𝟚𝟘 - ℝ𝕖𝕔𝕠𝕞𝕖𝕔𝕠𝕤
- HATHAWAY -
O CÍRCULO
CAPÍTULO VINTE
Recomeços
Taí. Tá bom. O amor venceu. Você venceu. Venceu. Venceu. Venceu. E eu acabo de descobrir, simples assim, a única maneira de me livrar desse sentimento: aceitando ele, parando de querer ganhar dele. Te amo mesmo, talvez pra sempre.
"Tati Bernardi"
Olhar a cidade maravilhosa de Sydney com o coração mais tranquilo é surreal.
Havia desistido de todo o futuro que eu poderia ter quando descobri o que Marco fez comigo por todos esses anos, eu estava pronta pra jogar tudo pra cima e me deixar morrer. Hoje, pisando nessa cidade novamente, agradeço por ter desistido de desistir.
Eu não queria encontrar Jungkook na casa dele, é um lugar íntimo demais e Yoongi me traumatizou com a conversa de agora pouco, então escolhi o único lugar que eu tenho certeza que ele faria de tudo pra frequentar pelo menos uma vez por dia.
O clube de Taekwondo.
Sempre que as aulas terminam ele fica mais tempo pra treinar sozinho, mesmo depois de quase oito meses sem acompanhar a rotina do JK, nunca esqueci o horário dos seus treinos solitários.
Era o horário que ele costumava me treinar.
Caminhei pelas ruas da grande cidade sentindo o frio do inverno, carros em abundância lotavam a rodovia principal enquanto as primeiras luminarias publicas começavam a ser acesas por causa do cair da tarde.
Virei na ruazinha familiar sentido o peito apertar pela ansiedade, então enxerguei o pequeno prédio com a pintura desgastada de sempre.
Parei na frente do clube de e respirei fundo, não estava preparada pra encarar Jungkook de frente, talvez nunca estaria, mas já passava da hora de superar aquela parte de minha vida e tocar em frente com as possibilidades que me foram dadas, assim como Jimin sempre fez.
Se você tem limões e leite condensado, faça uma torta, mas se só te deram os limões, faça uma limonada e se orgulhe dela.
Ao invés de ficar triste por ter perdido um tempo precioso com Jungkook por causa do Marco, ficarei feliz por agora ter a oportunidade de inclui-lo em minha vida de novo.
Abri a porta e entrei no estabelecimento.
A maioria das luzes estavam apagadas, eu estava certa em pensar que os alunos já foram embora, passei a mão pelo balcão da recepção sentindo uma nostalgia boa, nunca pensei que sentiria tanta falta daqui.
Continuei andando e vi a luminosidade que vinha de dentro do salão pela abertura de vidro da portinha no final do corredor, a abri devagar e entrei no salão, apenas a última lâmpada estava acesa, iluminando a única pessoa que se atreveu a continuar ali treinando incansavelmente.
Persistente... Ele sempre foi persistente.
Me encostei de lado na primeira pilastra e fiquei com um sorriso enorme no rosto enquanto assistia Jeon Jungkook, distraído, socar inúmeras vezes o saco de areia.
Pelo jeito o garotão se apaixonou também pelo boxe.
Jungkook estava mais forte, o auge da juventude fez bem a ele. Seu cabelo todo estava preso em um rabo de cavalo e a vestimenta do Taekwondo solta da cintura pra cima, caída ao lado das pernas dele como um macacão mal vestido. Ele estava apenas com uma regata branca e a primeira coisa que me chamou atenção foram as novas tatuagens em seu braço.
A segunda foi a pequena corrente com nossa aliança batendo repetidas vezes em seu peitoral a cara soco que JK dava no saco de areia.
Continuei ali, distante, vendo o homem que eu mais amei na minha vida treinar e sorrindo como uma idiota por estar presenciando essa cena de novo depois de tanto tempo.
