8º Capítulo - Clara
À noite eu estava morta. Passei o jantar em silêncio graças ao "treinamento-de-elite" desenvolvido por tio Marcel.
Quando fechei a porta de meu quarto e lancei-me na cama, senti como se todos os meus músculos gritassem.
_ Foi uma tortura, não um treino! – reclamei em voz alta.
_ Concordo. – soou uma voz vinda da janela.
Dei um pulo na cama e acabei caindo no chão. Havia esquecido a visita inesperada na noite anterior.
Jake correu até mim, ajudando-me a levantar. Meio sem jeito, segurou meu braço e me pôs de pé.
_ Desculpe! – exclamou. – Não queria dar-lhe um susto.
_ Tudo bem. – murmurei envergonhada.
Sentei-me na cama enquanto ele apenas me observava.
_ Vai ficar em pé? – perguntei.
Ele sorriu e fez o que pedi. Sentou-se a meu lado. Perto, muito perto.
Mexi-me meio desconfortável. Disfarçadamente, afastei-me alguns centímetros. Queria ficar há distância relativamente segura...
_ Você viu meu treino? – indaguei, na intenção de quebrar o terrível silêncio da noite.
_ Sim. Foi incrível! - exclamou animado. Sua voz com um leve toque de orgulho.
_ Obrigada. – corei. – Mas como...?
_ Se fica tão cansada e infeliz com as aulas de seu professor, por que não escolheu outra arma? – perguntou ele, interrompendo minha pergunta baseada em "está me espionando?".
A primeira dúvida que me surgiu foi: como ele sabe que, caso escolhesse outra arma, teria outro professor? Mesmo assim, afastei a interrogação que crescia em minha mente e sussurrei:
_ Eu fico cansada sim, mas jamais infeliz! Sou apaixonada pelo arco e flecha.
_ Marcel pode acertá-la gravemente num desses treinos, não acha? – murmurou ele enquanto observava o arranhão em meu braço.
Mais uma dúvida: como ele sabia o nome de meu treinador?
Mais uma vez ignorei a questão. Era melhor não saber...
_ Impossível. Meu tio sabe o que faz. Nunca me machucaria gravemente e...
_ Nem por acidente? – indagou ele, interrompendo-me novamente.
_ Não. – afirmei após pensar um pouco.
Ele suspirou e tocou meu pequeno e quase insignificante ferimento. Um choque percorreu meu corpo e chegou ao corte de minha mão, que já não me incomodava desde minha ida ao pronto socorro.
_ Ai! – exclamei, assustada pela dor.
O corte parecia pegar fogo.
Os pontos já haviam sido retirados e eu nem lembrava mais da existência desse machucado. Entretanto, enquanto Jake permanecia com sua mão em contato com meu braço, a sensação era de que havia me cortado há dois minutos.
Sem entender nada, Jake olhava-me meio assustado, mas não soltava meu braço. Agora ele não apenas tocava-me, mas segurava-me firme.
_ Solte! – exclamei.
Rapidamente ele obedeceu.
Quase que instantaneamente a dor passou. Olhei para minha mão sem entender nada.
_ O que...? – perguntou ele em estado de choque.
_ Eu não sei. – murmurei em resposta.
Meu coração apresentava-se acelerado. Estava trêmula e com os olhos arregalados. Foi uma sensação muito ruim. Depois disso, me sentia ainda mais cansada.
Jake observava-me com atenção, como quem tenta desvendar um enigma.
_ Ahn... Acho que vou deixá-la dormir. – disse ele. – Bons sonhos.
Dito isto, levantou-se e caminhou até a janela.
_ Boa noite. – sussurrei.
Ele assentiu e desapareceu noite afora.
Meu corpo e minha mente estavam tão cansados que me bastou deitar para adormecer profundamente.
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