𝟙𝟘 - 𝔻𝕖𝕔𝕚𝕤𝕠𝕖𝕤, 𝕣𝕖𝕖𝕟𝕔𝕠𝕟𝕥𝕣𝕠𝕤 𝕖 𝕕𝕖𝕤𝕡𝕖𝕕𝕚𝕕𝕒𝕤
- HATHAWAY -
O CÍRCULO
CAPÍTULO DEZ
Decisões, reencontros e despedidas
"Não há nada como regressar a um lugar
que está igual para descobrir o
quanto a gente mudou."
Nelson Mandela
Estávamos no hotel que Vincent se hospedou em Londres.
Depois da minha conversa com o Oráculo hoje, fiquei tão chateada por toda esta merda estar acontecendo comigo que mandei a cautela pro inferno. Quando Vincent falou sobre sua suspeita de estarem me drogando, a única coisa que consegui fazer foi rir, e eu vim andando até o hotel segurando as minhas gargalhadas.
Infelizmente eu as soltei do nada várias vezes no caminho, o que me rendeu alguns olhares interrogativos de Jimin. Mais um problema que eu tenho que lidar e estou empurrando com a barriga.
Espere aí, meu querido Jimin, quando eu descobrir quem me matou eu me dou o trabalho de tentar resolver nosso pequeno problema de atração física.
Merda.
— Você está bem, Ava? Por que está rindo? - Jimin me questionou, preocupado. Eu até entendo, essa não sou eu.
— É engraçado, aparentemente alguém tá se esforçando muito pra me ferrar. — Dei de ombros, era a melhor explicação que Jimin iria receber.
— Precisamos saber mais sobre a sua vida humana, Ava. Sempre morou com a sua mãe?
Eu assenti.
— Até o dia de minha morte. — Ele me olhou com a cabeça curvada, pensando em seu próximo passo.
— Sua mãe nunca te mandou tomar nada frequentemente? — Eu me recostei na poltrona em que estava sentada.
— Pergunta complicada, tudo o que eu bebia ou comia sempre foi feito pela minha mãe. Acha que ela me drogou? — Vincent negou.
— Acho que ela foi influenciada a isso. — Dei de ombros, eu não estava nem um pouco afim de duvidar da minha mãe. Em toda a minha vida, as únicas pessoas que eu confiei de olhos fechados foi minha mãe e Jeon Jungkook, apesar de que ela nunca me falava nada do meu pai e eu ficava com uma puta raiva disso, nossa relação sempre foi muito boa.
Todos ficamos em silêncio, Jimin se levantou e foi mexer no frigobar do hotel, depois voltou com uma latinha de Coca-cola.
— Então voltamos pra estaca zero. — eu neguei.
— Não, agora estamos esperando respostas. Fui nas divisões especiais e entreguei o meu caso, o Oráculo me disse que alguém mexeu no sistema do Círculo pra me matar, então fiz começarem a investigar. — Jimin estava totalmente relaxado na poltrona, mas Vincent mantinha os cotovelos apoiados nas pernas e as mãos juntas, como se estivesse refletindo na forma de resolver esse quebra cabeça maluco que é a minha vida.
— Preciso te avisar que essas insvestigações demoram, Ava. — Jimin sinalizou, Vincent olhou pra ele.
— Vocês dois precisam conversar com o Oráculo de novo. — Vincent se levantou e pegou a outra latinha que estava no frigobar. — Onde você morava, Ava?
— Australia. — Imagens vívidas da minha cidade vieram em minha mente sem a minha permissão, as enterrei no fundo do incosciente e voltei a prestar atenção em Vincent.
Nada de auto piedade hoje, cansei disso.
— Peçam uma missão na Austrália pra o Oráculo. Vocês dois precisam ir na casa da Ava pra ver se encontram algum resquício dessa erva por lá. — E foi aí que todo o meu esforço pra manter minhas memórias bem enterradas foi pro inferno.
Pisar na minha cidade de novo, pisar na minha casa. A chance de esbarrar com Jungkook... Será que ele ainda sente a minha falta ou já superou?