Eu poderia simplesmente parar de pensar e deixar a vida me levar como Yoongi me aconselhou, mas eu não conseguia tirar Jimin da minha cabeça. Olhando pra Jungkook eu me recordo de todos os nossos momentos juntos e sinto uma falta absurda de estar com ele.
Mas quando eu lembro de Jimin...
Nossos treinos no Círculo, os beijos trocados em meio a discussões idiotas, o carinho, Jimin aproveitando qualquer oportunidade pra ficar pelado independente de quem esteja vendo.
Eu sinto coisas tão diferentes pelos dois que isso me balança, se fosse o mesmo sentimento eu poderia descrever qual dos dois é mais forte, mas não é a mesma coisa...
É absurdo o quanto duas pessoas podem me fazer feliz de formas tão distintas.
Joguei minhas divagações pra cima por enquanto, quando percebi que Jungkook nunca iria me notar parada ali eu comecei a caminhar até ele em uma pose descontraída enquanto puxava assunto normalmente como se o tempo nunca tivesse passado.
— Sua guarda está muito baixa, garotão. Eu poderia ter te matado há vinte minutos. — Jungkook deu um pulo com o susto e eu ri, depois me encarou com os olhos apertados por alguns segundos.
O que aconteceu após isso foi muito rápido, mas nada vai tirar da minha memória cada reação diferente que o garoto teve ao perceber que sim, eu estava ali.
Ele me reconheceu, relaxou a postura, abriu um sorriso mais largo do que o que estava estampado na minha cara e largou as luvas de boxe no chão antes de correr pra onde eu estava e me tirar do chão com um de seus abraços de urso.
— Tá de sacanagem que você virou guardiã? — Eu gargalhei de felicidade e ele fez o mesmo, me mantendo no ar por um bom tempo enquanto me girava.
Quando me colocou no chão Jungkook deu dois passos pra trás pra olhar direito pra mim.
— Cara, você brilha! Te ver assim é tão surreal! Não imagina o quanto eu senti sua falta. — Ele veio pra perto e me abraçou de novo, dessa vez com um pouco mais de afeto já que ele quase me esmagou agora pouco.
— Eu senti muito a sua falta também, Jungkook. — Ele quebrou o abraço, segurou minha mão e me puxou pra perto do saco de areia.
Antes de nos sentarmos, Jungkook passou a mão pelos meus cabelos e fechou os olhos, por conhece-lo tão bem eu sabia que aquilo era um esforço tremendo pra não começar a chorar, então automaticamente senti meus olhos arderem com a emoção palpável que nos envolvia.
Nos sentamos no chão escorados na parede, enquanto Jungkook se recuperava da surpresa eu aproveitei pra olhar suas tatuagens mais de perto.
— Gostou? — Ele perguntou quando percebeu pra onde eu estava olhando, levantei a mão um pouco receosa.
— Posso tocar? — Jungkook revirou os olhos e sorriu de leve, os enxugando discretamente.
— Deixa de frescura, Ava. Pode fazer o que quiser comigo, ainda sou o mesmo. — Eu sorri e JK se aproximou mais de mim para que eu tocasse seu braço.
Algumas das pinturas ainda estavam com relevo por serem recentes.
— Quando fez essas? — Apontei para as notas musicais que estavam altas em seu braço.
— Tem duas semanas, ficaram boas, não é? — Empurrei seu braço de leve.
— Qualquer coisa fica bem em você, dá raiva, Jungkook. — Nós rimos e ele encostou a cabeça na parede. Assim que a aura de diversão começou a se esvair, Jungkook soltou o ar com força.
— Então... Acho que você tem algumas coisas pra me atualizar. — Ele soltou o cabelo, os arrumou e voltou a encostar a cabeça na parede, me dando toda a sua atenção.
Respirei fundo e comecei pelo mais simples.
