43º Capítulo - Clara
_ Precisamos iniciar uma reunião agora. – afirmou minha tia, com tanta autoridade na voz que quase fiquei de pé para segui-la. – Já convoquei a todos. Estão esperando apenas por você.
Mamãe balançou a cabeça em sinal positivo de forma lenta, como se processasse devagar tanta informação.
Dentro de mim, um colapso teve início assim que ouvi "jovem misterioso na floresta" saindo dos lábios avermelhados de tia Aurora.
Só conseguia pensar em uma coisa: Agora já era!
_ Lucy? – chamou a mulher impaciente parada à porta.
Neste instante, minha mãe virou de forma brusca e beijou minha testa. Em seguida, sussurrou:
_ Amanhã continuaremos nossa conversa.
Dito isto, sumiu com minha tia de forma apressada corredor afora.
Assim que fechei a porta, lágrimas irromperam de meus olhos.
Jake foi muito burro! Sabia que era arriscado... Sabia que podia ser pego.
Minha vontade era chamar mamãe e esclarecer tudo, explicar que não havia batalha alguma tendo início, que nada com que se preocupar estava acontecendo. Quase fiquei de pé para seguir à sua procura a fim de explicar cada detalhe, mas de que adiantaria? Talvez mamãe viesse a acreditar, mas e os outros? Seria impossível prever suas possíveis reações.
Baixei os olhos e suspirei.
O único jeito agora seria esperar pela manhã seguinte. Jake havia ordenado que voltasse às margens da floresta bem cedo, para enfim conversar comigo. Óbvio que tomaria todo o cuidado do mundo! O mais indicado seria nem ir, mas precisava alertá-lo sobre a descoberta de sua visita...
Suspirei uma segunda vez e lancei-me na cama. Fechei os olhos e murmurei:
_ Depois da batalha estarei livre...
As palavras soaram secas pela atmosfera do quarto, mas ouvi-las em voz alta foi revigorante e animador. Ao menos algo que me motive a chegar ao fim viva...
Com este pensamento, senti o travesseiro e os lençóis tragando-me lentamente ao universo do sono. Pude notar meus sentidos se esvaindo aos poucos, a percepção de tempo parando de fazer sentido. Meus olhos ardiam. O cansaço havia acabado de me dominar por inteira.
Simples assim, apaguei.
×××
Não houveram sonhos ao longo da noite ou algo a que me recordo. Apenas o breu, que prevaleceu até o instante em que acordei, sentindo como se estivesse sendo observada.
Num sobressalto, sentei-me na cama e fitei a janela. Pude enxergar um vislumbre dos olhos verdes que focavam meu rosto antes que sumissem na paisagem lá fora. Um arrepio percorreu meu corpo.
Aproximei-me da janela. Ainda estava escuro, e era difícil enxergar. Minúsculos raios de sol começavam a irromper no horizonte. Momento perfeito para conversar com alguém as escondidas...
Imediatamente, precipitei-me a trocar de roupa e procurar uma arma de combate direto para levar.
_ Caso alguém pergunte o que estava fazendo, uso a desculpa de que tive insônia e desci ao pátio para treinar. – afirmei a mim mesma enquanto segurava firme no cabo de uma espada, largada ao lado de meu guarda-roupas.
Antes de fechar a porta, dei uma última olhada para trás. Ninguém me observava, mas a atmosfera estava pesada. Estremeci.
_ Sem paranoia, Clara. – ordenei em voz alta. Ultimamente, a mania de falar sozinha tinha se intensificado de forma preocupante...
Soltei a maçaneta e virei-me para o corredor. Um vulto pareceu transpassar meu caminho.
_ Meu Deus... – sussurrei, esfregando os olhos. – Devem ser alucinações causadas pelo sono.
Resolvi ignorar e seguir em frente. Só espero que Jake esteja à minha espera...
×××
Enquanto caminhava a passos cuidadosos, verificando a todo o momento se estava sendo seguida, pensei muito sobre estar falando comigo mesma com extrema frequência. Será que estava ficando louca? Ou talvez estivesse sozinha demais... Na falta de companhia, é aceitável que falemos com as paredes, certo?
Perdi-me tão a fundo no mundo da lua, que nem percebi quando parei frente a floresta. Ao notar onde estava, estremeci.
Apertei os olhos. O interior das árvores estava ainda mais escuro que a paisagem a meu redor. Pouquíssimos raios de sol despontavam no horizonte, proporcionando um ambiente sombrio e apavorante. Havia luz suficiente apenas para "acender" dois vívidos olhos verdes, mas eles não estavam lá.
Corri o olhar por todos os cantos possíveis, mas não avistei nada. Decepção começava a invadir meu íntimo, até que uma voz soou por detrás de meus ombros:
_ Eu arriscaria te roubar um beijo, se não estivesse com essa espada nas mãos.
Meu corpo estremeceu. Esperei pacientemente até que Jake surgisse em meu campo de visão.
_ Pode arriscar se quiser... – provoquei. – Só não garanto que saia vivo desta tentativa.
Ele sorriu com o canto da boca, de um jeito extremamente sedutor. Depois, aproximou-se, retirou a arma de minhas mãos, pousou-a a uma distância considerável de nós e sussurrou:
_ Agora eu aceito o desafio.
Dito isto, envolveu seus braços por minha cintura e trouxe-me para mais perto de seu corpo com delicadeza. Nossos rostos estavam a milímetros de distância, fazendo com que pudesse sentir sua respiração acelerada.
Dava para perceber que adrenalina corria por suas veias. Ele realmente encarava a ideia de me roubar um beijo como desafio. Quer dizer, pelo menos agora, que ficamos um mês inteiro distantes um do outro. Além disso, também por conta do lugar onde estávamos, os dois de volta a sede dos Luminescentes.
Quando seus lábios tocaram os meus, senti as pernas perdendo a força e a sensação de que o mundo girava inundou meus sentidos. Não porque estava nervosa com o beijo, mas sim pelo fato de que estava desmaiando.
E, simples assim, apaguei.
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