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𝟜 - 𝕊𝕖 𝕧𝕠𝕔𝕖 𝕧𝕖𝕣 𝕦𝕞𝕒 𝕙𝕠𝕣𝕕𝕒 𝕕𝕖 𝕕𝕖𝕞𝕠𝕟𝕚𝕠𝕤, 𝕔𝕠𝕣𝕣𝕒

- HATHAWAY-

O CIRCULO

CAPÍTULO QUATRO

Se você ver uma horda de demônios, corra


"Anjos ou bestas, estão em cada virar de
esquina, não é preciso esperar pela
entrada no céu ou inferno."

José Rodrigues Vilela

Estávamos de volta ao Círculo e tudo o que eu queria  era comer uma daquelas frutinhas e me deitar. Nossas outras missões foram um sucesso, ninguém morreu e não encontramos mais nenhum demônio ou Raper no caminho.

Mesmo assim, eu estava mal.

A cada cidade que pisávamos eu me recordava mais de quem eu era antes de morrer afogada e acordar no elevador com o Jorge. Somado a isso, o peso da responsabilidade desse trabalho que fui designada agora se mostrou presente quando percebi que, talvez pelo erro de algum guardião, eu perdi a vida feliz que eu tinha na terra.

E agora sou responsável por milhares de vidas como a minha, eu decido se aquela pessoa vive ou não, e isso é um peso enorme a se carregar.

Jimin perguntou se eu queria conversar quando entramos no elevador após terminar a ultima missão, mas eu pedi a ele pra ficar sozinha. Não que não gostasse da ideia de conversar com Jimin, ele se mostrou uma pessoa com uma personalidade incrível nesses momentos que passamos juntos, mas eu precisava de um momento comigo mesma.

E acredito que ele também precisava ficar um pouco sozinho. Não faço ideia de tudo o que ele passou trabalhando há mais de cem anos como guardião, mas meu coração pesou quando vi a culpa em seu rosto por ter me deixado sozinha com dois demônios, era missão dele me proteger por causa da inexperiência, mas eu só estava viva por causa de Jungkook e suas aulas de taekwondo.

Jeon Jungkook. Meu melhor amigo desde a infância e o cara com quem eu namorei por quatro longos anos.

Penso em como ele está agora. Não consigo imaginar como eu sobreviveria ao descobrir que Jungkook morreu afogado na minha frente e não percebi. Porque foi assim que eu morri, e não faço ideia de como ele está lidando com isso.

☁☁☁

— Vocês têm que sentir a queda d'agua! A sensação é maravilhosa. — A irmã de Jungkook gritou enquanto nadava pra parte mais rasa.

— Minha vez de ir. — Jungkook mergulhou e foi nadando até as rochas.

Nós estávamos aproveitando uma cachoeira que ficava atrás da fazenda de um dos mais antigos moradores da cidade, ficávamos na maioria das vezes brincando aonde tinha como dar pé, mas sempre alguém se arriscava a ir até a queda d'agua, a sensação valia a pena.

— Eu vou depois de Jungkook. — Avisei assim que ele se afastou. Era rápido, um de nós ia e dava uns três mergulhos pra sentir a pressão da água, depois voltava.

Em minutos Jungkook voltou.

— Quem é o próximo? — Ele perguntou após emergir e me abraçar.

— A Ava, depois dela sou eu. — David, um dos meus colegas de classe anunciou, então eu me virei rapidamente pra dar um beijo em Jungkook e mergulhei.

Foi a última vez que eu o vi.

☁☁☁

Nadei até a queda da água, era indescritível e estava sendo muito bom, até o momento em que uma das pedras do desfiladeiro caiu e prendeu meu pé no fundo. Daí já dá pra imaginar a história: Me abaixei, puxei o pé o máximo que consegui, mas não me soltei, e isso fez com que eu me afogasse porque não tinha como chegar até a superfície.

