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CAPÍTULO VIII - TELHAS

          Padre Leléo caminha vagarosamente de volta para sua casa. Deixou o quatrilho instalado na casa paroquial, e mesmo sobre o peso da sua idade, a cabeça do vigário anda lúcida e voando.

          O padre sempre teve um ponto forte em toda sua vida: era detalhista.

          A arte de ser detalhista, consiste quando a pessoa começa a observar detalhes, que ninguém mais nota.

Pontos que outros não enxergam.

Comentários que parecem largados, mas que na verdade, tem um sentido... um propósito.

           O padre Leléo percebeu quatro detalhes hoje, no encontro que teve com os dois casais.

           O primeiro detalhe foi a pressa em querer um abrigo antes do pôr do sol.

           No segundo detalhe, eles demoravam muito para piscar os olhos, e isso causou muito estranheza no padre Leléo.

           O terceiro detalhe e não menos importante... ao se despedir deles, padre Leléo percebeu que os três não sentaram a mesa para jantar, mas continuaram no escuro. Ao lado da janela que mira a cidade.

         Uma coisa estranha... mas não é estranha pelo fato de terem ficado parados no escuro, conversando e olhando para as ruas da cidade.

O que fez a testa do padre Leléo franzir, foram os olhares intermináveis e as conversas com sons desconexos que os três faziam na sua direção, enquanto se despedia de Paulo.

         E aí entra a quarta coisa estranha, ou, o quarto detalhe...

O padre Leléo conheceu um padre Russo chamado Dimitri Kievtchenko. E o idioma russo não soava daquele jeito. Não tinha aquele som que fazia um estalo se prolongar para dentro da garganta.

           O som provocado pela língua deles era diferente. Molhado. Estalado. Agudo. Para dentro do corpo.

É como se pegasse dois pedaços de madeira e batesse um contra o outro - iguais duas tampas de panelas que se chocam -, fazendo um som agudo. Esse seria o som inicial.

          Depois, puxando nossas línguas para dentro da garganta, provocaríamos estalos molhados e entrecortados para finalmente soltarmos dois sibilos longos e macabros, como o que fazem os pássaros da família Estalador.

           Não que fosse exatamente assim, mas algo humanamente explicado pela cabeça pensante do sacerdote.

           O padre Leléo sabe que o mundo é vasto. Gigante. Imenso. Porém o universo, é infinitamente milhares de vezes maior que o planeta Terra.

            Ele tem certeza que Nosso senhor Jesus Cristo não criaria apenas um planeta com tanta diversidade de vida.

          E tem uma coisa que faz seu coração acelerar e o suor descer pela sua testa ao acabar de pensar nela... não faz cinco anos que a humanidade saiu da segunda grande guerra mundial e as notícias que chegaram em Brechó, sobre os campos de concentrações que matavam milhões de pessoas, lembraram para essa pequena cidade, o quanto o homem poderia ser maligno.

          Não há fronteiras para a maldade humana... e isso o padre Leléo e milhões de pessoas viram e souberam.

           E a maldade vinda de um mundo mais distante? E se o quatrilho veio de outro planeta? De outro universo?

— Meu Deus... — O padre se benze angustiado. — E se forem demônios? E se eles fugiram do inferno? — Pensa o clérigo em voz alta e novamente faz o sinal da cruz como sinal de proteção, por sete vezes.

             O padre Leléo já enxerga a grade do portão da sua casa, quando é arrastado para cima do telhado de uma casa que a pintura rosa já ficou branca em quando sua totalidade.

           Algumas telhas que ficam na borda do telhado, caem numa sequência bizarra. Como se algo suficiente pesado pudesse derruba-las enquanto corre por cima do telhado, mas ao mesmo tempo leve o suficiente para não cair, e se juntar aos cacos quebrados no chão.

           O terceiro botão da batina do padre Leléo, onde os três juntos simbolizam a santíssima trindade, cai do céu e vai usando as telhas que restaram do telhado como trampolim, até chegar no chão.

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