— Taehyung, isso é perigoso. — Jimin ficou me olhando enquanto alertava Vincent, como se ele soubesse tudo o que eu estava pensando agora.
— Eu sei disso, mas vocês não podem ficar parados esperando a resposta pra todos os seus problemas cair do céu. Não sei se vocês lembram, mas estamos com sérios problemas com os demônios, isso vai estourar em uma guerra logo logo e se não encontrarmos quem está aprontando com a Ava, essa pessoa pode aproveitar a guerra pra eliminar ela. — Voltei a mim com a menção à guerra.
— Só quero entender que relevância eu tenho pra alguém querer tanto me eliminar. — Meu comentário pairou por nós, cada um ficou preso em seus pensamentos enquanto eu sentia minha cabeça voltar a doer.
A única coisa que eu conseguia pesar era em um monte de porquês. Nenhuma resposta.
— Seria mais seguro se eu fosse sozinho. — Jimin se oferece.
— Ninguém conhece aquela cidade e aquela casa melhor que a Ava. Você vai junto pra garantir que ninguém reconheça ela, mas Ava que precisa procurar pela erva. — Coloquei a mão no ombro de Jimin e me levantei.
— Tudo bem, Jimin. Eu vou. — Vincent me olhou, questionador.
— Ava, você não pode procurar seu namorado quando estiver lá, você ainda não está pronta. — Revirei os olhos.
— Eu sei que não estou pronta pra ver Jungkook, não sou idiota. — Os dois se entreolharam depois que eu falei, antes que falassem qualquer coisa eu fui pro quarto do hotel e bati a porta.
Preciso socar alguma coisa.
Me joguei na cama e fiquei olhando pro teto, tudo o que eu queria era voltar pra minha cidade, mas não nessas condições. Não pra investigar meu próprio assassinato.
Fora o fato de que eu realmente sei que não estou pronta pra ver Jungkook, minha mãe ou qualquer um, e as chances de esbarrar com eles são enormes. Eu me sinto, sei lá...
Sozinha.
Não é mais aquela sensação de "vão me julgar" ou "preciso de alguem me confirmando de que o que estpu fazendo está certo", é a sensação de "ninguém aqui passou pelo mesmo que eu e isso é frustrante." Acho que estou carente de empatia e a única coisa que está sanando isso ultimamente são os treinos.
Ouvi batidas suaves na porta do quarto, depois Jimin a abriu.
— Posso entrar? — Olhei por alguns segundos pra ele, depois voltei a apoiar a cabeça no travesseiro. Jimin tomou isso como um sim.
Ele fechou a porta e se sentou ao meu lado na cama, continuei calada enquanto Jimin passava a mão nos cabelos em seu gesto habitual e respirava fundo.
Jimin lambeu os lábios antes de falar e eu olhei pra qualquer lugar, menos pra ele.
Droga, Jimin.
— Pode me dar uma trégua? Vinte minutos, por favor. — Fechei os olhos e tomei coragem pra olhar pra ele de novo.
— Tudo bem. — Jimin deitou e virou de frente pra mim, voltei a olhar pro teto.
— Percebi que toda essa situação te mudou um pouco. Eu tenho mais de duzentos anos, Ava. Posso parecer um cara que acabou de sair da adolescência, mas aprendi a ler as pessoas muito bem, você precisava de aprovação antes desse rolo todo, agora você precisa de paz. Eu só queria dizer... Eu quero dizer... — Percebi que ele parou de me olhar e fitou o teto junto comigo.
— Sei lá... Se houver algo que eu possa fazer por você... Eu me importo com você, Wilson. Acho que sabe disso.
De que adianta? Falar que se importa não muda nada. Eu sei que Jimin ta se esforçando pra fazer eu me sentir melhor, mas falar essas coisas só me deixa mais frustrada.
E ficar frustrada comigo, com Jimin e com a vida me faz ficar mais frustrada ainda, porque eu não tenho culpa de nada, a vida não tem culpa de nada e Jimin é um amor de pessoa que só quer me ajudar e não tem culpa de nada também.
Eu preciso de alguém pra colocar a culpa urgentemente.
— Acho melhor você sair, Jimin. — Falei cansada. Não era hora de tentar resolver nada.
