𝟝 - 𝔸 𝕒𝕝𝕞𝕒 𝕘𝕖𝕞𝕖𝕒 𝕕𝕖 𝕍𝕚𝕟𝕔𝕖𝕟𝕥
- HATHAWAY -
O CÍRCULO
CAPÍTULO CINCO
A alma gêmea de Vincent
"Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu acaso, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia."
Martha Medeiros
Desci para a recepção do Guardião Gradeado pelo elevador, queria ser como Jimin e apenas decidir sair com o pessoal pra me divertir ou então entrar em um grupo qualquer e fazer parte da conversa, mas algo dentro de mim me impedia de ser tão espontânea assim.
Quando era mais nova eu também agia desse jeito, os colegas de classe marcavam uma noite do pijama e a primeira coisa que eu fazia era segurar a mão de Jungkook e perguntar se ele iria, se a resposta dele fosse não, a minha também seria.
Cogitei novamente a possibilidade de apertar o botão do elevador outra vez e voltar para o meu quarto, mas a minha necessidade de adaptação falou mais alto, pouco a pouco fui percebendo que eu estava me tornando uma pessoa depressiva, sou aberta a recomeços quando a decisão é minha, mas morrer nunca foi uma opção.
Talvez essa corda que ainda me prende às memórias de minha vida como humana esteja enrolada em meu pescoço me impedindo de chegar em qualquer um e seguir em frente, é como se eu estivesse abandonando a tudo e a todos se recomeçasse.
O elevador para e a porta se abre, coloco meus pés pra fora morrendo de vontade de voltar e subir, mas assim que vejo todos os guardiões que provavelmente estão se preparando pra descer pra Terra, eu travo.
Devon me salva de precisar dizer qualquer coisa quando anda até o meu lado e coloca a mão em meu ombro.
- Pombriela disse que te chamou pra ir com a gente, está com seu Espelho Celestial? - Olho para minha mão e vejo o pequeno anel violeta que Jimin transformou pra mim, por alguns segundos desejo que ele estivesse ali, seu jeito empolgadão me acalmava.
- Está aqui. - Balanço a mão um pouco acanhada, Devon a segura e me puxa gentilmente pra perto dos outros.
- Gente, essa aqui é a Ava. Sei que todo mundo já conhece ela, mas é bom reforçar. - Acredito que minhas bochechas ficaram extremamente vermelhas, mas não tem como eu confirmar isso, então apenas mantenho a minha vergonha pra mim.
- Já conseguiu derrubar o Jimin em um combate? Sonho com isso desde que cheguei aqui. - Uma menina ruiva e baixinha comentou, ela tem o rosto cheio de sardas e carrega uma katana nas costas, parece fofa, mas acredito que essa aparência específica é muito enganosa.
- Você devia chamar o cara pra um duelo em vez de ficar perguntando isso pra todo mundo, Juju. - Um guardião com aqueles sorrisos de comercial de creme dental falou enquanto pulava de cima do balcão da recepção e andava até nós. - Vai deixar a menina envergonhada.
- Foi mal, Ian. Mas eu só pergunto porque o dia que eu encontrar alguém que ganhe do Jimin eu vou pedir umas dicas. - A pequena anda até mim e estende a mão. - Meu nome é Júlia, mas todo mundo me chama de Juju. Sei que sou pequena e fofa, mas se alguém se atrever a apertar minhas bochechas eu vou morder.
Aperto sua mão que está estendida e logo Juju se vira pra Ian de novo.
- Fiz melhor que todos vocês, eu pelo menos falei com a menina em vez de ficar cochichando dela pelas costas, todo mundo sabe que ela é aluna do Jimin, em vez de fofocar sobre ele, acho melhor conhecermos ela. - Após falar isso, Juju se virou pra mim outra vez. - Vamos, Ava. Lá em baixo o pessoal desencana e se apresenta, aí você pode conhecer todo mundo.
Ela dá língua pra todos eles e depois entrelaça o braço no meu, me incentivando a sair para o ambiente do terceiro céu. Conheci a garota agora, mas ela já me passava a segurança suficiente pra continuar sem surtar.
Tivemos que entrar separados no elevador do Katsu, já que ele só comporta seis pessoas ao mesmo tempo. Ao chegar no quinto céu eu me perguntei como diabos vamos passar pelos portais se ninguém aqui tem um cartão de missão pra fazê-lo funcionar.
