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O recomeço!

Eu e Thomas nos sentamos na recepção, ele segurava minha mão enquanto a garota nos encarava.

— Ele nunca me disse que você era gay. — Por fim ela disse o que eu suspeitava que ela fosse dizer.

— Ele não teve a oportunidade de me conhecer direito... — respondi escolhendo com cuidado as palavras. — E você, quem é? — perguntei.

— A namorada dele... — Ela não conseguia terminar as frases.

— Senhorita Santos! — A enfermeira saíra do pequeno corredor e anunciara o nome.

Achei um pouco estranho, já que muitas pessoas compartilhavam o sobrenome Santos, era difícil de saber a quem a enfermeira estava chamando.

— Me acompanhe! — continuou a enfermeira, desta vez olhava para a namorada do meu irmão.

Ela foi seguindo a enfermeira e durante uma hora eu e Thomas esperamos até que ela voltasse com Felipe sentado numa cadeira de rodas, eu e Thomas nós oferecemos para leva-los até em casa, não podia deixar que eles fossem de ônibus.

— Onde você está morando irmão? — perguntei enquanto dava a partida.

— No mesmo lugar de sempre — respondeu Felipe. Eu olhei pelo retrovisor para encara-lo, mas ele desviou o olhar.

O caminho até nossa antiga casa não era muito longo, mas naquele silêncio pareceu se estender por quilômetros.

— Pensei que nunca voltaria aqui antes... — disse enquanto saia do carro.

— E eu pensei que seria um jogador de futebol — retrucou Felipe sendo levado pela namorada, na direção da nossa casa.

— Amor, eu vou conversar com meu irmão... Você e o namorado dele podem ir lá para dentro — sussurrou Felipe a sua namorada, que entendeu o recado.

Ela e Thomas entraram. Felipe até tentou andar por contada própria, mas acabou precisando da minha ajuda. Estávamos indo na direção da casa abandonada quando decide perguntar:

— Por que você me chamou? Disse que nunca mais queria me ver.

— Fui equivocado! Logo depois que você saiu eu tentei ir atrás de você, mas não te encontrei — respondeu Felipe olhando para o céu. —, estava escuro e eu não conseguia ver direito.

— Mas sua namorada achou meu número? — falei e aquilo me intrigava.

— Você anda fazendo sucesso! — respondeu meu irmão dando um riso.

— São apenas alguns shows, nada demais. — Fiquei sem graça com toda aquela situação.

— Irmão, eu quero que você me perdoe — Felipe parou a cadeira com a mão, ainda estávamos a alguns metros do campo da trupe JMNF —, a morte da mãe não foi culpa sua... Eu não deveria ter colocado toda a pressão em cima de você.

Felipe se esticou para tocar o meu rosto enquanto lágrimas escorriam do seu, vimos uns garotos jogando bola na casa abandonada, o sofrimento era árduo nos olhos de meu irmão, sua dor era irreconhecível.

Por curiosidade decide pergunta como tudo aquilo aconteceu.

— Estava voltando do treino, escorreguei no meio fio e logo em seguida... — Ele fez uma pausa, se lembrando da situação. — Um carro passou por cima das minha pernas...

Encarei mais um pouco as crianças jogando bola.

— Como chegamos a esse ponto... — Eu mesmo tentava achar aquela resposta. — Onde erramos?

— Eu daria tudo pra ter mais uma chance e mudar a direção das coisas... Apagar a nossa briga, a morte da mãe, a morte de João e Marcelo e tudo que fez com que esse momento existe-se! — Felipe não estava mentindo quando disse aquelas palavras.

Pena que a vida não funcionava de tal maneira, não podíamos voltar no tempo, nem mudar a ordem das coisas, afinal... Nada acontece por acaso.

— Venha... Vamos comer, você é meu convidado — Felipe conseguiu virar a cadeira sozinho, mas ficou esperando que eu o levasse até em casa.

Quando fui me virar vi uma coisa acontecer, o dia anoiteceu rapidamente e uma estrela caiu do céu, essa brilhava mais e com uma porrada devastou a casa abandonada.

Ela chamou por mim, suplicou para que eu fosse pegá-la, mas não foi só um pressentimento era uma voz.

— O que foi isso? — perguntou Felipe olhando para trás.

— Você também viu? — perguntei abismado, finalmente ele tinha visto.

Juntos fomos atrás da casa abandonada ver a estrela que caíra, peguei-a na mão e a mostrei a Felipe.

— É linda... — ele disse, e aquele momento foi especial.

— Então agora você vê? — perguntei.

— Você não estava doido... — admitiu ele.

Nicolas — disse uma voz vinda da estrela —, Felipe... A amizade de vocês é forte e inabalável, nada pôde rompe-la, nem mesmo a morte de amigos e entes queridos... Por isso lhes dou uma última chance de aproveitar o tempo perdido, mas com uma consequência, terão suas vidas de agora deletadas, nada que aconteceu depois do dia em que Nicolas achou a primeira estrela estará aqui... As pessoas que vocês conheceram...

Eu olhei para meu irmão.

— Eu aceito! — disse ele.

Mas eu ainda estava com um pé atrás, eu queria que meu irmão tivesse sua vida normal, mas eu ainda amava Thomas e não queria perdê-lo.

— Eu aceito! — falei.

Meu irmão sempre esteve comigo e eu não poderia abandona-lo naquele momento.

Bem-vindos de volta... — disse a voz.

A estrela explodiu, uma poeira nos circundou, uma última olhada para a esquerda e Thomas estava ajudando a namorada de Felipe a colocar a mesa, aquele seu Black que me encantou desde a primeira vez que o vi entrar na sala do segundo ano. Peguei meu diário e rapidamente fiz uma desenho de palitinhos, eu segurando uma estrela, Thomas; Mateus, Lucas, Felipe em sua cadeira de rodas e sua namorada, todos juntos, a parte, da minha vida, que seria deletada

A estrela explodiu uma última vez e eu voltei no tempo.

— Colecionador! — gritou meu irmão.

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