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HERÓI

"Quem perde seus bens perde muito; quem perde um amigo perde mais; mas quem perde a coragem perde tudo."
Miguel de Cervantes

         Já faz uma semana que Júlio não consegue falar com Rafael. A última frase dita pelo seu irmão foi: " Não deixe de ser precavido". E Júlio sabe que Rafael tinha todas as razões do mundo para lhe dizer isso.

         E seu irmão nunca errou. Pelo menos não, até hoje. A vinheta conhecida de um plantão de jornal com suas últimas notícias, de caráter urgente, toca informando que vem novidades.

         Júlio, olha estarrecido o repórter afirmando que o assassino da freira irá se entregar. A grande imprensa ainda não sabe que Rafael, era o pai da menina, e Júlio não sabia dizer como isso iria terminar e se no final todos saberiam de mais uma verdade. O estrago no coração de Laura, já fora feito... e isso, foi a gota d'água para Rafael.

         A promessa dele entregar-se foi mantida, mas a custo de que? De quantos? Isso mesmo, quantas pessoas mais iriam morrer? Rafael, nunca agiu com vingança, não até agora... e já morreram tantos. Só o futuro responderá as suas e as nossas perguntas.

         Júlio, assiste as viaturas com suas sirenes ligadas, passando pelos meios dos carros, subindo meio-fio e avançando os sinais vermelhos. Jogando seu corpo para frente, ele vai assistindo a transmissão com seu coração na mão.

         Sua esposa, traz uma cerveja long neck aberta, para ele beber enquanto assiste à jornada do seu herói. Como um filme hollywoodiano, as seis viaturas freiam na frente da casa, cercada por terremos baldios, onde o assassino da freira estava supostamente escondido.

         O delegado Barros, desce da viatura falando ao telefone. Ele está usando uma camisa azul marinho, tendo o nome da corporação bordado no lado esquerdo do peito.

         Os doze homens descem das viaturas veraneios-vascaínas, acompanhando o delegado Barros na incursão. Com armas em punho, eles se posicionam para invadirem a casa.

— Atenção homens. Escutem o que tenho a dizer. O cara que está lá dentro, encontra-se fodido da saúde, mas, não o subestimem. Ele já matou mais pessoas, do que todos nós juntos. Entendido?

         Todos respondem:

SIM SENHOR!

         Um policial caucasiano, usando um aríete preto, faz a gangorra com o peso e dana no portão de madeira da entrada da garagem, jogando-o longe.

         Iguais um trem, os homens entram capitaneados pelo Delegado Barros. Fazendo um corredor polonês, os policiais deixam o policial com o aríete passar pelo meio deles e novamente abrir a porta da casa à força.

         O delgado Barros, com sua pistola em punho, é o primeiro a entrar na casa. Ele vai entrando com cuidado. Medindo cuidadosamente seus passos.

         Rafael, está sentado numa cadeira do papai, virada para a televisão que lhe mostra tudo.

— Eu sou o delegado Barros. Levante suas mãos! — O homem continua sentado — Eu não estou pedindo! Eu quero ver suas mãos agora! — Nada. Nenhum movimento. Com cuidado os homens cercam a cadeira, fazendo uma lua crescente com Rafael sentado de costas para eles.

         O delegado Barros, percebe uma folha sendo segurada dentro da mão esquerda do assassino. Olhando para os demais policiais, avisa por gestos que vai pegar a folha da mão do homem.

         Com cuidado olha todo o lugar em volta do homem sentado. E certifica-se que está limpo, suspirando, puxa o papel. Depois de ler, chega perto do assassino e com os dedos indicador e maior de todos, certifica-se que o ele está morto. Rafael, está com duas moedas de prata em seus olhos.

         Da sua fisionomia, some todo seu sangue ao ler o texto. Imediatamente ele faz uma ligação:

— Meus parabéns delegado Barros! O senhor é meu herói! — Grita Glauco animadamente.

— O homem está morto.

— Que notícia maravilhosa.

— Não comemore ainda. Ele deixou uma carta.

— E o que tem de tão importante nela, que o faz temer um homem morto?

— Ele afirma que é o assassino, matou sobre suas ordens, e deixou todos os nomes dos homens que matou e que vai matar.

— E quem vai matar? Não diga que o meu está escrito nesse papel? — Galhofa Glauco.

Sim. O meu nome, o seu, os dos seus filhos, dos meus homens... todos estão anotados nessa folha.

— E você está preocupado com o quê? Mete uma bala na cabeça dele, se estiver com dúvidas se ele desencarnou ou não. — Glauco gargalha.

Ele termina dizendo que um homem sem nada a perder, é o pior inimigo que uma pessoa possa ter... e diz adeus.

         Glauco, solta o celular no chão, ao ver, pela televisão, toda a casa de Rafael ir pelos ares.

          O homem com seus filhos, assiste estarrecido, o cogumelo de fumaça preta subindo aos céus e se expandindo para todos os lados.

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