— O cara que colocou uma adaga no seu pescoço há uns dias é meu amigo, ele pediu pra você parar de tomar a erva pra conseguir me reconhecer quando eu viesse aqui. — Os olhos de JK brilharam.
— Então foi pra isso? Bem que ele falou que não estava nem aí pro polo de Sydney. — Eu assenti.
— Não quer ter nada a ver com o Círculo mesmo, Jungkook? — Perguntei na curiosidade, ele olhou pra longe como se estivesse refletindo em algo.
— Eu não queria ver nenhum deles na minha frente, Ava. — Ele voltou o olhar pra mim e me encarou profundamente, percebi seus olhos começando a ficar vermelhos. — Você... você morreu a metros de onde eu estava e eu nem sequer vi o guardião que levou sua alma embora. — Jungkook encostou a cabeça na parede e olhou pra cima, tentando conter as lágrimas. — Eu me senti um inútil, mesmo sabendo que você já tinha ido eu continuei tentando te trazer de volta com a esperança idiota de que fosse apenas um delírio e sua alma ainda estivesse ali, lutando pra continuar no seu corpo.
Me arrastei de meu cantinho na parede e aproximei de Jungkook, nós sempre fazíamos isso quando um dos dois estava triste. Lembrando de nossos momentos de antes ele abriu mais as pernas e então me sentei no meio delas, deitando minha cabeça no seu peito e me aconchegando de lado ali. JK apoiou o queixo em minha cabeça e acariciou meus cabelos antes de voltar a falar.
— Você é tão nova, princesa... Eles te levaram tão nova e eu fiquei com tanta raiva... Comecei a usar a erva duas semanas depois que você se foi. Cada guardião que eu via na rua, cada demônio... Todos eles me lembravam da injustiça que cometeram com você, então chegou o momento em que eu não quis mais ver nada sobrenatural. Pouquíssimo tempo depois começaram a me procurar. O antigo líder do polo da nossa cidade morreu e precisavam de um Axial pra tomar o lugar dele, eu sou um dos únicos que ainda mora aqui, pelo meu porte físico e meu domínio de artes marciais eles me colocaram como primeira opção. Falei milhares de vezes que não queria ter nada a ver com eles e joguei na cara o motivo, mas não me deixaram em paz, até o momento que comecei a bater a porta na cara de qualquer um que eu não conhecesse.
Levantei o rosto do peito de JK e vi as lágrimas silenciosas escorrendo por seu rosto, as enxuguei e olhei em seus olhos.
— Você não tinha contato com nenhum outro Axial quando eu estava viva pra conversar sobre o Círculo? Acredito que guardar esse segredo é cansativo demais. — Ele negou com a cabeça.
— Não sabe quantas vezes eu quis te contar, Ava. Me corroía por dentro esconder isso de você, mas não podemos falar nada pra ninguém. — Jungkook continuou acariciando maus cabelos, como se pedisse desculpas por esconder algo tão importante de mim.
Mal sabe ele.
— Jungkook, preciso te contar umas coisas. — Falei séria.
Então eu contei tudo desde o começo. Marco engravidando minha mãe por acidente, a inveja que ele tinha por eu ser capaz de desfrutar da vida que ele queria, quando cheguei na parte em que ele decidiu me matar porque não via como continuar me drogando com Jungkook do lado nós dois já estávamos chorando.
Desabafar sobre aquele assunto com alguém que sofreu tanto quanto eu era como arrancar o band-aid de uma vez. Doía, mas era necessário.
Contei sobre Brianna pra Jungkook com lágrimas nos olhos, o quanto ela ficou comovida com o desespero dele e triste por ter lido no Espelho que minha vida acabaria ali sem a oportunidade de um guardião me salvar. Falei que Marco deu um jeito de mata-la pra que eu não soubesse mais nada que comprometesse ele sobre o meu caso.
Quando comecei a contar do sequestro e as coisas absurdas que queriam fazer comigo antes de me matar Jungkook me abraçou forte e sentir seus braços de forma tão carinhosa ao meu redor me deu as forças que eu precisava pra terminar de contar tudo.