Ele me encarou de olhos arregalados, senti uma pontada no meu coração ao pensar que eu o magoei, mas Jimin levantou da cama respeitando minha decisão.
Ou eu pensei a princípio que fosse isso, porque ele ficou de pé e segurou a barra da própria camisa, a arrancando pela cabeça. Dessa vez meus olhos que se arregalaram.
— Jimin, seu louco! O que você tá fazendo? — Ele jogou a camisa longe e desabotou a calça.
— Estou tentando arrancar alguma reação de você. — Levantei da cama antes que ele tirasse a calça e peguei a camisa dele do chão.
— Para com isso! — Assim que Jimin baixou o zíper eu embolei a camisa e taquei nele. — Jimin, para!
Ele jogou a camisa no chão de novo e baixou as mãos pra tirar a calça, corri pra perto dele e segurei seus braços, ele se soltou e segurou os meus pulsos.
— Por que quer que eu pare? — Abri a boca pra falar, mas percebi que eu não tinha uma resposta pra dar pra ele, então a fechei. — Não vou parar enquanto você não me responder. — Jimin soltou meus braços e abaixou a calça, empurrei ele pra parede antes que tirasse a última peça que faltava, mas as pernas de Jimin embolaram na calça e nós dois caímos no chão.
Levantei como se todo o corpo de Jimin estivesse queimando e corri pra porta, se ele quer ficar pelado, beleza, mas eu não preciso ver.
Quando ele percebeu o que eu estava prestes a fazer, Jimin se soltou das calças e correu pra porta, bloqueando minha passagem.
— Você não vai sair! — Ele olhou dentro dos meus olhos, segurei seus braços e o puxei pra longe da porta.
— Me obrigue! — Dei um passo e Jimin deu uma rasteira em minhas pernas, me fazendo cair. Chutei pra tentar derrubar ele também, mas Jimin me puxou pelo pé e me jogou no colchão, depois subiu em cima de mim.
— Por que quer que eu pare? — Ele repetiu a pergunta, fechei os olhos e comecei a me debater, chutar e espernear pra tentar me livrar dele, mas Jimin estava com um aperto de ferro em meus braços.
— Eu vou gritar pro hotel inteiro que estou sendo estuprada, ninguém vai duvidar se entrar aqui e ver a gente desse jeito! — Jimin deu um sorriso perverso.
— Quero ver você tentar. — Puxei fôlego pra gritar, mas Jimin jogou meus dois braços pra cima e me prendeu pelos pulsos com uma mão, depois colocou a outra na minha boca.
Meu último esforço foi tentar chutar de novo, mas Jimin forçou o corpo todo dele em cima do meu e eu percebi que tinha perdido. Não conseguia mais me mexer, nem falar, só respirar e encarar os olhos violetas vitoriosos de Jimin.
Ele estava vestido apenas com uma cueca preta que não deixava nada pra imaginação, Jimin não estava excitado, o que me provava que toda aquela cena não era com o objetivo de me provocar, mesmo assim, eu não conseguia pensar em nada alem daquele corpo grudado no meu e no cheiro delicioso da pele dele.
— Se eu tirar a mão da sua boca, promete que não vai gritar? — Balancei a cabeça levemente pra cima e pra baixo, ele tirou a mão e voltou a segurar meus pulsos, me mantendo no lugar.
Jimin continuou olhando dentro dos meus olhos
— Se sente melhor? — Então eu percebi pra que foi tudo aquilo. Jimin me fez soltar toda a energia que eu estava acumulando, ele percebeu que eu precisava disso antes mesmo que eu me desse conta.
— Obrigada. — Eu falei, e fui sincera. O aperto no meu pulso afrouxou, mas Jimin não os soltou.
— Quando me disse que ia gritar pra todo o hotel ouvir, a única coisa que me veio na cabeça foi calar a sua boca te beijando. — Soltei o fôlego que eu estava prendendo, única reação que me permiti demonstrar pra confissão que Jimin me fez.
— E por que não fez? — Olhei pra os lábios de Jimin quando perguntei, ele os lambeu de novo ao perceber que eu estava encarando.
