capítulo oito
No último capítulo de O Clube dos Jovens Quebrados
Maria conheceu Damien e, pela primeira vez, beijou um desconhecido em festa. Davi pegou os dois no flagra e ficou incomodado com isso, mesmo sem entender a razão disso. Conheceu Cecilia e passou a desabafar com ela, quase uma sessão de terapia grátis. Alguém está arrombando carros na rua e batendo em postes por diversão. Maria tomou um susto ao perceber que esse alguém era Damien.
— Puta que pariu, aquele carro é meu!
Gritou um garoto loiro quando conseguiu abrir caminho entre a multidão e encontrou o seu HB20 destroçado na traseira de outro carro, que por sua vez, estava destruído em um poste.
Damien sabia dirigir perigosamente. E sabia bater carros como ninguém. Ele destruiu dois carros sem hesitar para uma plateia de adolescentes que mal conseguiam acreditar no que estavam vendo. Era uma espetáculo e ninguém precisou comprar ingressos. Eles gritavam em coro:
DA MI EN
DA MI EN
DA MI EN
DA MI EN
— Quem é esse idiota? — Juliana perguntou, incrédula. — Ele não é da escola, né?
Maria não respondeu. Ela sabia quem era esse idiota. Na verdade, eles estavam se beijando minutos antes. Damien parecia tão gentil e educado quando conversaram no banheiro, como ele pode ser a mesma pessoa que agora está arrombando carros de desconhecidos?
— Idiota? Este é o cara mais legal do mundo! — Gabriel brandou. — Vocês estão vendo o que estou vendo?
— Como você pode achar isso legal? — Juliana encarou Gabriel com o seu típico olhar julgador.
— Como você pode NÃO achar isso legal? — Ele retrucou, ainda animado com que acabara de presenciar.
Enquanto era ovacionado, Damien subiu em um dos carros e ergueu os braços como um rockstar no meio do show. Ele estava adorando a atenção e não se importava com o que os donos do carro pensavam a respeito.
Maria olhou para trás. Ela ouvia um barulho distante que aumentava lentamente, como se algo estivesse se aproximando. Por mais que tentasse, não conseguia distinguir a origem do som. Parecia uma máquina, lembrava o sinal da escola.
— Vocês estão ouvindo isso? — Maria perguntou para Gabriel e Juliana.
— Tudo que ouço é o grito desses pouco cérebro que nos cercam — Juliana respondeu.
Gabriel não respondeu pois estava ocupado demais ovacionando Damien.
Não demorou para Maria descobrir do que se tratava.
— A POLÍCIA TA VINDO! — Alguém gritou no meio da multidão.
Você deve imaginar o tipo de alvoroço que a polícia pode causar numa festa cheia de menores de idade bebendo álcool e fazendo sabe-Deus-o-que-mais. Principalmente, considerando que um deles estava praticando direção deliberadamente perigosa.
Todos começaram a correr imediatamente. O desespero foi generalizado.
— Vem logo! — Juliana pegou no braço de Maria e puxou para correrem juntas para o mais longe possível.
Gabriel tentava acompanhar a multidão, mas se andar em linha reta já era um desafio para ele, correr era pior ainda. Um dos vários pontos negativos em encher a cara. Tropeçava e caía com frequência, quase sendo pisoteado.
— O Gabriel ficou para trás! — Maria gritou.
— Ele sabe se virar — Juliana respondeu. — Corre mais rápido!
Frases que era possível ouvir no meio da correria
O meu pai vai me matar! Corre, eles estão vindo! Merda, alguém viu o meu celular? Quem deixou aquele cara zoar o meu carro? Corre mais rápido! Eu não consigo, estou de salto! Sério, alguém viu o meu celular? Alguém conhece o dono da casa? Quem era aquele doido dos carros?
Enquanto ficava sem ar de tanto correr, Maria pensava se todas as festas de adolescentes eram como aquela. Pela primeira vez, ela decidiu sair de casa para fazer algo que os jovens fazem e isso resultou em beijar estranhos, se arrepender de beijar estranhos e correr da polícia. Ela prometeu a si mesma que nunca mais passaria uma sexta a noite fora de casa.
***
— Você não vai me convencer! — Cecilia exclamou aos risos, ainda deitada na cama e bebendo cerveja. — O Apanhador no Campo de Centeio é um livro horrível!
— Não é não! — Davi insistiu, também se divertindo com a situação. — É um dos melhores livros do mundo!
— Como você consegue gostar desse livro? Aquele personagem principal é um porre! — Cecilia retrucou. — Ele odeia tudo e todos, além de ser um tantinho sexista!
— Mas livros não precisam de personagens bonzinhos para serem bons! Um protagonista pode ser horrível, mas o que importa mesmo é a história.
Os dois estavam tão absortos em sua conversa que não perceberam a movimentação estranha que aconteceu do lado de fora do quarto. A música alta disfarçou o som dos carros batendo no poste e a gritaria dos adolescentes não chamou a atenção.
— Sabe, Davi — Cecilia continuou. — Você até que é bem fofo.
— Hum, obrigado — Davi respondeu. — Você também é bem fofa.
— Acho que está rolando um clima aqui — Cecilia sorriu. — Mas eu não vou te beijar.
Davi petrificou. Ele não estava pensando em beijar ninguém enquanto conversava com Cecilia, mas agora que foi rejeitado, a vontade meio que surgiu do nada.