Minha dúvida foi sanada quando o suposto Ian transformou seu relógio de bolso no Espelho Celestial e passou na frente do sensor do portal, logo ele se abriu.
- Beijos, mortais. Vamos pra Terra! - Uma garota mandou um beijo pra nós com a mão e pulou no portal logo após passar seu espelho no sensor.
Rapidamente os outros a seguiram, inclusive Ian. Todos entravam no portal empolgados, já eu estava com medo do que aconteceria se eu atravessasse aquilo sem o cartão de sempre. Devon acenou pra mim e pulou, logo depois Juju subiu pra pular no portal também.
- Você não vem, Ava? - Ela chamou com a mão, andei até a garota um pouco desconfiada e transformei meu anel no Espelho, passei ele no sensor tal como os outros fizeram e olhei para Juju a questionando silenciosamente.
- É só um controle, pra saberem quais guardiões estão na Terra fora de serviço. Ela segura minha mão após cadastrar seu Espelho. - O cartão das missões avisa o portal pra onde estamos indo, dessa vez é diferente, você precisa pensar no lugar.
- E pra onde nós vamos? - Ela deu um meio sorriso e pulou no portal comigo.
- Pense em Paris! Vamos encontrar um amigo. - Deixei que a torre Eiffel enchesse minha mente assim que senti aquele monte de slime grudar em meu corpo de novo, não importa o quanto eu pulasse neste portal, acho que jamais vou me acostumar com a consistência dele.
[...]
- Que saudade de você, Paris! - Uma das garotas corre até o rio Sena e molha suas mãos. O cabelo negro preso em um rabo de cavalo balança de um lado para o outro ao sentir a brisa daquela noite fria na capital da França. - Tem meses que não recebo uma missão aqui.
Nós todos estávamos no centro da capital em uma noite bem movimentada, tanto cidadãos parisienses como turistas enchiam as ruas rindo e conversando, seria perfeito para uma viagem em amigos. Ao nosso redor, a noite estrelada brilhava e iluminava as margens do rio Sena e a faixada das lojas já lotadas que enchiam as calçadas com diversas mesas do lado de fora.
Por muito tempo eu achei meio modinha viajar para Paris, então Jungkook e eu preferimos guardar dinheiro pra visitar a Escócia quando terminássemos a faculdade. Mesmo assim, quando a gente se sentava com os amigos na sala de casa pra assistir um daqueles filmes fofinhos de romance que JK dizia odiar, mas sempre chorava como um bebê, me imaginei prendendo um daqueles cadeados na grade e beijando Jungkook na ponte.
Sorri por estar conhecendo Paris, já que minha última parada na França não foi tão legal com aqueles demônios me perseguindo, mas senti uma falta absurda de estar com Jungkook na cidade do amor.
- ...é só ninguém desgrudar de ninguém, só vai dar pra entrar na festa se formos com ele, então precisamos nos apressar porque aquele frouxo não vai tirar a bunda da galeria dele pra nos achar nem fudendo.
Puxei Devon pela camisa e perguntei baixinho.
- Do que aquele cara tá falando? - Devon riu e passou o braço por meus ombros.
- É um amigo nosso, ele foi convidado pra uma festa aqui em Paris e chamou a gente pra ir junto, mas só dá pra entrar com o cara, porque o convidado é ele, não nós. - Curvei a cabeça ainda um pouco confusa.
- Como guardiões podem ser convidados pra festas na Terra se não somos humanos? - Devon balançou a cabeça de um lado pro outro como se eu não soubesse de nada, e eu realmente não sabia.
- Ele não é guardião, é um Axial. - Olhei pra ele como se tivesse falado que era um elefante que comia criancinhas. - Você vai entender depois.
A garota que colocou as mãos no Sena fez sinal pra todos e nos a seguimos. Estávamos em um grupo de doze guardiões, mais do que o normal número de pessoas que eu andaria. Fiz questão de sempre ficar perto dos dois cabelos de fogo: Devon e Juju, eram os que eu era mais próxima ali.
Depois de virar pela vigésima avenida eu parei de contar, seja lá onde esse tal Axial morava, era longe pra uma porra.
- Porque ninguém pegou um Uber? Ou então avisou pra pensarmos na casa desse cara antes de pular no portal? - Perguntei apenas para que Juju e Devon ouvissem, mas acabei falando alto demais, Ian, o cara do sorriso de comercial e botas de couro, atrasou o passo pra caminhar ao meu lado e me respondeu.