Era um salvamento simples, por que meu guardião me deixou morrer? Havia alguma luta entre demônios que atrapalhou minha missão? Era algum novato? Não é possível que eu devesse realmente morrer, sem a chance de ser salva como todos os outros humanos que encontrei hoje na minha missão.

Eu simplesmente não consigo entender.

Isso me leva de volta a Jungkook, provavelmente foi ele que deu minha falta e mergulhou pra encontrar meu corpo. Espero que tenha seguido em frente.

Levantei da cama e fui trocar de roupa, eu não podia ficar ali jogada me afogando em auto piedade, talvez com o tempo eu descubra como Jungkook está, ou quem foi o guardião responsável por mim na cachoeira, mas por agora preciso me concentrar no hoje.

E o meu hoje envolve Jimin e uma necessidade absurda de treinamento.

Assim que vesti uma regata e uma calça moletom folgada eu saí do quarto e peguei o elevador. Pombriana e Pombriela estavam na recepção, as cumprimentei e saí do Hotel Guardião Gradeado.

As ruas de ouro do terceiro céu eram lindas, me convidavam a ficar por lá sentada olhando as nuvens ou socializando com alguém, mas eu ainda não tinha amigos no Círculo e minha prioridade era não morrer ou causar a morte de alguém na próxima missão.

Pedi pra Katsu me levar para o segundo céu, fui recepcionada pelo barulho de metal das espadas se encontrando dentro das arenas, caminhei pela área que era segura enquanto assistia as diversas batalhas que estavam sendo travadas naquele lugar, eu estava empolgada para começar meu treinamento, mas não fazia ideia de como fazê-lo.

— Se não é a aluna do menino Jimin. — Reconheci a voz de Kara e me virei com um meio sorriso para cumprimenta-la.

— Sim, sou eu. — Ela guardou sua espada no coldre e apontou para uma tenda que estava bem na nossa frente.

— Quer treinar? Ali dentro tem todas as armas que um guardião precisa pra detonar alguns demônios. — Assenti e Kara me guiou pra dentro.

Na tenda haviam diversos modelos de espadas, desde as tradicionais até as katanas, podia-se ver algumas bestas penduradas, shurikens e kunais também completavam a coleção do lado esquerdo do lugar aonde eu estava parada.

— Qual dessas armas é a melhor? — Kara sorriu e pegou uma katana.

— Todos os guardiões tem uma afinidade com alguma das armas, você precisa treinar com todas e descobrir qual é a que lhe cai melhor. — Ela me entregou a katana. — Pode começar com essa, é a minha preferida. Mas tenha certeza de que, quando Jimin aparecer aqui pra te treinar, você não vai tocar em nenhuma outra arma além das espadas, ele é fissurado por espadas.

— Jimin que vai me treinar? — Perguntei enquanto testava o peso da Katana em minhas mãos.

— Normalmente os mentores não são os mesmos, eu por exemplo, costumo dar aula para a maioria dos novatos. Mas Jimin sempre vem dar aulas por aqui quando está entediado, e ele é um excelente professor, então como já está acompanhando você nas missões, é bom que ensine o manejo das armas também.

Assenti e movi a katana de um lado para o outro com as duas mãos firmes no cabo. Já havia assistido alguns filmes com pessoas que usavam aquele tipo de espada, mas eu mesma não fazia ideia de como usar.

— O manejo dela é bem instintivo. — Kara falou após eu largar a espada derrotada. — Você tem que apenas aprender a guia-la com seu corpo.

Entreguei a Katana pra ela, que me mostrou exatamente como funciona. Kara movia a espada de um lado para o outro com uma firmeza impressionante. Nunca vou ser como eles.

— Não acha melhor me ensinar a usar outra coisa? Se é Jimin que vai me treinar, então terei a minha cota de espadas com ele. — Ela pensou por um momento, depois guardou a katana e foi até um dos armários de armas que estava menos exposto.