Falei sobre Vincent sentindo uma falta absurda do meu francês preferido que eu não via há dois meses, sobre o celular que ele deixou comigo e permitiu que meus amigos me encontrassem antes de rolar uma tragédia.
Então eu parei.
Ao contar os acontecimentos daquele dia pra Jungkook eu mergulhei dentro de todos os sentimentos que tive quando vivi aquilo e me permitir sofrer mais uma vez por essa experiência traumática. Lembrei da dor de meu pulso cortado e lembrei do quanto eu a vi com ridícula quando Jimin desapareceu na minha frente.
Ao repetir mais uma vez a cena de Jimin na minha mente eu parei de falar com Jungkook e só fiquei lá abraçando ele enquanto sentia meu peito rasgar mais uma vez pela saudade sufocante que eu tinha do guardião.
Eu toquei minha vida da forma que pude, mas não mudava o fato de que Jimin estava preso e eu não o tinha mais ao meu lado há dois meses.
— Ava? — Jungkook me chamou quando percebeu que eu estava em silêncio há tempo demais.
— Jungkook... me perdoa. — Eu falei de uma vez. As emoções de reencontrar Jungkook e perder Jimin me preencheram de tal forma que aquela insegurança do início voltou com tudo. Será que ele me julgaria por ter me envolvido com Park Jimin em tão pouco tempo?
— Perdoar pelo que, Ava? — Ele levantou meu rosto e me olhou nos olhos. — Você passou por um sofrimento horrível, o homem que te gerou foi extremamente cruel com você e ao invés de colocar tudo pra fora e ficar mais leve pelo desabafo você já tá procurando motivo pra se sentir culpada. Para com isso, princesa. Quantas vezes eu já te disse que nem tudo é culpa sua? — Eu limpei as lágrimas do meu rosto.
— Não estou pedindo desculpas pelo que Marco fez comigo, estou pedindo desculpas por... — Respirei fundo. — Por ter... ficado... com outros caras depois de você. — A frase soou amarga em minha boca.
Jungkook me olhou sem expressar reação nenhuma, depois me abraçou mais uma vez.
— Sabe... Sempre fomos apenas nós dois. Fomos os primeiros e únicos um do outro em praticamente tudo. Não vou te dizer que não machuca um pouco ouvir isso porque eu estaria mentindo, mas você está em seu total direto de se envolver com quem quiser, Ava. Nossa realidade mudou de uma forma brusca... E talvez eu esteja sendo um babaca em dizer isso agora, mas me sinto um pouco aliviado e menos culpado apesar dos ciúmes... — Me soltei do abraço devagar e encarei Jungkook com a sobrancelha levantada.
— O que quer dizer com: menos culpado? — Ele coçou a cabeça envergonhado.
— Você não foi a única que ficou com outras pessoas. — A pontada no meu peito veio certeira.
Sei que tudo o que eu mais queria era saber que JK seguiu em frente, mas quando você passa a vida toda com apenas uma pessoa você se acostuma a pensar inconscientemente que ela pertence apenas a você.
— Acho que entendo o que disse sobre doer um pouco. — Respondi apenas. Ele deu um sorriso envergonhado e levou a mão para o meu peito, mexendo no meu colar com os dedos.
— Não acho que seja coincidência você ter feito o mesmo que eu, já me viu antes e eu não te reconheci, né? — Ele perguntou e eu assenti com a cabeça.
— Jimin fez o seu salvamento e pediu carona pra você me buscar aqui por perto e deixar nós dois na praia. — Os olhos de JK se acenderam em reconhecimento.
— Eu lembro, aquela garota não parecia nem um pouco com você. — Ele riu. — Gosto de Jimin, não imaginava que ele era um guardião. Quando lutávamos juntos eu costumava falar sobre você, ele escutava tudo como se fosse assunto novo mesmo já te conhecendo há tempos, o babaca. — Curvei a cabeça pro lado.
