48º Capítulo - Lucy
Esconder meus sentimentos era o primeiro tópico na lista de problemas gravíssimos a serem enfrentados.
Quando entrei na sala escolhida para a reunião de julgamento de minha filha, tentei olhar o menos possível para as pessoas. Meu corpo inteiro tremia. Os passos pesados que dava ecoavam pelo cômodo de forma solitária. Para mim, eram como gritos de desespero em meio ao silêncio das vozes...
A tradicional reverência foi feita. Meu coração aparentava querer parar a qualquer momento. Um pé depois do outro, andar com elegância, transmitir segurança. Uma linha de suor escorria por minha testa. Parar frente a mesa e forçar um sorriso. Minha mente sofria um colapso. Acenar com a cabeça e sentar.
Na tentativa de parecer um pouco mais sã, passei a controlar mentalmente tudo o que devia fazer, assim não demonstraria o fato de que estava completamente desorientada.
Acomodei-me a mesa e corri o olhar pelo cômodo. Marcel desviou sua atenção para o objeto mais próximo assim que fitei seu rosto. Ele estava sentado ao lado de Ana, que carinhosamente acariciava sua mão, numa tentativa íntima de consolá-lo.
Franzi a testa. Desde quando esses dois estavam tão próximos?
Balancei a cabeça para esquecer essa dúvida. Não era momento para algo tão sem importância tomar espaço em meus pensamentos.
Continuei observando as pessoas, até que detive minha atenção a ela.
Clara estava sentada num dos cantos da sala de forma afastada. Dois dos homens que trabalhavam como guardas na sede postavam-se a seu lado, munidos de rostos sem expressão. Minha filha fitava atentamente a janela.
_ Lucy... – sussurrou uma voz conhecida ao pé de meu ouvido.
Olhei para o lado e dei de cara com Aurora agachada bem ao lado de minha cadeira. Sua intenção era falar comigo sem ser notada.
_ Diga. – murmurei secamente, escondendo meus sentimentos e minha real situação interior.
_ Você sabe o que deve fazer? – perguntou ela.
Desviei o olhar e assenti, balançando lentamente a cabeça em sinal positivo.
_ Então iniciarei em seu lugar. Falarei tudo do qual Clara é acusada e, por fim, você dará o veredito. – instruiu a mulher. – Ok?
_ Sim. – respondi após alguns segundos de silêncio.
Ao menos disso me livraram...
_ Ótimo. – num impulso, Aurora postou-se de pé imponente, irradiando confiança. Engoli em seco. – Vamos acabar logo com isso.
Dos minutos que se procederam, pouco me recordo. Minha mente não tardou a vagar no momento em que a líder começou a proferir os "delitos" de minha filha.
Aquilo era apenas enrolação. Todos nós sabíamos qual seria a palavra final.
Exilada... Tais letras juntas não pareciam mais fazer sentido. Eu teria mesmo que dizê-las em voz alta?
Clara nunca me perdoaria... Sua própria mãe expulsando-a da Luz... Nossa combatente sendo posta à força para fora daqui...
Meu Deus, a que ponto chegamos.
Corri os olhos novamente pelo cômodo. Algo parecia cobrir meus ouvidos. Não escutava uma palavra sequer.
Todas as expressões pareciam tediosas. Ninguém prestava atenção à cena, a não ser Aurora, que gesticulava bastante e encarava as pessoas em excesso. Parecia ser a única satisfeita com a situação.
Meu olhar retesou-se a Ícaro. Subitamente percebi que meu marido encarava meu rosto com atenção.
O lindo azul de seus olhos mostrava-se entristecido, beirando o desespero. Seu esforço para transmitir segurança para mim era nítido e encorajador. Forcei-lhe um sorriso.
Seus lábios desenharam as palavras "seja forte" instantaneamente. Naquele momento, escutei alguém me chamar:
_ Lucy?
Pisquei, confusa. Demorei a reconhecer a voz de Aurora. Estava tão perdida que nem isso consegui assimilar de imediato em minha mente.
_ Sim? – murmurei.
_ É hora do veredito.
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