— Poucos guardiões lutam com chicotes porque eles são difíceis de usar, mas quando você aprende... — Kara deixou a frase no ar enquanto se aproximava de mim com dois chicotes finos na mão.

A textura e formato parecia com o rabo de um tatu, só que muito mais longo e bem mais brilhante. Peguei um deles na mão desajeitada.

— Se eu não consigo usar uma espada, quanto mais um instrumento que quase nenhum guardião usa por ser difícil demais. — Revirei os olhos e devolvi o chicote para Kara, mesmo assim fiquei encantada com o material dele.

— Você está sendo muito pessimista. Ninguém chega no Círculo sabendo estratégias de combate, é por isso que você tem um tutor, ele te ensina o trabalho, te protege dos demônios nas missões e te dá tempo pra aprender a lutar. Todo mundo começou do zero, Ava. — Ela puxou minhas duas mãos e colocou os chicotes nelas. — Até o Jimin.

Kara foi aconselhar outro guardião enquanto me deixava por alguns minutos sozinha com meus pensamentos. Passei os dedos no chicote de cima a baixo, confesso que a vontade de aprender a usar aquilo era imensa, mas não me sentia capaz.

Se Jungkook estivesse aqui, com certeza ele me incentivaria a ignorar meus medos e iniciar o treinamento, ele era o único que conseguia me convencer de algo assim. Agora preciso me adaptar a fazer as coisas sem ele.

Pensei um pouco no momento em que cheguei no Círculo e conheci Jimin. Antes da primeira missão eu não lembrava de Jungkook, minhas memórias ainda eram turvas. Apesar do receio do desconhecido, tenho certeza que eu ficaria muito mais receosa em fazer parte de tudo isso se minha memória sobre Jungkook estivesse fresca, fui tão acostumada a ter ele por perto pra tudo que é como uma necessidade que está cravada dentro de mim e não quer sair.

É como se eu fosse dependente, eu lidava melhor com tudo antes de saber que ele existia. Meu corpo e minha mente precisam da aprovação dele, do incentivo dele. Coisas que só vieram a tona quando me lembrei dele.

— Jungkook não está aqui, Ava. Você precisa aprender a viver sem ele. — Falei pra mim mesma e comecei a mover o chicote da forma que eu pensava ser correta.

Não que eu tenha acertado de primeira, obviamente, mas pelo menos o primeiro passo eu dei.

— Se decidiu? — Kara voltou a falar comigo, parei os movimentos e olhei pra ela.

— Quero treinar com eles. — Foi mal, Jimin. Você pode amar espadas e com certeza vou aprender a usa-las, mas eu quero algo novo.

— Só existem três guardiões no Círculo que sabem lutar com os chicotes, vou chamar um deles pra te ajudar. Quer começar amanhã? Eu coloco um aviso no seu Espelho Celestial pra te lembrar do horário. — Assenti e tirei o anel do dedo, transformei no Espelho e o entreguei pra Kara.

Assim que ela me devolveu e pegou os chicotes de volta Jimin entrou na tenda.

— Ava, você está aqui. — Ele me cumprimentou e foi até o armário de armas, após alguns segundos voltou com uma espada de lá. — Está melhor? — Jimin perguntou com um olhar preocupado, eu sorri e acenei.

— Estou sim. — Ele fez sinal com a cabeça pra fora da tenda e nós saimos juntos, mas não antes de Kara piscar pra mim sem que Jimin visse.

— Veio treinar? — Ele perguntou enquanto girava a espada nas mãos.

— Sim, mas Kara disse que eu deveria esperar você. — Por mais que eu fosse aprender a usar os chicotes com outra pessoa, eu ainda queria que Jimin me treinasse.

— Não tem problema se quiser treinar com ela, Kara é uma excelente guardiã e eu não quero te monopolizar só pra mim, já sou seu mentor. — Ele sorriu e esbarrou de leve em mim com o ombro.