— Porque eu sei que, apesar de você estar louca pra eu te beijar agora, me odiaria depois. — Fechei os olhos e pensei. O que me impede? Jungkook?
Eu morri. Jungkook está vivo. Eu nunca proibiria ele de seguir em frente, então por que estou fazendo isso comigo?
— Jimin? — Abri os olhos e olhei pra ele.
— Sim? — As pupilas de Jimin estavam dilatadas, um círculo negro emoldurado pelas íris violetas extremamente exóticas e fascinantes. Voltei a olhar pros seus lábios.
— Me beija, por favor. — Jimin fechou os olhos, como se doesse nele o que eu falei.
— Wilson, não me pede isso. — Aproveitei a distração dele pra liberar minhas pernas e as envolver em seu quadril, Jimin soltou um arquejo sofrido.
— Você quer e eu também. Eu tô morta, Jimin! Preciso me sentir viva de novo. Me beija. — Se Jimin não estivesse segurando meus braços eu nem teria pedido, só puxaria a cabeça dele pra baixo e o beijaria eu mesma.
— Ava... — Jimin enterrou a cabeça em meu pescoço e me deu um beijo suave na pele sensível. — Eu juro pra você, depois de irmos pra Australia, depois de você ver sua cidade de novo, sua casa, se ainda quiser, eu juro que vou te beijar até que esqueça o seu próprio nome. — Ele levantou a cabeça e voltou a me olhar. — Mas agora não. Eu estou fazendo isso por você, se dependesse de mim você estaria sem essas roupas há muito tempo.
— Você não pode falar essas coisas e esperar que eu desista tão fácil. — Jimin se abaixou o suficiente pra passar a língua pelo meu lábio inferior, quando me ergui pra capturar a língua dele com a minha boca, Jimin soltou meus braços e se afastou.
— Não quero que desista, quero que adie. — Jimin saiu da cama e buscou sua calça no chão, depois a vestiu.
— E qual é a diferença? — Perguntei juntando toda a dignidade que eu já não tinha depois de ter praticamente implorado pra Jimin me beijar.
— Preciso ter certeza de que você não vai se arrepender. — Assim que vestiu a camisa, Jimin se aproximou e colocou as duas mãos no meu rosto. — Querida, não pense que vai ser só uma vez. Temos um ano juntos por causa das missões, a partir do momento que começarmos, vai ser um ano, no mínimo, tentando esconder do Círculo que a gente está se agarrando por cada canto da Terra. É perigoso, é estupidez, é burrice e eu estou pouco me fodendo pras consequências, mas não quero prejudicar você. Depois da Austrália você decide se quer correr esse risco comigo, mas agora você está frustrada e vulnerável, não vou me aproveitar disso.
— Pode pelo menos me dar um abraço e estender nossa trégua? — Jimin estava certo, isso era frustração e tesão encubado.
Como resposta ele soltou meu rosto e estendeu os braços, pulei em cima dele e Jimin deu dois passos pra trás gargalhando enquanto se equilibrava pra não nos deixar cair.
— Era só um abraço, Wilson! Não era pra fazer cosplay de bicho preguiça. — Talvez eu tenha enrolado minhas pernas no quadril dele de novo, mas eu não ligo.
— Obrigada por melhorar meu humor. — Enchi o rosto de Jimin de beijos enquanto ele gargalhava, foi uma semana horrível sem ele, estavamos juntos durante a maior parte dos dias, mas o vínculo de parceria que criamos não dava as caras, e isso acabou comigo.
Jimin me colocou no chão e a gente saiu do quarto, Vincent estava na poltrona assistindo TV.
— Só vou fazer uma pergunta, o barulho lá dentro do quarto foi uma luta ou foi sexo? Dependendo da resposta eu vou chamar o serviço de quarto pra trocar os lençois, vocês vão embora pro Círculo e quem vai ser obrigado a dormir lá sou eu.
Jimin deu um tapa na cabeça de Vincent e se jogou na outra poltrona.
— Deixa de coisa, Taehyung. Nem nos beijamos. — Peguei uma garrafa de água no freezer e fui pra minha potrona.
— Não precisa beijar pra transar. — Vincent levantou uma sobrancelha e voltou a encarar o Jimin.