- Não temos dinheiro pra um Uber, todos nós estamos duros enquanto não encontrarmos Vincent. Quanto a pensar na casa dele, é uma ótima ideia, mas nem todo mundo aqui foi na casa dele, podíamos nos perder no portal, como todo mundo pensa na torre Eiffel quando se fala em Paris, era uma escolha um pouco mais segura do que entrarmos doze e só chegarmos seis.
Todos paramos ao lado de uma Van, em frente a uma garagem fechada, Juju tomou a dianteira e subiu a calçada enquanto nos mantínhamos afastados. O portão da garagem é enorme e a luz de dentro parece estar acesa, no andar de cima havia uma casa linda com uma varanda tão sofisticada que eu fiquei babando. De verdade, acho que a saliva criou uma poça no chão.
Juju bateu na porta da garagem com uma brutalidade que me fez confirmar aquela minha suposição de que ela só parecia fofa, eu com certeza nunca quero ver a garota em ação com aquela katana que tem nas costas.
- Já vai!! - Uma voz masculina grave soou de lá de dentro, devia ser o tal Vincent.
Após alguns segundos a porta da garagem foi aberta e eu pude conhecer o real paraíso, o que é o Círculo perto da galeria desse cara? Centenas de pinturas estavam espalhadas pelo lugar, mas não de uma forma desorganizada, estavam em cavaletes ou penduradas na parede. Baldes e baldes de tinta decoravam o canto da galeria e um cara estava sentado em um banquinho com um pincel na boca enquanto encarava uma tela de pintura. Ele pegou o pincel e sorriu pra gente.
- Pensei que fossem demorar mais, se não eu já estaria pronto. - Seus olhos eram levemente puxados, como se o cara tivesse alguma descendência asiática, mas era apenas isso. Cabelos pretos ondulados escondidos por uma boina completavam o visual parisiense de Vincent, quando ele ficou de pé percebi que devia ter pelo menos 1,80m de altura, um palmo a mais que Jimin e provavelmente meio metro a mais que eu.
Beleza, sei que estou exagerando, mas ele é alto e tem um corpo bem grande, não grande no estilo gordo, mas grande no estilo de boa genética, esse cara malhado deve ser um pecado.
- A gente precisa de dinheiro, Vi. A galera tá afim de comer algo, andamos que só o caralho pra chegar na sua casa. - Vincent riu.
- Vocês só vêm atrás de mim pra me usar, podiam ter me ligado em vez de andar o caminho todo. - Ele tirou a tela que estava pintando do cavalete e apoiou em um canto um pouco mais escondido de onde estávamos, mas eu podia jurar que era Jimin quem ele estava pintando.
Bizarro.
- Com que celular, seu jumento? - Ian revirou os olhos. - E não ia adiantar nada ligar, você nunca sairia daqui pra ir atrás da gente.
Vincent tirou a boina da cabeça e arrumou seus cabelos na frente de um pequeno espelho de parede antes de responder.
- Esqueci que vocês não têm celular, só esse Espelho Celestial que nem serve pra mandar uma mensagem pra mim. E você está certo, meu amigo, eu não sairia daqui pra ir atrás de vocês, mas pelo menos mandaria alguém os buscar, está achando que eu sou tão sem coração assim?
Como ele sabe sobre o Círculo e o Espelho Celestial? O homem é claramente humano, tem alguma chance de um humano que não seja aqueles Rapers nojentos saber sobre a nossa dimensão?
- Só existe um guardião que consegue fazer Vincent arrastar a bunda de um lado a outro da cidade, e esse guardião não é você, Ian. - A garota do rabo de cavalo deu um soco de leve em Ian, ele sorriu e deu uma chave de braço nela antes de levar uma cotovelada e os dois caírem no chão, gargalhando como hienas.
- Não galera! - Vincent soou como se estivesse sentindo dor. - Na minha galeria, não! Sabem o trabalho que eu tive pra pintar cada um desses quadros? Se encostarem em qualquer um deles, eu os mato e dou de presente pra os demônios.