Jimin tem uma aura suave ao seu redor que explica o motivo de todos aqui gostarem dele. Eu mesma acabei me aproximando rápido demais dado o tempo que nos conhecemos, mas Jimin é tão convidativo que não tinha como as coisas acontecerem de outra forma.

— Quero ver se você é tão bom quanto dizem. — O encarei de rabo de olho, ele deu um meio sorriso que me fez constatar mais uma vez o quanto o cara é lindo.

Maldito abençoado pela natureza.

— Beleza. — Ele embainhou a espada e se virou de frente pra mim, me fazendo parar de andar. — Você me disse que luta taekwondo, vamos ver o quanto sabe.

Jimin voltou a sorrir e deu alguns passos cambaleantes pra trás antes de virar de costas e correr até uma das arenas.

Balancei a cabeça rindo e fui atrás dele.

Entrei na arena e tirei meus sapatos, Jimin já havia tirado os dele e agora jogava o casaco em um canto no chão, ficando apenas de regata. Me aproximei dele um pouco apreensiva, eu era boa em taekwondo comparado a pessoas que não sabiam, mas só de olhar a posição que Jimin estava na arena, percebi que ele sabia lutar, e que era bom.

Muito bom.

Comprovei depois de uns vinte minutos, eu estava jogada chão pela décima vez e Jimin estendia o braço pra me ajudar a levantar.

— O que eu estou fazendo de errado? — Perguntei ao sair do chão.

— Nada, você está indo bem. — Ele soltou minha mão e cruzou os braços em uma postura despojada.

— Então por que eu só caio? — Bati o pé como uma criança emburrada.

— Você aprendeu taekwondo recentemente, eu sei há mais de duzentos anos. Só precisa de prática. — Jimin me olhava com aquele típico ar superior, não que ele estivesse me diminuindo, mas ele exalava conhecimento de combate, o que me trouxe uma dúvida.

— Por que você não conseguiu lidar com os demônios do navio? — A fisionomia descontraída dele se fechou, acho que toquei em um ponto delicado.

— Eu te disse que conhecia aquele Raper, ele e o demônio sabiam que não venceriam em um combate comigo, então em vez de tentar lutar eles me jogaram na água. Demônios são espertos, tinham certeza de que eu não conseguiria voltar a tempo pra te salvar.

— Isso explica tudo. — Foi a única coisa que eu falei, então Jimin balançou os braços e estalou o pescoço.

— Acho que podemos começar seu treinamento. — Minha empolgação voltou e eu me preparei pra o combate corpo a corpo de novo, ou então alguma briga com espadas.

Apoiei os dois pés firmes no chão e fiquei esperando Jimin me atacar, mas ele não fez nada.

— Sai dessa pose, Ava. Quero dez voltas em torno das arenas principais, vou cronometrar o tempo. — Relaxei a postura e olhei pra ele incrédula.

— Pra que correr? Não vai me ensinar a usar espadas? Alguns socos? — Ele revirou os olhos.

— Se você está sozinha em uma rua deserta de noite e vê uma horda de demônios vindo em sua direção, você faz o que? — Ele me lançou a pergunta para que eu respondesse.

— Posso lutar com eles. — Dei de ombros.

— Resposta errada, você vai morrer desse jeito. — Jimin começou a andar em círculos ao meu redor. — Vamos de novo, uma horda de demônios está vindo pra cima de você querendo a alma que você acabou de resgatar, o que você faz?

— O que eu faço, Jimin? — Perguntei já perdendo a paciência, ele parou na minha frente com o rosto a centímetros de distância do meu.

— Você corre.

Tive uma vontade absurda de bater nele.

— Vou sentar bem ali, se você fizer as dez voltas em um tempo bom eu posso te ensinar alguns golpes que o taekwondo não ensina. É bom começar. — Ele virou de costas pra sair da arena.

Eu só conseguia pensar no quanto ele era convencido e no quanto eu queria dar um murro naquele garoto por causa da resposta absurda sobre correr de demônios. Então aproveitei que ele estava de costas pra mim.

