4.3 ALONE
"Numa longa estrada sem fim
Você está em silêncio ao meu lado
Conduzindo um pesadelo do qual não posso escapar
Rezando sem esperança, a luz não está apagando
Escondendo o choque e o frio em meus ossos"
Hold on - Chord overstreet
Eu, Sthe e Maycon combinamos de matar os últimos horários. Hoje não teria aulas extras então não faríamos muita falta.
Fomos para casa da Sthe, onde não havia ninguém, já que seus pais estavam resolvendo casos importantes da família real naquele momento.
Chegando na belíssima casa de três andares da Sthe, tudo em que pensávamos era em comemorar a nossa primeira Vitória contra as "Najas".
— Acho que elas não imaginavam nunca que isso iria acontecer. O vídeo de você jogando o balão na cabeça delas, viralizou e está em todo lugar. — Maycon disse pra Sthe, rindo da situação.
— O diretor deve estar com muita raiva lhe procurando..
— Na verdade ele e minha família temos um trato, então ele sempre busca saber a verdade antes de me punir. Acho que é medo da escola levar qualquer processo. Fiz questão de filmar todo bullying, assim fica provado que tudo que fiz foi me defender. Mas infelizmente ele também vai pegar leve com as najas, se elas pegarem uma detenção é demais.
Como estávamos com muita fome resolvemos sair para almoçarmos. Sthe deu a ideia da gente ir almoçar é comemorar no mesmo restaurante que a gente foi naquele dia.
Pegamos um uber e eu observava a o caminho com atenção.
No meio da estrada Sthe simplismente solta.
— Saudades do motoqueiro né minha filha?
Maycon ria muito e eu, sim, pensava no motoqueiro misterioso. Ele me deixava curiosa.
Queria ver o pessoal comentar sobre oque aconteceu hoje, mas não tinha redes sociais. Como meu antigo celular quebrou, eu não tinha configurado nem Whatsapp.
— Parece que o Noah te deu um ótimo celular hein. — Maycon comentou.
Ele mesmo estando longe a gente, sempre sabia de todas as fofocas. May era realmente do FBI, ele e Sthe com certeza seriam uma dupla de filmes policiais.
Fiquei triste por um minuto.. desejava ser como eles, mas eu era apenas uma feia sem atributo algum a não ser me dar bem com as matérias da escola, isto nem sendo um dom natural, apenas me condenava a estudar mais que a maioria.
Mas olhando pra eles eu sentia que poderia contar com alguém pela primeira vez na vida. Eles eram meus amigos de verdade, sem nem esperar nada em troca.
Minhas acnes começaram a aparecer quando tinha 9/10 anos, eu não tinha problemas com a pele até então, até os meus 12 anos elas apareciam moderadamente até se tornarem um verdadeiro pesadelo.
Aos meus 13 anos eu já era considerada a garota mais feia da escola. Com a ajuda de Patrícia muitas pessoas se afastaram e eu fiquei sozinha pela maior parte do tempo, exeto por James que conversava comigo hora ou outra.
Até que Alice se aproximou de um geito simples e carismático.
Tudo aconteceu quando ela saiu em dupla com Bruno, um dos piores alunos da escola. Ninguém queria fazer trabalho comigo e eu estava sozinha, até Alice querer trocar.
Naquela época eu me senti profundamente feliz, afinal pela primeira vez em muito tempo eu não estaria sozinha.
Alice se aproximou mais de mim até me pediu para fazer o trabalho para ela. Segundo ela estava doente e não poderia fazer. Oque eu sabia que era mentira mas aceitei.
Certo dia Alice me disse que o amigo do crush dela queria me conhecer.
Eu não sabia o que significava ter um encontro às cegas com 13 anos, mas fui pensando em talvez fazer um amigo.
Nesse dia vesti a minha melhor roupa, arrisquei esconder um pouco das minhas espinhas com a maquiagem da patroa da minha mãe (escondido é claro).
Marcamos de ir no shopping, então peguei o ônibus, Já imaginando encontrar a minha "melhor amiga".
Chegando ao shopping, por mais que procurasse não encontrava nenhum deles.
O tempo parecia não passar, minhas pernas doíam de tanto andar, as pessoas me olhavam com uma cara de desaprovação.
Eu devia estar horrível.
Talvez não devesse ter passado um tom mais escuro de pó no rosto. Mas pra pior, meu rosto ardia. Eu tinha certeza que meu rosto não reagiria bem aquilo... e como de fato.