- Sai pra lá, diabo. - Ian fez o sinal da cruz enquanto ficava de pé e todos os outros riram. Me permiti rir também daquela situação inusitada. Apesar de estar me corroendo com sérias dúvidas sobre como Vincent sabia sobre o Círculo, me senti aquecida ao perceber que essa poderia ser minha vida de agora em diante. Cumprir minhas missões com Jimin enquanto o período de treinamento durar, comer aquela frutinha deliciosa do Círculo quando bater a fome, fazer amigos novos e descer pra qualquer lugar existente da Terra pra resenhar... Não é bem a vida dos sonhos que eu teria se ainda fosse humana, mas eu morri, e isso é uma droga.
Enquanto meus pensamentos conflituosos me dominavam pouco a pouco, mal percebi que Vincent me observava já há algum tampo, até que meus olhos esbarraram nos dele e eu realmente me dei conta disso, fazendo com que meus pensamentos se tornassem uma fina cortina de fumaça.
- Você eu não conheço. - Antes que eu pudesse abrir a boca pra me apresentar, Juju falou por mim.
- Essa é a aluna da sua alma gêmea, ele com certeza já falou dela pra você. - Franzi as sobrancelhas em confusão, mas percebi um olhar de reconhecimento em Vincent antes de ele se aproximar de mim e estender a mão.
- Mademoiselle, você deve ser a Ava. - Estendi a mão pra Vincent ainda sem entender nada. Ele a beijou.
- Alma gêmea? - Perguntei enquanto o encarava.
- Apelido besta, Jimin e eu somos como irmãos, com o tempo a gente parou de reclamar. Já ouvi bastante de você, Ava. Sinto muito por não estar no Cruzeiro pra ajuda-los, eu estava na cidade no dia e não pude socorrer. - Como ele sabia sobre o Cruzeiro? Jimin fala sobre tudo com ele mesmo?
- Tem algum biscoitinho lá em cima, Vi? - Juju perguntou, interrompendo a linha nova que meus pensamentos tomavam e soando como a criança que ela parece, Vincent sorriu e se afastou de mim, impedindo que eu fizesse qualquer outra pergunta.
- Fiz uma fornada há algumas horas, pode subir comigo e pegar para o pessoal enquanto me troco, prometo que não vou demorar.
Vincent saiu por uma porta nos fundos junto com a Juju, a garota do lado dele parecia uma anã, já que o topo de sua cabeça não chegava nem perto dos ombros dele. O pessoal começou a conversar entre si enquanto esperavam e eu, como a anti social número um que sou, passei a olhar todas as pinturas que estavam ao redor daquela garagem, que Vincent claramente transformou em uma galeria de artes.
Parei no primeiro quadro que ornamentava a parede da direita, um casebre simples foi feito com tinta a óleo, todos os seus mínimos detalhes ressaltados em toda a pintura. Ao longe podia-se ver um casal em um canteiro de flores, os dois se olhavam como se fossem o tudo um do outro, tomariam a atenção de todo o cenário se não fossem as duas crianças brincando aos seus pés. Dois meninos. Um loiro e um moreno. Eles deviam ter perto de cinco anos de idade, o loirinho agarrava a perna do moreno enquanto o mesmo fingia não ligar, mas era óbvia a conexão das duas crianças. Era uma família simples e feliz.
Havia um número em baixo da tela, marcado em uma caligrafia miúda com caneta permanente. Me aproximei mais até que os números fizessem sentido pra mim, então reconheci o número um, o sete, e em seguida os outros dois números. Mil setecentos e noventa e nove. Não podia ser o ano que a pintura foi feita porque não é possível que Vincent tenha mais que vinte e cinco anos de idade, mas podia ser o ano da imagem retratada, talvez a história de algum livro que ele quis materializar, Vincent parece o tipo de pessoa que mergulha em livros e vive cada história junto como o protagonista.
No segundo quadro, ao lado deste, reconheci de imediato a imagem que estava retratada ali. Jungkook sempre fora um amante de história, apesar de sua maior paixão ser a medicina. Quando estudávamos pra o vestibular, ele pra medicina e eu pra engenharia, nossas pausas sempre envolviam descobrir mais sobre os acontecimentos que marcaram a história do nosso planeta, foi ali que aprendi sobre as três guerras da independência italiana, a que estava estampada na pintura à óleo de Vincent era claramente a terceira guerra, confirmei ao ver o ano de mil oitocentos e sessenta e seis datado na base do quadro.
Antes que eu pudesse passar para a próxima pintura, Ian apareceu do meu lado com alguns biscoitos que Juju trouxe de lá de cima. Peguei um e agradeci, então ele parou para olhar o retrato da guerra junto comigo.