— Jimin te visitava com frequência? — Ele assentiu.
— Pelo menos uma vez por semana. — Arregalei meus olhos em descrença.
— Que vagabundo! Ele me falou que veio só uma vez! — Balancei a cabeça de um lado pro outro sorrindo sem nem perceber, nada que eu já não esperasse de Park Jimin.
— Jimin nunca mais apareceu, ele tá legal? — Jungkook perguntou, então meu sorriso sumiu e eu me lembrei que não terminei de contar a história do Marco.
— Eu... eu quase desisti de continuar viva quando Marco jogou na minha cara tudo de ruim que fez comigo, só decidi lutar mais um pouco porque Jimin também era um alvo e eu não queria que nada acontecesse com ele. Conseguimos acabar com todos eles, eu fiquei no modo automático golpeando a parede com a espada pensando que Marco ainda estava ali, só Jimin conseguiu me fazer voltar a realidade. Quando eu o vi eu só despejei tudo de uma forma catatônica, Jimin me ouviu, me entregou pro Vincent, pediu desculpas e foi pra cima do Marco. Ele matou o guardião e foi levado pro sétimo céu pra julgamento por causa do crime, Jimin tá preso desde então.
Um soluço rasgou pela minha garganta e Jungkook me abraçou de novo. Eu voltei a chorar, dessa vez por Jimin, porque eu sabia que só o veria de novo dentro de dez anos e, puta merda, dez anos é tempo demais.
Tempo demais.
— Ele era meu tutor antes de ser preso. Me ajudou com tanta coisa, JK... Jimin fez eu acreditar muito mais em mim mesma, eu não sou mais aquela garotinha que tem medo de pisar em falso e tudo isso é graças ao apoio que eu recebi do Vincent, do Yoongi, do Devon, da Juju, da Ianthe que é minha treinadora e principalmente do Jimin que nunca deixou de falar que acreditava na minha capacidade de fazer as coisas sozinha. Agora eu olho pro meu futuro no Círculo e sinto ele incompleto. Eu consigo tocar em frente sozinha, mas queria que ele estivesse comigo.
— Foi com ele que você ficou depois de mim, não foi? Não imaginei que teria se envolvido emocionalmente. Meus casos foram de uma noite só, pra não ver mais a cara de ninguém no outro dia. — Desencostei do peito de Jungkook e escorreguei pelo chão até estar deitada em sua coxa, ele me olhava com um sorriso contido.
— O universo talvez queria deixar as coisas equilibradas, não era justo que apenas eu tivesse acesso a essa oitava maravilha do mundo. — Dei dois tapinhas em seu peito, o sorriso dele se alargou mais.
— Essa sua mania de aumentar meu ego não mudou, né? Vamos sair desse clima depressivo um pouquinho que você está precisando. Só teve o Jimin ou teve mais alguém? Juro que aguento escutar, finja que eu ainda sou aquele seu amigo de infância que tinha medo de chegar perto de garotas. — Não consegui me segurar e gargalhei, Jungkook sorriu vitorioso por ter conseguido melhorar um pouco meu humor.
— Você ainda é aquele garoto, só está mais musculoso e tatuado. — Estiquei minhas pernas e arrumei as de JK em baixo da minha cabeça. — Fiquei com Jimin e Hoseok, ele é líder do polo de Londres. Os dois foram os únicos. E você? — Devolvi a pergunta.
— Sinceramente? — Ele perguntou, eu assenti. — Eu não sei, muitas das vezes estava bêbado. — Cruzei os braços indignada.
— Devo me preocupar com um mini Jungkook chorando por aí em breve? — Ele fez uma cara de assustado tão engraçada que eu voltei a rir.