De longe reconheci Alice, então acenei.
Me aproximei. Eles tentaram segurar o riso, mas no fim caíram na gargalhada. Alice tentou me apresentar seu amigo, mas não conseguiu.
Eu não sabia o que fazer, se ficava ali ou se corria para chorar. Mas me mantive forte até que o amigo do namorado de Alice se aproximou e disse:
— Ela é mais feia do que você disse que era. — O moreno gargalhava.
— Ela parece aquele peixe, o baíacu.
Eu sabia. Meu rosto havia inchado. Deve tá vermelho igual a um pimentão.
Naquele momento eu perdi o chão e acabei chorando ali mesmo. As lágrimas caiam enquanto zombavam de mim.
— Eu nunca namoraria com uma garota como ela, olha o rosto dela.
Alice ria, gargalhava.
— Pensei que éramos amigas. — Eu disse.
Então Alice caminhou até mim. Sem nenhuma excitação, apenas com um ar superior de desprezo e disse.
— Eu jamais seria amiga de alguém como você. Você foi apenas uma diversão pra mim. Apenas um utensílio para que eu tivesse a melhor nota.
E então eu corri, afinal, era tudo que eu sabia fazer.
Fugir... Chorar.. Sofrer..
Chegamos no lugar para almoçar, algumas pessoas estavam por ali, afinal aquele era um lugar popular pelos jovens de Querjum . Como era perto do colégio os estudantes iam muito por lá.
Como era dia de comemorar, porque não se entupir de gordura?
Pedimos 3 lanches, com refrigerante, batata frita e até um milk sheik de sobremesa.
Enquanto esperávamos uma das estudantes passa e nos deixa um folheto.
Era um folheto bem simples, provavelmente bolado por adolescentes. O convite era para um karaokê a fantasia.
Achei a ideia exclusivamente única.
— Fizeram até um Instagram pra festa. — Disse Maycon.
Eu não era convidada pra maioria das festas na outra escola e acredito que nem preciso dizer o motivo.
As únicas festas pelas quais, eu que era convidada envolvia James, que depois de ir em bora pro exterior , levou essa parte da minha vida social também.
Já as festas tradicionais das escola, eram bem americanas. Haviam duas durante o ano na Elisium. Mas no caso da escola onde frequentava, apenas uma durante o ano no ensino médio. E a única onde não queria ter ido, essa é a minha última lembrança de lá.
Uma lembrança que queria não ter.
Eu havia me empenhado muito
Era nesse momento da vida, onde nos clichês, aquela adolescente comum, que todos zoavam, e geralmente tem sua beleza escondida por um óculos e aparelho 3d, der repente é sequestrada por uma nave alienígena e..
Aparece linda
E então ela é coroada a rainha do baile, o capitão do time de futebol a chama para uma dança e então tudo a leva para um conto de fadas, onde ela será feliz para sempre.
MAS EU NÃO ESTAVA EM UM CLICHÊ.
Tudo já começou errado, pelo simples fato de estar sozinha.
Eu não tinha mais ninguém após James ter ido por exterior. Afinal. Quem me defenderia??
Mas isso estava errado, porquê tudo começou antes mesmo disso..Afinal. Eu era feia. E nada poderia mudar aquilo, não é que fosse impossível mas..
Bem eu vou explicar com fatos.
Naquela manhã minha fada madrinha havia me deixado um lindo presente. A caixa dourada em cima da minha cama surpreenderia qualquer um. O laço ao redor da caixa era maior que a própria caixa.
Parecia caro.
Então abri.
Caraaaa eu não poderia estar mais alegre, afinal, o vestido parecia um verdadeiro vestido de princesa. Ele era VERDE.. Um VERDE ESCURO, mas não só isso ao fundo era possível ver folhas amarelas meio mostarda ao fundo... Ele tinha uma certa semelhança com a bandeira do Brasil.
Eu não poderia recusar algo tão especial.
— Toc, toc. — Minha mãe bateu já entrando.
— Me desculpe filha.. Esse vestido foi o máximo que consegui para você.. — Ele foi um presente de alguém especial e guardei por anos.. Queria comprar um novo mas não foi possível, mas quero que você se divirta ao máximo hoje.
— Eu sei. — Falei dando um longo abraço. — Pode deixar, vai ser incrível.
