6.2 ANGUSTIA
O policial acendia o cigarro enquanto me observava. A maquiagem que Maycon havia feito, a essa hora estava ao redor de todo meu olho. Não me espantaria se estivesse parecendo uma aberração saída direto de um filme de terror.
Mas o fato é, eu estava ali na delegacia e ninguém me dizia nada. Eu já havia chorado o resto da noite e eles não me deixavam ir para o hospital que a minha mãe estava.
Eu já havia contado sobre o desaparecimento do Noah e dado todos os detalhes dos acontecimentos, mas não tinha nenhuma notícia sobre o caso.
A polícia de Querjum sem dúvidas é uma das mais incompetentes de todo continente, chegando a nível do Brasil, um país do Sul da América conhecido por ser corrupto e demorar anos com tanta burocracia.
Mesmo meio de longe eu poderia ouvir algumas conversas, então uma mulher muito linda chegou ali tirou a atenção de todos. Depois adentrou a sala do delegado sem ninguém a direcionar, parecendo nervosa.
Ela era a investigadora do caso, pelo que percebi, depois que o seu assistente comentou com a secretaria, que se jogava em cima dele claramente apenas por uma troca de informações.
A mulher perguntou baixo, mas eu ainda escutava, disfarcei, parecendo chorar, afinal como minha aparência já estava péssima, minha atuação se tornava perfeita só de olhar para mim.
O estagiário acabou contando ali oque sabia, depois da mulher se aproximar um pouco mais, abrindo alguns botões da sua blusa, deixando a mostra um pouco mais do seu decote, oque o deixou nervoso.
— Não encontramos nada — Ele disse tentando parecer sério. Mas não gostou da reação da mulher, que revirou os olhos parecendo não acreditar no que disse mas então continuou.
— Não encontramos nada sobre a mulher. Parece que ela nunca existiu no mapa, estamos em busca do seu verdadeiro nome ou pessoas desaparecidas que batem com a descrição dela, além disso todos os documentos da garota parecem ser forjados, achamos que ela pode estar usando um nome falso.
— Essa mulher... Ela está bem? — A secretaria perguntou tentando fazer uma voz sexy.
O assistente fitou o chão por alguns segundos e respirou fundo. E então uma senhora chegou. Ela se apresentou como Mary e disse que era assistente social.
Em seguida franziu o cenho e perguntou ao homem onde eu estava.
Ele pareceu confuso e nervoso pela situação de antes mas, olhou ao redor até bater os olhos em mim. E eu no exato momento passava a mão nas narinas de meio a retirar toda meleca acumulada após ter chorado como um bebê a noite toda. Eu devia estar horrível, e pela reação do homem, ele concordava comigo.
Sentei me de frente a mulher a sós, a investigadora do caso permanecia no escritório do delegado e eu não tinha notícias de verdade. Pelo menos não do principal, que não era sobre mim ou falta de documentos e sim sobre a minha mãe a beira da morte, afinal ela poderia explicar o porquê meus documentos não parecerem reais e dizer quem é, não era tão difícil, se eu a conheço bem ela deve ter perdido os seus próprios documentos em alguma das nossas mudanças de casa.
Eu nunca soube sobre o passado dela, sempre que eu tocava no assunto ela desviava, no máximo me contava algumas histórias aleatórias sobre a infância ou como conheceu o meu pai em um parque de diversões na Capital Real onde moravam antes de vir para Querjum.
Meu pai morreu quando eu ainda era um bebê e eu nunca tive contato com nenhum parente, meu único rastro de parentesco era o meu nome que ela me disse uma vez ser o nome da minha Avó, então este era meu único rastro de esperança.
A falta de notícias sobre o Noah também me preocupava.. E se tivesse acontecido o pior a ele também? A culpa seria toda minha e no fim se algo acontecesse a eles, tudo seria a minha culpa.
Pensando nisso fui direto ao ponto antes que ela pudesse me perguntar qualquer coisa.
— Pra que eu preciso de assistente social? — Acabei dizendo sem conter as lágrimas que desciam em gotas rasas querendo aumentar o fluxo conforme eu pensava nesse assunto.
— Eu sinto muito, sua mãe... — A morena dizia já me abraçando. — Não resistiu a cirurgia.
Escutar isso foi como levar um tiro, não que já tenha levado um, mas congelei. Eu estava em choque e não conseguia aceitar que ela havia partido assim. Por mais que eu imaginasse o pior ainda tinha esperanças que ficaria tudo bem.
Porque esse homem estava atrás da gente?
Quanto mais eu pensava, pior eu ficava, minha mente estava cheia de perguntas. Minha vida era sempre cheia de desastres.. Porquê? Porque tudo só acontecia comigo? Agora eu não tenho nem mãe e nem nome...
Me lembrava de quando ela cantava para que eu dormisse e por mais difícil que fosse sempre ia a biblioteca e me comprava o livro que quisesse. Nunca faltava a um dia sequer em qualquer trabalho a não ser que eu estivesse doente.
Eu não conheci o meu pai, mas sei que ela se virou em dois para cuidar de mim e nem se deu ao luxo de encontrar o amor novamente, por mim.
Eu estava com ódio de mim mesma por deixá-la sozinha. Mesmo que minha presença fosse insignificante eu queria lhe dar um último abraço.
Ela era a única pessoa que eu tinha, visto que não havia ninguém ali, nem mesmo os patrões deram a mínima para a empregada que havia morrido sobre o teto deles.
Agora eu estava só. E não conseguia me acalmar com tanta coisa na minha cabeça, eu teria que abandonar os meus sonhos? E como eu sobreviveria sem minha mãe para me guiar com conselhos sábios?
Se eu chorava antes, naquele instante, todos na delegacia tentavam me acalmar. Até finalmente tomar um remédio e me ver em uma beliche. Meu novo lar, pelo menos até encontrarem alguém da minha família ou alguém que queira a minha guarda.
Quando acordei uma garotinha de olhos puxados, chamava uma mulher chamada “Eleanor” para o quarto, enquanto parecia estar distraída com seus desenhos, ela me lembrava a mim e automaticamente a minha mãe, que sempre dizia que estava lindo, por mais que eu riscasse mais fora do desenho do que dentro dele.
“Eleanor" chegou, ela era uma mulher de meia idade muito elegante e que marcava presença, parecia até ser uma nobre dama da sociedade e talvez realmente era.
— Como você está? — A mulher perguntou.
— Como se a minha mãe tivesse morrido. — Respondi meio seca, evitando olha-la.
A mulher então se aproximou e fez um check-up. Depois prosseguiu.
— Tem pessoas aqui que querem falar com você, fique apresentável. Trouxeram as suas roupas de onde estava com alguns pertences pessoais. — Se precisar de qualquer coisa é só chamar. — Ela disse saindo do quarto.
Assim que saiu esmurrei o colchão com força, enquanto as lagrimas caiam de maneira que não conseguia segurar.
Assim que me senti melhor vesti a primeira peça de roupa "mais apresentável" que achei : "O meu uniforme."
Quando finalmente sai, me deparei com uma mulher ruiva bem elegante e decidida, parada já me esperando.
Pelo menos uma notícia boa em meio ao caos.
Quem vocês acham que é a Ruiva?
Obrigado pelos 2,2 k de leituras, vocês são demais❤
Comentem bastante aqui assim vocês me ajudam a trazer ainda mais capítulos❤
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