As mensagens!
Dez anos se passaram e eu ainda tratava as estrelas como algo especial, não gostava quando meus colegas de classe criticavam meus poemas, coisa que meu namorado adorava quando eu lia para ele:
Sobre o céu estrelado, rasgado pelo preto
Iluminado pelo inalcançável
E unido pelas mais lindas constelações,
eu encaro seus olhos
Incomparáveis as estrelas,
mas fazem o trabalho de encantar!
Não brilham como a lua
mas a lua meu coração não consegue apaixonar!
Garoto do corpo dourado
e dos olhos prateados,
pra sempre quero te amar...
— Lindo Nicolas! — ele me beijava, meus pais não reclamavam quando eu o trazia pra casa.
— Filho! O dia da sua apresentação chegou! — gritou Lucas abrindo a porta do meu quarto, ele não batia e eu já me acostumara com isso.
— Não vai querer perder — completou Mateus surgindo atrás de Lucas. — Te esperamos lá embaixo.
Meus pais desceram as escadas, deixando eu e Thomas ainda deitados na minha cama.
Demorou alguns minutos para que eu lhe desse um último beijo e levantasse para pegar o meu violino e descer as escadas da casa que habitava há dez anos.
Meus pais me beijaram na testa assim que apareci na cozinha, não se fazia uma coisa dessas com um adolescente de dezessete anos.
Thomas apareceu em seguida...
— Vai também? — Lucas se virou na direção do meu namorado.
— É claro, você acha que eu perderia a apresentação do meu namorado? Eu encontro vocês lá... — respondeu Thomas dando um sorriso discreto.
— Então... O que estamos esperando? — perguntou Mateus.
Eu peguei o meu cardigan cinza e o joguei nas costas e saí seguindo os meus pais. O carro de Lucas era o maior, por isso decidimos ir no dele, Mateus havia deixado o molho de chaves com Thomas, para que ele fechasse a casa e pegasse o carro para ir ao Teatro Castro Alves.
O lugar era lindo. Foram poucas as vezes que eu tive a oportunidade de me apresentar e nenhuma havia sido num dos mais renomados teatros de Salvador.
Os pais de meus colegas de classe se sentavam da primeira até a décima fila, o resto havia sido ocupado por pessoas que compraram o ingresso. Nos bastidores todos estavam agitados, minha professora tentava acalmar a banda, mas ninguém lhe dava atenção. Aquilo me lembrou a cena que aconteceu há dez anos, quando uma explosão matou alguns dos meus colegas e a minha mãe biológica, o que me deixou estranhamente cabisbaixo.
— Entrem! — gritou a minha professora, mudando seu discurso.
Meu transe foi interrompido e a cada passo que eu dava em direção ao palco minha barriga ia esfriando, eu ficava nervoso, mas nada pra se desesperar.
A música começou com um solo dos violinos, a plateia ficou totalmente hipnotizada, e terminou com o meu solo, estava treinando aquilo há meses. No fim todos se levantaram e aplaudiram, era estranha a sensação que sinta naquele momento, um misto de alegria, porém também tristeza. A banda se levantou, fizemos os devidos agradecimentos e nós retiramos em aos bastidores, onde meus pais e meu namorado estavam me esperando eufóricos.
— Isso foi demais filho! — Lucas e Mateus me beijaram no rosto.
Thomas deu passos discretos em minha direção, ele segurava uma estrela dourada, de pelúcia, nas mãos.
— Você é incrível... — sussurrou Thomas. Eu peguei a estrela e o beijei, enquanto meus pai saiam de fininho, pensando que ninguém estava os vendo.
Eu e Thomas fomos em direção ao estacionamento, ele me levaria pra casa, já que meus pais haviam saído para uma "espécie de encontro". Foi o que disseram.
— Pode pegar o meu celular? — pedi a Thomas, já que ele era o motorista e o meu celular estava na porta.
Meu namorado pegou o meu celular e ao desbloquear viu duas mensagens não lidas de Felipe.
— Quem é esse? — Thomas não estava muito satisfeito com aquilo. Podia sentir seu ciúmes.
— Como ele tem meu número? — pensei.
— Ele quem Nicolas... Quem é Felipe? — Thomas estava ficando sem paciência.
— Meu irmão... — respondi às pressas. — Ou era.
Peguei o celular de sua mão e li as mensagens de Felipe.
— Ele quer que eu vá ao hospital, ele está internado... — Estava boquiaberto com aquilo.
— O que aconteceu com vocês? — perguntou Thomas sem entender o que estava acontecendo. — Você nunca me disse que tinha um irmão.
Eu joguei a cabeça no airbag.
— Como explicaria aquilo? — pensei.
Foi então que lembrei do meu diário, assim que comecei a morar com Mateus e Lucas eu mantinha um diário atualizado com tudo o que acontecia e suas primeiras páginas eram aqueles tristes dias.
Entreguei o pequeno diário a meu namorado e deixei que ele lesse todos os meus mais profundos segredos.
— Brigamos, e ele disse que nunca mais queria me ver... — disse quando ele terminou a leitura.
— Acho melhor você ver o que ele quer... — disse Thomas me devolvendo o diário. — Pode ser importante.
— E se não for? — perguntei, e aquilo poderia ser mais do que uma especulação.
— Você só vai descobrir se for lá. — Thomas me encarou com seus olhos penetrantes.
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