- Eu já estava no Círculo quando essa guerra aconteceu, foi um inferno. - Ele falou enquanto tocava a moldura do quadro. - Muitas pessoas que não deviam morrer estavam metidas na guerra, demônios aguardando de todos os lados o primeiro que seria esfaqueado pra devorar sua alma. Metade do Círculo foi designado pra cuidar do campo de batalha, tínhamos que tomar cuidado pra ninguém enfiar uma espada na gente e nos matar, mesmo que só por alguns segundos, e ao mesmo tempo tínhamos que impedir centenas de soldados de morrerem e mais centenas de perder sua alma para os demônios. - Ian encarava a pintura pensativo, como se sua mente o tivesse transportando para aquele lugar e aquela época novamente. - Perdemos muitos guardiões, muitas missões e muitas almas também. Foi uma chacina. Flechas voavam de todos os lados, gente se matando, guardiões lutando com humanos para salvar outros humanos com a consciência de que nós não podíamos sequer sonhar em matar um por acidente. Também haviam os guardiões que ficaram responsáveis por detonar os demônios que estavam à espreita. - Ele voltou a me olhar. - Jimin foi um deles, a princípio ele devia lutar com os demônios, mas trocou de lugar com um guardião chamado Fred e se meteu no campo de batalha, nenhum dos que Jimin estava responsável sofreu qualquer dano na guerra, ele até livrou alguns humanos que nem eram responsabilidade dele, foi nessa época que Jimin começou a virar a lenda que você conhece. Gostaria de vê-lo em um campo de batalha de novo, mas não vale o preço que os humanos pagariam por ter que passar por outra guerra dessa.
Mil oitocentos e sessenta e seis. Jimin já era um guardião nessa época. Quantos anos meu tutor tem? Essa pergunta nunca para de me atormentar.
- Todas as guerras são assim? - Perguntei para Ian, ele ainda olhava para a pintura de Vincent.
- Sim. A guerra que separou a Coréia foi assim, a independência do Brasil foi assim, Revolução francesa, primeira guerra mundial, segunda guerra mundial, Hiroshima e Nagazaki, que também está no meio, todas as guerras humanas que são ensinadas nas escolas hoje em dia aconteceram desse jeito, guardiões lutando juntos na batalha em prol da vida humana, que era a única coisa que os exércitos que se enfrentavam estavam pouco se fudendo.
- Por isso que só as pessoas boas vão trabalhar no Círculo? - A mente de Ian parece ter voltado ao presente, porque ele deixou de olhar a pintura e olhou pra mim.
- Acredite, Ava. Nem todos são bons. No Círculo algumas regras precisam ser seguidas, não podemos em hipótese nenhuma matar nada que não seja um demônio. Já houve guardiões rebeldes que mataram seres humanos, eles são condenados e vão para a prisão, ninguém sabe onde ela fica. Houve também guardiões que tiveram problemas uns com os outros e acabaram se matando ou arquitetando para que um deles morra na Terra, esses são julgados e condenados à prisão também. Além desses, existem os crimes bobos, nada de bebida alcoólica no Círculo, nada de contar a um humano sobre a nossa existência e nada de envolvimento romântico entre guardiões.
Os outros ainda estavam envolvidos conversando, Ian e eu nos afastamos das pinturas e, ao enxergar duas cadeiras perto de nós, ele as puxou e apontou para que eu me sentasse. Assim que se sentou ao meu lado, decidi aproveitar a oportunidade pra tirar algumas de minhas dúvidas com Ian, já que ele parecia disposto a responde-las.
- Qual o motivo de relacionamento entre guardiões ser proibido? - Me lembrei de Jimin e a recepcionista antes de o meu elevador cair, ele com certeza estava em uma situação de envolvimento grande. - Com humanos pode? - Pensei em Jungkook. - Porque assim... Vincent é humano e aparentemente conhece tudo sobre a nossa dimensão, como isso não vai contra as regras?
Tudo que eu queria era que Ian dissesse que eu podia procurar Jungkook na pequena cidade que eu morava na Austrália, mas nem sempre as coisas são como desejamos.