Corri pra cima dele pra derruba-lo no chão, mas parece que o garoto me sentiu chegando porque se virou pouco antes de eu encostar nele e me deu um golpe certeiro que me fez bater forte com as costas no piso da arena.

— Sua respiração 'tá pesada de mais, conseguiria te ouvir de lá do terceiro céu. — Ele ia se virar pra ir sentar, mas enrosquei minhas pernas nas dele e o fiz cair.

A missão foi parcialmente cumprida, consegui derrubar Jimin, mas eu me lasquei legal porque o peso todo dele veio com força em cima do meu corpo.

Puxei o ar como quem estava se afogando, me arrastei um pouco pra cima atrás de oxigênio, mesmo assim estava satisfeita por tê-lo derrubado.

— Não me subestime. — Falei quase sem fôlego, ele tirou todo o ar do meu pulmão.

Jimin apoiou os braços no chão pra tirar o peso dele de cima de mim, mas ao contrario do que pensei, ele não se levantou.

— Foi uma boa jogada aqui comigo, mas não vai querer um demônio nessa posição com você. — Ele brincou, então eu percebi realmente como estávamos.

Apesar de não estar mais me prensando contra o chão, suas pernas e tronco ainda estavam totalmente em contato com meu corpo. E caralho! Ele tinha um cheiro tão bom, meu fôlego foi embora de novo e não tinha mais nada a ver com a pancada que levei agora pouco.

Olhei pra cima e dei de cara com seus olhos violetas me analisando, era como se ele estivesse despindo cada parte do meu corpo para o guardar na memória e depois vesti-lo de novo. Eu daria tudo pra saber o que Jimin pensava neste momento.

— Acho que você já pode se levantar. — Ele olhou pra mim por mais alguns minutos e depois ficou de pé.

— Vá correr, não vou sair daqui. — Jimin me tirou do chão e foi se sentar. Respirei fundo enquanto olhava o meu percurso, então comecei a correr.

[...]

Vários dias se passaram e com eles várias missões foram sendo cumpridas. Sempre que eu tinha uma folga eu ia para as arenas com Jimin treinar, em troca dos quilômetros corridos eu ganhava alguns minutos de prática ao final de cada treino. No começo ele me ensinou defesa pessoal básica, depois foi me passando os passos pra aprender a manusear uma espada, mas antes disso tudo eu precisava correr.

Conversei um pouco com Kara em alguns momentos antes de Jimin chegar, ela havia me dito que encontraria alguém pra me ensinar a lutar com chicotes, até colocou um aviso no meu Espelho, mas a situação não havia avançado em nada. A pessoa que ela quer que me ensine trabalha no sexto céu, nas divisões especiais. Segundo Kara, por agora todos eles estão em missão, o que impede qualquer um de gastar o seu tempo com algo além do assunto secreto com o qual eles estão lidando.

Por causa disso o meu treino com a arma que eu realmente queria aprender teria que esperar um pouco mais.

Nesse tempo eu também percebi que não só o nome de Jimin é muito conhecido por ali, mas o meu começou a rodar na boca do povo também, além disso, alguns deles tentaram se aproximar de mim, talvez fazer amizade. No começo me perguntei diversas vezes o quê de tão extraordinário eu tinha feito pra começarem a me notar no Círculo, porque aparentemente o único famosão do pedaço era Jimin, e não tinha como eu roubar a fama dele.

Em uma das vezes que fui entregar algumas almas para reencarnação, aquele garoto que falou comigo logo quando Jimin me apresentava os céus me parou. Eu o reconheci de cara, não tenho muito problema com fisionomias, minha dificuldade é mais com nomes, então fiquei olhando por um bom tempo pra sua cara antes de seu nome surgir na minha mente e eu me despetrificar da posição em que eu estava.

— Hey, Devon! Como vai? — Perguntei antes de entregar a última alma, Jimin estava afim de jogar poker em Las Vegas então eu voltei para o Círculo sozinha.

