Toc toc toc.

_ O que é? – gritei, mal humorada.

_ Você precisa comer. – respondeu uma voz abafada por detrás da porta. Provavelmente tio Marcel.

Já haviam recorrido a todas as pessoas possíveis para tentarem me convencer a abrir a porta. Tia Ana, mamãe, papai, agora tio Marcel e até mesmo Nani, a mãe de Dylan. Todos falharam.

_ Não estou com fome. – respondi.

A noite começava a engolir o dia lá fora. Estava sentada em uma cadeira frente à janela, com o queixo apoiado no parapeito e um enorme peso no coração. Queria fugir...

O vento que brincava com meus cabelos começava a esfriar, mas nada me incomodava mais que meus pensamentos. O frio da pele resolveria num segundo, mas e o do coração?

_ Não é possível... – sussurrei. – Não é possível que Jake me iludiu.

Meus olhos ardiam. Não aguentava mais chorar. As lágrimas persistiam sem pausa, e foram minhas companheiras ao longo da tarde. Provavelmente ficariam a meu lado durante a noite também...

_ Clara? – chamou outra vez tio Marcel por detrás da porta. – Por favor, Clara... Estamos preocupados com você...

_ Tio, "por favor" digo eu! Deixem-me em paz! – reclamei, mais triste que raivosa. – Não quero ser incomodada até que saia do quarto por vontade própria. Ok?

Silêncio. Não obtive resposta.

_ Ok? – questionei novamente, desta vez mais incisiva.

_ Ok... – seu murmúrio soou baixo e fraco. Logo em seguida, escutei um suspiro e passos ecoando pelo corredor.

Enfim, paz para afundar nos sofrimentos sozinha...