6.1 MALDITA FESTA
Horas antes do sequestro...
Eu olhava Sthe pintar as unhas enquanto Maycon prendia o meu cabelo depois de muito insistir que eu usasse peruca uma maldita peruca. Eu não gostava dela afinal me lembrava um pouco de como era o meu cabelo na infância, tanto pela cor quanto pelo tamanho.
Antes de Patrícia o cortar é claro.
Antes disso ele era uma das coisas que mais me importavam, mesmo que não tivesse coragem para expor ele por muito tempo por sempre usá-lo preso. E talvez por que Patrícia me ameaçava sempre que me via com ele solto. Afinal me ver feliz para ela, era um desagrado a humanidade.
Houve uma vez que ela se irritou e derramou seu leite de propósito em mim e depois bloqueou todas as passagens que davam acesso ao banheiro, não pude me lavar e passei parte da aula suja de leite, escondida no fundo da sala.
Vocês já se sentiram invisíveis em meio a multidão? Bem era assim que me sentia.
Hoje quando me olho no espelho só consigo me odiar por ter me tornado assim. Meu cabelo agora loiro, descolorido de forma descuidada e curto me lembrava todo santo dia do inferno que passei. Bem, não que tivesse acabado. Só se amenizado.
Quando Maycon terminou eu me senti, diferente, além da peruca ele fez uma linda maquiagem apenas nos olhos e ele era muito bom com isso.
— Você está lindissimaaa. Vai arrasar hoje. — Maycon disse se empolgando.
— Enquanto eu tiver esse rosto, meu nome for Jurema, meu sobrenome for desconhecido, eu não for da nobreza e não tiver um tostão no bolso, todos vão me odiar. — Eu disse tocando meu rosto machucado.
— Então vamos resolver isso, já que é uma festa a fantasia. — Sthe disse, trazendo um vestido justo, máscara e acessórios. — Você vai ficar irreconhecível, ninguém vai saber o seu nome, nem quanto dinheiro você tem na conta.
Acabei entrando na ideia, quando vesti aquele vestido eu não me reconhecia, não era comum eu me mostrar com aquele corpo.
Desde criança minha mãe fazia minhas roupas ou pedia os patrões por panos ou roupas usadas, o meu estilo sempre era como o dela e as marcas não importavam, moda muito menos. E sempre a agradeci por fazer o melhor que podia.
Essa era a minha primeira vez usando uma roupa de marca, inclusive, algo que mostrasse um pouco mais o meu corpo, agora cheio de cicatrizes que ficaram depois do acidente e eu sempre evitava mostrar.
Sthe havia trago luvas e uma meia calsa que fizeram com que aparece-sse bem menos partes das minhas cicatrizes.
A máscara cobria quase todo meu rosto e era bem colada mas deixava a região dos olhos aparentes.
Era engraçado eu ter que me esconder para me sentir bonita mas gostava da ideia, ela me fazia sentir confiante, pelo menos uma vez.
Sthe e Maycon estavam muito bonitos também. Então Sthe perguntou.
— Vocês vão cantar?
— Eu não. — Respondi bruscamente.
— Porque?
Eu pensei em algo elaborado para dizer, talvez demorando demais para finalmente dizer.
— Porque eu sou péssima... — Respondi falando um pouco rápido demais.
— Não é oque parece... — Sthe disse, já percebendo que eu queria fugir daquilo.
Quando era criança, eu amava cantar, isso era algo que me acalmava. Mas em algum momento isso se tornou uma dor e quis esquecer. Eu nunca cantava em público e sempre tive medo disso, por mais que a minha mãe sempre me elogiasse, nunca soube se era apenas para me agradar.
Sempre fugi de aulas de canto e dança por causa do bullyng então me conformei em ser apenas a feia estudiosa e sem graça. Aquela sem atributo algum.
Será que eu poderia ser alguém diferente se fosse considerada "bonita"?
