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Capítulo IV: Algo Sombrio Se Aproxima

"Diga adeus enquanto nós dançamos com

o demônio esta noite. Não ouse olhá-lo

nos olhos enquanto nós dançamos

com o demônio esta noite"

♦ "Dance With The Devil", do Breaking Benjamin


O FIM DE SEMANA passou rápido e Clarice não teve um pesadelo sequer para atormentar suas noites. Sua aparência melhorara consideravelmente, voltando a apresentar um pouco de cor nas bochechas, antes descoradas, e dissipando um pouco das olheiras. Até mesmo o verde de seus olhos parecia mais vivo e menos abatido. A energia voltava aos poucos, não sendo mais tão difícil de levantar da cama pela manhã para realizar suas tarefas.

O apanhador de sonhos pendia na cabeceira da cama, atraindo a atenção das outras crianças, que faziam questão de ignorar sua presença em outros dias, enchendo-a de perguntas sobre o tal objeto e o casal que a regalara com o presente atípico. Por isso, durante o dia, guardava-o em um lugar seguro, longe dos olhares cobiçosos e mãozinhas nervosas. Do tamanho de seu antebraço, ficava muito bem armazenado dentro do livro que ganhara de aniversário, ainda que temesse amassá-lo.

Clarice queria agradecer ao casal Sanderson pelo presente, dizer-lhes que havia funcionado, mas ainda era cedo para comemorar e cedo para o regresso de ambos. "Isso se eles voltarem", pensou, enquanto escovava os dentes pela manhã. Sua rotina, nos dias de semana, baseava-se em aulas, um breve horário de descanso e mais aulas; das 8h até às 16h, com o intervalo de trinta minutos para o almoço. Sempre se sentava na fileira do canto, quatro cadeiras à frente da mesa da professora e do lado da janela que dava para a entrada do Orfanato Santa Brígida.

A primeira aula seria de matemática, como se as segundas-feiras já não fossem ruins, com a irmã Marie Lazarus; uma senhora atarracada, cujo hábito não conseguia disfarçar sua magreza espantosa. Não devia ter mais que sessenta anos, mas seu rosto parecia um mapa com todas as curvas e vincos da idade, que expressavam a vida humilde, devotada às crenças fervorosas que beiravam o arcaico. Ainda assim, Clarice tinha que admitir que a mulher era uma professora de primeira, mesmo com a matéria não ajudando muito.

— Bom dia, crianças. — Todas responderam em uníssono e coitada daquela que não o fizesse. — Organizadamente e a partir da primeira fileira, tragam os livros e os coloquem sobre a minha mesa. Espero que o dever de casa tenha sido feito.

As freiras sempre faziam isso: conferiam se os alunos haviam feito as lições e só então corrigiam no quadro. A cada dever não finalizado, uma hora era decrescida dos momentos de lazer. Clarice, certa vez, deixou de fazer uma das lições propositalmente, acreditando que poderia ficar longe das outras crianças e junto aos seus livros, mas a irmã Edwige — professora de história — fê-la auxiliar na limpeza de algumas salas de aula; nada muito pesado, mas que ocupou o tempo que teria para si, como forma de punição pela tentativa falha de escapar de seus deveres. Nunca mais deixou de fazer seus trabalhos de "casa".

Após pegar seu caderno com o conteúdo revisado, acompanhado de algumas correções aqui e ali, Clarice voltou à sua cadeira. Do lado de fora, o tempo não parecia muito convidativo e um sopro gelado passava pelas frestas da janela mal fechada. O céu cinzento e as árvores açoitadas pelo vento eram apenas um prenúncio da tempestade que se aproximava. Contudo, a menina pouco se importava com o tempo "feio"; adorava ler ao som da chuva se chocando contra o solo e o cheiro da terra molhada perfumando a biblioteca bolorenta.

A aula passou preguiçosa e muitas alunas escondiam os longos bocejos por detrás dos livros pesados, mas os olhos caídos de sono não podiam ser disfarçados. Clarice, apesar disso, estava desperta como há muito tempo não se sentia, incapaz de se deixar contagiar pela letargia das companheiras de classe. Ao soar do sinal, todas entraram em uma fila indiana, da menor para a maior, e foram levadas para a aula de inglês.

Por mais que gostasse de ler, Clarice apenas suportava essa disciplina. Era uma das poucas em que precisava dividir a sala com Tatiana, infelizmente. A professora era uma freira recém-consagrada e possuía um péssimo domínio de turma. Isso só facilitava a vida das bagunceiras, ainda que por pouco tempo, já que uma irmã de hábito sempre ficava vigiando os corredores em busca de alguma fujona e, ao menor sinal de balburdia em alguma sala de aula, aparecia para dar uma lição nas alunas inquietas. Isso ainda era melhor do que ser surpreendido por Marie Charity, com seu olhar rígido e lábios crispados.