— Ava está certa. — Ele revirou os olhos rindo.
— Foi uma briga pra liberar energia acumulada, irmão. Pode ficar tranquilo.
Não tocamos no assunto da erva de novo, foi como uma trégua pra nos preparar pro dia seguinte, Vincent tem as lutas dele com a Divisão especial. Jimin e eu teremos a nossa amanhã encarando o meu passado.
Seja lá o que nos espera na minha antiga vida na Austrália.
***
Jimin e eu estávamos na frente do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, Brasil.
Uma criança se perdeu dos pais e ia ser sequestrada, estuprada e morta. Encontramos a criança antes dos sequestradores e entregamos para os pais, agora estávamos vigiando de longe até passar o horário da missão, só pela precaução caso algo aconteça.
— Falta um minuto pro horário da morte dela, a garota ainda está com os pais. — Jimin falou olhando pra seu relógio.
— Acho que já podemos ir pra próxima missão. — Falei e depois respirei fundo. Conseguimos pegar a missão na Austrália, ela é a última do dia.
— Você está pronta? — Jimin segurou minhas duas mãos e olhou nos meus olhos.
— Nem um pouco. — O minuto passou e a criança ainda estava viva, saímos de mãos dadas atrás de água pra ir pra Austrália. Não demorou muito, e sinceramente, eu estava absorta demais pra prestar atenção nos meus passos, apenas mergulhamos e eu me vi na minha cidade de novo.
Jimin verificou o Espelho Celestial dele pra descobrir qual era a nossa missão, o plano é salvar o humano logo e ficar livre pra explorar a minha casa.
Olhei ao redor para a rua e as árvores totalmente familiares e senti um quentinho no peito pelas emoções boas que aquele lugar me trazia. Eu pensei que me sentiria mal ao voltar, ao ver tudo que eu perdi... Pensei que o luto me arrebataria, mas a única coisa que senti foi saudades e uma gratidão imensa por poder estar ali de novo depois de ter morrido.
Virei pra contar isso pra Jimin, mas a cara dele segurou minha boca de falar alguma coisa.
— Viu um fantasma? — Brinquei, mas ao mesmo tempo me senti tensa. O que quer que tenha rolado nesses segundos em que eu me perdi em pensamentos abalou demais o Jimin.
Ele não me respondeu, apenas virou o Espelho Celestial dele pra mim. Senti meu sangue gelar ao ler a nossa missão.
Australia – Nova Gales do Sul
Cidade de Sydney, ponte da Baía.
Acidente de carro às 8:47 PM.
Jeon Jungkook
— Puta. Que. Pariu. — Foi a única coisa que consegui falar antes de meu queixo quase cair no chão e o pavor encher o meu peito ao perceber que, se não fizermos alguma coisa, Jungkook vai morrer.
Jimin desligou o Espelho Celestial e veio pra perto de mim.
— Você tá pronta pra ver ele? — Eu balancei a cabeça de um lado pro outro. Queria ver Jungkook? Queria demais! Estava pronta? Nem um pouco.
— Quer que eu faça sozinho? Posso te encontrar na sua casa depois que terminar o salvamento dele. — Balancei a cabeça de cima pra baixo, eu não conseguia falar tamanho espanto pela missão. Jimin me abraçou e deu um beijo na minha testa. — Prometo que vou manter ele vivo, tome cuidado.
Jimin deixou uma das espadas dele comigo e saiu pra salvar Jungkook, guardei a espada e fui andando pra minha casa.
Sydney é bem movimentada de noite, ajeitei o meu capuz pra não ser reconhecida por ninguém e continuei caminhando com as mãos nos bolsos. De longe pude enxergar que o carro da minha mãe não estava em casa, talvez ela esteja trabalhando em um caso, minha mãe é advogada.
Procurei a chave reserva nas plantas do lado da janela da frente e abri a porta depois de encontra-la. A casa do lado de dentro estava da mesma forma, o forro do sofá, os quadros na parede, meu diploma do ensino médio emoldurado em cima da estante. Subi as escadas pro meu quarto e quase chorei ao perceber que mamãe manteve ele arrumado do jeito que eu gosto, como se eu nunca tivesse saído dali.