Pensei mas acabei decidindo me esquecer desse assunto e então fomos para festa.
Chegando lá acabamos nos separando. Várias pessoas me olhavam e eu não sabia no que estavam pensando. Minutos depois escuto uma voz desafinada, cantando " Its my life" fora do tom no karaokê.
Era Sthe, provavelmente sem se importar com nada.
Ela usava uma máscara mas o seu cabelo ruivo era impossível de não se destacar, as pessoas riam mas ela não ligava. E eu a admirava por isso. Queria ter essa coragem.
— Você deveria ir. — Disse uma voz atrás de mim.
— Me virei, mas não consegui identificar quem era. Aquela sensação. Essa pessoa parecia me conhecer, mas não de uma maneira ruim, era como o dia que fui salva na moto. E eu poderia jurar que era a mesma pessoa...
Eu queria muito saber quem era e a minha intuição me dizia que deveria cantar naquela noite. Pela paz que estava parecia que ninguém me reconhecia como Jurema. E isso era bom.
Tomei coragem, demorei um pouco, mas acabei me inscrevendo. Não havia ninguém na frente então apenas subi ao palco. Eu estava nervosa.
Eu havia escolhido a música " Imagine".
Essa música era especial para mim, pois minha mãe sempre a cantava pelos cantos e era a única musica que eu ainda me lembrava depois de tanto tempo.
Mesmo com o nervosismo eu fechei os olhos e me soltei, as palavras saíam fáceis, eu lutava para não desafinar afinal eu já não fazia aquilo algum tempo, essa música era muito especial para mim então eu tentava colocar ao máximo as minhas emoções nela, mas não sabia o resultado disso.
Quando terminei as pessoas me olhavam incrédulas, eu não sabia como reagir a isso. Se era algo ruim ou não, eu não entendia.
Então corri dali. Eu queria encontrar meus amigos e perguntar se fui bem. Acabei entrando em um beco, não é como se algum deles estivesse ali mas vai que...
Porém me surpreendi com oque vi, de fato encontrei Maycon se agarrando com um garoto muito lindo mas também...
Um dos melhores amigos do Will.
Fiquei pasma. Sthe havia me falado o quão mulherengo Wesley era. E que ela já havia ficado com ele. Encontrá-lo com Maycon era de fato a última coisa que esperava ver.
Wesley puxava o cabelo de Maycon enquanto o colocava contra parede, eu poderia sentir o quão quente estava o beijo de onde eu observava. Com certeza os dois estavam entregues.
Até eu estragar o clima chegando lá.
Eles ficaram assustados quando me viram, porém ficaram piores quando mais uma pessoa surgiu atrás de mim. E em um instante para não serem vistos correram me deixando sozinha com o estranho.
No susto eu tentei correr, mas ele me segurou. E me pôs contra a parede. Era Will. Acho que essa era uma mania dele agora, me colocar contra parede toda vez que me via.
Ele não usava máscara e a meia luz ele ficava ainda mais lindo. Para Jurema, foco! Eu penso lutando contra os meus pensamentos mas já era tarde, afinal eu já estava contra parede com um dos caras mais bonitos do colégio e ele estava a centímetros de mim. Eu logicamente não conseguia raciocinar nessa situação . Muito menos responder direito.
— É você não é? — Ele me perguntou e eu pensei que tinha me reconhecido. Pelo menos por um instante.
Eu neguei tudo que me perguntou, gaguejei um pouco mas sai viva dali. Não sei quem ele procurava mas não era a mim, pelo menos não que eu me lembre e não teria porque me colocar contra parede se soubesse quem eu sou, pelo menos é oque quero acreditar.
Quando sai dali correndo acabei perdendo uma presilha que Sthe havia me emprestado. Mas isso não era a parte ruim. A parte ruim foi esbarrar e derrubar Patrícia no chão.
A garota se enfureceu na hora.
