A mesa estava lotada de luminescentes famintos. Havíamos nos atrasado um pouco devido aos incidentes da tontura e a demora de Clara no banho, mas assim que sentamos, o jantar foi servido.

Todos conversavam, eufóricos. O som de talheres raspando o fundo dos pratos atormentava meus ouvidos. Com dificuldades, sustentava um sorriso leve nos lábios, rezando para que o medo que se agigantava dentro de mim nãos transparecesse em minha expressão.

Grávida... Pensei. Grávida.

A palavra parecia não fazer sentido quando relacionada a mim.

Impossível estar grávida mais uma vez, mas se não era gravidez...

_ O que está acontecendo? – soou uma voz baixinha próxima a meu ouvido. Clara.

Pisquei e chacoalhei a cabeça, focalizando minha filha que, desajeitadamente, inclinava o corpo sobre sua cadeira e esticava-se em minha direção.

_ O quê? – questionei, franzindo a testa.

_ Sua expressão está tão perdida e aérea quanto a minha. Isso não é normal. – seus olhos semicerrados evidenciavam a preocupação que crescia em sua mente. – Além disso, papai está nervoso, e não para de se mexer no lugar. Estou ficando agoniada só de ver!

Com cautela, observei meu marido. Seus olhos dançavam pelo recinto, mas não prendiam-se a nada. A cor de seu rosto mostrava-se ligeiramente pálida e seu prato jazia intocado sobre a mesa.

Inquieto, Ícaro descansava os braços no colo, mas, segundos depois, erguia-os e posicionava-os ao lado de seus talheres. Segurava seu copo nas mãos e conduzia-o até os lábios, mas nem sequer bebia o líquido.

Baixei os olhos. Ao menos mais ninguém parecia ter notado.

_ Mãe, o que está acontecendo? – insistiu Clara.

Mordi o lábio inferior e encarei-a com olhar suplicante.

_ Amanhã, em casa, conversamos.

Ela pigarreou, enquanto eu rezava internamente para que minha palavra fosse a última e encerrasse definitivamente o assunto. Felizmente, mesmo a contragosto, minha filha se deu por vencida e assentiu.

Suspirei, exausta.

Foco no jantar, Lucy... Foco no jantar.