Sentei na cama e peguei o porta retrato que estava em cima da minha escrivaninha. Era uma foto de Jungkook e eu no meu aniversário de quinze anos, sempre fui tão pequena perto dele...
Devolvi a foto pra estante e abri a minha caixinha de jóias, talvez eu leve alguma coisa comigo pro Círculo. Mexendo nos meus colares eu vi um fio de prata perdido lá pelo meio, quando puxei o anel eu reconheci da hora.
Minha aliança de namoro.
Mamãe deve ter guardado. Tirei o anel com a pedrinha roxa que Jimin transformou do meu Espelho Celestial e coloquei a aliança de volta onde ela deveria estar. Depois de olhar pra minha mão por alguns segundos eu devolvi o anel roxo pro meu dedo, ele encaixou perfeitamente na aliança.
Guardei a caixinha de jóias e fui pro quarto da mamãe pra começar a minha busca.
O horário da morte do Jungkook chegou e passou, eu estava um pouco aflita, mas confio em Jimin, então não cheguei a me desesperar, apenas me mantive procurando a erva, aquela era a minha missão.
Fucei cada pedacinho da minha casa e não encontrei bulhufas de nada, quando estava quase desistindo alguém bateu na porta. Corri pra olhar pelo olho mágico e soltei o ar que eu nem sabia que estava prendendo quando vi o Jimin.
— Cadê o Jungkook? Ele tá bem? — Nem abri a porta direito e já estava questionando Jimin. Eu precisava ver na cara dele que ele tinha conseguido salvar o JK.
— Ele tá bem, Ava. — Ele me puxou, pegou a chave da minha mão e trancou a porta. — Encontrou algo?
Eu neguei.
— Tudo bem, vamos pra casa. — Coloquei a chave de volta nas plantas e saí andando com Jimin, quando já estávamos longe o suficiente da minha casa ele se virou pra olhar pra mim.
— Ava, Eu falei pro Jungkook que precisava buscar uma amiga nesse quarteirão. Disse que ela veio visitar uma garota que conheceu na internet enquanto eu batia perna por aí. Ele se ofereceu pra deixar a gente na praia, se você não quiser...
Jimin continuou me olhando, deixando bem claro que a decisão era minha. Ele poderia simplesmente ter vindo me buscar e voltarmos pro Círculo sem encontrar com Jungkook, mas essa oportunidade de poder ver ele, conversar e ter um motivo plausível pra isso...
Admirei essa atitude de Jimin imensamente, ter pensado em me, ter me dado essa escolha.
— Ele vai me reconhecer? — Perguntei antes de tomar minha decisão.
— Ele poderia te reconhecer se estivessemos de perna pro ar aqui na Terra, como a missão de salvamento dele é sua, a névoa vai impedir que ele te reconheça como a Ava, a namorada dele. — Eu balancei a cabeça mostrando que entendi.
— Então vamos, não estou pronta, mas vai me fazer bem pra deixar ir. — Jimin passou o braço pelos meus ombros e nós voltamos a caminhar, quando chegamos perto do carro de Jungkook eu senti minha pulsação triplicar de velocidade.
Era agora...
Jimin fez sinal e eu ouvi o barulho das portas sendo destrancadas, eu abri a porta de trás e entrei, Jimin entrou depois de mim e fechou a porta. Não me atrevi a olhar pra frente e ver Jungkook, mas o cheiro dele me atingiu como uma pancada.
Meu Deus, que saudade...
— Ei cara, obrigado pela carona. — Jimin puxou assunto, então eu prendi a respiração ao ouvir JK responder.
— Que nada, gostei de te conhecer. E foi muito do nada! — Ele riu e eu quase morri de novo. Aquela risada fez parte da minha vida em tantos momentos bons...
QUE SAUDADE!
— Jungkook, essa aqui é a Alisson. Releva ela ainda não ter falado com você, a garota dorme cedo e tá com sono. — Jimin colocou a mão na minha coxa e apertou de leve, aquele toque de "pode falar, eu tô aqui com você"
— Tudo bem, Alisson? Espero que você não durma na praia. — Jungkook comentou, então lembrei que estavamos indo pra praia por causa da água, pra voltar pro Círculo.