— Não?
— Não. Eu não beijo pessoas apaixonadas.
— Eu não estou apaixonado, Cecilia.
— Talvez você ainda não saiba, mas está louquinho por essa Maria.
— Você precisa parar de tentar ler a minha mente.
Antes que Cecilia pudesse responder, a porta do quarto abriu. A polícia entrou. Três deles, com a arma guardada na cintura e lanternas acesas na mão iluminando o caminho. Cecilia tomou um susto e sentou na cama imediatamente, Davi imitou o seu gesto. O que teria acontecido para a polícia invadir assim?
— Boa noite, senhores — o policial maior disse. — Estamos atrapalhando alguma coisa?
— Não senhor — Cecilia respondeu olhando para o chão.
O policial passou a luz da lanterna pelo chão do quarto iluminando as garrafas de cerveja vazias jogadas por todo lado e o pacote vazio de Malboro. Cecilia tremia de medo de chamarem os seus pais e contarem o que a sua filha menor de idade estava fazendo.
— Vocês são os donos da casa? — Ele perguntou.
— Não senhor — Cecilia respondeu novamente, antes que Davi tivesse a chance de abrir a boca.
— Tem certeza? Vocês parecem bem à vontade aqui, deitados na cama do dono e tudo mais. Os verdadeiros donos sabem que vocês estão aqui?
— Não senhor — Cecilia repetiu pela terceira vez, como um robô programado.
— E vocês sabem alguma coisa sobre o acidente de carro que aconteceu aqui na frente? Ou estavam chapados demais para isso? E desta vez eu adoraria ouvir uma resposta diferente de "não senhor".
— Não saímos do quarto a noite inteira, então não ouvimos nada — Cecilia disse, ainda sem ousar no olho do homem que a interrogava.
O policial jogou a luz da lanterna no rosto de Cecilia e depois em Davi. Suspirou fundo e disse:
— Ok, mocinha. Você está dispensada, corre para casa antes que eu me arrependa.
Cecilia levantou como uma bala e correu corredor afora, olhando para trás apenas o suficiente para acenar uma despedida para Davi. Foi possível ouvir o barulho dos seus pés descendo a escada rapidamente.
Davi levantou da cama lentamente, sabia que deveria ser cuidadoso com policiais. As pessoas da escola podem encarar os homens fardados como alguém que está lá para protegê-los, mas no bairro onde ele cresceu, a insígnia da polícia pode significar muitas coisas diferentes. Inclusive, problemas sérios.
— Eu quero os seus documentos na minha mão. E quero rápido — o policial estendeu a mão vazia.
Davi estava com a mão no bolso procurando pela carteira quando lhe surgiu um estalo que fez com que falasse pela primeira vez desde que os três homens invadiram o quarto.
— Por que você pediu só o meu documento?
O policial estreitou os olhos.
— Acho que não te ouvi direito, garoto.
Davi continuou.
— Você deixou a garota sair do quarto, mas pediu o meu documento. Estávamos juntos, nas mesmas condições. Por que você pediu só o meu documento?
O policial passou a luz da lanterna em Davi de cima a baixo, procurando sinais de irregularidades. Davi sabia porque a garota de pele clara fora dispensada sem problemas enquanto ele teria que dar explicações e exibir documentos. Fora assim a vida inteira. Pessoas como ele são tratadas de maneira diferente por autoridades, seguranças, vendedores de lojas e homens de terno. Sempre inventam uma desculpa. Falam que é por causa do boné, da roupa, da situação. Sempre tentam mascarar a verdade inconveniente que qualquer um consegue enxergar.
Mesmo sabendo a resposta, Davi não deixaria de perguntar. Ele passou a vida inteira prestando satisfações sem fazer nada de errado. Chegou a hora de cobrar satisfações de quem merece. Nem que seja para ouvir uma desculpa esfarrapada.
— Você está questionando a minha autoridade, moleque? — O policial levantou a voz. — Se não tem nada a esconder, me passe os seus documentos agora.
— Acontece que eu estou questionando, sim — Davi deu um passo a frente. — Por que só eu tenho que mostrar meus documentos?
Até o próximo capítulo de O Clube dos Jovens Quebrados.
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Nota do Sali
Oi, pessoal. Gostaram do capítulo?
Espero que não estejam (muito) bravos com a velocidade dos capítulo. Para não deixar vocês no escuro, vou explicar a razão disso.
No começo do ano assinei com a Alessandra Ruiz como agente literária. Ela trabalha com gente de peso como André Vianco e Thalita Rebouças. Sabendo da oportunidade, comecei a trabalhar em um livro inédito com ela para ser lançado em papel ano que vem. Quero escrever o melhor livro que conseguir escrever e isso toma muito tempo. Por isso, não consigo trabalhar no Clube dos Jovens Quebrados todos os dias. Espero que entendam. A boa notícia é que esse livro novo está quase pronto e quando isso acontecer o CDJQ terá muuitas atualizações.
Nos vemos por aí!
Leia livros e seja gentil com as pessoas.
Felipe Sali.
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Pergunta do capítulo
Tive uma ideia para um joguinho. Toda semana vou fazer uma pergunta ao final do capítulo, a melhor resposta vai aparecer aqui na próxima postagem. A pergunta de hoje é:
Qual é a sua interpretação para o título do capítulo de hoje?
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