44º Capítulo - Lucy
Os alarmes soaram estrondosamente, fazendo com que me assustasse. Não havia dormido ainda... Sequer fechara os olhos naquela noite. A reunião com o conselho pareceu durar uma eternidade, mas, quando enfim acabou, não consegui relaxar.
Quando deitei em minha cama, os pensamentos iam e vinham, atormentando-me. A conversa com Clara, a ameaça iminente da batalha começar, o nome Jake... Tudo pairava por minha mente.
Estava tão assustada que mantive os músculos do corpo rígidos, transparecendo a Ícaro que precisava de carinho.
Meu marido me abraçou meio de lado e recostou sua cabeça na minha, invadindo meu espaço do colchão. Distraidamente, brincou com alguns fios de meu cabelo até que adormecesse, o que não tardou a acontecer. E aí fiquei livre para enlouquecer sozinha.
Quando enfim senti as pálpebras cansadas, já podia notar o sol surgindo no horizonte. Alguns raios de luz tímidos tocavam as cortinas a medida que via as vistas escurecendo, mas meu plano de descansar um pouco fora arruinado por um som estridente.
Dei um pulo na cama, juntamente com Ícaro.
_ O que...? – sussurrou ele, sonolento demais para entender o que estava acontecendo.
_ Os alarmes! – declarei enquanto ficava de pé, tomando o roupão nas mãos, vestindo-o e seguindo rumo aos corredores.
Poderia ser qualquer coisa... Enquanto corria, seguida de perto por meu guardião, comecei a supor hipóteses plausíveis para explicar o que se passava na sede da Luz.
Batalha... Capturaram alguém... Encontraram alguém... Fugiu alguém...
Quase tropecei umas três vezes, sendo necessário que Ícaro segurasse meu braço para estabilizar meus passos.
A medida que corríamos, encontrávamos mais pessoas entrando em desespero como eu. Todos nos direcionávamos ao grande salão, crentes de que lá acharíamos respostas.
Ao adentrar o cômodo, entretanto, engoli em seco. Não havia nada ali.
Os alarmes ainda ribombavam, acelerando e eletrizando meus pensamentos.
Não me dei ao luxo de parar. Continuei correndo. Todos me seguiam.
_ Ícaro, – berrei por entre o vento acarretado pela rápida movimentação. – o que está...
De repente, parei. Engoli em seco. Senti o coração acelerar e o estômago dar giros.
_ Não... – ouvi meu marido sussurrar a meu lado.
Lágrimas irromperam de meus olhos, impedindo que enxergasse mais da cena.
_ Não pode ser... – escutei a voz de Marcel embargada por trás de meus ombros.
Deitada bem próxima à floresta, aparentemente inconsciente, estava Clara. Muitos de nossos guardas postavam-se a seu lado, imponentes, com as armas em punho. Aurora estava abaixada bem próxima a ela, retirando um dardo tranquilizante que impunha-se preso em seu braço.
_ Não! – gritei.
Todos me encararam, inclusive a líder. Recomecei a correr, agora em direção as pessoas.
_ Lucy... – murmurou um dos guardas quando me lancei ao chão, sentando ao lado de minha filha e tomando-a nos braços em seguida.
_ O que aconteceu? – perguntei, controlando a respiração descompassada.
Ninguém disse nada.
_ O que aconteceu? – elevei o tom de voz. Os olhos fixos no rosto de Clara.
Mais uma vez, silêncio. As pessoas não se atreviam nem a respirar. Todos estavam paralisados.
Os guardas já haviam baixado as armas. De soslaio, notei o instante em que Aurora lhes direcionou um sinal.
Encarei o rapaz mais próximo e fuzilei-o com o olhar.
_ O.que.aconteceu? – meu tom de voz era tão ameaçador e perigosamente pausado que o fiz engolir em seco.
_ Clara estava... – começou Aurora, mas a interrompi.
_ Você estava aqui quando aconteceu? – havia tanta amargura em minhas palavras, tanta dor e tanto sofrimento que a mulher encolheu os ombros.
Lentamente moveu a cabeça em sinal negativo, confirmando o que supus.
_ Imaginei. – sussurrei, fitando-a. Em seguida, olhei novamente para o rapaz, mas dessa vez permiti que súplica transparecesse.
Ele suspirou.
_ Clara estava às margens da floresta com um garoto misterioso. O mesmo que avistamos ontem à noite... – o jovem desviou o olhar. – Acreditamos ser alguém do Caos. Tentamos acertá-lo com o tranquilizante também, mas ele fugiu.
Assenti, baixando os olhos.
Passei a mão pelos cabelos de minha filha e sussurrei em tom quase inaudível minha suposição:
_ Jake...
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