capítulo doze
Maria estava tão condicionada a obedecer regras que o seu primeiro reflexo quando saiu da sala de aula foi, de fato, ir até o banheiro. Damien a interceptou no meio do caminho.
— Eu não acreditei que você viria mesmo.
— Para ser sincera, eu também não acreditei. Aliás, foi uma péssima ideia, vou voltar para a sala!
— Não, não, não, fica aqui — pulou na frente da garota para evitar que ela escapasse. — Podemos aproveitar uma boa tarde aqui fora. Tem um milhão de coisas legais que podemos fazer!
— Se ficarmos por aqui o máximo que pode acontecer é alguma inspetora flagrar a gente.
— Quem disse que vamos ficar aqui? — Ele sorriu. — Eu disse que iria te mostrar uma coisa, não é?
— Meu querido, eu já matei aula por sua causa. Nada no mundo me fará pular o muro da escola!
— Tem certeza?
— Absoluta!
— Hum...
Dificilmente Maria conseguiria explicar o que aconteceu em seguida, foi rápido demais. Damien, sem mais nem menos, deu o maior berro que conseguiu. Um berro que ecoou pelo colégio inteiro, despertando até o mais sonolento dos alunos.
Enquanto Maria se recuperava do susto, ele tomou impulso e, com destreza, escalou o muro baixinho da escola.
— Agora todos os inspetores e professores estão vindo para cá — estendeu a mão de cima do muro com um sorriso vitorioso. — Sua escolha... ou vem comigo ou vai ser pega por eles.
Foi assim que Maria pulou o muro da escola.
Do lado de dentro da sala, Juliana estava agitada. O seu sexto sentido dizia que o grito que ouvira era de Damien e que a Maria já devia ter voltado do banheiro. Mandou várias mensagens para a amiga, alternando entre tom carinhoso "estou preocupada, cadê você?" e raiva, "se você estiver com aquele marginal, vou quebrar a tua cara, sua Taylor Swift de Araraquara".
A professora continuava a sua aula monótona sem notar que a única aluna interessada em ouvir o que diz não voltou do banheiro mesmo depois de quinze minutos.
***
— Eu não estou acreditando, não estou acreditando, não estou acreditando... — Maria tremia, Damien segurou na sua mão e a guiou rua abaixo. — Eu não estou acreditando que pulei o muro da escola. Isso é tão... tão...
— "Tão" o que?
— Tão não eu!
— Ao meu ver, uma vez que você fez, aquilo se tornou você automaticamente. Não se limite assim...
— Para onde estamos indo?
Damien tirou a chave do bolso e apertou o botão do chaveiro. O carro estacionado a três passos deles piscou as luzes e apitou.
Maria travou imediatamente.
— Mas nem pensar!
— O que aconteceu, loirinha?
— Nem pensar que eu vou entrar em um carro com você dirigindo! — Ela exclamou. — Eu vi o que você fez na festa!
— Você viu aquilo? — Ele não parecia tão envergonhado quanto deveria. — Dessa vez é diferente, eu não quero bater o carro.
— E na festa você queria?
— Mas é claro!
— Isso já é estranho demais para mim! Eu não vou entrar nesse carro de jeito nenhum! Você tem carteira de motorista?
— Vou ter... quando fizer dezoito anos. Não dá para tirar carteira na minha idade.
— Você ta de brincadeira comigo? E se a polícia nos pegar?
Damien entrou no carro, colocou a chave na ignição e girou.
— Maria, eu nunca vou te obrigar a fazer nada — ele aumentou a voz para ser ouvido por cima do barulho do motor. — Mas não finja que você não quer vir comigo. Está bem na cara que você quer.
— Você não me conhece, Damien...
— Para ser sincero, sinto que te conheço há anos!
Maria sorriu. E entrou no carro. É claro.
***
Damien colocou música para tocar dirigiu pelas ruas da cidade conversando com a sua nova passageira. Maria não precisou de mais de dez minutos para esquecer o medo e se soltar. Nem ao menos perguntou para onde estavam indo.
A cidade tem uma emissora de televisão local, afiliada a TV Globo. Eles ocupavam um prédio enorme e chique no centro, mas as mudanças digitais impactaram negativamente a vida financeira da empresa. Depois de uma demissão em massa, a TV local foi obrigada a largar o prédio e alugar um escritório mais modesto. Ninguém ocupou o seu lugar e o prédio abandonado virou uma espécie de ornamento da cidade. No meio da noite, sem que ninguém percebesse, um grafiteiro foi até lá e desenhou em parte da lateral do edifício. Na outra noite, outro grafiteiro apareceu e complementou a ilustração. Assim, pouco a pouco, um grande mural foi pintado e pouco se podia enxergar a cor original da parede. Um retângulo de três lados cinzas e uma obra de arte.
Foi lá que o carro parou. Em frente a grande parede/mural.
— Era isso que você queria me mostrar? — Maria não conseguiu disfarçar a pontada de decepção. — O prédio pichado?
— Não é pichado, ele é grafitado. São coisas completamente diferentes.
— Tem certeza de que são diferentes?
— Como barulho e música.
