Estava começando a ficar fortemente preocupada. No início, achei que esta ideia de se trancar no quarto fosse só mais uma das loucuras de Clara, mas acho que me enganei. O caso estava passando dos limites...

Já fazia quase um dia inteiro que a porta de minha filha fora fechada e não se abriu mais. Ninguém entrou, ninguém saiu. O máximo que conseguimos arrancar dela foram algumas frases entrecortadas e, muitas vezes, raivosas...

A manhã passava lenta e era minha vez de "montar guarda" frente ao quarto de Clara. Resolvemos que ela não poderia permanecer 100% sozinha, sem pessoas por perto, já que, no estado de perturbação da qual se encontrava, era capaz de qualquer ato insano. Sendo assim, determinamos horários de alternância entre cinco luminescentes diferentes: Ícaro, Marcel, Ana, Nani e eu.

Estava sentada no corredor, recostada à porta, de olhos fechados e coração na mão. A cada vez que ouvia algum tipo de barulho, dava um pulo de susto e colava o ouvido na madeira fria da porta, a fim de tentar identificar o que era. Muitas vezes em vão... Escutava apenas um ruído e nada mais. Aquilo era torturante!

Por muitas vezes me senti tentada a arrombar a porta. Socar até que cedesse, desparafusá-la, xingá-la em voz alta, amaldiçoa-la... Senti vontade até de descontar todo o meu ódio em sua madeira lisa e escura, mas não o fiz. Só queria libertar minha filha, mas a questão é que minha filha não queria ser libertada... Não havia muito o que fazer a não ser esperar e lutar contra a loucura que se agigantava a meu lado e ameaçava me envolver. Precisava ser forte...