A professora explicava uma lição qualquer, anotando algo no quadro, de costas para a classe e boa parte das alunas conversava baixinho ou através de folhas de papel, já que tudo parecia mais interessante que a matéria, incluindo uma mosca pousada na parede. Algumas até anotavam a matéria, mas acabavam se perdendo entre um rabisco e outro no rodapé do caderno.

As lâmpadas foram ligadas automaticamente, sobressaltando todas as alunas e a professora, pois a fraca iluminação do dia nublado não estava sendo suficiente para manter a sala longe da escuridão parcial. Clarice, por sua vez, rabiscava em seu caderno uma cópia distorcida — graças ao seu parco talento como desenhista — do apanhador de sonhos. A reprodução do objeto era péssima, mas amenizava um pouco o tédio que sentia. Quando terminou, assinou seu nome acompanhado do sobrenome Sanderson. Sentia-se estúpida por ter feito algo do tipo, mas era isso o que desejava. Ela deu um suspiro pesaroso e mudou para uma folha em branco no caderno, preferindo voltar sua atenção ao quadro.

Enquanto tentava manter o foco na aula, uma forte luminosidade invadiu a sala, seguida, segundos depois, pelo poderoso rugido do trovão. As luzes apagaram no mesmo instante e algumas crianças arregalaram os olhos assustadas. Isso não era nada comum, pois o orfanato possuía um gerador potente, ainda assim, o local encontrava-se quase imerso no breu.

— Acalmem-se, por favor — pediu a freira às meninas que altearam o tom de voz, nervosas. — Acredito que, em breve, a luz voltará e continuaremos com a aula.

A chuva começou a cair torrencialmente, chocando-se contra o vidro da janela, turvando a visão do âmbito exterior. As crianças conversavam cada vez mais alto e a irmã estava começando a perder a paciência com o falatório incessante.

— Clarice, tente encontrar uma das inspetoras, por favor. — Ela parecia exasperada e tudo o que a menina pôde fazer foi assentir.

Fechou o caderno e levantou; era uma das poucas que não tagarelava. Enquanto caminhava em direção à porta, notou Tatiana segui-la com o olhar e o sorriso que viu em seu rosto lhe causou calafrios, além de uma forte sensação de mau-augúrio; por um instante, os olhos da menina pareceram absorver a escuridão que as envolvia. Clarice decidiu que tudo não passara de um truque da sua mente. Não havia nada a temer, certo? Estava no orfanato durante mais uma aula, cercada por outras alunas e freiras.

Ao abrir a porta, porém, seu coração deu um salto no peito e ela tentou recuar, mas não havia mais uma sala de aula atrás de si. Estava novamente na casa de seus pesadelos, no quarto onde encontrara os dois adolescentes; onde encontrara a versão mais jovem da Sra. Sanderson. Só que dessa vez estava sozinha, deixada à própria sorte no local que mais temia. Além disso, no lugar da cama confortável de antes, um berço rosa envolto por um mosquiteiro.

O choro de uma criança chegou aos seus ouvidos e Clarice se aproximou a passos lentos, cautelosos. Cada passada fazia o chão ranger sob seus pés, denunciando sua posição. O lamento do bebê não se intensificou enquanto diminuía a distância entre ela e o objeto, o que não fazia sentido algum. "Nada disso faz", pensou, respirando fundo, sentindo um leve aroma de lavanda, antes de olhar para dentro do berço e encontrar apenas uma boneca de porcelana, como muitas que estavam nas prateleiras na parede.

Atrás de si, o som da porta se abrindo lentamente a fez congelar no lugar, segurando as bordas do berço com força. Uma corrente de ar frio a apanhou de surpresa, assim como a sensação de que havia alguém atrás dela, apesar de não ter ouvido passos se aproximando; ouviu a respiração pesada e o hálito quente no topo de sua cabeça, movendo de leve algumas mechas de seu cabelo. Precisava virar, precisava ver quem era, porém, caso realmente tivesse uma pessoa ali, o que poderia fazer? Estava de mãos atadas mediante o perigo que a rondava.

Pelo canto do olho tentou ver alguma coisa, mas sua visão periférica não era suficientemente boa. Seu peito subia e descia em um ritmo acelerado, enquanto o suor brotava em sua testa e mãos; queria gritar por ajuda, mas quem a ouviria? Queria fugir, mas para onde? Estava aprisionada dentro daquelas quatro paredes pelo próprio medo, na melhor das hipóteses. Na pior, não teria tempo nem de virar e encarar quem ou o que estava às suas costas.