— O mesmo de sempre, vidas pra salvar, treinos na arena, bagunça entre amigos na Terra. — Ele acenou pro caminho de ouro atrás de nós e então começamos a caminhar. — Mas eu quero saber de você, já está há um mês no Círculo e nem fez questão de conhecer guardiões novos, só te vejo com Jimin e, algumas vezes, com a Kara.

— Parece que todo mundo sabe onde e com quem eu estou nesse lugar. — Eu não quis que soasse rude, mas não consegui disfarçar o quanto aquilo me incomodava.

— Ah... — Ele falou visivelmente constrangido. — Jimin não costuma receber muitos guardiões pra tomar conta, eu fui o último antes de você e já faz muito tempo, então é normal os guardiões ficarem meio agitados, principalmente quando você apenas faz as missões, treina e se tranca em seu quarto no Guardião Gradeado, faz você parecer misteriosa.

— Ainda não me acostumei bem com esse lugar. — Menti, na verdade eu havia me acostumado bem com a rotina do Círculo, até criei uma amizade bacana e cheia de farpas com Jimin. O que eu não havia me acostumado mesmo era com a enxurrada de memórias que me assolavam dia após dia, me relembrando quem eu era, como se eu estivesse lendo um livro, me apaixonando pelos personagens e sentindo a dor de ter o spoiler que a protagonista morre no final da história.

A protagonista sou eu.

— Se você ficar trancada no quarto, não vai se acostumar nunca. Tenta conversar com o pessoal, não existe só o Jimin e a Kara nessa dimensão. — Devon piscou pra mim e depois saiu pra conversar com um guardião que acenou pra ele. Quando olhei onde eu estava, percebi que Devon havia me deixado bem em frente ao Hotel, como se soubesse que eu estava indo pra lá.

E sabia mesmo.

Entrei já pronta para pegar o elevador e subir pro meu quarto, mas a voz de Pombriela me parou.

— Aluna do Jiminutivo, aluna do Jiminutivo! Espera um pouquinho aí! — Ela estava atendendo um novo guardião, então parei perto do elevador enquanto aguardava ela terminar. — Sim, querido. Seu tutor é o Michael mesmo, ele devia ter te trazido pra cá.

— Não achei ele em lugar nenhum. — O guardião reforçou pra Pombriela. — Mas como é possível que Michael Jackson seja meu mentor? Isso não tem lógica. — Fiquei interessada na conversa depois de ouvir aquilo. É o quê?

— Tem lógica sim, ele era humano e ele morreu. Agora o vagabundo deve estar na Terra relembrando a época de fama dele, e aquele povo ainda sai dizendo pra todo mundo que o Jackson fingiu a própria morte, se um sensitivo ver ele andando a torto e a direito na Terra, aí que vai espalhar ainda mais os boatos. Alguém tem que dar um tapa naquela bunda pop dele! — Ela tirou uma chave de dentro da gaveta do balcão e entregou pro garoto.

— A chave do seu quarto, Pombriana está te esperando dentro do elevador, pode deixar que amanhã o seu tutor te procura. — O guardião novato me cumprimentou com um aceno antes de entrar no elevador, então eu fui até Pombriela.

— Michael Jackson é um guardião sênior? — Perguntei, a pomba sorriu.

— Você nunca sai daquele quarto, se sair vai ficar admirada com o tanto de pessoas famosas na Terra que hoje trabalham no Círculo, já pensou? Ter sua alma salva pelos Beatles?

— Os Beatles estão aqui? — Perguntei já querendo encontra-los, mas Pombriela fez que não com a pequena cabeça branquinha.