— Tira a máscara agora sua vagabunda. — Ela disse já se levantando para tirar minha máscara.
Eu corri, não poderia deixar ela saber que eu, Jurema, a garota que ela mais odiava na vida havia a derrubado.
Acabei voltando para dentro, até chegar numa sala, que parecia ser o camarim dos músicos.
Patricia entrou minutos depois e eu rezei para que não me encontra-se. Oque pareceu dar certo já que ela ficou imóvel na porta, parecia esperar alguém. Quando estava lá percebi ter perdido o meu celular no meio do caminho...
— Porra. — Eu acabei murmurando alto mas torci pra que ninguém tivesse escutado.
Eu estava com raiva e só imaginava o pior. O medo tomava conta de mim. Todas as lembranças ruins transbordaram sobre mim e me odiei por estar ali. Lembrei novamente dos rostos das pessoas depois que cantei. E me lembrei do dia do baile, o maudito dia em que me joguei na frente do carro do pai do Will. Dançar e cantar não eram boas lembranças até então.
Porque eu procurava ser diferente? Era bem melhor ser invisível em paz não?
As lágrimas acabaram caindo sem que eu percebesse. Esses eram assuntos delicados pelos quais sempre que me lembrava era como levar um murro no estômago.
Quando percebi, havia uma pessoa em pé me observando. Sem coragem para olha-lo mandei se afastar, pelos sapatos era um homem.
Quando ele saiu para trancar a porta, olhei de soslaio... Era Noah, provavelmente arrumando alguns instrumentos. Num súbito voltei a minha posição inicial. Mas ele chegou perto e foi tão gentil ao me dizer que iria me ajudar, acabei confiando nele, mesmo com receio.
Ele parecia meio "incrédulo" quando olhei para ele. Ele até demorou demais. Eu me perguntava oque ele pensava. Mas desviei o olhar logo em seguida e depois fugimos dali.
Cada segundo perto dele eu me sentia mais segura. Era estranho. Eu conseguia dizer oque eu sentia para ele. Coisa que é difícil demais para mim. Por mais que me doesse tocar no assunto e algumas frases não saíssem completas eu conseguia dizer. De um simples estranho, Noah já havia se tornado alguém que eu confiava.
Quando cheguei no portão de casa ele me gritou de dentro do táxi como se fosse normal:
— Boa Noite, você é linda e canta muito bem, não deveria se importar com oque os outros dizem. — E sorriu.
Era a primeira vez que eu ouvia algo desse tipo, fora de algum livro de auto ajuda ou de alguma psicóloga. Era a primeira vez que um garoto me dizia que eu era... " LINDA" nossa, ele disse que eu era... Eu sorri por pensar nisso.
Mas meus pensamentos se transformaram em cinzas quando o homem mascarado saiu de dentro da minha casa. E eu fiquei imóvel, fitando-o, até sentir uma mão se encontrar a minha e me puxar.
Corremos muito e eu sentia mais medo a cada instante, lágrimas deciam em meu rosto ao imaginar oque aquele homem estava fazendo ali.
Minha mãe estava em casa sozinha a está hora e eu havia tentado ligar para ela mais cedo, mas não havia conseguido.
Quase não fiquei em casa nos últimos dias e só havia trago problemas para minha mãe. Eu rezava para que nada demais tivesse acontecido a ela.
Noah parou e me pediu para que me escondesse, demorei para tomar a decisão, eu não queria deixá-lo, mas confiei e fiquei ali.
Fiquei lá pensando em tudo que havia acontecido e se todos estavam bem, até começar a escutar o som das sirenes.
Eu esperei que Noah voltasse para me buscar, mas isso não aconteceu...
Oie meus leitores que tanto amo.. Como estão?
Esse capítulo é para compensar a falta de postagens na semana passada, não abandonem a Jurema okay?
Oque vocês acham que aconteceu ao Noah?
Comentem aqui oque tão achando.
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