— Mas eu já vi essa parede um milhão de vezes!
Era verdade. Maria, assim como a maioria dos moradores da cidade, passava pelo prédio todos os dias a caminho de casa.
— Você acha que já viu, mas isso não é verdade. Olhe de novo!
Contrariada, Maria olhou para a parede. O desenho do palhaço gigante era tão chamativo quanto sempre. Pela primeira vez, ela notou que a roupa do palhaço era formada por desenhos de anjos e as vestimentas dos anjos eram compostas por desenhos de demônios menores e que os demônios formavam palavras. "Medo". "Ganância". "Dinheiro".
— Uau...
— Esse é o problema com todos nós, Maria — Damien disse. — Nós passamos pela vida, mas nunca paramos e reparamos nela realmente, né? Ficamos perseguindo dinheiro, realizações pessoais, sonhos, mas parece que nunca chega o momento em que ficamos satisfeitos e começamos a viver. Olhar para as coisas. Prestar atenção. Sentir cheiros. É ridículo! Se você tem dinheiro, estabilidade e juventude, decide que é hora de ter filhos. Quando termina de pagar o apartamento, acredita que precisa de um maior.
— Acho que não nos impede de viver, ué.
— Impede sim, Maria. Você nunca olhou para a parede! A PAREDE! Imagina o resto! Sabe qual é a pior parte? Quando alguém morre e um padre diz que O MELHOR AINDA ESTÁ POR VIR! Eu vou ter que esperar morrer para começar a viver?
Abriu o porta luvas do carro e tirou um pacote grande de Doritos. Abriu e ofereceu para Maria. Eles comeram em silêncio por longos minutos, observando o mural e descobrindo novos detalhes.
— Eu posso te perguntar uma coisa? — Ela disse.
— Vai perguntar dos carros?
— Exatamente.
— Pode perguntar.
Maria ficou feliz por ele não parecer incomodado com o assunto. Aquilo insistia na mente dela e tinha medo de que não conseguisse abordar o assunto para sanar a sua curiosidade.
— Por que você fez aquilo?
— É algo que faço sempre — ele respondeu. — Desde o começo do ano, pelo menos.
— Mas, sem motivo?
— É divertido! Você não viu como o pessoal vibrou?
— E os donos dos carros?
— Eles superam. São garotos ricos, não são? Existem coisas irreversíveis por aí e um capô amassado não é uma delas.
— Você poderia ter se machucado...
Damien sorriu.
— Está preocupada comigo?
— Mais para curiosa.
— Eu nunca sou sincero com ninguém, Maria. Mas, acho que com você eu posso ser — virou os olhos castanhos penetrantes na direção da garota loira com os dedos sujos de Doritos sentada no banco do passageiro. — Eu poderia me machucar, mas não me importo.
O telefone de Maria tocou.
— Um segundo — ela disse, antes que pudesse absorver a resposta macabra de Damien — Alô, Juliana?
— Sim, sou eu — Juliana disse. — Onde você está? A professora deu por sua falta e falou com a diretora. As duas estão te procurando agora e disseram que se não voltar em dez minutos vão chamar a polícia!
A polícia de novo, não.
— Eu estou voltando! Não deixe que liguem para a minha mãe! Pelo amor de Deus!
— Até parece que eu vou impedir a diretora de qualquer coisa. Onde você está?
— Estou voltando.
— Olha, eu sei que você deve está se divertindo com o seu Vin Diesel aí, mas não acha que está esquecendo de nada?
Ela lembrou.
— Ah não...
— Pois é, Maria.
Davi mandou a décima e última mensagem para Maria, ela não respondeu. A amiga prometeu a ele que o encontraria depois da aula para ajudá-lo com o livro que estava escrevendo. Ele ficou animado com a ideia, pensou em levá-la para uma lanchonete que conhece, onde a esfiha é baratinha e as mesas são grandes. Poderiam ficar a sós por lá e conversar sobre o livro a vontade.
Os alunos saíram das classes um a um e nada da Maria. Davi estranhou, mas continuou esperando. Até a hora em que ficou claro, ela não apareceria.
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NOTA DO SALI
Leu o capítulo e já está bravo comigo porque vai ter que esperar mais um mês para continuar lendo? Não fique! Fico feliz em dizer que o próximo capítulo vai sair semana que vem. Obrigado pela paciência comigo, pessoal!
Se você me acompanha nas redes sociais já sabe o quão feliz estou. Isso porque recebi um convite da Poeme-se para lançar a nossa camiseta oficial. Sim, agora somos um fandom do Wattpad com uma camiseta para chamar de sua!
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Até o próximo capítulo!
Leia livros e seja gentil com as pessoas.
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MELHOR RESPOSTA
Toda semana faço uma pergunta no final do capítulo para vocês responderem. A melhor resposta aparece sempre no capítulo seguinte.
Essa foi a melhor resposta para: QUAL SERIA O CASTING PERFEITO DO CLUBE?
A PERGUNTA DO CAPÍTULO É
COM QUAL CELEBRIDADE VOCÊ SHIPPARIA UM DOS MEMBROS DO CLUBE E PORQUE?
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