9º Capítulo - Lucy
_ Estou com pena de Clara. - murmurei a Ícaro na manhã seguinte ao intenso treinamento de minha filha.
_ Por quê? - seu tom era indiferente. - Ela precisa preparar-se. - afirmou.
Estávamos sentados a mesa, tomando café. Apenas Ana já havia acordado, além de nós dois - eu e meu marido.
_ Comigo não era tão intenso. - murmurei mais para mim mesma que para alguém escutar.
_ Seu professor a amava, por isso era mais cuidadoso. - murmurou ele quase que da mesma forma que eu.
_ Marcel não ama nossa filha? - exclamei incrédula, fitando-o nos olhos.
Ícaro desviou sua atenção para o fraco brilho que irradiava da janela. De repente, teve um súbito interesse pelo espaço lá fora.
_ Não é isso. - tentou explicar. - Só que eu tinha medo de ferir-te. Marcel não sofre deste mesmo problema.
Assenti, ainda chateada. Melhor parar por aí ou sairia ainda mais ferida pelas palavras vazias que meu marido soltava.
_ Mesmo assim vou conversar com ele. - sussurrei. - Ontem, no jantar, Clara estava a ponto de dormir sobre a mesa!
Ícaro deu de ombros, mostrando-se mais uma vez indiferente a dificuldade do treino.
Bufei irritada. Era muito frio da parte dele não enxergar que estavam exigindo muito de nossa filha! Peguei um pequeno pedaço de pão, virei-me para Ana e disse:
_ Com licença, Ana. Perdi a fome.
Dito isto, levantei-me e caminhei pesadamente até o pátio do palácio.
O que mais enfureceu-me foi o fato de que meu marido não foi atrás de mim. Olhei para trás seguidas vezes enquanto ia a um lugar bem conhecido por nós dois, mas não vi nenhum sinal de Ícaro indo ao meu encontro.
Ainda mais irritada, decidi correr até meu refúgio. Estava seguindo para o local em que sempre treinei com meu guardião. O lugar mais afastado, reservado e próximo da floresta que conhecia.
Até onde sabia, apenas eu e ele chegávamos a este canto da sede. Neste lugar tínhamos um esconderijo onde guardávamos armas reservas - como duas espadas, uma aljava com cerca de vinte flechas, um arco e uma adaga. Também havíamos deixado ali um kit de primeiros socorros, afinal, frequentemente precisávamos de um bandaid ou uma gaze.
Cheguei ao local e logo fui atrás de uma espada. Havia uma árvore oca onde escondíamos nossas coisas, com um laço amarrado ao galho mais baixo a fim de diferenciá-la.
Procurei pela borda da floresta, mas não encontrei sinal algum de fita sinalizadora.
_ Droga! - praguejei em voz alta.
De repente um choque percorreu meu corpo. Fiquei tensa e com o coração acelerado. Corri o olhar pela floresta. Tudo parecia calmo, entretanto algo dizia-me para não relaxar.
Alguém observava-me e, se eu não estava ficando louca, este alguém pertencia ao Caos.
Após virar uma líder passei a sentir a presença do inimigo. Quando todos os meus sentidos aguçavam-se, não havia dúvidas!
Subitamente ouvi passos. Fitei a floresta. Não arriscava nem respirar.
_ Acalme-se, Lucy. - soou uma voz estranhamente familiar.
_ Quem...? - murmurei.
De repente minha cabeça doeu e meus ouvidos zuniram. Não é possível!
Aquela era a voz de...
_ Jake! - exclamei.
Meu corpo estremeceu.
Vi a floresta girar e apaguei.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro