curto, enquanto eu vestia apenas um uniforme da lojinha, e lembrando, essa merda era feia.
ㅡ Você também, continua muito bonita. ㅡ lhe elogio de volta, vendo-a inclinar o seu corpo para frente, também agradecida. ㅡ onde esteve?
Ela, então, virou-se e foi até as prateleiras, pegando um pacote de bolacha de chocolate e andando novamente até o caixa, colocando o pacote perto do caixa. Ela sorri, e diz:
ㅡ Oh, estou cursando a faculdade de medicina, sabe? ㅡ ela diz, orgulhosa. ㅡ após a saída do colégio, eu me relacionei com o luhan, fomos planejando e agora estamos com o casamento marcado.
ㅡ Espera, o carinha do cinema!? ㅡ exclamei, chocado. Ela riu, assentindo com a cabeça ㅡ não creio…
ㅡ Pois acredite. Ele foi tão persistente que, lentamente, comecei a me apegar na quele jeitinho dele ㅡ ela sorri, apaixonada, suas bochechas um pouco vermelhas ㅡ ele é um fofo, não sei como conseguia reclamar.
ㅡ Isso é bom, Dahyun. ㅡ Digo, com sinceridade. Olhando-a com felicidade ㅡ ele era uma boa pessoa, e é, na verdade.
ㅡ Sim… ㅡ Ela concordou, mordendo os lábios. Mas logo um barulho de celular preencheu o lugar, assustando tanto a mim, quanto ela. ㅡ ops, calminha. ㅡ ela atendeu ㅡ alô? Luhan? Como assim você queimou o arroz!? ㅡ ela gritou, indignada. Tentei segurar a risada, mas falhei, rindo um pouco baixo ㅡ não acredito! Aigoo, eu te deixei só por alguns minutos, luhan, minutos! Como consegue!? Eu- Aishi…Tá, tá, eu já vou, inferno! ㅡ ela desligou, bufando.
ㅡ Então ele queimou o arroz?
ㅡ Sim, esse tonto…Bom, Jimin, foi bom te reencontrar, mas eu preciso ir, senão ele coloca fogo na minha preciosa casinha.
ㅡ Oh, tudo bem.. ㅡ Eu aceno com a cabeça, passando a bolacha pelo caixa e dizendo o preço. Ela me pagou, com um sorriso no rosto.
ㅡ Bom, até querid-
ㅡ Eu…ㅡ a interrompi. Antes dela sair pela porta, ela me olhou, confusa ㅡ sou, ele. Eu sou um homem. Então, use pronomes masculinos comigo, por favor. ㅡ peço, nervoso.
Ela me encara por alguns segundos, um pouco perdida. Mas pelo meu alívio, ela logo sorri, olhando-me gentilmente e acenando com a cabeça.
ㅡ Então…Até, querido. ㅡ ele repete, abrindo a porta e dizendo: ㅡ foi realmente bom te rever, Jimin.
Sorrio, sentindo um pouco de nostalgia e apego no fundo, respondendo: ㅡ Digo o mesmo.
E então, ela some de minhas vistas, caminhando para o outro lado da rua.
Afinal de contas, o difícil não permanece tão ruim assim. Hoje, eu posso olhar para mim mesmo no espelho e não chorar. Estava sendo um pouco mais fácil, e eu estava um pouco mais feliz.
Por quê eu finalmente me aceitei. Aceitei que, de fato, eu sou, e sempre fui, um homem.
E nada mudaria isso.
FIM...( ou não. )
⚫⚪⚫⚪⚫⚪⚫
Ah, eu até que gostei de escrever a oneshot. O final não me agradou tanto, mas né, fazer o que.
Espero que tenham gostado, contei um pouco da estória de Park Jimin de TM, hehe. Gente, coitadinho, o bicho sofreu, eimmmm.
Bom, é só isso ...hehe, eu realmente não estou com o meu whatsapp para dar os devidos créditos!, Se você estiver lendo isso, me perdoa. Quando o meu celular ser arrumado, irei editar e colocar os seus users!
Bom, é só isso e:
Beijinhos da Bruh™
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