_ Jake! – exclamei em desespero, as lágrimas já inundando meus olhos e traçando caminhos tortuoso por toda a extensão de meu rosto.

Um ato muitíssimo mal pensado, entretanto, certeiro. Instantaneamente fez-se ouvir no ar: bip... Bip... Bip...

Preguiçosamente, minha filha mexeu-se sobre o colchão, acomodando-se mais e mais, após um longo suspiro que entrecortou o ambiente.

Suas bochechas, antes descoloridas pelo coma, agora tingiam-se timidamente de um rosa quase imperceptível.

_ Logo ela vai acordar... – sussurrou Ícaro com convicção.

Sem forças, lancei-me na cadeira mais próxima e cobri os olhos com as mãos.

_ Não vou aguentar isso por muito mais tempo. – confessei, entregando-me ao sofrimento pela primeira vez. – Amanhã fará uma semana que tudo aconteceu e Clara foi posta nessa cama. Vocês disseram que seria como foi comigo!

_ Lucy... – sussurrou meu marido. – Com você a ferida foi mais fácil de curar.

_ O quê? – soltei, confusa. Entristecida, ergui o rosto para encará-lo.

_ Digamos que seu problema, na época que tinha 15 anos, era carnal. O de nossa filha é espiritual...

_ Não estou entendendo. – murmurei, franzindo a testa.

_ Veja bem: Clara feriu-se na pele? – perguntou ele, pacientemente. Neguei com a cabeça. – Mas machucou-se no coração. Clara feriu a alma, e isto é 100 vezes mais difícil de curar. O coma é uma das formas menos danosas de purificá-la... É um mal necessário.

_ Purificá-la? – questionei.

_ Sim. Este tempo no Caos literalmente a contaminou. Clara está sendo trazida de volta à Luz...

Lentamente balancei a cabeça, assentindo.

_ E como sabia que dizer o nome de Jake a traria de volta?

_ O amor faz coisas, Lucy... – sussurrou, virando as costas e abrindo a porta do quarto. – Coisas que não conseguimos entender. E você sabe disso melhor que ninguém...

Dito isto, saiu.