— Obrigada. — Completei. Enquanto ela voltava para o serviço.
Então já sabem.. Por mais que eu quisesse ir em um dermatologista, fazer uma cirurgia ou mandar fazer um produto onde pudesse esconder minhas cicatrizes e não me machucasse, eu não poderia.
Tudo nesse país custava caro e demoraria 20 anos trabalhando como empregada pra pagar.
Eu poderia enterrar minhas chances de baile perfeito na lama, naquele momento.
Mas encarei meu reflexo no espelho, aquele vestido estava horrível, meu cabelo estava preso pra traz e como sempre, olhos bem marcados pelo lápis preto para destacar os meus olhos.
— Não podia estar melhor.
Menti para mim mesma, como faço todos os dias e me obriguei a ir.
O baile era realmente muito Américano. Da decoração, ao modo que acontecia.
As meninas ao contrário de mim, mostravam até demais o corpo.
— Me parece que esse tipo de vestido saiu de moda...
Comentou uma garota que passou por mim.
Eu já sabia que ia fazer sucesso , mas a quantidade de gente que olhava para mim, era surreal. Mas tem um ditado aqui onde diz que "Nem sempre que olharem para você, é porque é bonito, pelo contrário, você pode ser muito feio".
E essa frase estava mais próxima a realidade.
Mas mesmo assim Pedro veio falar comigo naquele dia.
Sabe quando você se ilude com um simples sorriso e entende tudo errado? Eu estava ali, boba.
O intercambista brasileiro, recém chegado no colégio e o mais gato e cobiçado pelas garotas estava ali. Ele tinha o sorriso mais lindo que qualquer pessoa já viu. Ele parecia meio delinquente mas esse charme de bad boy o deixava ainda mais gato.
Eu estava pegando mais refrigerante para poder me isolar em algum lugar onde não olhassem mais para mim e não me notassem, mas naquela altura do campeonato tudo que queria era paz, mas Pedro apareceu logo atrás de mim e nos esbarramos.
Por sorte não caiu bebida em ninguém. Não queria ter sujado meu vestido.
Mas a gentileza dele me surpreendeu.
— Desculpa, não era minha intenção, esbarrar em você.
Fiquei chocada com isso. Porém isso não me surpreendeu tanto quanto ele dizer:
— Desculpa mas os seus... — "Olhos" — São lindos.
Ele era muito lindo .. Alguém como ele me dizer isso.. Era surreal. Me senti como num conto de fadas. Não poderia ser real.
Demorei um pouco pra processar o elogio. Até finalmente conseguir dizer um obrigada.
Então ele me chamou para dançar, oque parecia um sonho.
A música era animada, meio anos 50.. Mas tinha um detalhe, eu não sabia dançar. Eu não podia aceitar aceitar o convite.
E Patrícia sabia disso e então me provocou.
— Porque não relembramos os velhos tempos? Que tal uma disputa de dança? — Ela tinha um sorriso sínico e ninguém tiraria esse prazer dela. Aquele era o momento dela de me humilhar e eu estava ferrada.
— Dj bota uma música boa ai. — Ela disse, me olhando de cima abaixo enquanto eu estava imóvel e negando com a a cabeça, mas já era tarde.
— Patrícia mandou é na hora. — O Dj gritou já colocando crazy in Love da Beyonce pra tocar.
Ela dançava muito bem, seus passos eram coordenados e ela sabia a coreografia inteira. Já eu por outro lado.. Não tinha o mínimo de coordenação motora necessária, além do mais, porque eu deveria saber?
Se eu soubesse dançar, faria realmente alguma diferença?
Já estava acostumada a ser ninguém, afinal, nada que eu fizesse mudaria a minha realidade. Eu não Conseguiria me destacar em nada, mesmo que fosse boa.
Resolvi fazer qualquer coisa, oque era melhor que ficar parada, afinal eu podia dar sorte. Assim como nos filmes, de repente fluir uma dança de maneira naturalmente e ser muito foda, então resolvi fechar os olhos.
Eu só tinha que sentir a música não é? As vibrações eram bem agitadas, eu conseguia imaginar todo meu corpo balançando freneticamente e assim fazia.
Na minha cabeça eu com certeza estava abalando.
Mas quando abri os olhos, todo mundo me encarava e ria loucamente.
Eu nunca tinha pagado um mico tão grande. Novamente eu quis fugir e até tentei mas Pedro me puxou e então me levou pra quadra da escola.