— Claro que não, estar bêbado não me deixa inconsequente. Aliás... — Ele lembrou. — Quando estávamos juntos quem tinha que insistir em usar a camisinha era eu, você se preveniu durante esses meses, senhorita Ava? Ainda pode engravidar de humanos. — Ele levantou a sobrancelha, provavelmente se referindo a Hoseok.
— Eu não... Não me envolvi assim com Hoseok... — Pensei em Jimin automaticamente, aquela nossa noite foi perfeita antes do desastre todo acontecer. Nem tive tempo de pedir desculpas pelas merdas que eu disse, apesar de ele ter me perdoado mesmo assim.
— Gosta dele, não é? — Voltei pro presente e encarei os olhos negros de Jungkook.
— Do Hobi? — Questionei confusa.
— Não, estou falando do Jimin. — Desviei o olhar, confessar algo assim para Jungkook é um pouco constrangedor.
— Eu acho que acabei me apegando... — Falei sem olha-lo, JK tirou minha cabeça de suas coxas e ficou de pé, depois estendeu a mão pra que eu me levantasse. — O que está fazendo? — Perguntei sem entender nada.
— Vou trocar de roupa, fechar o clube e a gente vai dar uma volta. Precisamos bolar um plano pra tirar Jimin da cadeia. — JK saiu andando rumo a sua mochila e já tirou a regata que estava vestido no caminho. Fiquei parada olhando pra suas costas nuas me perguntando se ouvi certo.
— Oi? — Ele riu da minha cara e vestiu uma camisa vermelha de manga comprida.
— Você pode solicitar uma audiência e apresentar evidências que diminuam a pena do guardião, eu também conheço as regras do Círculo, Ava. Talvez duas cabeças pensando consigam tirar ele de lá de dentro mais rápido. — Jungkook abaixou o macacão de taekwondo e o tirou antes de procurar uma calça na mochila.
Por que os homens gostam de ficar pelados em qualquer canto?
— Jungkook, porque está fazendo isso? Me ajudando a tirar Jimin da cadeia? — Ele vestiu a calça jeans e colocou a mochila nas costas, depois andou até estar parado na minha frente e eu precisar olhar pra cima por causa da altura absurda do garoto.
— Porque eu te amo, Ava. E se te ajudar a trazer Jimin de volta vai te fazer feliz, eu faço com prazer. Não vou ser egoísta e te coagir a retomar o namoro comigo agora que nos reencontramos, nossa realidade é outra e eu entendo isso. Me sinto satisfeito só em saber que você está bem e de poder ter você por perto de novo. — Fiquei na ponta dos pés e abracei o pescoço de Jungkook agradecendo silenciosamente pelo homem maravilhoso que ele é. O planeta não merece ser o solo abaixo dos pés de Jungkook.
Nos separamos devagar e eu pude apreciar de perto seus olhos brilhantes e cheios de vida, Jungkook me olhava de uma forma tão carinhosa que não pensei duas vezes antes de ficar na ponta dos pés novamente e colar meus lábios aos dele. Jungkook entrelaçou os dedos em meu cabelo e me beijou com calma, apenas retribuindo o beijo que eu comandava.
Não durou muito, voltei a planta de meus pés ao chão e olhei para o Jungkook, ele sorriu e juntou nossas mãos, me guiando pro lado de fora do clube.
— Isso foi um beijo de despedida? — Ele perguntou, eu neguei com a cabeça.
— Eu sou fraca, não vou conseguir ficar sem te beijar de novo, então ainda não é a despedida. — Jungkook trancou a porta e caminhamos juntos pela rua.