— Eles reencarnaram, mas eu fiz só uma suposição, então você não pode me culpar de te dar informações falsas. — A pomba bateu as asas e pousou em cima do meu ombro. — O que eu queria falar com você. Não costumo fazer fofoca do que os guardiões aprontam aqui no Círculo, mas vi você conversando como menino Devon ali fora, como não sai muito do quarto então eu vou te contar. Ele e mais alguns amigos juntaram um grupo de umas dez pessoas pra descer pra Terra hoje, não sei que lugar da Terra, mas com certeza pra se divertirem um pouco sem ter a pressão de uma alma pra salvar. Tenho certeza que Devon não te convidou por vergonha, mas acho que você devia ir.

Perguntei pra ela a primeira coisa que me veio na cabeça.

— Jimin vai? — Ela fez um "tsc, tsc" com o bico e negou.

— Jiminutivo gosta de farrear sozinho, ele ama os humanos, então sempre vai sozinho pra Terra pra se misturar com eles. — Ela voltou a voar e me encarou a centímetros de distância do meu rosto antes de pousar em cima do balcão da recepção. — Coloca uma roupinha legal e vem pra cá às 18:00hs no horário do Círculo, eles vão se encontrar aqui no saguão do Hotel antes de sair.

Era realmente uma boa ideia sai com alguns guardiões em vez de ficar enfurnada no quarto mergulhando em lembranças, mas a ausência de Jimin me incomodava, me acostumei a sempre descer pra Terra com ele.

Pelo visto eu estava sendo expressiva demais, porque Pombriela leu o que eu estava pensando na minha cara.

— Nem se atreva a desistir por causa do Jiminutivo, precisa de um tempo só pra você, longe dele. Conselho de amiga. — Se a pomba iria falar alguma coisa a mais ou não eu nunca vou saber. Uma versão menor do Espelho Celestial começou a tocar em cima do balcão, Pombriela atendeu e uma risada saiu do aparelho.

— Ai, que saudade de ouvir seu riso estridente, mana! — A pomba gritou para seja lá quem estivesse rindo do outro lado da linha.

— Que saudade de ouvir sua voz, menina!

— Quanto tempo, amiga!

— Por onde você anda, amiga?

­— Tomando conta do Guardião Gradeado, menina.

— Jura, bicha?

— Juro juradinho, bicha.

Larguei Pombriela com sua conversa de maloqueira e peguei o elevador, enquanto ele subia eu refleti se devia ou não descer pra Terra com os guardiões, me decidi quando entrei no quarto e abri o closet pra procurar uma roupa decente pra usar hoje à noite.

☁☁☁☁☁

𝕃𝕖𝕚𝕥𝕠𝕣 𝕗𝕒𝕟𝕥𝕒𝕤𝕞𝕒, 𝕖𝕦 𝕤𝕠𝕦 𝕠 𝕞𝕖𝕝𝕙𝕠𝕣 𝕘𝕦𝕒𝕣𝕕𝕚ã𝕠 𝕕𝕠 ℂí𝕣𝕔𝕦𝕝𝕠, 𝕔𝕠𝕟𝕤𝕚𝕘𝕠 𝕧𝕖𝕣 𝕧𝕠𝕔ê 𝕡𝕠𝕣 𝕒𝕢𝕦𝕚. 𝔸𝕡𝕒𝕣𝕖ç𝕒 𝕡𝕒𝕣𝕒 𝕠𝕤 𝕠𝕦𝕥𝕣𝕠𝕤, 𝕤𝕖 𝕕𝕖𝕚𝕩𝕒𝕣 𝕤𝕖𝕣 𝕧𝕚𝕤𝕥𝕠 é 𝕚𝕞𝕡𝕠𝕣𝕥𝕒𝕟𝕥𝕖 𝕡𝕒𝕣𝕒 𝕠 𝕖𝕟𝕘𝕒𝕛𝕒𝕞𝕖𝕟𝕥𝕠 𝕕𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕙𝕚𝕤𝕥ó𝕣𝕚𝕒. ⭐

𝔹𝕖𝕚𝕛𝕠𝕤 𝕕𝕠 𝕁𝕚𝕞𝕚𝕟!

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