Naquele momento da minha vida eu era atenção de todos.
Mas infelizmente, não dá maneira que eu queria.
Ao chegarmos as luzes se acenderam. Pedro me jogou no chão imundo e Patrícia e toda sua gangue caminharam até mim.
— Achou que o garoto mais gato da escola ficaria com você? — Ela disse debochando e rindo, aquilo doeu.
Mas eu não queria dar a ela o gosto da Vitória. Porém aquele sentimento que eu segurava por dentro. Era demais pra mim. Eu já sabia que fracassaria antes mesmo de tentar. Antes mesmo de pisar meus pés no baile.
Eu não nasci para ganhar rosas, somente espinhos. Essa era a minha vida infeliz. Tudo estava destinado para ser assim.
Quando me dei por mim, eu tremia e era sufocante, eu me sufocava em minhas próprias lágrimas, que veemente saiam sem nenhum controle, enquanto me escondia em posição fetal, lutando com as minhas próprias emoções.
Patrícia se aproximou então. Quando já estava bem perto ela sussurrou.
— Não posso acreditar. — Você realmente achou que ele tinha gostado de você?
— Você nunca terá alguém como ele. — Ela gritou por último já chamando a gangue.
— Segurem ela, de forma que ela não possa se mexer, depois amarrem ela bem forte, não me importo se vai machuca-la ou não.
Ela então pediu Pedro o seu "brinquedinho".
Então o moreno tirou de um dos bolsos uma tesoura, que parecia ter sido amolada especialmente para essa ocasião.
Senti um calafrio e a minha garganta secou. Oque iriam fazer comigo?
No desespero, eu gritei, gritei com tudo de mim. Mas o som estava alto o bastante para que ninguém ouvisse nada por metros.
— Pode gritar.. grita o mais alto que puder, mesmo que alguém te escute, ninguém vira te salvar. — Ela disse enquanto vagarosamente passava a tesoura no meu pescoço em vai e vem...
— Bem bem.. Jureminha, eu poderia te deixar careca, para você nunca mais mexer com o namorado das outras.
Então puxou fortemente meu cabelo e colocou a tesoura no meu pescoço.
— Mas você sabe que eu sou boazinha né, só vou te ajudar a ficar bonita. Você está precisando de um bom corte.
Eu tremia, não conseguiria fugir. Naquele momento. Eu já estava em pânico e não me mexia.
Eu já tinha desistido.
Meus cabelos loiros caíram pelo chão da quadra. E ali se ia mais um pedaço de mim e da auto estima que um dia eu tive.
Quando me soltaram eu só conseguia chorar. Me mexer era demais mais pra mim.
Mas ainda não tinha acabado.
— olha só pessoal. Um lixo novo na escola. — Patrícia falou rindo.
Bruce, um dos pau mandados de Patrícia vinha da área externa carregando o lixo, e não demorou muito para Patrícia despejar em mim, porém não foi a única. O lixo que restou todos jogaram em mim.
Enquanto os copos e até restos de comida caiam em mim fazendo a diversão dos meus ex colegas de classe, Patrícia ria e falava:
— joguem nela, pois é isso que ela é. Um lixo.
E essa foi a gota d água. Eu não conseguiria mais suportar.
Eu não poderia mais viver naquele lugar. Eu fedia, sentia dor, angústia e desespero.
Eu queria a morte.
Todos voltaram para festa depois de me jogarem na rua.
— Aqui não é lugar para você. — O garoto asiático de óculos gritava. — Vai, porque vai chover.
Fui caminhando sem forças para casa, não enxergava os limites da Rua.
Mas como se não pudesse piorar, o garoto tinha razão. E a chuva naquele dia veio como uma tempestade.
Eu com certeza pegaria um resfriado, mas não me importava. A dor que eu sentia era maior que qualquer coisa. E tudo que eu queria era não sentir nada, nunca mais.
Enquanto caminhava descalço pelas estradas, tudo que eu queria era me jogar na frente de um carro. Uma morte sem dor. Era oque eu queria.
E como se minhas preces fossem atendidas, o carro preto veio rapidamente em minha direção.
E eu não senti nada. Até acordar do coma duas semanas depois.
Com muita culpa o "pobre" homem que me atropelou prometeu me ajudar.
E o resto da história.. vocês já sabem.
Como vocês estão depois desse capítulo?
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