— Mas vai ter uma despedida, não vai? — Relembrei meu primeiro dia no Círculo quando Jimin caminhou comigo pelos seis céus e me explicou direitinho o funcionamento do lugar, lembrei de quando ele me arrancou do elevador que estava prestes a cair, da vez em que ele se prostrou aos meus pés pedindo perdão por eu ter sido abordada por um demônio e um Raper enquanto ele devia estar cuidando de mim... De todas as vezes que fui em seu quarto chorando pela mudança repentina e ele fez carinho em meus cabelos pra que eu pudesse dormir em paz, do respeito que ele teve pelo meu luto em relação a Jungkook até mesmo nos momentos em que eu queria jogar tudo pra cima e beija-lo porque ele sabia que eu ainda não estava pronta.
Lembrei de nossos momentos descontraídos na casa de Vincent, dos biscoitos, das vezes que compramos roupas juntos, das alfinetadas, de todos os momentos que ele me chamou de "meu amor" e eu senti o meu coração dar um pulo. Lembrei de cada beijo apaixonante que Jimin me deu e pensei na saudade que estava dele agora.
Pensei em como seria quando eu o reencontrasse, com aqueles cabelos agora negros e seus olhos que, por mais que não estejam mais violetas, ainda têm o mesmo calor. Seus braços abertos, o sorriso lindo e ele falando "E aí, Wilson. Cansou de me esperar?"
Eu pensei em tudo antes de responder Jungkook. Então olhei em seus olhos e balancei a cabeça pra cima e pra baixo.
Jimin levou meu coração com ele pra cadeia sem nem perceber, e por mais que eu ame Jungkook com toda a minha alma, só o amor não é suficiente. JK sempre me protegeu, me aconselhou, tirou todas as pedras do meu caminho para que eu pudesse andar em terra firme, mas a mulher que eu sou hoje precisa de alguém que faça um curativo no meu joelho quando eu tropeçar nas pedras e cair, não preciso mais que as tirem da frente. Jimin é a pessoa que vai rir quando eu cair e depois vai aparecer com uma caixa de primeiros socorros pra fazer o curativo mais perfeito e esterilizado que existe.
É disso que eu preciso.
— Não estou preparada pra me despedir agora, mas preciso ser sincera com você, não sou mais humana e não tenho mais a mesma cabeça de antes... — Jungkook sorriu.
— Por enquanto eu quero conhecer a Ava Wilson de hoje. Se tiver vontade de me beijar no processo, fique à vontade, mas quando você disser que chega, eu vou escutar. Agora vamos pensar em uma forma de tirar seu garoto da prisão.
Caminhamos juntos pelas estradas familiares de Sydney enquanto um mesmo pensamento se repetia em minha mente.
Eu vou tirar Jimin daquele lugar, não importa o que eu precise fazer.
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𝕃𝕖𝕚𝕥𝕠𝕣 𝕗𝕒𝕟𝕥𝕒𝕤𝕞𝕒, 𝕖𝕦 𝕤𝕠𝕦 𝕠 𝕞𝕖𝕝𝕙𝕠𝕣 𝕘𝕦𝕒𝕣𝕕𝕚𝕒𝕠 𝕕𝕠 ℂ𝕚𝕣𝕔𝕦𝕝𝕠, 𝕔𝕠𝕟𝕤𝕚𝕘𝕠 𝕧𝕖𝕣 𝕧𝕠𝕔𝕖 𝕡𝕠𝕣 𝕒𝕢𝕦𝕚. 𝔸𝕡𝕒𝕣𝕖𝕔𝕒 𝕡𝕒𝕣𝕒 𝕠𝕤 𝕠𝕦𝕥𝕣𝕠𝕤, 𝕤𝕖 𝕕𝕖𝕚𝕩𝕒𝕣 𝕤𝕖𝕣 𝕧𝕚𝕤𝕥𝕠 𝕖 𝕚𝕞𝕡𝕠𝕣𝕥𝕒𝕟𝕥𝕖 𝕡𝕒𝕣𝕒 𝕠 𝕖𝕟𝕘𝕒𝕛𝕒𝕞𝕖𝕟𝕥𝕠 𝕕𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕙𝕚𝕤𝕥𝕠𝕣𝕚𝕒. ⭐
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