Engoliu em seco ao notar a aproximação de uma mão em seu ombro. Era escura como pele necrosada e exalava um odor putrefato. Juntando toda a coragem que sobrara, abriu uma passada ao lado e olhou para lado, encontrando o vazio. Atrás, a porta aberta, mas sem ninguém a observando. Ainda que fosse uma armadilha, não se importou. Saiu correndo sem pensar duas vezes em direção à saída e encontrou a casa vazia, em ótimo estado de conservação. Se já não a tivesse visto caindo aos pedaços, nunca diria que aquele era o cenário de seus piores pesadelos.

A porta de entrada era pesada, mas conseguiu abri-la com o esforço alimentado pela urgência de deixar aquele lugar o quanto antes. Um passo, dois passos, quatro passos, dez passos e assim em diante. A casa não a puxou de volta e cada vez mais se distanciava da casa. Ela não notou o jardim de tulipas, nem o chafariz com o anjo de mármore no centro, ou o homem de sobretudo negro e rosto quase encoberto por um chapéu, que apareceu na soleira da porta pouco depois de Clarice sair correndo. Não, ela não precisava notá-lo, sua presença opressora o precedia.

Correu, passando por um trecho denso de árvores, até chegar em uma estrada mal iluminada. Seu peito queimava pelo esforço exagerado, a adrenalina ardia em suas veias e a visão turva a impedia de enxergar com clareza enquanto apoiava as mãos nos joelhos, respirando com dificuldade. O choro da criança voltou a soar, ficando cada vez mais estridente e incômodo. Paralisada pelo cansaço, levantou a cabeça e notou pela primeira vez um carro de ponta-cabeça com a frente destroçada pela batida que parecia recente, ocupando as duas pistas e minando combustível. Era de lá que o lamento do bebê vinha.

Sem pensar duas vezes, Clarice correu em direção ao veículo a fim de salvar a criança, esquecendo — por um momento — que se tratava de um pesadelo. Ela caiu de joelhos ao lado da porta do motorista, mas não havia ninguém nos bancos da frente, apenas o cheiro forte de ferro e marcas rubras no estofado. No banco de trás, uma menina pendia à frente, presa pelo cinto resistente; a cabeleira castanha encobria seu rosto, mas parecia sã e salva com a barriga subindo e descendo em uma respiração branda. Não havia bebê algum.

Clarice se esgueirou para chegar até ela, mas a lataria parecia criar uma espécie de casulo à sua volta. Por isso precisou se espremer até sua mão tocar o cinto. Estava quase conseguindo desafivelá-lo quando a mão da menina segurou seu punho. Reagindo em um sobressalto, Clarice tentou se desvencilhar, mas o aperto era forte demais; forte demais para uma criança. Lentamente, a desconhecida começou a levantar a cabeça, com o rosto virado para frente antes de começar a virá-lo na direção de Clarice. "Não, não...", pensava a órfã, desesperada, tentando puxar sua mão de volta.

Naquele momento, olhava para uma versão deturpada de si; os mesmos cabelos, os mesmos traços, mas o olhar... A criatura que a observava — com um sorriso perverso nos lábios — possuía a escuridão em seus olhos.

— Olá, Clarice. — A voz metálica, inumana, saiu da boca do seu outro eu e a menina não pôde fazer nada além de gritar.

— Clarice! — A freira chamava pela menina, que se debatia e tentava afastar todos que tentavam ajudá-la em um furor.

As alunas formavam uma roda ao redor e a irmã teve que gritar com uma delas para que chamasse por ajuda, ao invés de só ficar encarando. Os gritos de Clarice se misturavam aos trovões, que pareciam cada vez mais fortes a cada berro que soltava. Debatia-se sem ao menos se dar conta do que realmente acontecia ao seu redor.

— Clarice, acorde! — A freira, aos poucos, conseguiu envolvê-la em seus braços, ainda que eles doessem graças ao esforço e pancadas que levava da menina.

Orava a Deus que fizesse algo e Ele pareceu ouvir seu pedido. Clarice, gradativamente, acalmou-se até abrir os olhos, enfim. Sua face estava molhada pelas lágrimas derramadas no momento de terror e a visão embaçada aos poucos voltou ao normal. As crianças ao seu redor estavam assustadas de uma maneira nunca antes vista. Até mesmo Tatiana parecia chocada com o que vira, já que Clarice sempre fora uma menina quieta, diferente da versão furiosa que se debatia segundos antes.

Em sua mesa, o caderno estava aberto e o desenho do apanhador de sonhos, em pedaços, como se uma ave de rapina o tivesse dilacerado com suas garras. Clarice não notou, mas ainda sentia o toque fervente em seu pulso, onde marcas de dedos ainda maculavam a sua pele.

Com o rosto escondido no ombro da freira, soluçava sem se preocupar com o que os outros achariam. "O que está acontecendo comigo?"

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