- Estou vendo que Jimin não te explicou tudo. - Ian pegou seu relógio de bolso e o ficou encarando antes de me responder, pensei que ele ia transforma-lo no Espelho e me mostrar alguma coisa como Jimin sempre faz quando eu tenho alguma dúvida, mas ele apenas o guardou e se virou pra mim. - Quando um guardião se relaciona com outro, no sentido romântico da coisa, eles acabam colocando isso acima de qualquer coisa, principalmente dos humanos. Teve uma época que isso não era uma regra, todos podiam amar e serem amados da forma que queriam, mas começou a interferir nas missões, quando o casal entrava em problemas com demônios na Terra, sua prioridade era salvar um ao outro, quem sofria com isso era o humano que devia estar em primeiro lugar, eles morriam por negligência dos guardiões, então o Rei criou essa regra. Ainda temos sentimentos, Ava. Não é por causa de uma regra que todos se tornaram robôs, ainda existem guardiões apaixonados no Círculo, os que fazem certo pedem uma audiência no final dos seus cem anos de serviço pra voltarem pra Terra como humanos, aí o Rei dá um jeitinho de juntar os dois quando tiverem idade de dar uns pegas.
- E a relação com humanos? - Ele sorriu.
- Apaixonada por um humano, Ava? Sua cara não me engana. - Era recente demais pra eu esconder, e recente demais também pra abrir o meu coração e contar o que tanto estava me machucando essas últimas semanas. Eu não podia entregar de bandeja pra qualquer um que estava indignada com a minha morte ou que queria pular no primeiro portal que aparecesse na minha frente pra ir pra Austrália me aconchegar nos braços de Jungkook, então apenas decidi pelo que eu sabia que estava estampado na minha cara.
- Sinto falta do meu namorado. - Dei de ombros, eu não falaria nada a mais que isso.
- Você pode se envolver com humanos, mas apenas aquele lance sem compromisso. Se você tiver vontade de ir pra uma boate e dar uns beijos em alguém, ou até algo mais pesado como ir pra cama com essa pessoa, sem problemas. O problema é o envolvimento emocional, isso envolve intimidade, você não pode ter intimidade com um humano porque isso implica que ele saiba sobre sua vida, e ele não pode em hipótese nenhuma saber.
Isso ferrava com minha vontade de fazer uma visita pra Jungkook, eu aparecer na frente dele depois de morta com certeza vai encher a cabeça do meu bebê de dúvidas. Era melhor deixar isso pra lá.
- E Vincent? - Perguntei no exato momento em que ele voltou pra galeria. Estava com uma camisa social branca, suspensório e a boina que usava antes de subir. Vincent arregaçou as mangas da camisa e veio andando pra perto da galera, que parou de conversar assim que ele chegou.
- O que tem eu? - Arregalei os olhos sem saber o que falar, Ian tocou no meu ombro e ficou de pé, a única coisa que consegui fazer foi ficar de pé também enquanto um calombo se formava em minha garganta.
Droga!
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𝕃𝕖𝕚𝕥𝕠𝕣 𝕗𝕒𝕟𝕥𝕒𝕤𝕞𝕒, 𝕖𝕦 𝕤𝕠𝕦 𝕠 𝕞𝕖𝕝𝕙𝕠𝕣 𝕘𝕦𝕒𝕣𝕕𝕚ã𝕠 𝕕𝕠 ℂí𝕣𝕔𝕦𝕝𝕠, 𝕔𝕠𝕟𝕤𝕚𝕘𝕠 𝕧𝕖𝕣 𝕧𝕠𝕔ê 𝕡𝕠𝕣 𝕒𝕢𝕦𝕚. 𝔸𝕡𝕒𝕣𝕖ç𝕒 𝕡𝕒𝕣𝕒 𝕠𝕤 𝕠𝕦𝕥𝕣𝕠𝕤, 𝕤𝕖 𝕕𝕖𝕚𝕩𝕒𝕣 𝕤𝕖𝕣 𝕧𝕚𝕤𝕥𝕠 é 𝕚𝕞𝕡𝕠𝕣𝕥𝕒𝕟𝕥𝕖 𝕡𝕒𝕣𝕒 𝕠 𝕖𝕟𝕘𝕒𝕛𝕒𝕞𝕖𝕟𝕥𝕠 𝕕𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕙𝕚𝕤𝕥ó𝕣𝕚𝕒. ⭐
𝔹𝕖𝕚𝕛𝕠𝕤 𝕕𝕠 𝕁𝕚𝕞𝕚𝕟!
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