CAPITULO I - FINITUDE
Os três homens olham demoradamente para a pobre moça que chora compulsivamente. O mundo dela gira. Sua mente fica turva. Jaciara sente que vai desmaiar a qualquer momento.
A cor da pele da jovem está empalidecida e seu corpo sacoleja de tanto medo. Chega a parecer uma bandeira presa ao mastro, acoitada pelo vento frio.
As figuras andróginas, albinas e inconsequentes, com seus olhos pardos e aprofundados na carne, continuam quietos e sem qualquer expressão de piedade para com a pobre moça que não para de chorar no canto da parede, pressentindo o final que lhe aguarda.
— O que vocês acham dela? – Pergunta o que se encontra mais perto da porta do quarto. O cabelo dele lembra a peruca usada pelo Hulk da série da tv, dos anos 70. Porém, preta.
— Não sei... ela é pequena, mas deve servir. – Responde o homem que se encontra no meio dos outros dois. A sua voz é cheia de receio ao analisar o corpo de Jaciara.
— Sim. Com certeza ela servirá. Mesmo sendo tão franzina. – O último a fazer o comentário encontra-se com suas costas apoiadas na parede branca do quarto no primeiro andar da casa. — Não chore criança, só queremos seu corpo. Isso já nos bastará.
A forma como ele fala, a faz sentir como um pedaço de carne pendura num açougue de beira de estrada, disputada por moscas varejeiras. Como se o que fora dito, não fosse nada. Algo de menos ou pouco valor. Na verdade, pensando melhor, ela não tem importância nenhuma para eles.
A jovem cobre o rosto com a mão esquerda, em total terror e desespero. Seu coração aumenta os batimentos cardíacos. Seus pulmões buscam o oxigênio que não consegue passar pela garganta, quase lhe causando uma parada cardíaca.
Não há como fugir.
— P-por favor, meu pai é rico. Não façam nada comigo. Ele dará o que pedirem. – A voz entrecortada e desesperada de Jaciara soa como um balsamo nos ouvidos dos três amaldiçoados.
— Não queremos dinheiro, criança. O dinheiro não é o nosso problema. Aliás, o dinheiro nunca foi e nunca será algum problema. Mas a finitude... ela sim é nosso problema. Um baita de um problemão... a nossa vida é breve e precisamos prorrogar nosso prazo de validade procriando.
— Se serve de algum consolo – agora é homem do meio que toma a dianteira da conversa —, nada disso que aconteceu com você será em vão. Nós precisamos de você. Não é pessoal. Se pudéssemos escolher as mulheres que fossem essencialmente más, tenha certeza que faríamos isso. Porém, temos uma questão genética que fala bem mais alto que a moralidade.
O primeiro que falou aproxima-se de Jaciara e, ajoelhando-se diante dela limpa suas lagrimas. A jovem grita em desespero cortante. Suplica pela vida agarrando com força as mangas compridas da camisa xadrez preta e vermelha do que está na sua frente, mas nada disso comove o coração de nenhum deles.
Jaciara se sente gritando para o nada. Gritando no vácuo do espaço. Gritando dentro de um limbo perdido ou embaixo de milhares metros cubos de água.
Era como se sua voz perdesse o som ao sair da sua boca, mal podendo ser ouvida por ela mesma. Ao passar a mão sobre os olhos de Jaciara, a jovem desmaia caindo sobre os braços daquele que estava diante dela.
Sem dificuldades, o homem levanta-se com Jaciara nos seus braços, e a coloca deitada sobre a cama de casal forrada com lençóis brancos e acetinados. Os três parecem conversar mentalmente entre si, respondendo com olhares que movimentam as testas sem sobrancelhas.
As confirmações das ações, recebem os "sins" pelo balançar positivo das cabeças.
Uma mulher albina e careca vestindo uma túnica azul, abre a porta e entra no quarto com mais outra duas. Elas aparentam ter mais de cinquenta anos, são idênticas e com expressões cansadas.
Com imensa desenvoltura e rapidez, elas levam Jaciara desacordada para o quarto do que se ajoelhou diante da moça.
— Vai irmão, vai. O tempo urge. Perpetua nosso povo. E que desse ventre venha uma com ovário firme.
Os três se abraçam unindo suas testas.
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