— Vou tentar ficar acordada. — Eu respondi, então olhei pro retrovisor do carro e dei de cara com os olhos de Jungkook fixos em mim pelo espelho. Os meus arderam pela vontade de chorar.
Ele voltou a prestar atenção na estrada e eu me permiti olha-lo. Jungkook continuava com o cabelo grande preso em um rabo de cavalo bagunçado, roupas pretas, coturnos, o estilo dele não mudou, mas agora ele carregava uma corrente no pescoço.
Uma corrente que estava com a nossa aliança como pingente.
— Cordão bonito. — Tomei coragem pra comentar, ele olhou pra baixo por alguns segundos e eu pude ver o carinho em seu rosto, depois Jungkook me olhou pelo retrovisor.
— Obrigado. Ele é importante... Me lembra alguém. — O resto do caminho eu me mantive em silêncio, Jimin e Jungkook conversaram algumas vezes, enquanto isso eu ficava admirando JK com o olhar, ele me parecia bem.
Com saudades de mim, pela forma que olhou pra aliança, mas mesmo assim ele aparentava estar bem.
Isso me bastava.
Quando chegamos na praia, Jungkook desceu do carro junto conosco pra se despedir, ele deu um abraço daqueles que dá um tapinha nas costas em Jimin, bem coisa de colegas de trabalho. Eu ri.
Depois Jungkook olhou pra mim e perguntou se podia me dar um abraço, eu quebrei a nossa distância e o abracei como resposta. Queria ter passado o resto da noite nos braços dele, o calor foi tão familiar que acabei deixando uma lágrima rebelde cair.
Aquela era a despedida que eu estava precisando.
— Cuidado pra não dormir. — Ele me soltou e deu um passo pra trás. — Você sabe onde eu moro, aparece lá em casa quando vier na cidade de novo. — Jungkook falou pra Jimin. — Boa noite, gente!
— Boa noite. — Nós respondemos e Jungkook saiu com o carro, quando ele ja estava longe, Jimin me cutucou.
— Agora sei porquê gosta tanto dele, o cara é gostoso. — Eu ri e dei um tapa de leve em Jimin.
— Jungkook é um homem incrível. — Respirei fundo e limpei as lágrimas rebeldes. — Sinto falta dele.
— Eu sei que sente, querida. Eu sei que sente. — Jimin segurou na minha mão e nós entramos na água.
☁☁☁☁☁
𝕃𝕖𝕚𝕥𝕠𝕣 𝕗𝕒𝕟𝕥𝕒𝕤𝕞𝕒, 𝕖𝕦 𝕤𝕠𝕦 𝕠 𝕞𝕖𝕝𝕙𝕠𝕣 𝕘𝕦𝕒𝕣𝕕𝕚ã𝕠 𝕕𝕠 ℂí𝕣𝕔𝕦𝕝𝕠, 𝕔𝕠𝕟𝕤𝕚𝕘𝕠 𝕧𝕖𝕣 𝕧𝕠𝕔ê 𝕡𝕠𝕣 𝕒𝕢𝕦𝕚. 𝔸𝕡𝕒𝕣𝕖ç𝕒 𝕡𝕒𝕣𝕒 𝕠𝕤 𝕠𝕦𝕥𝕣𝕠𝕤, 𝕤𝕖 𝕕𝕖𝕚𝕩𝕒𝕣 𝕤𝕖𝕣 𝕧𝕚𝕤𝕥𝕠 é 𝕚𝕞𝕡𝕠𝕣𝕥𝕒𝕟𝕥𝕖 𝕡𝕒𝕣𝕒 𝕠 𝕖𝕟𝕘𝕒𝕛𝕒𝕞𝕖𝕟𝕥𝕠 𝕕𝕒 𝕞𝕚𝕟𝕙𝕒 𝕙𝕚𝕤𝕥ó𝕣𝕚𝕒. ⭐
𝔹𝕖𝕚𝕛𝕠𝕤 𝕕𝕠 𝕁𝕚𝕞𝕚𝕟!
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